Comentário Bíblico Popular NT - William MacDoanld - PDFCOFFEE.COM (2024)

WlLLIAM

MACDONALD

comenTario BÍBLICO popuLar

w iLLiam

MâCDonaLD

comenxano BÍ BL I CO

popuLar n o v o

TesTamenTO

MC

mundocristão

São Paulo

C o p y r ig h t © 1995, 1992, 1990, 1989 p o r W illiam M acD onald Este com entário baseia-se na tradução de João Ferreira de Alm eida, edição Revista e Atualizada (R A ), 2a edição, Copyright© 1993 p or Sociedade Bíblica d o Brasil (SBB). T od os os direitos reservados e protegidos pela Lei 9 .6 1 0 , de 1 9 /0 2 /1 9 9 8 . É expressamente proibida a reprodução total o u parcial deste livro, por quaisquer meios (eletrônicos, m ecânicos, fotográficos, gravação e outros), sem prévia autorização, p or escrito, da editora.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação ( CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) MacDonald, William, 1917-2007 Comentário bíblico popular — Antigo e Novo testamento / Wiliiam MacDonald; editado com introduções de Art Farstad — São Paulo: Mundo Cristão, 2011. Título original: Believers Bible Commentary 1. Bíblia N. T. — Comentários I. Farstad, Arthur L. II. Título. 11-00272 índices para catálogo sistemático: 1. Antigo Testamento: Bíblia: Comentários 221.7 2. N ovo Testamento: Bíblia: Comentários 225.7 Categoria: Referência

Publicado no Brasil com todos os direitos reservados por: Editora M undo Cristão Rua Antônio Carlos Tacconi, 79, São Paulo, SP, Brasil, CEP 04810-020 Telefone: (11) 2127-4147 H om e page: www.mundocristao.com.br 2a edição: junho de 2011 Printed in China

C D D — 221.7-225.7

SUMÁRIO Prefácio do autor Introdução do editor Abreviações Transliteração do grego para caracteres iatinos

vii ix xi xii

Introdução ao Novo Testamento

1

Introdução aos evangelhos Mateus

5 9

Excursos

O reino dos céus O evangelho A relação do cristão com a lei Divórcio e novo casamento Jejum O sábado

15 20 23 26 29 49

M arcos

107

Lucas

151

João

233

A tos Excursos

329

A oração em Atos A igreja nos lares e as organizações paraeclesiásticas O cristão e o governo O batismo do cristão O ministério "leigo" Estratégia missionária A autonomia da igreja local Orientação divina Milagres Púlpitos incomuns A mensagem de Atos Rom anos Excursos

O pagão não alcançado pelo evangelho O pecado A soberania divina e a responsabilidade humana

334 342 351 359 360 375 379 381 382 386 409 413 419 425 449

IC o rín tio s

475

2 C o rín tio s

535

G álatas Excurso

583

O legalismo Efésios Excurso

A eleição divina Filipenses

Colossenses Excursos

679

A reconciliação O lar cristão

688

ITessalo n ice n ses Excursos

711

A vinda do Senhor Os sinais dos últimos tempos A santificação 2Tessalonicenses Excursos

O arrebatamento e a segunda vinda O arrebatamento da Igreja

Introdução às epístolas pastorais

704

718 727 732 735 737 745 753

IT im ó te o

757

2Tim óteo

785

Tito Excursos

805

O presbítero O cristão e este mundo

807 814

Filem om

819

H ebreus Excursos

825

A apostasia A mensagem de Hebreus para hoje T ia g o Excursos

Os Dez Mandamentos A cura divina 1 Pedro Excursos

O vestuário cristão O batismo

841 874 877

886 899 905 922 928

2Pedro

937

IJo ã o Excurso

955

O pecado para morte

970

2João

973

Bjoão

977

Judas

981

605

A pocalip se

991

607

Bibliografia geral Suplementos

611 655

1021 1025

PREFÁCIO DO AUTOR O objetivo do Comentário Bíblico Popular (CBP) é oferecer aos leitores cristãos em gerai conhecimento básico do teor da Bíbiia Sagrada. O CBP também visa a desenvolver amor e gosto pela Bíblia de modo a levar o leitor a investigar em maior profundidade seus tesouros inesgotáveis. Apesar de desejarmos que os estudiosos encontrem alimento para a alma nas páginas deste comentário, devemos lembrar que ele não é voltado para o pú­ blico acadêmico. Neste volume, são comentados todos os livros do Novo Testamento, versículo por versículo. Cada livro é acompanhado ainda de introduções, notas e referências bibliográficas.

Procuramos lidar com os textos problemáticos e, sempre que possível, sugerir explicações alternati­ vas. Várias passagens continuam sendo uma pedra no sapato dos comentaristas e devemos confessar que, nesses casos, ainda "vemos como em espelho, obscuramente". Por fim, devemos lembrar que a Palavra de Deus em si, iluminada pelo Espírito Santo de Deus, é mais importante do que qualquer comentário. Sem ela, não há vida, crescimento, santidade ou serviço acei­ tável. Devemos lê-la, estudá-la, memorizá-la, meditar nela e, acima de tudo, obedecer-lhe. Como alguém disse: "A obediência é o órgão do conhecimento espiritual".

INTRODUÇÃO DO EDITOR "Não menospreze os comentários." Esse foi o conselho de um professor da Bíblia para sua classe na Emmaus Bible School [Escola Bíblica Emaús] no final da década de 1950. Pelo menos um aluno se lembrou dessas pa­ lavras através de três décadas. O professor era William MacDonald, autor do Comentário bíblico popular (CBP). O aluno era Arthur Farstad, o editor (naquele tempo, um calouro). Ele havia lido apenas um comentário na vida: In the Heavenlies [Nos lugares celestiais], sobre Efésios, de Harry A. Ironside. Durante todas as noites de um verão, o adolescente Farstad leu essa obra, descobrindo, assim, o que é um comentário. O que é um com entário O que é exatamente um comentário e por que não devemos desprezá-lo? Um famoso editor cristão catalogou quinze tipos de livros relacionados com a Bíblia. Não é de estranhar, portanto, que algumas pessoas não sabiam diferenciar exatamente um co­ mentário de um estudo bíblico, uma concordância, um atlas, uma tradução interlinear ou um dicionário bíblico — para citar apenas cinco exemplos. Embora óbvio, um comentário comenta ou faz algu­ mas observações úteis que (esperamos) ajudem o lei­ tor a compreender no texto, versículo por versículo ou parágrafo por parágrafo. Alguns cristãos desprezam os comentários: "Só quero ouvir a Palavra e ler a própria Bíblia!". Parece piedoso, mas não é. Um comentário apenas traz impresso o melhor (e o mais difícil) tipo de exposição bíblica: o ensino e a pregação, versículo por versículo, da Palavra de Deus. Alguns comentários (como os de Ironside) são quase sermões impressos ao pé da letra. Além disso, as maiores exposições bíblicas de todos os tempos e idiomas estão disponíveis na língua inglesa. Infelizmente muitos são tão extensos, tão antigos e tão difíceis que o cristão comum se sente desanimado, para não dizer oprimido. Essa é uma das razões desta publicação. Tipos de com entário Teoricamente, qualquer interessado na Bíblia poderia escrever um comentário. Por essa razão, eles variam de extremamente liberais a muito conservadores, com as diversas nuanças de pensamento intercala­ das. O CBP é conservador, aceitando a Bíblia como a inspirada e inerrante Palavra de Deus, totalmente suficiente para a fé e a prática. Um comentário pode variar de altamente técnico (detalhes minuciosos da sintaxe grega e hebraica,

por exem plo) a um simples esboço. O CBP está entre os dois extremos. A parte técnica necessária se faz presente, na sua maioria, no final de cada livro, na seção "Notas", mas uma interação séria com os detalhes do texto é dada sem se esquivar de passagens difíceis ou aplicações convincentes. O texto de MacDonald é rico em exposição. Seu alvo é ajudar a produzir "discípulos" e não apenas uma variedade banal de cristãos nominais, com mínima compreensão e sem muito compromisso. Os com entários tam bém diferem no cam po teológico: conservador ou liberal, protestante ou católico romano, pré-milenista ou amilenista. O CBP é conservador, protestante e pré-milenista. Com o usar este livro Há várias maneiras de utilizar o CBP. Sugerimos a seguinte ordem, por considerá-la proveitosa: Folhear: Se você gosta da Bíblia ou a ama, gos­ tará de virar as páginas deste livro, lendo porções pequenas aqui e acolá para sentir o sabor do livro como um todo. Passagens específicas: Você talvez tenha uma dú­ vida sobre um versículo ou parágrafo sobre o qual precisa de ajuda. Procure na parte relativa ao contex­ to e com certeza encontrará bons dados. Uma doutrina: Se você está estudando a criação, o sábado, as alianças, as dispensações ou a salvação, procure as passagens que tratam desses assuntos. O "Sumário" apresenta uma lista de ensaios1 sobre vários desses tópicos. Utilize uma concordância para ajudar a localizar as palavras-chave para passagens centrais de tópicos além dos citados. Livro da Bíblia: Talvez sua classe da escola dominical ou congregação esteja estudando um livro da Bíblia. Você será grandemente enriquecido (e dará alguma contribuição) se ler de antemão a cada semana a passagem a ser estudada. (Se o líder estiver usando 0 CBP como auxílio principal, é claro que você talvez queira ter dois comentários diferentes!) A Bíblia toda: Mais cedo ou mais tarde todo cristão deve ler a Bíblia completamente. Ela contém textos difíceis e um livro cuidadoso e conservador como o CBP ajudará muito a estudá-los. O estudo bíblico pode assemelhar-se ao "trigo debulhado" — nutritivo, mas seco — , no entanto, à 1 Tecnicamente chama-se de "excurso" uma discussão em um comentário que expande algum assunto abordado no texto.

medida que se persevera e progride, ele se tornará como "torta de chocolate"! O conselho de M acDonald para mim continua válido depois de tantos anos: "Não menospreze os

comentários". Tendo estudado seu comentário sobre o Novo Testamento com grande carinho enquanto o editava para este volume, posso ir um passo mais adiante. Meu conselho é: "Desfrute-o!".

ABREVIAÇÕES Abreviações de traduções, versões e paráfrases da Bíblia 1

Livros do Novo Testamento Mt Mc Lc Jo At Rm 1Co 2Co Cl Ef FP Cl ITs 2Ts IT m 2Tm Tt Fm Hb Tg 1 Pe 2Pe 1)0 2)o 3)o )d Ap

Mateus Marcos Lucas João Atos Romanos 1Coríntios 2Coríntios Gálatas Efésios Filipenses Colossenses ITessalonicenses 2Tessalonicenses 1Timóteo 2Timóteo Tito Filemom Hebreus Tiago 1 Pedro 2 Pedro 1João 2|oão 3João Judas Apocalipse

|

BJ BV CF CH ECA KJA KNOX NVI NTLH RA RC RC-IBB

Bíblia de Jerusalém Bíblia Viva Corrigida e Fiel (João Ferreira de Almeida) Cartas para Hoje Edição Contemporânea Almeida King James Atualizada Knox version Nova Versão Internacional Nova Tradução na Linguagem de Hoje Revista e Atualizada (João Ferreira de Almeida) Revista e Corrigida Revista e Corrigida, Imprensa Bíblica Brasileira

Para dados completos de imprenta e Copyright, veja a Bibliografia geral.

Outras abreviações a.C. aram. AT c. cap. caps. CBP cf. cp. d.C. ed. et. al. fem. gr. heb. ibid i.e. lit. LXX

antes de Cristo aramaico Antigo Testamento circa (cerca de) capítulo capítulos Comentário Bíblico Popular conferir comparar depois de Cristo edição et alii (e outros) feminino grego hebraico ibidem (no mesmo lugar) id est (isto é) literal, literalmente Septuaginta (antiga versão grega do AT)

M Texto Majoritário masc. masculino MMM Manuscritos do mar Morto ms. manuscrito mss. manuscritos MT Texto Massorético NT Novo Testamento NU Nestle-Aland/United Bible Societies Greek, NT P- página / páginas p. ex. por exemplo s.d. sem data s.l. sem local de publicação s.p. sem página TR Texto Tradicional trad. tradução, tradutor, traduzido v. versículo / versículos vol. volume vols. volumes

TRANS LITE RAÇÃO DO GREGO PARA CARACTERES LATINOS Letra

M aiú scu la

a lfa ­

M inúscula

T ra n slitera çã o

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"Os temas das cartas do Novo Testa­ mento". 1 James C. Fern a ld (ed.). "Emblem", Funk & Wagnalls Standard Handbook of Synonyms, Antonyms, and Prepositions, p. 175.

para "a terceira raça" — nome dado pelos pagãos aos cristãos primitivos, pois não eram nem judeus nem gentios. IV. Outros tem as com quatro elem entos O AT apresenta outros quatro elementos que har­ monizam plenamente com as ênfases dos quatro evangelhos. "Um Renovo", um título de jesus, aparece nos seguintes versículos: "... "... "... "...

a Davi um Renovo justo; e, rei..." (Jr 23:5-6). o meu Servo, o Renovo..." (Zc 3:8). o homem cujo nome é Renovo..." (Zc 6:12). o Renovo do S e n h o r [jeová]..." (Is 4:2).

Há também quatro "Eis" no AT que combinavam exa­ tamente com os principais temas dos evangelhos: "... eis aí [...] o teu Rei..." (Zc 9:9). "Eis aqui o meu servo..." (Is 42:1). "Eis aqui o homem..." (Zc 6:12). "... Eis aí está o vosso Deus!" (Is 40:9). Um último paralelo, apesar de ser um pouco menos óbvio, tem provado ser uma bênção para muitos. As quatro cores dos materiais usados no tabernáculo e seus significados simbólicos também parecem ajustar-se à apresentação quádrupla dos evangelistas quanto aos atributos de jesus: • Púrpura é uma escolha óbvia para Mateus, o evan­ gelho do Rei. Juizes 8:26 mostra a natureza nobre dessa cor. • A tintura escarlate era obtida antigam ente es­ magando um inseto, a cochonilha. Isso sugere a Marcos, o evangelho do Servo: "Mas eu sou verme e não homem..." (SI 22:6). • Branco nos fala das ações íntegras dos santos (Ap 19:8). Lucas enfatiza a perfeita humanidade de Cristo. • Azul representa o pavimento de safira que se parece com o céu (Êx 24:10), uma apresentação atraente da deidade de Cristo, uma palavra-chave em joão. V. Ordem e ênfase Ao lerm os os evangelhos, descobrim os que os eventos nem sempre estão listados na seqüência em que ocorreram. É bom sabermos de início que o Espírito de Deus frequentemente agrupa os eventos de acordo com seus ensinos morais. O comentarista William Kelly diz:

Será provado, à m edida que derm os seqüência, que Lucas enfatiza essencialmente a ordem moral, e classifica fatos, conversas, perguntas, respostas e discursos de nosso Senhor de acordo com sua relação interna, e não da sim ples sucessão de acontecim entos externos, que é na verdade a for­ ma mais tosca e infantil de registro. No entanto, agrupar os eventos pelas causas e conseqüências, segundo a ordem moral, é uma tarefa bem mais difícil para o historiador, em contraste com o mero cronista. Deus pode usar Lucas para fazer isso de maneira perfeita.2

Essas diferentes ênfases e enfoques nos ajudam a explicar as variações nos evangelhos. Enquanto os três primeiros evangelhos, denominados "sinóticos" (que significa "de uma perspectiva comum"), apresentam abordagens semelhantes quanto à vida de Cristo, João difere. Ele escreveu posteriormente e não quis repetir o que já tinha sido bem abordado. Sua apresentação da vida e das palavras de Jesus é mais refletiva e teológica. VI. O problem a sinótico "Problema sinótico" é o nome que geralmente se dá ao fato de haver tanto semelhanças (até mesmo no teor quase idêntico de passagens relativamente longas) quanto diferenças significativas entre os três primeiros evangelhos. Trata-se de um problema mui­ to maior para os que negam a inspiração que para os cristãos conservadores. Muitas teorias complexas têm sido formuladas, frequentemente envolvendo documentos teóricos perdidos que não deixaram ne­ nhum rastro em forma manuscrita. Algumas dessas ideias se ajustam a Lucas 1:1, e são pelo menos pos­ síveis do ponto de vista ortodoxo. Porém, algumas dessas teorias chegaram a ponto de afirmar que a igreja do século I compôs "mitos" sobre Jesus Cristo. Além da infidelidade às Escrituras cristãs e à história da Igreja manifestada por essas supostas teorias da "crítica das formas", deve ser salientado que não há nenhuma prova docum entada para qualquer dessas ideias. Também não existem dois estudiosos que concordem em como categorizar e fragmentar os evangelhos sinóticos. Uma solução melhor para essa questão se encontra nas palavras de Jesus em João 14:26: "mas o Con­ solador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito".

Isso explica as reminiscências das testemunhas oculares de Mateus e joão, e provavelmente tam­ bém inclui Marcos, pelo fato de que ele menciona as lembranças de Pedro, como atesta a história da Igreja. O problema sinótico é resolvido somando-se a essa ajuda direta do Espírito Santo os documentos escritos mencionados em Lucas 1:1, a excelente, precisa e verbal tradição oral das pessoas semíticas. Quaisquer verdades necessárias, detalhes ou interpretações além dessas fontes podem ter sido revelados diretamente "... em palavras [...] ensinadas pelo Espírito..." (1 Co 2:1 3). Portanto, quando depararmos com uma aparente contradição ou diferença nos detalhes, faremos bem em perguntar: "Porque este evangelho exclui, ou en­ fatiza, este evento ou esta passagem?". Por exemplo, duas vezes Mateus registra duas pessoas sendo cura­ das (de cegueira e de demônios), enquanto Marcos e Lucas mencionam somente uma. Alguns consideram isso uma contradição. Mas é melhor ver Mateus, o evangelho judaico, mencionar ambos os homens, já que a lei determinava "duas ou três testemunhas", e os outros, por exemplo, mencionam o nome da pessoa influente (o cego Bartimeu). As seguintes passagens ilustram que algum as das aparentes repetições nos evangelhos realmente destacam diferenças significativas: Lucas 6:20-23 parece repetir o Sermão do Monte, mas o sermão precedente é na planície (Lc 6:1 7). As bem-aventuranças descrevem o caráter padrão do cidadão do reino, enquanto Lucas destaca o estilo de vida dos que são discípulos de Cristo. Lucas 6:40 parece ser idêntico a Mateus 10:24. Mas em Mateus, jesus é o mestre, e nós, seus discí­ pulos. Em Lucas, quem ensina é o mestre, e a pessoa a quem ele ensina é o discípulo. Mateus 7:22 enfatiza o serviço para o rei; enquanto Lucas 13:25-27 des­ creve a comunhão com o mestre. Enquanto Lucas 15:4-7 faz uma denúncia mordaz aos fariseus, Mateus 18:12-1 3 está preocupado com as crianças e o amor de Deus por elas. Quando havia unicamente crentes presentes, João disse: "... ele [...] batizará com o Espírito Santo" (Mc 1:8; Jo 1:33). Quando havia uma multidão mista,

especialmente quando entre eles havia fariseus, ele disse: "Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" (um batismo de julgamento) (Mt 3:11; Lc 3:16). A expressão "... com o critério com que julgardes..." se aplica à nossa atitude julgadora com respeito aos outros em Mateus 7:2, à nossa posse da Palavra em Marcos 4:24 e à nossa liberalidade em Lucas 6:38. Essas diferenças, portanto, não representam con­ tradições, mas estão repletas de propósito: sugerem alimento espiritual para reflexão de cristãos que gostam de meditar. VII. A u to ria dos livros* Discutir sobre quem escreveu os evangelhos (aliás, todos os livros da Bíblia), em evidências externas e internas. É o que nos propomos fazer nos 27 livros do Novo Testamento. Evidência externa designa os escritores que viveram mais próximos das épocas dos livros, geralmente "os pais da Igreja", dos séculos II e III, e alguns heréticos ou falsos mestres. Esses homens citam, fazem alusão a e às vezes nos falam especificamente sobre os livros e os autores que nos interessam. Por exemplo, se Clemente de Roma cita 1Coríntios perto do final do século I, obviamente não pode ser uma falsificação do século II escrito com o nome de Paulo. Na evidência interna, notamos o estilo, o vocabu­ lário, a história e o conteúdo do livro para verificar se apoiam ou contradizem o que documentos e autores externos afirmam. Por exemplo, o estilo de Lucas e o de Atos confirmam o ponto de vista de que o autor era um médico gentio culto. Em muitos livros, é citado o "cânon" ou a lista dos livros aprovados no século II pelo herético Marcião. Embora ele só tivesse aceitado uma edição recortada de Lucas e dez das epístolas de Paulo, trata-se de uma testemunha útil acerca de quais livros eram normativos em seu tempo. O cânon muratoriano (denom inado assim em hom enagem ao cardeal italiano Muratori, que achou o documento) é uma lista ortodoxa, ainda que fragmentária, dos livros canônicos cristãos.

MATEUS1 Introdução Quanto à grandeza de concepção e ao poder de subordinar uma porção de material a grandes ideias, nenhum escrito/em ambos os Testamen­ tos, que trate de algum tema histórico poderá ser comparado a Mateus. Theodor Zahn

I.

Posição sin gu lar no cânon

O evangelho de Mateus é a ponte perfeita entre o Antigo e o Novo Testamento. Suas primeiras palavras nos levam de volta a Abraão, o patriarca do povo de Deus do AT, e a Davi, o primeiro grande rei de Israel. Devido à sua ênfase, ao acentuado teor judaico, às inúmeras citações das Escrituras hebraicas e por ser o livro que encabeça o NT, Mateus está na posição lógica para a apresentação da mensagem cristã ao mundo. Mateus tem mantido essa primeira posição na seqüência dos quatro evangelhos por muito tempo. Isso se deve ao seguinte fato: até os tempos moder­ nos, aceitava-se universalmente que Mateus havia sido o primeiro evangelho a ser escrito. O estilo or­ ganizado e claro de Mateus também fez dele o mais apropriado para a leitura em público. Portanto, era o evangelho mais popular, às vezes até disputando esse lugar com o evangelho de João. Para sermos ortodoxos não é necessário acreditar que Mateus foi o primeiro evangelho a ser escrito. Porém, os cristãos mais antigos eram quase na to­ talidade de procedência judaica, e havia milhares e milhares deles. Ir ao encontro das necessidades desses primeiros cristãos se torna bem lógico.

II.

A utorian

A evidência externa é tão antiga quanto universal de que foi Mateus, o cobrador de impostos, também chamado Levi, quem escreveu o primeiro evangelho. Considerando que ele não era um membro proemi­ nente da turma apostólica, seria estranho atribuir o primeiro evangelho a ele, se realmente ele não tivesse nada a ver com isso. Além do documento antigo conhecido como Didaquê ou O ensinamento dos doze apóstolos, Justino Mártir, Dionísio de Corinto, Teófilo de Antioquia e Atenágoras de Atenas citam o evangelho como au­ têntico. Eusébio, o historiador da igreja, cita Papias dizendo que "Mateus compôs a Logia no idioma he­ braico, e todos as interpretavam à medida que eram capazes". Ireneu, Panteno e Orígenes basicamente

concordam com tudo isso. Por "hebraico" julga-se que se trata do dialeto aramaico usado pelos hebreus no tempo de Jesus, e é nesse sentido que essa palavra é usada no NT. Mas o que é a Logia? Geralmente essa palavra grega significa "oráculo", como o AT contém os oráculos de Deus. Não pode significar isso na declaração de Papias. Há três pontos de vista principais sobre sua declaração: 1) Refere-se ao evan­ gelho de Mateus. Isto é, Mateus escreveu uma edição do seu evangelho em aramaico especificamente para ganhar os judeus para Cristo e para edificar os cristãos hebreus. A edição grega teria aparecido somente algum tempo depois. 2) Refere-se unica­ mente às declarações de Jesus, que posteriormente foram incorporadas ao seu evangelho. 3) Refere-se a testímonia, isto é, citações das Escrituras do AT para mostrar que Jesus é o Messias. Os pontos de vista 1 e 2 são mais prováveis que o 3. O grego de Mateus não parece uma mera tra­ dução, mas tal tradição tão difundida (sem discordâncias no início) precisa ter algumas bases reais. A tradição nos diz que Mateus pregou quinze anos na Palestina, e só então é que saiu a fim de evangelizar os lugares longínquos. É bem possível que, por volta de 45 d.C., ele tenha deixado para os judeus que tinham aceitado Jesus como Messias um primeiro esboço do seu evangelho em aramaico (ou apenas os discursos de Cristo), e somente mais tarde uma edição grega para uso universal. Algo similar foi feito por Josefo, contemporâneo de Mateus. Esse historiador judaico fez primeiramente um esboço de Guerras judaicas em aramaico, e depois, finalmente, em forma de livro, em grego. A evidência interna do primeiro evangelho se ajusta bem a um judeu piedoso que amou o AT e era talen­ toso como escritor e editor. Como funcionário civil de Roma, Mateus teria de ser fluente em ambos os idiomas, o do seu povo (aramaico) e o das autorida­ des governamentais (os romanos usavam o grego, e não o latim, no Oriente). Os detalhes numéricos, as parábolas relacionadas a dinheiro e os termos mone­ tários se enquadram a um cobrador de impostos. O mesmo se aplica ao estilo preciso e organizado. Goodspeed, um especialista não conservador, aceitou a autoria desse evangelho por Mateus, parcialmente confirmando essa evidência interna.

Apesar de tanta evidência externa universal, e tantas evidências internas favoráveis, a maioria dos estudiosos não conservadores rejeita o ponto de vista tradicional de que Mateus, o cobrador de impostos, escreveu esse livro. Eles agem assim baseados em dois pontos principais. Em primeiro lugar, supondo que Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito (visto como o "evangelho genuíno" em muitos meios hoje), como é que um apóstolo e testemunha ocular poderia usar tanto do material de Marcos (93% do evangelho de Marcos aparece também nos outros evangelhos)? Primeiramente, para responder a essa pergunta, não foi provado que Marcos foi o primeiro evangelho escrito. As testemunhas antigas alegam que Mateus foi escrito primeiro, e, desde que os primeiros cristãos eram na maioria judeus, isso faz muito sentido. Mas, mesmo se aceitarmos a tão pro­ palada primazia de Marcos (e muitos conservadores assim o fazem), Mateus poderia ter reconhecido que o trabalho de Marcos era, na maior parte, lembran­ ças do dinâmico Simão Pedro, companheiro apostó­ lico de Mateus, como as tradições da igreja primitiva confirmam (cf. a introdução a Marcos). O segundo argumento em oposição à autoria de Mateus (ou de qualquer testemunha ocular) é que faltam detalhes nítidos. Marcos, que ninguém afirma ter testemunhado o ministério de Cristo, tem deta­ lhes nítidos que sugerem que ele esteve lá. Como uma testemunha ocular poderia escrever de modo tão prosaico? Talvez a personalidade de um cobrador de impostos explique isso bem. A fim de dar mais espaço para os discursos de Jesus, Levi poderia ter condensado detalhes desnecessários. Isso seria espe­ cialmente o caso se Marcos tivesse escrito primeiro e Mateus visse de primeira mão que as reminiscências de Pedro foram bem representadas.

III. Data Se for procedente a convicção difundida de que Mateus fez uma edição do seu evangelho (ou pelo menos das declarações de Jesus) primeiramente em aramaico, a data desse evangelho seria por volta de 45 d.C., quinze anos após a ascensão de jesus, o que concordaria com a antiga tradição. Ele poderia ter editado o evangelho canônico mais completo, em grego, no ano 50 ou 55, ou até mesmo mais tarde. O ponto de vista de que o evangelho tinha de ser escrito após a destruição de Jerusalém (70 d.C.) baseia-se fundam entalm ente no fato de não se acreditar na habilidade de Cristo em prever aquele evento futuro detalhadamente, e em outras teorias racionalistas que ignoram ou negam a inspiração divina.

IV. Contexto e tema Mateus era jovem quando Jesus o chamou. Judeu de nascença, sua profissão era a de cobrador de impostos, e ele abandonou tudo para seguir a Cris­ to. Uma de suas muitas recompensas foi que ele se tornou um dos doze apóstolos. Outra é que ele foi escolhido como o escritor do que conhecemos como o primeiro evangelho. É aceito de forma geral que Mateus também era conhecido como Levi (Mc 2:14; Lc 5:27). No seu evangelho, Mateus dispõe-se a mostrar que Jesus é o Messias de Israel que o povo tanto aguar­ dava, o único que poderia reivindicar legalmente o trono de Davi. O livro não professa ser uma narrativa completa da vida de Cristo. Começa com sua genealogia e seus primeiros anos, e então passa para o início do seu mi­ nistério público quando ele tinha aproximadamente trinta anos. Guiado pelo Espírito Santo, Mateus seleciona esses aspectos da vida e do ministério do Salvador que comprovam sua condição de Ungido de Deus (é justamente isso o que significa Messias e Cris­ to). O livro vai até o ponto mais alto: o julgamento, a morte, o sepultamento, a ressurreição e a ascensão do Senhor Jesus. E nesse ápice, é óbvio, foi assentado o fundamento da salvação do homem. É por essa razão que o livro é chamado de evangelho — não tanto porque ele mostra o caminho pelo qual pesso­ as pecaminosas podem receber a salvação, mas, pelo contrário, porque descreve a obra sacrificial de Cristo pela qual a salvação se tornou possível. Não é a intenção do CBP ser exaustivo nem técni­ co; pelo contrário, é estimular o estudo e a meditação individual. Acima de tudo, o alvo é criar no coração dos leitores um. desejo intenso pela volta do Rei. Portanto, até eu, com um coração mais ardente, Portanto, até eu, com uma esperança mais doce, Suspiro, ó Cristo, por tua vinda, Desfaleço pelo ardor do advento de teus pés. St. Paul, F. W. H. Myers Esboço I. A genealogia e o nascimento do Messias-Rei 0 )-

II. III.

Os primeiros anos do Messias-Rei (2). Os preparativos para o início do ministério do Messias e sua inauguração (3— 4). IV. A constituição do reino (5— 7). V. Os milagres do poder e da graça do Messias e as várias reações a eles (8:1— 9:34). VI. Os apóstolos do Messias-Rei são enviados a Israel (9:35— 10:42).

VII. Aumentam a oposição e a rejeição (11— 12). VIII. O Rei anuncia uma nova forma de intervalo no reino devido à rejeição de Israel (1 3). IX. A graça incansável do Messias depara com crescente hostilidade (14:1— 16:12). X. O Rei prepara seus discípulos (1 6:1 3— 1 7:27). XI. O Rei instrui seus discípulos (1 8— 20). XII. A apresentação e rejeição do Rei (21— 23). XIII. O discurso do Rei no monte das Oliveiras (24— 25). XIV. O sofrimento e a morte do Rei (26— 27). XV. O triunfo do Rei (28).

COMENTÁRIO* I.

A genealogia e o nascimento do Messias-Rei (1)

A. A genealogia de Jesus Cristo (1:1-17) Uma leitura casual do NT poderá levar algumas pessoas a imaginar por que ele se inicia com algo aparentemente desinteressante como uma árvore ge­ nealógica. Elas podem concluir que há pouco proveito a ser extraído dessa relação de nomes e, por isso, pulam essa parte para onde começa a ação. Contudo, a genealogia é indispensável, pois prepara o alicerce para o que se seguirá. A não ser que possa ser mostrado que Jesus é um descendente legítimo de Davi, pela linhagem real, seria impossível provar que ele é o Messias-Rei de Israel. Mateus começa o relato onde é necessário: com o documentário provando que Jesus herdou o direito legítimo ao trono de Davi, através do padrasto José. A genealogia de Mateus traça a descendência legítima de Jesus como Rei de Israel; a do evangelho de Lucas traça a descendência linear de Jesus como filho de Davi. Mateus segue a linhagem nobre de Davi, por seu filho Salomão, o próximo rei; Lucas segue a linhagem sanguínea de Davi, através de outro filho, Natã. A genealogia de Mateus se encerra com José, de quem Jesus era filho adotivo-, a de Lucas [cap. 3) provavelmente rastreia os ancestrais de Maria, de quem Jesus era o verdadeiro filho. Um milênio antes, Deus tinha feito um acordo in­ condicional com Davi, prometendo-lhe um reino que duraria para sempre e uma linhagem perpétua (SI 89:4,36-37). Esse acordo agora é cumprido em Cristo: ele é o herdeiro legítimo do trono de Davi por meio de José e a semente nobre de Davi por intermédio de Maria. Pelo fato de ele viver para sempre, seu reino não terá fim, e ele reinará pela eternidade como o maior filho de Davi. Jesus uniu em sua pessoa as duas

únicas bases para reivindicar o trono de Israel: a legal e a linear (já que ele ainda vive, não pode existir outro para reivindicá-lo). 1:1-15” A fórmula Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão é similar à ex­ pressão em Gênesis 5:1: “Este é o livro da genealogia de Adão”. Gênesis nos apresenta o primeiro Adão; Mateus, o último. 0 primeiro Adão foi o cabeça da primeira criação, ou da criação física. Cristo, o últi­ mo Adão, é o cabeça da nova criação, ou da criação espiritual. 0 tema desse evangelho é Jesus Cristo. 0 nome Jesus o apresenta como o Salvador Jeová;1 o título Cristo (“ungido”), como o tão esperado Messias de Israel. 0 título filho de Davi está associado com as funções de ambos, Messias e Rei no AT. 0 título filho de Abraão apresenta o Salvador como o cumprimento máximo das promessas feitas ao progenitor do povo hebreu.n+ A genealogia está dividida em três seções histó­ ricas: de Abraão a Jessé, de Davi a Josias e de Jeconias a José. A primeira divisão nos leva até Davi; a segunda cobre o período dos reis; a terceira preserva o registro da descendência nobre durante o exílio (a partir de 586 a.C.). Há muitos fatores interessantes nesse registro. Por exemplo, quatro mulheres são mencionadas: Tamar, Raabe, Rute e Bate-Seba (que fora mulher de Urias). Já que as mulheres são raramente mencionadas nas árvores genealógicas orientais, a inclusão dessas mulheres é mais surpreendente, pois duas delas foram meretrizes (Tamar e Raabe), uma cometera adultério (Bate-Seba) e duas eram gentias (Raabe e Rute). A inclusão de seus nomes na introdução a Mateus é tal­ vez uma sutil sugestão de que a vinda de Cristo traria salvação aos perdidos, graça aos gentios, e que nele todas as barreiras de raça e sexo seriam banidas. É interessante notar também a menção ao nome do rei Jeconias. Em Jeremias 22:30, Deus pronun­ ciou uma maldição sobre esse homem: Assim diz o SENHOR: Registrai este como se não tivera filhos; homem que não prosperará nos seus dias, e nenhum dos seus filhos prosperará, para se assentar no trono de Davi e ainda reinar em Judá.

* Veja “Suplementos” > “A vida de Cristo e seu ministério público”. ” Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo” . 1 (1-15) Jeová (ou Javé) é a forma portuguesa do nome hebraico Yahweh, tradicionalmente traduzido por “ Senhor ” . Compare a situa­ ção semelhante com Jesus, a forma portuguesa do hebraico Yeshua. m Veja “Suplementos” > “Profecias do M essias cumpridas em Jesus Cristo”.

Se Jesus fosse o verdadeiro filho de José, estaria veis, e essas explicações estão repletas de proveito sob essa maldição. Mas ele tinha de ser o filho legal e significado espiritual. de José a fim de herdar os direitos do trono de Davi. O problema foi resolvido pelo milagre do nascimento B. Jesus Cristo nasce de Maria (1:18-25) 1:18 Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi diferente virginal: Jesus era o herdeiro legal do trono através de José. Ele era o filho real de Davi através de Maria. A de qualquer outro dos nascimentos mencionados na maldição de Jeconias não caiu sobre Maria ou sobre genealogia. Lá encontramos a repetida fórmula: “A seus filhos, já que ela não era da descendência de gerou B”. Mas agora temos o registro de um nasci­ mento sem pai humano. Os fatos que rodeiam essa Jeconias. 1:16 Da qual. No original grego, qual é singular e concepção miraculosa estão declarados com simpli­ gênero feminino, indicando portanto que Jesus nasceu cidade e dignidade. Maria tinha sido prometida em de Maria, mas não de José. Além desses fatos inte­ casamento a José. Mas o casamento ainda não havia ressantes da genealogia, é necessário fazer menção acontecido. Nos tempos do NT, o noivado era uma forma de compromisso (mas bem mais sério que os também às dificuldades apresentadas. 1:17 Mateus dá atenção especial ao fato de que noivados de hoje) e somente podia ser desmanchado há três divisões de catorze gerações cada uma. No pelo divórcio. Apesar de o casal de noivos não morar entanto, sabemos do AT que há certos nomes faltan­ junto até que ocorresse a cerimônia matrimonial, a infidelidade por parte de um dos desposados era do na lista. Por exemplo: entre Jorão e Uzias (v. 8), reinaram Hazael, Joás e Amazias (cf. 2Rs 8— 14 e tratada como adultério e passível de morte. Durante o seu noivado, a virgem Maria achou-se 2Cr 21— 25). grávida por um milagre do Espírito Santo. Um anjo As genealogias de Mateus e Lucas parecem coincidir previamente anunciara esse acontecimento misterioso na menção de dois nomes: Sealtiel e Zorobabel (Mt a ela: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do 1:12-13 e Lc 3:27). É estranho que os ancestrais de Altíssimo te envolverá com a sua sombra” (Lc 1:35). José e Maria se unam nesses dois nomes e depois de Uma nuvem de suspeita e escândalo pairava sobre separem novamente. A dificuldade aumenta quando re­ Maria. Em toda a história humana, nunca ocorrera paramos que ambos os evangelhos seguem Esdras 3:2, antes um nascimento virginal. Quando as pessoas citando Zorobabel como filho de Sealtiel, enquanto em viam uma mulher solteira grávida, havia uma única lCrônicas 3:19, ele é citado como filho de Pedaías. explicação possível. A terceira dificuldade é que Mateus relata 27 gera­ 1:19 Até José não sabia ainda a verdadeira ex­ ções de Davi a Jesus, enquanto Lucas relata 42. Apesar plicação sobre a condição de Maria. Ele poderia ter de os evangelistas estarem esboçando árvores genealó­ ficado indignado com sua noiva em dois aspectos. gicas familiares diferentes, ainda parece estranho que Primeiro, sua aparente infidelidade a ele; em segundo haja tanta diferença no número de gerações. lugar, apesar de inocente, seria quase inevitável que Qual atitude o estudioso da Bíblia deve tomar dian­ ele fosse acusado de cumplicidade. Seu amor por te dessas dificuldades e até aparentes discrepâncias? Maria e o desejo de justiça fizeram que ele decidisse Em primeiro lugar, nossa premissa fundamental é romper o noivado mediante um divórcio discreto. Ele a de que a Bíblia é a Palavra inspirada por Deus. desejou evitar a desgraça pública, que normalmente Portanto, não pode conter erros. Em segundo lugar, acompanhava essa ação. é infinita, pois reflete a infinidade da divindade. Pode­ 1:20 Enquanto esse homem gentil e pensativo mos entender as verdades fundamentais da Palavra, preparava sua estratégia para proteger Maria, eis mas nunca poderemos compreender totalmente tudo que lhe apareceu, em sonho, um anjo do Senhor. o que está contido nela. A saudação “José, filho de Davi” teve, sem dúvida, Portanto, o contato com essas dificuldades nos leva a o propósito de despertar sua consciência para sua as­ concluir que o problema está em nossa falta de conhe­ cendência real e prepará-lo para o acontecimento fora cimento, e não na falibilidade da Bíblia. As dificuldades do normal do Messias-Rei de Israel. Ele não deveria bíblicas deveriam desafiar-nos a estudar e procurar as ter nenhum receio em se casar com Maria. Qualquer respostas. “A glória de Deus é encobrir as coisas, mas suspeita referente à sua pureza era sem fundamento. a glória dos reis é esquadrinhá-las” (Pv 25:2). Sua gravidez era um milagre do Espírito Santo. Pesquisas cuidadosas feitas por historiadores e 1:21 0 anjo então revelou o sexo do bebê, seu escavações feitas por arqueólogos não foram sufi­ nome e sua missão antes de ele nascer. Maria teria cientemente capazes de mostrar que as afirmações um filho. Seu nome seria Jesus (que significa “Jeová da Bíblia são falsas. 0 que aparentemente parecem é salvação” ou “Jeová, o Salvador”). Em concordância dificuldades e contradições tem explicações razoá­ com esse nome, ele salvará o seu povo dos pecados

deles. Essa criança era o próprio Jeová, visitando a terra a fim de salvar o povo da penalidade do pecado, do poder do pecado e, por fim, da própria presença do pecado. 1:22 À medida que Mateus narra esses eventos, ele percebeu que uma nova época começara na história de Deus quanto ao trato com a raça humana. As palavras de uma profecia messiânica, adormecidas havia muito tempo, agora saltavam para a vida. A profecia oculta de Isaías agora era cumprida no filho de Maria: Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta. Mateus confirma a inspiração divina das palavras de Isaías — o Senhor havia falado pelo profeta pelo menos setecentos anos antes de Cristo. 1:23 A profecia de Isaías 7:14 incluía o anúncio prévio de um nascimento singular (“Eis que uma virgem conceberá”) ; o sexo do bebê (“e dará à luz um filho”); o nome do bebê: (“e ele será chamado pelo nome de Emanuel”) . Mateus acrescenta uma explicação de que Emanuel significa Deus conosco. Não temos registro de que Cristo alguma vez fora chamado de “Emanuel” enquanto esteve na terra; ele sempre fora chamado de “Jesus”. Porém, o significado do nome Jesus (cf. a explicação do v. 21) implica a presença de Deus conosco. Emanuel poderia tam­ bém ser uma nomeação para Cristo, que será usado primordialmente na sua segunda vinda. 1:24 Como resultado da intervenção do anjo, José abandonou o plano de divorciar-se de Maria. Ele continuou a reconhecer o noivado até o nascimento de Jesus, após o qual se casaram. 1:25 0 ensino de que Maria permaneceu virgem pelo resto da vida é descartado pela consumação do seu casamento mencionado nesse versículo. Outras referências indicam que Maria teve outros filhos com José (cf. Mt 12:46; 13:55-56; Mc 6:3; Jo 7:3,5; At 1:14; ICo 9:5; e G11:19). Ao receber Maria como esposa, José também re­ cebeu o bebê como filho adotivo. É devido a essa adoção que Jesus se tomou o herdeiro legal ao trono de Davi. Em obediência à visita angelical, ele pôs-lhe o nome de Jesus. Foi assim que o Messias-Rei nasceu. 0 Eterno en­ trou no tempo. O Onipotente tomou-se um bebezinho. 0 Senhor da Glória encobriu aquela glória num corpo humano, “porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl 2:9).

II. Os primeiros anos do Messias-Rei (2) A. Os magos vêm adorar o Rei (2:1-12) 2:1-2 E fácil ser confundido com os eventos crono­ lógicos que acompanham o nascimento de Cristo.

Enquanto o versículo 1 pode indicar que Herodes tentou matar Jesus durante a estada de José e Maria na estrebaria em Belém,* há duas evidências que, combinadas, apontam um período de um ou dois anos após seu nascimento. Mateus diz no versículo 11 que os magos viram Jesus numa casa. A ordem de Herodes para matar todos os meninos de dois anos para baixo (v. 16) também é uma indicação da passagem de um período de tempo não especificado desde o régio nascimento. Herodes, o Grande, era descendente de Esaú e, portanto, um inimigo tradicional dos judeus. Ele fora convertido ao judaísmo, mas talvez essa conversão se devesse a interesses políticos. Foi caminhando para o término do seu reinado que vieram uns magos do Oriente à procura do Rei dos judeus. Esses homens bem poderiam ser sacerdotes pagãos, cujos rituais eram centrados nos elementos da natureza. Por causa do seu conhecimento e poder de predição, eles eram frequentemente escolhidos como conselheiros dos reis. Nós não sabemos onde eles moravam no Oriente, nem quantos eram, nem quanto tempo durou sua viagem. Foi a estrela no Oriente que os colocou a par do nascimento do Rei, e vieram adorá-lo. Possivelmente estavam familiarizados com as profecias do AT con­ cernentes à chegada do Messias. Talvez conhecessem a profecia de Balaão de que uma estrela procederia de Jacó (Nm 24:17) e associaram isto com a profecia das setenta semanas que havia predito o tempo da primeira vinda de Cristo (Dn 9:24-25). Mas é bem mais provável que a notícia fora comunicada a eles de forma sobrenatural. Várias explicações científicas foram oferecidas para explicar a estrela. Por exemplo, alguns dizem que foi uma junção de planetas. Mas o curso dessa estrela era totalmente irregular; a estrela ia adiante deles, guiando-os de Jerusalém até a casa onde Jesus estava morando (v. 9). Então a estrela parou. Sem dúvida, era tão fora do comum que só podia ser con­ siderado um milagre. 2:3 Tendo ouvido que a criança recém-nascida era para ser o rei dos judeus, Herodes alarmou-se. Qualquer recém-nascido em tais condições constituía uma ameaça ao seu tumultuado governo. Toda a Jeru­ salém se alarmou juntamente com ele. A cidade que deveria ter recebido as notícias com alegria estava transtornada por algo que poderia perturbar o estado em que se encontrava ou que pudesse atrair o descon­ tentamento dos odiados governadores romanos.

2:4-6 Herodes convocou os líderes religiosos ju­ deus para descobrir onde o Cristo deveria nascer. Os principais sacerdotes eram os sacerdotes e seus filhos (e talvez outros membros da família). Os escribas do povo eram leigos conhecedores da lei de Moisés. Eles preservavam e ensinavam a lei e serviam como juizes no Sinédrio. Esses sacerdotes e escribas prontamente citaram Miqueias 5:2 que identificava Belém da Judeia como a localidade ideal do nasci­ mento do Rei. O conteúdo da profecia em Miqueias chama a cidade de “Belém-Efrata”. Já que havia mais de uma cidade chamada Belém na Palestina, isso a identifica como a cidade no distrito de Efrata, dentro dos limites da tribo de Judá. 2:7-8 Herodes chamou secretamente os magos para determinar com precisão quanto ao tempo em que a estrela aparecera. Esse ato secreto traiu seu motivo sádico, pois necessitaria dessa informação caso fosse incapaz de localizar o bebê correto. Para encobrir sua verdadeira intenção, ele enviou os magos à procura do bebê e exigiu que mandassem notícias ao encontrá-lo. 2:9 Assim que os magos partiram, a estrela que viram no Oriente reapareceu. Isso indica que a estre­ la não os havia guiado por todo o caminho. Mas agora ela os guiou até onde estava o menino. 2:10 Menção especial é feita ao fato de que, vendo os magos a estrela, alegraram-se com grande e in­ tenso júbilo. Esses gentios diligentemente buscavam a Cristo; Herodes planejava matá-lo; os sacerdotes e escribas (ainda) estavam indiferentes; o povo de Jerusalém estava perturbado. Essas atitudes eram augúrios da forma pela qual o Messias seria recebido. 2:11 Entrando na casa, os magos viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se o adoraram, oferecendo caros presentes de ouro, incenso e mirra. Observe que eles viram Jesus com sua mãe. Normal­ mente a menção seria feita primeiramente à mãe e, então, ao bebê, mas esse bebê é singular e precisa receber preeminência (cf. tb. v. 13-14, 20-21). Os magos adoraram a Jesus, não Maria, nem José. (Note que o nome de José nem é mencionado na narrativa; logo ele desaparecerá completamente dos registros do evangelho.) É Jesus que merece o louvor e a adoração, não Maria, nem José. Os tesouros que trouxeram são bem significativos. Ouro é o símbolo da divindade e da glória, e retrata a perfeição esplendorosa da pessoa divina de Jesus. Incenso é um unguento ou perfume, e sugere a fragrância da vida perfeita sem pecado. Mirra é uma

erva amargosa, que expressa os sofrimentos que ele suportaria, carregando os pecados do mundo. 0 ato de trazer presentes dos gentios é uma recordação dos dizeres de Isaías 60:6. 0 profeta predisse que os gen­ tios viriam ao Messias com presentes, mas mencionou apenas o ouro e o incenso: “... trarão ouro e incenso e publicarão os louvores do S e n h o r ” . Por que a mirra foi excluída? Porque Isaías está relatando a segunda vinda de Cristo — sua vinda em poder e grande glória. Não haverá mirra nesse evento, pois nessa ocasião ele não sofrerá. Mas em Mateus a mirra é incluída, pois está em pauta a primeira vinda de Jesus. Em Mateus, temos os sofrimentos de Cristo; nesse trecho de Isaías, as glórias que seguirão. 2:12 Os magos foram por divina advertência pre­ venidos em sonho para não voltarem à presença de Herodes. Obedientemente, retomaram aos seus lares por outro caminho. Ninguém que encontra Cristo com um coração sincero volta pelo mesmo caminho. Um encontro verdadeiro com ele transforma toda a vida. B.

José, Maria e Jesus fogem para o Egito (2:13-15) 2:13-14* Desde sua infância, a ameaça de morte pairava sobre Jesus. Aparentemente, ele nasceu para morrer, mas somente na hora designada. Todo aquele que anda na vontade de Deus é imortal até que seu trabalho esteja completo. Um anjo do Senhor avisou a José, em sonho, para fugir para o Egito com sua fa­ mília. Herodes estava preparado para embarcar na sua missão de “procura e destruição”. A família se tomou refugiada da ira de Herodes. Não sabemos quanto tem­ po ficaram lá, mas com a morte de Herodes o caminho estava livre para o reaparecimento de Jesus. 2:15 Assim, outra profecia do AT se revestiu de novo significado. Deus disse por interm édio do profeta Oseias: Do Egito chamei o meu Filho (Os 11:1). No sentido original, essa passagem referia-se à libertação de Israel do Egito no tempo do êxodo. Mas a declaração pode ter um sentido duplo: a história do Messias faria um paralelo bem próximo à história de Israel. A profecia foi cumprida no retomo de Cristo do Egito a Israel. Quando o Senhor voltar a reinar em retidão, o Egito será um dos países que compartilharão das bênçãos do milênio (Is 19:21-25; Sf 3:9-10; SI 68:31). Por que aquela nação, tradicional inimiga de Israel, seria tão favorecida? Poderia ser uma prova da gratidão divina pelo refúgio gratuito ao Senhor Jesus? C.

+Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”.

Herodes massacra os bebês de Belém (2:1618) 2 :16 Ao perceber que os magos não retornaram, Herodes reconheceu que tinha sido iludido no seu

plano de localizar o pequeno Rei. Em fúria insensata, mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo. Estimativas variam quanto ao número de mortos; um escritor sugere mais ou menos 26. M o é provável que centenas de crianças tenham sido envolvidas. 2:17-18 0 clamor que seguiu a matança dos me­ ninos era um cumprimento das palavras do profeta Jeremias: “Assim diz o S e n h o r : Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto e grande lamento; era Raquel cho­ rando por seus filhos e inconsolável por causa deles, porque já não existem” (Jr 31:15). Na profecia, Raquel representa a nação de Israel. A tristeza da nação é atribuída a Raquel, que foi en­ terrada em Ramá (perto de Belém, onde o massacre aconteceu). À medida que os pais enlutados passavam pelo túmulo dela, ela é descrita como clamando com eles. No seu empenho de eliminar o pequeno rival, Herodes ganhou nada além de uma menção desonrosa nas crônicas históricas da infâmia. D.

José, Maria e Jesus se estabelecem em Nazaré (2:19-23) Após a morte de Herodes, um anjo do Senhor garan­ tiu a José que agora já era seguro retomar. Quando ele chegou à terra de Israel, descobriu, porém, que Arquelau, o filho de Herodes, reinava em lugar de seu pai como rei da Judeia. José temeu aventurar-se nessa região. Assim, após seus temores serem confirmados por divina advertência mediante um sonho, ele viajou rumo ao norte para as regiões da Galileia e se estabeleceu em Nazaré. Pela quarta vez nesse capítulo, Mateus alerta de que essa profecia fora cumprida. Ele não menciona o nome de nenhum dos profetas, mas diz que os profetas haviam predito que Jesus seria chamado Na­ zareno. Nenhum versículo do AT diz isso diretamente. Muitos estudiosos sugerem que Mateus está fazendo referência a Isaías 11:1: “Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo”. A palavra he­ braica traduzida “tronco” é netzer, mas a comparação parece remota. Uma explicação mais provável é que “nazareno” é usado para descrever qualquer pessoa que morou em Nazaré, cidade vista com desprezo pelo resto do povo. Natanael expressa isso com sua pergunta proverbial: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?” (Jo 1:46). O desprezo amontoado sobre essa cidade “sem importância” recaiu também sobre seus habitantes. Assim, quando o versículo 23 diz que Ele será chamado Nazareno significa que seria tratado com desprezo. Embora não achemos nenhuma profecia de que Jesus seria chamado nazareno, pode­ mos achar uma que diz que ele seria “desprezado e o mais rejeitado entre os homens” (Is 53:3). Outro

diz que ele seria um verme e não um homem, e seria opróbrio dos homens e desprezado do povo (SI 22:6). Portanto, enquanto os profetas não usaram as pala­ vras exatas, esse era incontestavelmente o espírito de várias profecias. É surpreendente que quando o Deus poderoso veio à terra a ele foi dado um apelido de vitupério. Os que seguem a Cristo são privilegiados por compartilhar o seu vitupério (Hb 13:13).

III. Os preparativos para o início do ministério do Messias e sua inauguração (3— 4) A. João Batista prepara o caminho (3:1-12) Entre os capítulos 2— 3, temos um intervalo de 28 ou 29 anos que Mateus não narra. Nesse tempo, Jesus estava em Nazaré, preparando-se para o serviço que estava por vir. Foram anos em que ele não executou nenhum milagre; no entanto, ele foi achado em per­ feito deleite aos olhos de Deus (Mt 3:17). Com esse capítulo, chegamos ao começo do seu ministério público. 3:1-2 João Batista era seis meses mais velho que seu primo Jesus (cf. Lc 1:26,36). Ele entrou no palco da história para servir como precursor do Rei de Is­ rael. Sua região pouco promissora era o deserto da Judeia, uma área árida que se estende de Jerusalém ao Jordão. A mensagem de João era: “Arrependeivos, porque está próximo o reino dos céus!” . O rei apareceria logo, mas ele não podia e nem reinaria sobre um povo que se apegasse a pecados. Eles têm que mudar de direção e precisam confessar e abando­ nar seus pecados. Deus estava chamando-os do reino das trevas para o reino dos céus.

O reino dos céus No versículo 2 aparece o prim eiro registro da expressão "reino dos céus", usada 32 vezes nesse evangelho. Já que ninguém pode entender Mateus sem compreender esse conceito, é oportuno definir e descrever aqui esse termo. O reino dos céus é a esfera na qual o controle de Deus é reconhecido. A palavra "céu" é usada para denotar Deus. Esse aspecto é mostrado em Daniel 4:25, em que Daniel diz que "o Altíssimo" domina no reino dos homens. No próximo versículo ele diz que o "céu" domina. Onde quer que haja pessoas que se submetem ao domínio de Deus existe o reino dos céus. Há dois aspectos do reino dos céus. No aspecto mais amplo, estão incluídas as pessoas que professam reconhecer Deus como Soberano. No mais restrito,

estão incluídos apenas os que foram genuinamente convertidos. Podemos descrever isso através de dois círculos:

O círculo maior é a esfera dos que professam; inclui todos os que estão genuinamente sujeitos ao Rei e também os que apenas professam submissão a ele. Isso é notado nas parábolas do semeador (Mt 13:3-9), da semente de mostarda (Mt 13:31 -32) e do fermento (Mt 1 3:33). O círculo menor inclui apenas os que nasceram de novo pela fé no Senhor Jesus Cristo. No reino dos céus, no seu aspecto interno, só entra os convertidos (Mt 18:3). Juntando todas as referências ao reino na Bíblia, podemos traçar seu desenvolvimento histórico em cinco fases distintas: Em primeiro lugar, o reino foi profetizado no AT. Daniel predisse que Deus suscitaria um reino que nunca seria destruído e que nem passaria para outro povo (Dn 2:44). Ele também previu a vinda de Cristo para exercer um dom ínio universal e eterno (Dn 7:13-14; cf. tb. Jr 23:5-6). Em segundo lugar, o reino era descrito por João Batista, Jesus e os doze apóstolos como estan d o p ró xim o (Mt 3:2; 4:17; 10:7). Em Mateus 12:28, Jesus disse: "Se, porém, eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós". Em Lucas 17:21, ele disse: "... o reino de Deus está dentro de vós" ou no vosso meio. O reino estava presente na pessoa do Rei. Com o mostraremos posteriormente, as expressões "reino de Deus" e "reino dos céus" são intercambiáveis. Em terceiro lugar, o reino é descrito numa forma interina. Após ser rejeitado pela nação de Israel, o Rei retornou ao céu. Mesmo com a ausência do Rei, o reino existe hoje no coração de todos os que reconhecem o reinado de Jesus e seus princípios morais e éticos, incluindo o Sermão do Monte, que são aplicáveis a nós hoje. Essa fase interina do reino está descrita nas parábolas de Mateus 1 3. A quarta fase do reino é o que poderíamos chamar de manifestação. Esse é o reinado de mil anos na terra que foi descrito na transfiguração de Cristo quando ele foi visto na glória do seu reino que estava por vir (Mt 1 7:1-8). Jesus se referiu a essa fase em Mateus 8:11 quando disse: "... muitos virão do Oriente e

do Ocidente e tomarão lugar à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus". A forma final será o reino eterno. E descrito em 2Pedro 1:11 como o "reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo". A expressão "reino dos céus" somente encon­ tramos no evangelho de Mateus, mas a expressão "reino de Deus" é encontrada em todos os quatro evangelhos. Para todo propósito prático não há nenhuma diferença — as mesmas coisas são ditas a respeito de ambos. Por exemplo, em Mateus 19:23, Jesus disse que seria difícil a um homem rico entrar no reino dos céus. Tanto Marcos (10:23) como Lucas (18:24) registram o que Jesus disse a respeito do reino de Deus (cf. tb. Mt 19:24, que registra um aforismo semelhante usando "o reino de Deus"). Mencionamos que o reino dos céus tem um aspec­ to externo com uma realidade interna. O fato de o mesmo se aplicar ao reino de Deus é mais uma prova de que as duas expressões indicam a mesma coisa. O reino de Deus também inclui o falso e o verdadeiro. Isso é visto na parábola do semeador (Lc 8:4-10) e na semente de mostarda (Lc 3:18-19) e do fermento (Lc 13:20-21). Para provar que é uma realidade interna, no reino de Deus somente podem entrar os que já nasceram de novo (Jo 3:3,5). Um comentário final: o reino não é semelhante à Igreja. O reino começou quando Cristo embarcou no seu ministério público; a Igreja começou no dia de Pentecostes (At 2). O reino continuará na terra até esta ser destruída; a Igreja continua na terra até o arrebatamento (a retirada da Igreja da terra quando Cristo descer dos céus para levar os crentes para casa com ele — IT s 4:13-18). A Igreja retornará com Cristo na segunda vinda para reinar com ele como sua noiva. Na atualidade, as pessoas que estão no reino, numa realidade verdadeira e interna, também estão na Igreja. 3:3 A fim de voltarmos à exposição de Mateus 3, notem que o ministério preparatório de João tinha sido profetizado por Isaías, mais de setecentos anos antes do seu tempo: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do S e n h o r ; endireitai no ermo vereda a nosso Deus” (40:3). João era a voz. A nação de Israel, espiritualmente falando, era o deserto — seco e ári­ do. João pregou ao povo para preparar o caminho do Senhor pelo arrependimento e abandono dos pecados e para endireitar as suas veredas removendo da vida das pessoas qualquer coisa que fosse empecilho para o domínio completo de Deus. 3:4 As vestes do batizador eram feitas de pelos de camelo — não o pelo luxuoso e macio dos ca-

meios dos nossos dias, mas o tecido rústico de um homem do campo. Ele também usava um cinto de couro. Esse era o mesmo traje de Elias (2Rs 1:8), e talvez isso servisse para alertar os judeus crentes da semelhança entre a missão de João e a de Elias (Ml 4:5; Lc 1:17; Mt 11:14; 17:10-12). João comia gafanhotos e mel silvestre, uma dieta de manuten­ ção tão consumida pela sua missão que os confortos e os prazeres normais da vida foram relegados ao esquecimento. Deveria ter sido uma experiência convincente e fervente conhecer João — um homem que não se preocupava com nenhumas das coisas que as pes­ soas normalmente se preocupam. Sua absorção das realidades espirituais deve ter feito outras pessoas perceberem quanto elas eram pobres. Sua renúncia era sem dúvida uma repreensão contundente ao mundanismo dos seus dias. 3:5-6 O povo saiu em massa de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a circunvizinhança do Jordão para ouvi-lo. Alguns entenderam sua mensagem e foram por ele batizados no rio Jordão, dizendo de fato que estavam preparados para dar total fidelidade e obediência à vinda do Rei. 3 :7 Mas com os fariseus e saduceus a história foi diferente. Quando vinham ouvi-lo, João sabia que não estavam sendo sinceros. Ele percebeu a verda­ deira natureza deles: os fariseus professavam grande devoção à lei, mas internamente eram corruptos, sectários, hipócritas, virtuosos aos próprios olhos; os saduceus eram aristocratas sociais e religiosos céticos que negavam doutrinas básicas como a da ressurreição do corpo, a existência de anjos, a imor­ talidade da alma e o castigo eterno. Portanto, ele denunciou ambas as classes como raça de víboras, que estavam desejosos de escapar da ira vindoura, mas que não mostravam nenhum sinal de verdadeiro arrependimento. 3 :8 Ele os desafiava a provar sua sinceridade mostrando frutos dignos de arrependimento. O verdadeiro arrependimento, como escreve J. R. Miller, “nada significa se produz apenas algumas lágrimas, um espasmo de pesar, um pequeno susto. Precisamos abandonar os pecados dos quais nos arrependemos e andar em um caminho novo e puro de santidade”. 3:9 Os judeus deveriam deixar de tirar proveito de sua descendência de Abraão como um passaporte ao céu. A graça da salvação não é transmitida por nascimento natural. Deus podia fazer com que as pedras do Jordão se transformassem em filhos de Abraão através de um processo menos violento que a conversão dos fariseus e saduceus. 3 :10 Ao declarar que já está posto o machado à raiz das árvores, João estava dizendo que um

serviço de julgamento divino estava para se iniciar. A chegada e a presença de Cristo testariam todos os homens. Aqueles achados sem fruto seriam destruí­ dos tal como uma árvore infrutífera que é cortada e lançada ao fogo. 3:1 1 -1 2 Nos versículos 7-10, João falou exclu­ sivamente aos fariseus e saduceus (cf. v. 7), mas agora, aparentemente, ele está falando ao auditório completo, que inclui os verdadeiros e os falsos cren­ tes. Ele explicou que havia uma diferença entre seu ministério e o do Messias que chegaria em breve. João batizou com água, para arrependimento; a água era cerimonial e não tinha nenhum efeito purificador; o arrependimento, apesar de sincero, não trazia uma pessoa à total salvação. João via seu ministério como preparatório e parcial. 0 Messias ofuscaria totalmen­ te João. Ele seria mais poderoso, mais digno, seu trabalho alcançaria uma área mais longínqua, pois ele batizaria com o Espírito Santo e com fogo. O batismo com o Espírito Santo é bem distinto do batismo com fogo. O primeiro é um batismo de bênçãos; o último, de julgamento. 0 primeiro acon­ teceu no Pentecostes; o último ainda é futuro. 0 pri­ meiro é apreciado por todos que creem sinceramente em Jesus Cristo; o último será uma fatalidade aos descrentes. 0 primeiro seria para os israelitas cujo batismo era um sinal externo de um arrependimento interno; o último seria para os fariseus, saduceus e todos os que não mostraram evidência do verdadeiro arrependimento. Alguns ensinam que o batismo com o Espírito Santo e o batismo com fogo fazem parte do mesmo acontecimento, isto é, o batismo com fogo não po­ deria se referir às línguas de fogo que apareceram quando o Espírito foi dado no Pentecostes? À luz do versículo 12, que equipara o fogo com julgamento, provavelmente não. Imediatamente após essa referência ao batismo com fogo, João fala de julgamento. 0 Senhor é des­ crito usando uma pá para lançar o debulho ao vento. O trigo (os verdadeiros cristãos) cai diretamente no chão e é carregado para o celeiro. A palha (os descrentes) é carregada por uma curta distância pelo vento e então ajuntada e queimada em fogo inextinguível. O fogo no versículo 12 significa julgamento, e desde que esse versículo é uma ampliação do ver­ sículo 11 é razoável concluir que o batismo com fogo é um batismo de julgamento. B. João batiza Jesus (3:13-17) 3:13 Jesus andou aproximadamente 96 quilômetros da Galileia até o rio Jordão, a fim de que João o ba­ tizasse. Isso indica a importância que ele deu a essa

cerimônia e deveria indicar o significado do batismo para seus seguidores hoje. 3:14-15 Percebendo que Jesus não tinha nenhum pecado do qual se arrepender, João protestou contra seu batismo. Foi o verdadeiro discernimento que o conduziu a sugerir que a ordem correta seria Jesus o batizar. Jesus não negou isso; simplesmente repetiu seu pedido de batismo como a maneira de adequar o cumprimento de toda a justiça. Ele considerou apropriado que no batismo se identificaria com esses israelitas religiosos que estavam vindo para serem batizados em sinal de arrependimento. Mas havia até um motivo mais profundo. 0 batismo para ele era um ritual simbolizando o modo como cumpriria todas as exigências justas de Deus contra o pecado do homem. A imersão simbolizou seu batismo nas águas do julgamento de Deus no Calvário. Sua saída da água previa a ressurreição. Por morte, sepultamento e ressurreição, ele satisfaria as demandas da justiça divina e providenciaria a base íntegra pela qual os pecadores poderiam ser justificados. 3:16-17f Assim que saiu da água, Jesus viu o Es­ pírito de Deus descendo do céu como pomba, vindo sobre ele. Do mesmo modo como objetos e pessoas eram consagrados no AT, para propósitos sagrados pelo “óleo sagrado daunção” (Êx 30:25-30), assim ele foi ungido Messias pelo Espírito Santo. Foi uma ocasião sagrada, quando todos os três membros da Trindade estavam em evidência. O Filho amado estava lá. O Espirito Santo estava lá em forma de pomba. A voz do Pai foi ouvida dos céus pronun­ ciando bênção sobre Jesus. Foi um evento memorável porque a voz de Deus foi ouvida citando as Escrituras: “Este é o meu Filho amado (SI 2:7), em quem me comprazo” (Is 42:1). Essa é uma das três ocasiões em que o Pai falou dos céus em reconhecimento sa­ tisfeito do seu Filho singular (as outras ocasiões são emMt 17:5 e Jo 12:28). C. Jesus é tentado pelo diabo (4:1-11) 4:1 Pode parecer estranha a necessidade de Jesus ser levado pelo Espírito ao deserto, para ser tenta­ do. Por que o Espírito Santo o levaria a tal encontro? A resposta é que essa tentação foi necessária a fim de demonstrar sua capacidade moral de executar a obra que veio realizar no mundo. O primeiro Adão, ao encontrar o adversário no jardim do Éden, provou que não estava capacitado para o domínio. Aqui, o último Adão se encontrou com o adversário frente

* Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo” .

a frente e saiu ileso. A palavra grega traduzida por “tentado” ou “testado” tem dois significados: 1) a fim de provar ou testar (Jo 6:6; 2Co 13:5; Hb 11:17); 2) a fim de seduzir ao pecado. O Espírito Santo testou ou provou Cristo. O Diabo tentou atraí-lo ao pecado. Há um mistério profundo ligado à tentação de Je­ sus. Questões inevitáveis surgem: “Ele poderia ter pecado?”. Se a resposta for “não”, temos de encarar outra pergunta: “Como poderia ser uma tentação ver­ dadeira se ele não cederia?”. Se a resposta for “sim”, encaramos este problema: “Como o Deus encarnado poderia pecar?”. É primordial lembrar que Jesus Cristo é Deus e que Deus não pode pecar. Também é verdade que ele é humano; porém, afirmar que ele poderia pecar como humano, e não como Deus, é construir um caso sem fundamento nas Escrituras. Os escritores do NT escreveram da impecabilidade de Cristo em várias ocasiões. Paulo escreveu que ele “não conheceu pe­ cado” (2Co 5:21); Pedro escreve que ele “não cometeu pecado” (lPe 2:22); e João escreve:"... nele não existe pecado” (ljo 3:5). Como nós, Jesus podia ser tentado externamente: o Diabo veio a ele com sugestões opostas à vontade de Deus. Mas, ao contrário de nós, ele não podia ser tentado internamente — nenhuma concupiscência ou paixão podia se originar nele. E mais: não havia nada nele que responderia às seduções do Diabo (Jo 14:30). Apesar de Jesus ser incapaz de pecar, a tentação foi verdadeiramente real. Foi possível ele deparar-se com a tentação ao pecado, mas era moralmente impossível para ele ceder. Ele podia fazer unicamente o que viu o Pai fazer (Jo 5:19), e é inconcebível que ele alguma vez tenha visto o Pai pecando. Ele não podia fazer nada na sua autoridade (Jo 5:30), e o Pai nunca lhe daria a autoridade de ceder à tentação. 0 propósito da tentação não era ver se ele pecaria, mas provar que, mesmo sob tremenda pressão, ele não podia fazer nada, a não ser obedecer à vontade de Deus. Se Jesus podia pecar como ser humano, encara­ mos o problema de ele ainda ser humano no céu. Será que ele ainda poderia pecar? É óbvio que não. 4:2-3 E, depois de jejuar quarenta dias e qua­ renta noites, Jesus teve fome. (O número quarenta nas Escrituras é usado com frequência no contexto de testar ou provar). Esse apetite natural deu ao tentador uma vantagem que poderia ser explorada em muitas pessoas. Ele sugeriu que Jesus usasse seu poder miraculoso para converter pedras no deserto em pães. As palavras introdutórias “ Se és Filho de Deus” não implicam dúvidas. Elas realmente sig­ nificam: “Já que és Filho de Deus”. O Diabo está se

referindo às palavras do Pai a Jesus no seu batismo: “Este é o meu Filho amado”. Ele usa uma construção grega2 que supõe que a declaração é verdadeira, e, portanto, ele chama Jesus para exercitar seu poder a fim de saciar a fome. Usar o poder divino para satisfazer um apetite natural em resposta à incitação de Satanás consiste em desobediência direta a Deus. A ideia por trás da sugestão de Satanás lembra Gênesis 3:6 (“boa para comer”). João classifica essa tentação como “concupiscência da carne” (ljo 2:16). Mossa tentação cor­ respondente é viver a fim de gratificarmos os desejos naturais, escolher um caminho de conforto em vez de procurar o reino de Deus e sua justiça. 0 Diabo diz: “Você tem de viver, não tem?”. 4:4 Jesus respondeu à tentação citando a palavra de Deus. 0 exemplo do Senhor nos ensina que não temos de viver, mas temos de obedecer a Deus! Obter pão não é a coisa mais importante na vida. Obediência a toda palavra que procede da boca de Deus é pri­ mordial. Já que Jesus não tinha recebido instruções do Pai para transformar pedras em pães, ele não agiria por si próprio, obedecendo a Satanás, não importando qual a intensidade da sua fome. 4:5-6 A segunda tentação ocorreu em Jerusalém, sobre o pináculo do templo. 0 Diabo desafiou Jesus: atira-te abaixo, dando uma amostra esplêndida de sua filiação divina. Novamente, a palavra inicial se não implica dúvida, como é visto na referência de Sa­ tanás a Salmos 91:11-12, fazendo menção protetora ao Messias por Deus. A tentação era para Jesus demonstrar que ele era o Messias, executando uma proeza sensacional. Ele podia se desviar da cruz e ainda alcançar o trono. Mas essa atitude estaria fora da vontade de Deus. João descreve essa atração como “soberba da vida” (ljo 2:16). Assemelha-se à “árvore desejável para dar entendimento” (Gn 3:6) no jardim do Éden, pois ambos eram meios de adquirir a glória pessoal negli­ genciando a vontade de Deus. Essa tentação vem a nós no desejo de alcançar a preeminência religiosa fora da comunhão do sofrimento de Cristo. Buscamos grandes coisas para nós, depois corremos e nos es­ condemos quando as dificuldades surgem em nosso caminho. Quando ignoramos a vontade de Deus, e nos exaltamos, tentamos a Deus. 4:7 Novamente Jesus resiste à tentação citando as Escrituras: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus (cf. Dt 6:16). Deus havia prometido preservar o Messias, mas essa garantia pressupunha uma vida de acordo com a vontade de Deus. Obter a promessa estando em desobediência seria tentar a Deus. Chegaria o tempo quando Jesus seria revelado

como o Messias, mas a cruz tinha de vir primeiro. 0 altar de sacrifício precisa preceder o trono. A coroa de espinhos precisa preceder a coroa de glória. Jesus esperaria o tempo de Deus e cumpriria a vontade do Pai. 4:8-9 Na terceira tentação, o Diabo levou Jesus a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles. Ele ofereceu tudo isso a Jesus em troca de sua adoração. Apesar de essa tentação ter algo a ver com adoração, um exercício do espírito, era um esforço para induzir o Senhor a se apoderar dos poderes imperiais do mundo adorando Satanás. A recompensa oferecida — todos os reinos do mundo com a glória deles — apelou à “concupiscência dos olhos” (ljo 2:16). Em certo sentido, os reinos do mundo pertencem ao Diabo no presente. Fala-se dele como o “deus deste século” (2Co 4:4); e João afirma que “o mundo inteiro jazno Maligno” (ljo 5:19). Quando Jesus aparecer na segunda vinda como Rei dos Reis (Ap 19:16), então “o reino do mundo se tomou de nosso Senhor” (Ap 11:15). Jesus sem dúvida não alteraria o horário divi­ no, e certamente nunca adoraria a Satanás! Para nós, a tentação tem um significado duplo: trocar nossa primogenitura espiritual pelas glórias passageiras deste mundo e adorar e servir a criatura em vez de o Criador. 4 :10 Pela terceira vez Jesus resistiu à tentação citando o AT: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” . A adoração e o serviço que dela flui são exclusivamente para Deus. Adorar Satanás seria equivalente a reconhecê-lo como Deus. A seqüência das tentações registradas em Mateus varia em Lucas (4:1-13). Alguns têm sugerido que a seqüência de Mateus faz um paralelo com a seqüência das tentações que Israel enfrentou no deserto (Êx 16— 17; 32). Jesus revelou-se um perfeito contraste em comparação à dureza de Israel. 4:11 Quando Jesus tinha refutado com sucesso as tentações de Satanás, este o deixou. As tentações vêm em ondas em vez de um fluxo ou correnteza constante. “... vindo o inimigo como uma corrente de águas, o Espírito do SENHOR arvorará contra ele a sua bandeira” (Is 59:19, RC). Que encorajamento para os santos provados por Deus! A Bíblia nos conta que vieram anjos e o serviam, mas nenhuma explicação é dada para essa assistên­ cia sobrenatural. Provavelmente significa que eles

2 (4:2-3) Condição de primeira classe, usando ei com o indicativo. Pode ser parafraseado como: “Se tu és, e eu confirmo, o Filho de Deus” ou “Sendo que tu és o Filho de Deus”.

providenciaram o alimento físico para ele, alimento que Jesus havia recusado a providenciar conforme a sugestão de Satanás. Aprendemos da tentação de Jesus que o Diabo pode atacar os que são controlados pelo Espírito Santo, mas que ele não tem poder contra os que o resistem com a palavra de Deus. D.

Jesus inicia seu ministério na Galileia (4:12-17)+ 0 ministério judaico de Jesus, que durou quase um ano, não é relatado em Mateus. Esse período de um ano é narrado em João 1— 4, e se encaixa entre Ma­ teus 4:11-12. Mateus nos leva da tentação direto ao ministério na Galileia. 4:12 Ouvindo, porém, Jesus que João Batista fora preso, ele percebeu que isso era um sinal da sua própria rejeição. Ao rejeitar o precursor do Rei, o povo estava em todo sentido prático rejeitando também o Rei. Mas não foi o medo que o dirigiu rumo ao norte, à Galileia. Na verdade, ele estava indo diretamente ao centro do reino de Herodes — o mesmo rei que tinha acabado de prender João. Ao mudar para a Galileia dos gentios, ele estava mostrando que sua rejeição pelos judeus resultaria na ida do evangelho até os gentios. 4:13t+ Jesus permaneceu em Nazaré até o popu­ lacho tentar matá-lo devido ao fato de ele proclamar salvação aos gentios (cf. Lc 4:16-30). Então ele se mudou para Cafamaum, à beira do mar da Galileia, uma área originalmente habitada pelas tribos de Zebulom e Naftali. Desse tempo em diante, Cafamaum tomou-se seu centro de atividades. 4:14-16 A mudança de Jesus para a Galileia foi cumprimento de Isaías 9:1-2. Os supersticiosos e ignorantes gentios que moravam na Galileia viram uma grande luz — que é Cristo, luz do mundo. 4:1 7 Daí por diante, passou Jesus a pregar a mensagem que João havia pregado: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” . Era um chamado adicional para uma renovação moral a fim de se prepararem para seu reino. O reino estava próximo no sentido de que o Rei estava presente. E. Jesus chama quatro pescadores (4:18-22) 4:18-19 Realmente, essa é a segunda vez que Jesus chamou Pedro e André. Em João 1:35-42, eles foram chamados à salvação; aqui eles estão sendo chamados

f Veja “Suplementos” > “Ministério na Galileia” . ++Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”.

para o serviço. O primeiro chamado ocorreu na Judeia; esse, na Galileia. Pedro e André eram pescadores, mas agora Jesus os chama para serem pescadores de homens. A responsabilidade deles era seguir a Cristo. A responsabilidade do Senhor era fazê-los pescadores bem-sucedidos de homens. 0 ato de seguir a Cristo envolveria mais que uma aproximação física. Incluía imitar o caráter de Cristo. 0 ministério deles era para ser um ministério de caráter. Mais importante do que diziam ou faziam era o que eles eram. Como Pedro e André, temos também de evitar a tentação de subs­ tituir a verdadeira espiritualidade por argumentos eloqüentes e personalidades capazes. Ao seguir a Cristo, o discípulo aprende a ir onde os peixes estão nadando, a usar uma isca apropriada, enfrentar o desconforto e a inconveniência, a ser paciente e ficar fora da vista. 4:20 Pedro e André ouviram o chamado e atende­ ram imediatamente. Em demonstração de fé genuína, eles deixaram as redes. Em sinal de compromisso genuíno e devoção, eles seguiram Jesus. 4:21-22 0 chamado veio em seguida a Tiago e a João. Eles também se tomaram discípulos instantane­ amente. Abandonaram não apenas seu sustento, mas seu pai também; eles reconheceram a prioridade de Jesus sobre os laços terrenos. Respondendo ao chamado de Cristo, esses pesca­ dores se tomaram figuras-chave na evangelização do mundo. Se tivessem permanecido com as redes, nunca teríamos ouvido falar deles. 0 reconhecimento do senhorio de Cristo faz toda a diferença no mundo. E Jesus cura uma grande multidão (4:23-25) 0 ministério de Jesus era triplo. Ele ensinou a palavra de Deus nas sinagogas, pregou o evangelho do reino e curou os doentes. Um dos propósitos dos milagres de curar era autenticar sua pessoa e seu ministério (Hb 2:3-4). Os capítulos 5— 7 são um exemplo do seu ministério de ensino, e os capítulos 8— 9 descrevem seus milagres. 4 :2 3 No versículo 23, encontramos a primeira menção do evangelho no NT. A expressão significa “boas-novas de salvação”. Em toda a história da humanidade, houve um único evangelho, um único caminho de salvação.

O evangelho O evangelho se origina na graça de Deus (Ef 2:8). Isso significa que Deus dá a vida eterna gratuitamen­ te a pessoas pecaminosas que não merecem. A base do evangelho é a obra de Cristo na cruz ( IC o 15:1-4). Nosso Salvador preencheu todas as

exigências da justiça divina, possibilitando a Deus justificar pecadores que creem. Os crentes do AT fo­ ram salvos através da obra de Cristo, ainda que fosse futura. Eles provavelmente não conheciam muito a respeito do Messias, mas Deus sabia, e ele imputou o valor da obra de Cristo na conta deles. Em certo sentido, eles foram salvos baseados "em um crédito". Também somos salvos através da obra de Cristo, mas, no nosso caso, a obra já se consumou. O evangelho é recebido unicamente através da fé (Ef 2:8). No AT, o povo era salvo acreditando no que Deus lhe falava. Nesta época, o povo é salvo crendo no testemunho de Deus concernente ao seu Filho como o único caminho de salvação (1 Jo 5:11-12). O propósito final do evangelho é o céu. Temos a espe­ rança da eternidade no céu (2Co 5:6-10), da mesma forma que os crentes do AT (Hb 11:10; 14-16). Enquanto há só um evangelho, há aspectos di­ ferentes do evangelho em tempos diferentes. Por exemplo, encontramos uma ênfase diferente entre o evangelho do reino e o evangelho da graça de Deus. O evangelho do reino diz: "Arrependei-vos e rece­ bam o Messias; então vocês entrarão no seu reino quando for estabelecido na terra". O evangelho da graça diz: "Arrependei-vos e recebam a Cristo; então vocês serão arrebatados para encontrá-lo e estarão com ele para sempre". Fundamentalmente, eles são o mesmo evangelho — salvação pela graça, pela fé — , mas mostram que há diferentes administrações do evangelho de acordo com os propósitos dispensacionais de Deus. Quando Jesus pregou o evangelho do reino, ele estava anunciando sua vinda como o Rei dos judeus e explicando os termos de admissão ao seu reino. Seus milagres mostram a natureza sadia do reino.3 4:24-25 E a sua fama correu por toda a Síria (o território norte e nordeste de Israel), todos os doentes, [...] endemoninhados [...] e paralíticos sentiram seu toque curador. 0 povo aglomerou-se ao redor dele na Galileia, Decápolis (tuna confederação de dez cidades gentüicas no nordeste da Palestina), Jerusalém e Judeia e nas regiões ao oeste do rio Jordão. Como B. B. Warfield escreveu: “Doenças e mortes devem ter sido quase eliminadas por um curto tempo da {...] região” . Não é de admirar que o público ficasse assombrado ao ouvir os relatos que vieram da Galileia!

Nesse sermão, o Rei resume o caráter e a conduta esperada dos seus súditos. Esse sermão não é uma apresentação do plano de salvação, nem seus ensinamentos têm como alvo os descrentes; foi dirigido aos seus discípulos (5:1-2) e a intenção era ser a constituição, ou o sistema de leis e princípios que governariam os súditos do Rei no seu remado. Era para todos os que reconhecessem Cristo como Rei — os do passado, presente ou futuro. Quando Cristo estava na terra, sua aplicação direta era aos discípulos dele. Agora, que nosso Senhor reina nos céus, aplica-se a todos os que o coroam como Rei no coração. Finalmente, será o código de comportamento dos seguidores de Cristo durante a tribulação e durante seu reinado na terra. 0 sermão tem um sabor distintamente judaico, como visto nas alusões ao Sinédrio (5:22), ao altar (5:23-24) e a Jerusalém (5:35). Mesmo assim, seria errado dizer que os ensinamentos são exclusivamente para os crentes israelitas no passado ou futuro; os ensinamentos são para todos os que, em qualquer época, reconhecem Jesus Cristo como Rei. A. As bem-aventuranças (5:1-12) 5:1-2 0 sermão se inicia com as bem-aventuranças ou bênçãos. Essas expõem o padrão ideal para o cidadão do reino de Cristo. As qualidades descritas e aprova­ das são totalmente opostas às que o mundo valoriza. A. W. Tozer as descreve desta forma: “Uma descrição precisa da raça humana poderia ser feita a alguém que não a conhecesse tomando as bem-aventuranças e apresentando-as ao contrário, dizendo: Assim é o gênero humano’”. 5:3 A primeira bênção é prometida aos humildes de espírito. Isso não se refere à disposição natural, mas à escolha e à disciplina do ser humano. Os humildes de espírito são os que reconhecem sua incapacidade e dependem da onipotência de Deus. Esses percebem sua necessidade espiritual e encon­ tram o suprimento no Senhor. O reino dos céus, onde a autos-suficiência não é virtude e a autoexaltação é um vício, pertence a tais pessoas. 5:4 Os que choram, porque serão consolados; o dia de consolo os aguarda. Isso não se refere às vicissitudes da vida. É o choro que uma pessoa expe­ rimenta devido à comunhão que ela tem com o Senhor Jesus. É compartilhar ativamente das dores e dos pecados do mundo com Jesus. Portanto, inclui não

IV. A constituição do reino (5— 7) Não é por acaso que o Sermão do Monte situa-se no início do NT. Essa posição indica sua importância.

3 (Excurso) “Dispensação” é uma administração. Descreve o método que Deus usa ao lidar com a raça humana em qualquer período na história. A palavra não significa um período de tempo per se, pelo contrário, designa o programa divino durante qualquer período.

só o chorar devido ao próprio pecado, mas também chorar devido à condição espantosa do mundo, ao re­ jeitar o Salvador, e o julgamento dos que rejeitam sua misericórdia. Esses que choram serão consolados no dia vindouro quando Deus “... enxugará dos olhos toda lágrima...” (Ap 21:4). Os crentes choram pelos descrentes agora, nesta vida, pois a tristeza de hoje é apenas uma amostra da tristeza eterna. 5:5 Uma terceira bênção é prometida aos mansos; porque herdarão a terra. Por natureza essas pessoas poderiam ser até volúveis, temperamentais e ásperas. Mas por propositadamente levarem o espírito de Cris­ to neles tomam-se mansos ou gentis (cf. Mt 11:29). Mansidão implica aceitar a posição humilde da pes­ soa. A pessoa mansa é gentil e moderada nas causas próprias, mas pode ser um leão quando se trata das coisas de Deus ou da defesa de outras pessoas. Os mansos não herdam a terra agora; pelo contrá­ rio, herdam o abuso e a expropriação. Mas eles ver­ dadeiramente herdarão a terra quando Cristo, o Rei, reinar durante mil anos em paz e prosperidade. 5:6 Em seguida, uma bênção é prometida aos que têm fome e sede de justiça: a esses é prometida a satisfação. Essas pessoas têm paixão por justiça em sua vida; elas almejam ver honestidade, integridade e justiça na sociedade; anelam uma santidade prática na igreja. Semelhante ao povo sobre o qual Gamaliel Bradford escreveu, eles têm “uma sede que nenhum riacho terreno pode saciar, uma fome que precisa ser alimentada em Cristo, senão morrem”. Eles serão grandemente saciados na vinda do reino de Cristo, serão fartos, pois a justiça reinará e a corrupção dará espaço aos padrões morais mais elevados. 5:7 No reino do nosso Senhor, os misericordiosos são bem-aventurados, porque alcançarão miseri­ córdia. Ser misericordioso significa ser ativamente compassivo. De certa forma, significa reter a mere­ cida punição dos seus ofensores. Num sentido mais amplo, significa socorrer os necessitados que não podem se autoajudar. Deus mostrou misericórdia em reter o julgamento que nossos pecados mereciam e em nos demonstrar bondade através da obra salva­ dora de Cristo. Somos imitadores de Cristo quando temos compaixão. Os misericordiosos alcançarão misericórdia. Aqui, . Jesus não está se referindo à misericórdia da salvação que Deus dá ao pecador que crê; essa misericórdia não depende de a pessoa ser misericordiosa — é uma dádiva incondicional e gratuita. Pelo contrário, aqui o Senhor está falando da misericórdia diária necessária para a vida cristã e da misericórdia na­ quele dia futuro quando as obras de cada um de nós

serão avaliadas (ICo 3:12-15). Se a pessoa não foi misericordiosa, não receberá misericórdia; isto é, sua recompensa diminuirá consideravelmente. 5:8 Aos limpos de coração é dada a certeza de que verão a Deus. Uma pessoa com um coração limpo é aquela cujos motivos são puros, os pensamentos são santos e a consciência é limpa. A expressão verão a Deus pode ser entendida de vários modos. Em primeiro lugar, os limpos de coração veem Deus agora por meio da comunhão na palavra de Deus e no Espírito. Em segundo, podem ter, às vezes, uma visão ou aparição sobrenatural do Senhor. Em terceiro lugar, verão a Deus na pessoa de Jesus quando ele vier novamente. Em quarto lugar, eles verão a Deus na eternidade. 5:9 Uma promessa é dada aos pacificadores, por­ que serão chamados filhos de Deus. Repare que o Senhor não está falando em relação às pessoas que têm uma disposição pacífica ou em relação aos que amam a paz. Ele está se referindo aos que ativamente trabalham para promover a paz. O natural é assistir a discussão de um lugar seguro. 0 que se aproxima da atividade divina é promover a paz, mesmo que para isso tenhamos de sofrer abusos e injúria. Os pacificadores são chamados filhos de Deus. Não é por serem pacificadores que se tomam filhos de Deus — só se toma um filho de Deus quem recebe o Senhor Jesus Cristo como Salvador (Jo 1:12). Promo­ vendo a paz, os crentes se manifestam como filhos de Deus, e Deus os reconhecerá algum dia como pessoas que levam a semelhança familiar. 5:10 A próxima bem-aventurança trata dos que são perseguidos, não por seus atos errôneos, mas por causa da justiça. O reino dos céus é prometido aos crentes que sofrem por fazer o que é correto. Sua integridade condena o mundo, que desagrada a Deus, e, em conseqüência disso, vem a hostilidade. As pessoas odeiam uma vida justa, pois ela expõe a injustiça delas. 5:11 A bem-aventurança final aparentemente é uma repetição da anterior. Há, porém, uma diferença. No versículo anterior, o assunto era perseguição por causa da justiça; nesse versículo, é a perseguição por causa de Cristo. 0 Senhor sabia que seus discípulos seriam injuriados por se associarem e serem leais a ele. A história confirma isso. Desde o início, o mundo tem perseguido, prendido e matado os seguidores de Jesus. 5 :12 0 ato de sofrer por Cristo é um privilégio que deveria se tomar alegria. Um grande galardão aguarda os que assim se tomam companheiros dos profetas nas tribulações. Os porta-vozes do AT per-

maneceram fiéis apesar da perseguição. Todos os que imitarem sua lealdade compartilharão a presente satisfação e a futura exaltação. As bem-aventuranças apresentam um retrato do cidadão ideal no reino de Cristo. Observe a ênfase, na justiça (v. 6), na paz (v. 9) e na alegria (v. 12). É provável que o apóstolo Paulo tivesse essa passagem em mente quando escreveu: “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14:17). B. Os crentes são sal e luz (5:13-16) 5:13 Jesus comparou seus discípulos com o sal. Eles eram para o mundo o que o sal é na vida diária: tempe­ ra a comida, impede o aumento da corrupção, provoca sede, realça o sabor. Portanto, seus seguidores acres­ centam tempero à sociedade humana, servem como conservantes e fazem com que os outros almejem a justiça descrita nos versículos anteriores. Se o sal vier a ser insípido, como restaurar o sabor? Não há nenhuma maneira de restaurar o ver­ dadeiro gosto natural. Uma vez insípido, o sal para nada mais presta. É jogado pelo caminho. Note o interessante comentário de Albert Barnes dessa passagem: “O sal usado neste país é um composto químico — se perdesse o gosto salgado ou o sabor, nada sobraria. Nos países do leste, porém, o sal usado era impuro, misturado com substâncias vegetais e terrenas; portanto, poderia perder todo o seu sabor, e ainda restar uma quantidade considerável (de sal sem sabor). Esse sal para nada mais presta a não ser para ser usado como foi dito: colocar nos caminhos ou nas trilhas, assim como usamos o cascalho”.4 O discípulo tem uma função importante: ser o sal da terra, isto é, viver os termos do discipulado des­ crito nas bem-aventuranças e no decorrer do Sermão do Monte. Se ele falha em exibir essa realidade espi­ ritual, seu testemunho será pisado pelos homens. 0 mundo se deleita quando um crente não é fiel. 5:14 Jesus também chama os crentes de luz do mundo. Ele falou de si mesmo como “a luz do mundo” (Jo 8:12; 12:35-36,46). A relação entre essas duas afirmações é que Jesus é a fonte da luz; os crentes são o seu reflexo. Sua função é brilhar por ele da mesma forma como a lua reflete a glória do sol. 0 crente é comparado à cidade edificada sobre um monte; ela está acima de tudo o que está ao seu redor e ela brilha no meio da escuridão. Aqueles cujas vidas exibem os ensinamentos de Cristo não podem se esconder. 5:15-16 Ninguém acende uma candeia para co­ locá-la debaixo do alqueire, mas no velador para que sua luz alumie a todos os que se encontram na

casa. Não era a intenção de Jesus que estocássemos a luz dos seus ensinamentos para nós mesmos, mas que compartilhássemos com outros. Devemos deixar que nossa luz brilhe de tal modo que os homens vejam nossas boas obras e glorifiquem nosso Pai que está nos céus. A ênfase está no ministério do caráter cris­ tão. 0 atrativo de uma vida por meio da qual Cristo é visto fala mais alto que a persuasão de palavras. C. Cristo cumpre a lei (5:17-20) 5:1 7 -1 8 A maioria dos líderes revolucionários se desfaz de todas as ligações com o passado e repudiam a ordem tradicional em questão. Mas o Senhor Jesus Cristo não. Ele sustentou a lei de Moisés e insistiu em que ela tinha de ser cumprida. Jesus não veio para revogar a Lei ou os Profetas, mas para cumprir. Ele deixou bem claro que nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. 0 i, ou iota, é a menor letra do alfabeto hebraico; o til é um pequeno sinal que serve para distinguir uma letra da outra, tal como a linha inferior da letra maiúscula “E” a distingue da letra maiúscula “F”. Jesus acreditava na inspiração literal da Bíblia, mesmo que fosse aparente­ mente um detalhe insignificante. Nada nas Escrituras, mesmo o menor til, existe sem significado. É importante notar que Jesus não disse que a lei nunca passará até que tudo se cumpra. Essa distin­ ção tem ramificações para o crente hoje, e já que a relação do crente para com a lei é bem complicada vamos tomar tempo para resumir os ensinamentos bíblicos sobre esse assunto.

A relação do cristão com a lei A lei é o sistema de legislação dado por Deus me­ diante Moisés à nação de Israel. A lei completa se encontra em Êxodo 20— 31, Levítico e Deuteronômio, apesar de sua essência estar incluída nos Dez Mandamentos. A lei não foi dada como meio de salvação (At 13:39; Rm 3:20a; Gl 2:16,21; 3:11), mas com a intenção de mostrar ao povo sua pecaminosidade (Rm 3:20b; 5:20; 7:7; 1Co 15:56; Gl 3:19) e então encaminhá-lo a Deus para a graciosa salvação ofe­ recida por ele. Foi dada à nação de Israel, apesar de conter princípios morais válidos para o povo de qualquer época (Rm 2:14-15). Deus testou Israel sob a lei como um exemplo da raça humana, e a culpa de Israel provou a culpa do mundo (Rm 3:19).

A lei tinha atrelada a ela a penalidade da morte (Gl 3:10); e a quebra de um mandamento tornava o homem culpado de todos (Tg 2:10). Já que as pessoas tinham quebrado a lei, estavam sob pena de morte. A retidão e a santidade de Deus exigiam que a penalidade fosse paga. Foi por essa razão que Jesus veio ao mundo: para pagar a penalidade por meio da sua morte. Ele morreu como substituto para os transgressores da lei, apesar de ele mesmo não ser transgressor. Ele não deixou a lei de lado; pelo contrá­ rio, preencheu todas as exigências da lei cumprindo os mais rígidos requisitos mediante sua vida e morte. Assim, o evangelho não derruba a lei, mas a sustenta, e mostra como as exigências da lei foram totalmente satisfeitas pela obra redentora de Cristo. Portanto, a pessoa que confia em Jesus não está mais sob a lei, está sob a graça (Rm 6:14). Ela está morta para a lei por intermédio da obra de Cristo. A penalidade da lei deve ser paga uma única vez; já que Cristo pagou a pena, o crente não precisa pagá-la. É nesse sentido que a lei perdeu o brilho para o crente (2Co 3:7-11). A lei era um preceptor até a chegada de Cristo, mas, após a salvação, esse preceptor não é mais necessário (Gl 3:24-25). No entanto, enquanto o crente não está sob a lei, isso não significa que ele está sem lei. Ele está atado por uma corrente mais forte que a lei, pois ele está sob a lei de Cristo (1Co 9:21). Seu comportamento está moldado não por temor à punição, mas por um desejo de agradar o Salvador. Cristo se tornou a lei da sua vida (Jo 13:15; 15:12; Ef 5:1-2; 1Jo 2:6; 3:16). Uma pergunta comum numa discussão quanto à atitude do crente para com a lei é: "Devo obedecer aos Dez Mandamentos?". A resposta é que certos princípios contidos na lei são de relevância duradou­ ra. Sempre foi errado roubar, cobiçar ou assassinar. Nove dos Dez Mandamentos são repetidos no NT, com uma distinção importante: não foram dados como lei (atrelados a uma penalidade), mas como treinamento para a justiça ao povo de Deus (2Tm 3:16b). O único mandamento não repetido é a lei do sábado; os crentes nunca são ensinados a guardar o sábado (/.e., o sétimo dia da semana — sábado). O ministério da lei para os que não são salvos ainda não cessou: "Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo" (IT m 1:8). E seu uso legítimo é produzir o conhecimento do pecado e, assim, levar ao entendimento. Mas a lei não é para os que já são salvos: "não se promulga lei para quem é justo" (IT m 1:9).

5 (5:22) 0 texto crítico (NO) omite a expressão sem motivo, que eliminaria até mesmo a justa indignação.

A justiça exigida pela lei é cumprida naqueles "que não andam segundo a carne, mas segundo o Espí­ rito" (Rm 8:4). De fato, os ensinamentos do Senhor no Sermão do Monte estabeleceram um padrão mais elevado que o estabelecido pela lei. Por exemplo, a lei disse: "Não matarás". Jesus, porém, disse: Nem mesmo irai-vos. Portanto, o Sermão no Monte não apenas sustenta a Lei e os Profetas, mas os intensifica e os conduz a implicações mais intensas. 5:19 Retomando ao sermão, notamos que Jesus antecipou uma tendência natural de abrandar os man­ damentos de Deus. Por serem de tamanha natureza sobrenatural, as pessoas tendem a atenuar, raciona­ lizar os significados. Mas aquele, pois, que violar um destes mandamentos, e ensinar outras pessoas a fazerem o mesmo, será considerado mínimo no reino dos céus. 0 espantoso é que tais pessoas são permitidas no reino, mas devemos lembrar que a en­ trada no reino é pela fé em Cristo. A posição de uma pessoa no reino é determinada por sua obediência e fidelidade enquanto estiver na terra. Quem obedece à lei do reino será considerado grande no reino dos céus. 5 :20 A fim de ganhar a entrada no reino, nossa justiça precisa exceder a dos escribas e fariseus (que estavam satisfeitos com as cerimônias religio­ sas que lhes proporcionavam um ritual de limpeza externa, mas que nunca mudara seus corações). Jesus usa uma hipérbole (exagero) para ensinar a verdade de que a justiça externa sem a realidade interna não ganhará acesso ao reino. A única justiça que Deus aceitará é a perfeição que ele impõe aos que aceitam seu Filho como Salvador (2Co 5:21). É óbvio que onde houver verdadeira fé em Cristo ha­ verá também uma justiça prática que Jesus descreve no decorrer do sermão. D. Jesus alerta contra a ira (5:21-26) 5:21 Os judeus da época de Jesus estavam cientes de que matar era proibido por Deus e que o assassino estava sujeito à punição. Isso já era verdade antes de a lei ser dada (Gn 9:6) e foi posteriormente incluído na lei (Êx 20:13; Dt 5:17). Com as palavras “Eu, porém, vos digo” , Jesus institui uma emenda ao ensinamento do assassinato. Agora, ninguém podia mais se orgu­ lhar pelo fato de não ter cometido assassinato. Jesus agora diz: “No meu reino, você nem pode ter pensa­ mentos assassinos”. Ele remonta o assassinato à sua fonte e alerta contra três formas de ira injusta. 5:22 0 primeiro caso é o da pessoa que [sem moti­ vo] se irar contra seu irmão.5Alguém acusado desse crime estaria sujeito a julgamento, isto é, seria leva­

do perante o tribunal. Muitas pessoas podem achar que o que elas pensam é uma causa válida para sua ira, mas a ira é justificada apenas quando a honra de Deus está em questão ou quando a outra pessoa está agindo erroneamente. A ira nunca é certa quando ela é expressa em retaliação a erros pessoais. Até mais sério ainda é o pecado de insultar um irmão. Nos dias de Jesus, o povo usava o termo raca (que significa “vazio” em aramaico), palavra de de­ sacato e abuso. Os que usavam esse epíteto estavam sujeitos a julgamento, isto é, a comparecerem para julgamento perante o Sinédrio, o tribunal mais ele­ vado daquela terra. Por último, chamar alguém de tolo é a terceira forma de ha iníqua que Jesus condena. Aqui, a palavra tolo significa mais que um simples estúpido. Significa um tolo moral que deveria ser morto, e expressa um desejo que realmente aconteceria. Hoje é comum ouvirmos pessoas se praguejarem com as palavras “Deus te amaldiçoe!” Essa pessoa está invocando a Deus para condenar a vítima ao inferno. Jesus diz que quem pronunciar tal maldição está sujeito ao inferno de fogo. 0 corpo de criminosos executados eram frequentemente lançados num despejo em chamas, fora de Jerusalém, conhecido como Vale de Hinom ou Gehenna. Essa era uma figura do fogo do inferno que nunca será apagado. Não há erro na severidade das palavras do Salva­ dor. Ele ensina que a ira contém a semente do assas­ sinato que a linguagem abusiva contém o espírito do assassinato, e que a linguagem que pragueja implica o desejo do assassinato. A elevação progressiva dos crimes exigia três graus de punição: o julgamento, o tribunal e o fogo do inferno. No reino, Jesus tratará dos pecados de acordo com a severidade deles. 5:23-24 Se uma pessoa ofende a outra, por ira ou por qualquer outra causa, de nada adianta trazer uma oferta a Deus. O Senhor não terá prazer nessa atitude. Quem ofende precisa primeiro transformar o errado em correto. Só então a oferta será aceitável. Mesmo que essas palavras tenham sido escritas num contexto judaico, isso não quer dizer que não tem aplicação hoje. Paulo interpreta esse conceito em relação à ceia do Senhor (cf. ICo 11). Deus não recebe nenhuma adoração de um cristão que não esteja em condições amigáveis de conversar com o próximo. 5:25-26 Jesus alerta aqui contra um espírito litigioso e uma relutância em admitir a culpa. É melhor acertar prontamente com o acusador que correr o risco de ser entregue ao juiz. Se isso acontecer, provavelmente perderemos. Enquanto há algum desa­ cordo entre os estudiosos sobre a identidade do povo nessa parábola, a questão é óbvia: se você estiver

errado, seja rápido em admitir e acerte prontamente. Se permanecer sem arrependimento, seu pecado seguramente o apanhará e você não só terá de fazer uma completa restituição, mas sofrerá as penalidades adicionais também. E não seja apressado em ir ao juiz. Se for, a lei o descobrirá e você terá de pagar até o último centavo. E. Jesus condena o adultério (5:27-30) 5:27-28 A lei mosaica claramente proibia o adulté­ rio (Êx 20:14; Dt 5:18). Uma pessoa poderia até se orgulhar de não ter quebrado esse mandamento, e ainda ter seus “olhos cheios de adultério” (2Pe 2:14). Enquanto a pessoa era exteriormente respeitável, sua mente poderia estar constantemente vagueando pelos labirintos da impureza. Portanto, Jesus alertou aos discípulos que a mera abstinência do ato físico não era o suficiente — tem de haver pureza interior. A lei proibia o ato do adultério; Jesus proíbe o desejo: qualquer que olhar para uma mulher com inten­ ção impura, no coração, já adulterou com ela. E. Stanley Jones entendeu o sentido desse versículo quando ele escreveu: “Se você pensa ou age de ma­ neira adúltera, você não satisfaz o impulso sexual; você derrama óleo no fogo para apagá-lo”. 0 pecado começa na mente, e, se o nutrirmos, certamente cometeremos o ato. 5:29-30 Manter um pensamento de vida imaculada exige rígido autocontrole. Por isso Jesus ensina que se qualquer parte do corpo nos fizer pecar seria melhor perdermos aquele membro durante a vida que perder a alma para a eternidade. Será que temos de aceitar as palavras de Jesus literalmente? Será que ele era defensor da mutilação? Suas palavras são literais até este ponto: se fosse necessário perder um membro e não perder a alma, então alegremente deveríamos deixar o membro. Felizmente não há necessidade, já que o Espírito Santo dá poder ao cristão de viver uma vida santa. Portanto, precisa haver cooperação e disciplina rígida por parte do cristão. E Jesus censura o divórcio (5:31-32) 5 :3 1 Sob a lei do AT, o divórcio era permitido de acor­ do com Deuteronômio 24:1-4. Essa passagem não se refere ao caso da mulher adúltera (a pena do adultério era a morte; cf. Dt 22:22). Trata, isto sim, do divórcio devido a desagrado ou “incompatibilidade”. 5:32 Porém, no reino de Cristo, qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tomar-se adúltera. Isso não quer dizer que ela automaticamente se torna adúltera; pressupõe que, não tendo mais como sobre­ viver, ela é forçada a viver com outro homem. Agindo

assim ela se toma adúltera. Não só a ex-esposa vive em adultério, mas aquele que casar com a repudiada comete adultério. 0 assunto do divórcio e o novo casamento é um dos tópicos mais complicados da Bíblia. É praticamente impossível responder todas as questões que surgem, mas pode ser útil analisarmos e resumirmos o que cremos que as Escrituras ensinam.

Divórcio e novo casamento O divórcio nunca foi o propósito de Deus para o ho­ mem. Seu ideal é que homem e mulher permaneçam casados até que a união seja rompida pela morte (Rm 7:2-3). Jesus deixou isso claro aos fariseus recorrendo à ordem divina na criação (Mt 19:4-6). Deus tem aversão ao divórcio (Ml 2:16), isto é, o divórcio não bíblico. Ele não tem aversão a todo divórcio porque fala de seu próprio divórcio com Israel (Jr 3:8). A razão era que a nação abandonou a Deus e adorou ídolos. Israel foi infiel. Em Mateus 5:31-32 e 19:9, Jesus ensinou que o di­ vórcio era proibido exceto quando um dos parceiros tinha sido culpado de imoralidade sexual. Em Marcos 10:11 -12 e Lucas 16:1 8, a exceção é omitida. A discrepância é provavelmente mais bem ex­ plicada assim: nem Marcos nem Lucas registram a narrativa completa. Portanto, mesmo que o divórcio não seja o ideal, é permitido no caso de um dos parceiros ter sido infiel. Jesus permite o divórcio nesse caso, mas ele não o ordena. Alguns estudiosos veem 1Coríntios 7:12-1 6 como um ensinamento de que o divórcio é aceitável quan­ do o cristão é abandonado pelo incrédulo. Paulo diz que a pessoa, "em tais casos, não fica sujeita à servidão", ou seja, ele ou ela está liberado para obter o divórcio. Minha opinião é que esse caso é a mesma exceção dada em Mateus 5 e 19: o incrédulo parte para viver com outra pessoa. Portanto, com base na Bíblia, o divórcio pode ser concedido ao cristão apenas se o cônjuge cometer adultério. Argumenta-se com frequência que, apesar de o divórcio ser permitido no NT, o novo casamento nunca é considerado. No entanto, esse argumento é uma petição de princípio. O novo casamento não é condenado para o cônjuge inocente no NT — ape­ nas para o culpado. Além do mais, um dos motivos principais do divórcio bíblico é permitir um novo casamento; se não fosse assim, a separação resolveria muito bem a questão. Em qualquer discussão nesse tópico, a dúvida inevitavelm ente surge: "Q ue dizer das pessoas divorciadas antes de serem salvas?". Não deveria

haver dúvidas de que divórcios indevidos e novos casamentos contraídos antes da conversão são pe­ cados que foram totalmente perdoados (cf., p.ex., IC o 6:11, em que Paulo inclui o adultério na lista de pecados que os cristãos de Corinto tinham ante­ riormente participado). Os pecados que antecedem a conversão não impedem os cristãos da completa participação na igreja local. A questão mais difícil é referente aos cristãos que se divorciam por razões não bíblicas e se casam nova­ mente. Eles podem ser recebidos de volta na comu­ nhão da igreja local? A resposta depende do fato de o adultério ser o ato inicial da união física ou um estado contínuo. Se essas pessoas estão vivendo num estado de adultério, então eles não só teriam que confessar seu pecado, mas também abandonar o parceiro atual. Mas a solução de Deus para o problema é nunca criar problemas piores. Se para corrigir um matrimônio em desordem homens ou mulheres forem empurrados ao pecado, ou mulheres e crianças forem deixadas órfãs, a cura é pior que a doença. Eis minha opinião: os cristãos que se divorciaram sem base bíblica e então se casaram novamente po­ dem sinceramente se arrepender dos seus pecados e serem restaurados ao Senhor e à comunhão da igreja. No caso do divórcio, parece que cada caso é diferente. Portanto, a liderança da igreja local precisa analisá-los individualmente e julgá-los de acordo com a palavra de Deus. E se uma ação disciplinar tem de ser tomada os envolvidos deveriam submeter-se à decisão da liderança. G. Jesus condena juramentos (5:33-37) 5:33-36 A lei mosaica continha várias proibições quanto ao jurar falso em nome de Deus (Lv 19:12; Nm 30:2; Dt 23:21). Jurar em nome de Deus significava que ele era sua testemunha e que a pessoa estava falando a verdade. Os judeus procuravam evitar a impropriedade de jurar falsamente em nome de Deus usando então, nos juramentos, termos como céu, terra, Jerusalém ou a própria cabeça. Jesus condena tal envolvimento da lei como mera hipocrisia e proíbe qualquer forma de juramento em conversações do dia a dia. Não era apenas hipocrisia, mas era desnecessário tentar evitar jurar em nome de Deus meramente substituindo seu nome por outro substantivo. Jurar pelo céu é jurar pelo trono de Deus. Jurar pela terra é jurar pelo estrado de seus pés. Jurar por Jerusalém é jurar pela capital real. Até mesmo jurar pela própria cabeça envolve Deus, pois ele é o criador de tudo. 5:37 Para o cristão, jurar é desnecessário. 0 sim deveria significar sim e o não deveria significar não. Usar linguagem mais forte é admitir que Satanás, o

maligno, rege nossa vida. M o há circunstâncias em que é correto o cristão mentir. Essa passagem também proíbe qualquer ofusca­ mento da verdade ou engano. Porém, não proíbe fazer juramento num tribunal de justiça. Jesus mesmo testificou sob juramento perante o sumo sacerdo­ te (Mt 26:63). Paulo também fez juramento com o propósito de chamar Deus como sua testemunha de que o que ele estava escrevendo era verdadeiro (2 Co 1:23; Gl 1:20). H. Indo a segunda milha (5:38-42) 5:38 A lei disse: Olho por olho, dente por dente (Êx 21:24; Lv 24:20; Dt 19:21). Essa lei era um mandamento para punir e uma limitação na punição — a penalidade não pode exceder o crime. Porém, de acordo com o AT, a autoridade para a punição estava fundamentada na autoridade, não no indivíduo. 5:39-41 Jesus foi além da lei, a uma retidão mais elevada, abolindo totalmente a retaliação. Ele mostrou aos discípulos que, onde a retaliação era permitida legalmente, a não resistência era agora graciosa­ mente possível. Jesus instruiu seus seguidores a não oferecer resistência ao perverso. Se alguém ferir na face direita, volta-lhe também a outra. Se lhes fosse exigido a túnica (roupa de baixo) era para cederem e darem também a capa (vestimenta externa noturna). Se um oficial os obrigasse a carregar sua bagagem uma milha, era para carregarem-na voluntariamente duas milhas. 5:42 O último mandamento de Jesus nesse pará­ grafo parece o mais prático para nós hoje. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes. A obsessão com possessões e bens materiais nos faz recuar ao simples pensamento de darmos o que temos adquirido. Porém, se estivésse­ mos dispostos a nos concentrarmos nos tesouros do céu e a estarmos contentes apenas com o alimento e a roupa necessários, aceitaríamos essas palavras de forma literal e atenta. A afirmação de Jesus pres­ supõe que a pessoa que pede por auxílio tem uma necessidade genuína. Já que é impossível saber se a necessidade é legítima em todos os casos, é melhor (como alguém disse) “ajudar um bando de pedintes fraudulentos que arriscar a recusar ajuda a um ho­ mem em verdadeira necessidade”. Humanamente falando, esse comportamento que o Senhor exige aqui é impossível. Somente uma pessoa controlada pelo Espírito Santo pode viver de modo autossacrificial. Somente quando o cristão permite que o Salvador viva nele, o insulto (v. 39), a injustiça (v. 40) e a inconveniência (v. 41) podem ser pagos com amor. Esse é o “evangelho da segunda milha”.

I. Ame seus inimigos (5:43-48) 5:43 O último exemplo de Jesus concernente à mais alta retidão exigida no seu Reino é com referência ao tratamento aos inimigos, um tópico que emerge naturalmente do parágrafo anterior. A lei tinha en­ sinado aos israelitas a amar o próximo (Lv 19:18). Apesar de nunca receberem explicitamente ordens para odiar o seu inimigo, esse espírito reforçava seus ensinamentos. Essa atitude era um resumo da perspectiva do AT para com os que perseguiam o povo de Deus (cf. SI 139:21-22). Era uma reta hostilidade direcionada contra os inimigos de Deus. 5:44-47 Mas agora Jesus anuncia que nossa atitu­ de deve ser: amai os inimigos e orai pelos que vos perseguem. 0 fato de o amor ser ordenado mostra que se trata de uma questão volitiva e não primeiramente emotiva. Não é o mesmo que as afeições naturais, porque não é natural amar os que o maltratam e o odeiam. É uma graça sobrenatural, e somente pode ser manifestada pelos que têm a vida divina. Não há recompensa se amardes os que vos amam. Jesus diz que até mesmo os publicanos6fazem assim! Essa espécie de amor não requer nenhum poder divi­ no. Tampouco há virtude se saudardes somente os vossos irmãos,7por exemplo, parentes e amigos. Os descrentes podem fazer isso, o que não significa que sejam cristãos. Se nossos padrões não são mais altos que os do mundo, é óbvio que nunca causaremos um impacto no mundo. Jesus disse que seus seguidores deveriam retribuir o mau com o bem, a fim de que pudessem ser filhos do Pai celeste. Ele não está querendo dizer que esse é o caminho para se tomar filho de Deus; pelo contrá­ rio, é para mostrarmos que somos filhos de Deus. Já que Deus não mostra parcialidade aos maus e bons (ambos se beneficiam do sol e da chuva), deveríamos agir com todos de forma graciosa e honesta. 5:48 Jesus encerra essa parte com a admoestação: Portanto, sede vós perfeitos com o perfeito é o vosso Pai celeste. A palavra perfeito precisa ser en­ tendida à luz do contexto. Não significa sem pecado ou impecável. Os versículos anteriores explicam que para ser perfeito precisamos amar os que nos odeiam, orar pelos que nos perseguem e mostrar bondade tanto para com os amigos como para com os inimigos. Perfeição, aqui, é a maturidade espiritual que faz o cristão capaz de imitar Deus, ministrando bênçãos a todos sem parcialidade.

6 (5:44-47) O texto crítico (NU) lê gentios. 7 (5:44-47) Muitos manuscritos trazem amigos (tb. a NTLH) em lugar de irmãos.

J. Dê com sinceridade (6:1-4) 6:1 Na primeira metade desse capítulo, Jesus lida com três áreas específicas de retidão prática na vida individual: ações caridosas (v. 1-4), oração (v. 5-15) e jejum (v. 16-18). O nome Pai é encontrado dez vezes nesses dezoito versículos e é a palavra-chave para entendê-las. As ações práticas de retidão deveriam ser feitas para a aprovação do Senhor, e não para a anuência das pessoas. Ele inicia essa parte do sermão com uma adver­ tência contra a tentação de querermos exercer a justiça executando ações caridosas com a finalidade de sermos vistos por eles. Não é a atitude que ele condena, mas a motivação. Se a atenção pública for o fator motivador, então será o único galardão, pois Deus não recompensará a hipocrisia. 6:2 Parece incrível que os hipócritas chamariam ruidosamente a atenção para si, à medida que davam ofertas nas sinagogas ou esmolas aos mendigos nas ruas. 0 Senhor repreendeu a conduta deles com um comentário conciso: eles já receberam a recompen­ sa (isto é, a única recompensa deles é a reputação que ganham enquanto estão na terra). 6:3-4 Quando um seguidor de Cristo dá esmola, é para ser dada em secreto. Deveria ser tão secreto que Jesus falou aos discípulos: ignore a tua mão esquerda o que faz a tua direita. Jesus usa essa linguagem figurativa para mostrar que nossa es­ mola deveria ser para o Pai, e não para ganharmos notoriedade. Essa passagem não deveria ser interpretada para proibir qualquer oferta que poderia ser vista pelos ou­ tros, já que é praticamente impossível fazer todas as contribuições estritamente anônimas. Mas condena a exibição descarada ao dar. K. Ore com sinceridade (6:5-8) 6:5 Em seguida, Jesus adverte os discípulos contra a hipocrisia ao orar. Eles não deveriam se posicionar propositadamente em áreas públicas de forma que os outros, vendo-os orar, ficassem impressionados por suas devoções. Se o amor pela proeminência for o único motivo na oração, então, Jesus declara, a proeminência ganha é a única recompensa. 6:6 Nos versículos 5-7, o pronome pessoal grego está no plural. Mas no versículo 6, a fim de enfatizar comunhão íntima com Deus, passa para o singular. O segredo para a oração respondida é fazê-la em secreto (entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai). Se o motivo sincero é chegarmos a Deus, ele ouvirá e responderá. Se usássemos essa passagem para proibir a ora­ ção pública, estaríamos indo longe demais. A igreja

primitiva se reunia para a oração coletiva (At 2:42; 12:12; 13:3; 14:23; 20:36). O ponto principal não é onde oramos. A ênfase aqui está em por que oramos — para sermos vistos pelas pessoas ou para sermos ouvidos por Deus. 6:7 A oração não deveria ser constituída de vãs repetições — por exemplo, sentenças decoradas ou frases vazias. Pessoas não salvas oram assim, mas Deus não se impressiona pela mera multiplicação do muito falar. Ele quer ouvir as expressões sinceras do coração. 6:8 Já que o Pai sabe o de que tendes necessida­ de, antes que lho peçais, é razoável perguntarmos: “Por que então oramos?”. A razão é que, em oração, reconhecemos nossa necessidade e a nossa dependên­ cia dele. É a base da nossa comunicação com Deus. Além disso, Deus faz coisas em resposta às orações que, sem elas, ele não faria (Tg 4:2b). L. Jesus ensina a oração modelo (6:9-15) 6:9 Nos versículos 9-13, encontramos o que geral­ mente é chamado “A oração do Senhor”. Usando esse título, porém, deveríamos lembrar que Jesus nunca orou para si mesmo. Foi dada aos discípulos como modelo no qual eles poderiam basear suas orações. Não foi dada para ser repetida palavra por palavra (o v. 7 parece eliminar essaideia), pois essas repetições tomam as frases vazias. Pai nosso, que estás nos céus. A oração deve ser endereçada a Deus, o Pai, em reconhecimento de sua soberania sobre o universo. Santificado seja o teu nome. Deveríamos iniciar as orações com adoração, designando louvor e honra a ele, que é tão merecedor disso. 6:10 Venha o teu reino. Depois de adorarmos, deveríamos orar para o avanço da causa de Deus, colocando seus interesses em primeiro lugar. Espe­ cificamente, deveríamos orar pelo dia em que nosso Salvador-Deus, o Senhor Jesus Cristo, colocará seu reino na terra e reinará em retidão. Faça-se a tua vontade. Nessa petição reconhece­ mos que Deus sabe o que é melhor e que rendemos nossas vontades à dele. Também expressa um de­ sejo de vermos sua vontade reconhecida em todo o mundo. Assim na terra como no céu. Essa frase modifica todas as três petições anteriores. Adorar a Deus, saber da regência soberana de Deus e do desempenho da sua vontade são, no todo, uma realidade do céu. A oração é que essas condições existam na terra como existem no céu. 6:11 O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Após colocarmos os interesses de Deus em primeiro lugar,

é-nos permitido apresentar nossas necessidades. Essa petição reconhece nossa dependência de Deus para a comida diária, tanto espiritual como física. 6:12 E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores. Isso não se refere ao perdão judicial da penalidade do pecado (esse perdão é obtido pela fé no Filho de Deus). Pelo contrário, esse perdão se refere ao perdão parental, que é necessário para a comunhão com o Pai ser mantida. Se os cristãos não estão dispostos a perdoar àqueles que erram entre eles, como podem esperar estar em comunhão com o Pai, que tem libe­ ralmente perdoado todos os seus erros? 6:13 E não nos deixes cair em tentação. Essa petição pode aparentemente entrar em contradição com Tiago 1:13, que afirma que Deus nunca ten­ taria alguém. Porém, Deus permite que seu povo seja testado e provado. Essa petição expressa a saudável desconfiança da capacidade de resistir às tentações ou ficar firme sob provações. Ela autentica a completa dependência do Senhor para ser preservado. Mas livra-nos do mal. Essa é a oração de todos os que desesperadamente almejam ser guardados do pecado pelo poder de Deus. E o clamor diário pela salvação diária da atuação de Satanás na vida de cada um. [P ois teu é o reino, o poder e a glória para sem pre. A m ém ]! A última frase da oração foi omitida em versões católicas romanas e na maioria das versões protestantes modernas, já que não se encontra em muitos manuscritos antigos.8 Porém, tal doxologia é um encerramento perfeito à oração, e está na maioria dos manuscritos. Deveria ser como João Calvino escreveu: “Não apenas aquecer nosso coração em direção à glória de Deus [...], mas também para nos falar que todas as nossas orações [...] não têm nenhum outro alicerce a não ser unicamente Deus”. 6:14-15 Esses versículos servem como uma nota explicativa de rodapé para o versículo 12. Não faz parte da oração, mas é acrescentado para enfatizar que o perdão parental mencionado no versículo 12 é condicional. M. Jesus ensina como jejuar (6:16-18) 6 :16 A terceira forma de hipocrisia religiosa que Jesus denunciou era a tentativa deliberada de criar uma aparência de jejum. Os hipócritas desfiguram o rosto quando jejuam para se aparentarem magros, desfigurados e sofredores. Mas Jesus diz que é ridí­ culo tentar parecer santo.

6:17-18 Os verdadeiros cristãos deveriam jejuar em segredo, não dando nenhuma evidência externa do jejum. A maneira normal de a pessoa aparecer era com a cabeça ungida e o rosto lavado. É suficiente o Pai saber; sua recompensa será melhor que a apro­ vação de pessoas.

Jejum jejuar é abster-se de qualquer apetite físico gratificante. Pode ser voluntário, como nesse trecho, ou involuntário (como em At 2:33 ou 2Co 11:27). No NT, o jejum está associado à tristeza (Mt 9:14-15) e à oração (Lc 2:37; At 14:23). Nesses trechos, o jejum era acompanhado da oração como um reco­ nhecimento da sinceridade em discernir a vontade de Deus. Jejuar não tem nenhum mérito no que se refere à salvação, nem fornece um padrão cristão especial perante Deus. Um fariseu se vangloriava de que tinha jejuado duas vezes por semana; porém o jejum não trazia a justificação que ele almejava (Lc 18:12,14). Mas quando um cristão jejua secretamente com um alvo espiritual Deus vê e recompensa. Apesar de não ser um mandamento no NT, é encorajado pela promessa da recompensa. O jejum pode acres­ centar algo a mais na vida de oração de alguém, removendo qualquer estagnação e sonolência. É valioso em tempos de crise, quando uma pessoa deseja discernir a vontade de Deus. E é valioso para promover a autodisciplina. O jejum é assunto entre um indivíduo e Deus, e somente deveria ser feito com um desejo de lhe a g ra d a r. O jejum perde o valor quando é imposto externamente ou é exibido por motivo errado. N. Acumule tesouro no céu (6:19-21) Essa passagem contém alguns dos ensinos mais revo­ lucionários de Jesus, e alguns dos mais abandonados. 0 tema do resto do capítulo é como achar segurança para o futuro. 6 :1 9 -2 0 Nos versículos 19-21, Jesus contradiz todo o conselho humano para providenciar um futuro financeiramente seguro. Quando ele diz: Não acumu­ leis para vós outros tesouros sobre a terra, está indicando que não há nenhuma segurança em coisas materiais. Qualquer tipo de tesouro material na terra

8 (6:13) Alguns estudiosos ensinam que a doxologia é adaptada de lCrônicas 29:11 com propósitos litúrgicos. Trata-se de mera supo­ sição. A forma tradicional da oração protestante é completamente justificável.

pode ser destruído por elementos da natureza (traça ou ferrugem) ou roubado por ladrões. Jesus diz que os únicos investimentos que não estão sujeitos à perda são os tesouros no céu. 6:21 Essa política financeira radical está baseada no princípio subjacente de que onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. Se o dinheiro está num cofre seguro, então seu coração e desejo também estão lá. Se seus tesouros estão no céu, seus interesses estarão centralizados lá. Esse ensino nos força a decidir se Jesus quis realmente dizer o que ele disse. Se ele quis realmente, então nos defrontamos com a pergunta: “0 que nós vamos fazer com os nossos tesouros terrestres?”. Se ele não quis dizer isso, então nos defrontamos com esta outra: “0 que vamos fazer com a Bíblia?”. O. A luz do corpo (6:22-23) Jesus percebeu que seria difícil para seus segui­ dores verem como seu ensino não convencional da segurança para o futuro poderia dar certo. Então ele usou uma analogia dos olhos, a fim de ensinar uma lição acerca da visão espiritual. Ele disse que os olhos são a lâmpada do corpo. É através do olho que o corpo recebe iluminação e pode enxergar. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, então a vista estará prejudicada. Em vez de luz, haverá trevas. A aplicação é esta: o bom olho pertence à pessoa cujos motivos são puros, que tem um único desejo pelos interesses de Deus e que está desejosa de acei­ tar literalmente os ensinamentos de Cristo. Sua vida inteira está inundada com luz. Ele crê nas palavras de Jesus, abandona as riquezas da terra, acumula tesou­ ros no céu e sabe que esta é sua única e verdadeira segurança. Em contrapartida, o olho mau pertence à pessoa que está tentando viver para os dois mundos. Ele não quer abandonar os tesouros na terra, mas quer tesouros no céu também. Os ensinamentos de Jesus não parecem práticos e são impossíveis para ele. Ele carece de uma direção clara, pois ele está cheio de trevas. Jesus acrescenta a declaração: caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! Em outras palavras, se você sabe que Cristo proíbe con­ fiar nos tesouros da terra para a segurança, e mesmo assim você ainda o faz, então os ensinamentos que você falhou em obedecer se tomam escuridão — uma forma muito intensa de cegueira espiritual. Você não pode enxergar as riquezas na sua verdadeira perspectiva.

E

Você não pode servir a Deus e a Mamom (6:24) A impossibilidade de viver para Deus a para o di­ nheiro está declarada aqui nos termos de senhores e escravos. Ninguém pode servir a dois senhores. Um deles, inevitavelmente, terá a prioridade na sua lealdade e obediência. E assim também é com Deus e as riquezas (ou Mamom, na RC). Eles são rivais nas suas exigências e precisamos fazer uma escolha. Pre­ cisamos colocar Deus em primeiro lugar e rejeitar a lei do materialismo ou viver para as coisas temporais e recusar o que Deus exige para nossa vida. Q. Não fique ansioso (6:25-34) 6:25 Nessa passagem Jesus golpeia a tendência de centralizarmos a vida ao redor da comida e do ves­ tuário, perdendo assim o seu verdadeiro significado. 0 problema não é tanto o que comemos e vestimos hoje, mas o que comeremos e vestiremos daqui a dez, vinte ou trinta anos. Tal preocupação sobre o futuro é pecado, pois nega o amor, a sabedoria e o poder de Deus. A preocupação nega o amor de Deus implicando que ele não se preocupa conosco. Nega sua sabedoria implicando que ele não sabe o que está fazendo. E nega seu poder implicando que ele não é capaz de suprir nossas necessidades. Esse tipo de preocupação faz com que dediquemos todas as nossas melhores energias a fim de termos a certeza de que teremos o suficiente para nos manter­ mos vivos. Então, antes de percebermos, nossa vida passou e perdemos o propósito central para o qual fomos criados. Deus nos criou à sua imagem com um objetivo muito mais elevado que o mero consumismo. Estamos aqui para amá-lo, adorá-lo e servi-lo, e re­ presentar seus interesses na terra. Nosso corpo foi planejado para ser nosso servo e não nosso mestre. 6:26 As aves do céu ilustram o cuidado de Deus em prol das suas criaturas. Elas nos ensinam quan­ to é desnecessário nos preocuparmos. Elas não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Portanto, se na hierarquia da criação divina valemos muito mais do que as aves, então é certo que deveríamos esperar que Deus tome conta das nossas necessi­ dades. Mas não deveríamos deduzir disso que não pre­ cisamos trabalhar para nossa provisão. Paulo nos lembra disso: “se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2Ts 3:10). Tampouco deveríamos concluir que seria errado um fazendeiro semear e colher a safra. Essas atividades fazem parte da sua provisão. O que Jesus está proibindo aqui é a multiplicação de

celeiros na tentativa de providenciar segurança futura independente de Deus (prática que ele condena na parábola do fazendeiro rico em Lucas 12:16-21). A obra. Daily Notes ofthe Scripture Union [Notas diárias da união bíblica} resume da seguinte forma o versículo 26: “0 argumento é que se Deus sustenta criaturas de menor valor sem que haja participação consciente delas quanto mais sustentará, com a participação ativa deles, aqueles para quem a criação ocorreu”. 6 :2 7 Ficarmos ansiosos quanto ao futuro não é apenas uma desonra para Deus, mas é também inútil. 0 Senhor demonstra isso com uma pergunta: Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? Uma pessoa de estatura pequena não pode se preocupar a ponto de crescer 45 centímetros. Ainda, relativamente falan­ do, seria muito mais fácil executar esse feito que se preocupar com a existência de todas as providências das suas necessidades futuras. 6:28-30 Em seguida, o Senhor lida com a irra­ cionalidade de nos preocuparmos se teremos ou não vestuário suficiente para o futuro. Os lírios do campo (provavelmente anêmonas selvagens) não trabalham nem fiam, contudo sua beleza ultrapassa a dos vestuários reais de Salomão. Se Deus pode providenciar tal vestuário elegante para as ervas do campo, que têm breve existência e então são usadas como combustível no forno, certamente ele cuidará do seu povo que o adora e o serve. 6:31-32 A conclusão é que não deveríamos gastar nossa vida numa ansiosa perseguição de comida, bebida e vestuário para o futuro. Os gentios des­ crentes vivem desesperadamente em busca de uma acumulação de bens materiais, como se a comida e o vestuário fossem tudo na vida. Mas não deveria ser assim com os cristãos que têm um Pai celestial que sabe das necessidades básicas de todos. Se os cristãos tivessem de fixar diante deles a meta de providenciar antecipadamente todas as suas ne­ cessidades futuras, então seu tempo e suas energias teriam de ser dedicadas à acumulação de reservas financeiras. Eles nunca poderiam estar certos de que têm guardado o suficiente, pois sempre existe o perigo de um colapso de mercado, uma inflação, uma catástrofe, uma enfermidade prolongada, um acidente provocando paralisia. Isso indica que Deus seria roubado do serviço do seu povo. 0 verdadeiro propósito pelo qual eles foram criados e convertidos seria perdido. Os homens e as mulheres que levam a imagem divina estariam vivendo para um futuro incerto nesta terra quando deveriam estar vivendo com os valores da eternidade em mente.

6:33 0 Senhor, portanto, faz um pacto com seus seguidores. Em resumo, ele diz: “Se você colocar os interesses de Deus em primeiro lugar na sua vida, eu garantirei suas necessidades futuras. Se você buscar, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, então eu cuidarei para que nunca lhe falte as necessidades da vida”. 6:34 Esse é o programa de “providência social de Deus” . A responsabilidade do crente é viver para o Senhor, confiando em Deus para o futuro com uma confiança inabalável de que ele tudo providenciará. Nosso trabalho é simplesmente suprir nossas neces­ sidades atuais; qualquer coisa acima disso deve ser investida no trabalho do Senhor. Somos chamados para viver um dia de cada vez: o amanhã trará os seus cuidados. R. Não julgue (7:1-6) Essa seção sobre julgar segue imediatamente os ensinos provocativos de Jesus em relação às rique­ zas terrestres. A relação entre esses dois temas é importante. É fácil para o cristão que abandonou tudo criticar os cristãos ricos. Reciprocamente, os cristãos que levam seriamente o dever de providenciar para as necessidades futuras das suas famílias tendem a negligenciar o sentido literal que alguns colocam nas palavras de Jesus no último capítulo. Considerando que ninguém vive completamente pela fé, tal crítica está totalmente fora de lugar. Esse mandamento de não julgarmos os outros inclui as seguintes áreas: não deveríamos julgar mo­ tivos, pois só Deus os pode ver; não deveríamos julgar pelas aparências (Jo 7:24; Tg 2:1-4); não deveríamos julgar aqueles que têm escrúpulos conscienciosos sobre assuntos que julgam não estarem certos ou er­ rados (Rm 14:1-5); não deveríamos julgar o serviço de outro cristão (ICo 4:1-5); e não deveríamos julgar um companheiro cristão falando mal dele (Tg 4:11-12). 7:1 Às vezes essas palavras são mal interpretadas por pessoas a fim de proibir todas as formas de julga­ mento. Não importa o que aconteça, elas dizem pia­ mente: Não julgueis, para que não sejais julgados. Mas Jesus não está nos ensinando a ser cristãos sem discernimento. Nunca foi sua intenção que abandonás­ semos as faculdades críticas ou o discernimento. 0 NT contém muitos exemplos de julgamentos legítimos da condição, da conduta ou do ensinamento de outros. Além disso, há várias áreas em que se ordena ao cris­ tão tomar uma decisão, para discernir entre o bom e o mau ou entre o bom e o melhor. Alguns exemplos: 1. Quando surgem contendas entre cristãos, elas deveriam ser acertadas na igreja perante membros que podem decidir a questão (ICo 6:1-8).

2. A igreja local deve julgar pecados sérios dos mem­ bros e tomar as devidas providências (Mt 18:17; ICo 5:9-13). 3. Os cristãos têm de julgar os ensinamentos dou­ trinários dos ensinadores e pregadores através da palavra de Deus (Mt 7:15-20; ICo 14:29; ljo 4:1). 4. Os cristãos têm de discernir se os outros realmente são cristãos a fim de obedecer à ordem de Paulo em 2Coríntios 6:14. 5. Os membros da igreja precisam julgar quais ho­ mens têm as qualificações necessárias para serem líderes (ITm 3:1-13). 6. Temos de discernir quais pessoas são desordeiras, covardes, fracas etc., e tratá-las de acordo com as instruções da Bíblia (p. ex., lTs 5:14). 7:2 Jesus alertou que o julgamento errôneo seria pago da mesma forma: Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados. Esse princípio de colhermos o que semearmos está embutido em todos os aspectos da vida humana. Marcos aplica o princí­ pio à nossa apropriação da Palavra (4:24), e Lucas o aplica à nossa liberalidade em dar (6:38). 7:3-5 Jesus expôs nossa tendência de ver uma pe­ quena falha no próximo enquanto ignoramos a mes­ ma falha em nós. Ele propositadamente exagerou a situação (usando uma figura de linguagem chamada hipérbole) a fim de poder transmitir seu pensamento. Alguém com uma trave no olho frequentemente vê o argueiro no olho do próximo, mas não percebe a própria condição. É ser hipócrita supor que poderí­ amos auxiliar alguém com uma falha, quando temos uma falha pior. Precisamos consertar nossas falhas antes de criticar as dos outros. 7:6 0 versículo 6 confirma que Jesus não pre­ tendia proibir todo tipo de julgamento. Ele alertou os discípulos a não dar coisas santas aos cães ou lançar aos porcos as pérolas. Sob a lei mosaica, os cachorros e os porcos eram animais imundos, e aqui os termos são usados para descrever pessoas más. Quando deparamos com pessoas viciadas que tratam as verdades divinas com desprezo absoluto e respondem à nossa pregação sobre as exigências de Cristo com abuso e violência, não somos obrigados a continuar compartilhando o evangelho com eles. In­ sistir no assunto somente traz condenação em maior grau aos ofensores. Seria desnecessário dizer que se exige percepção espiritual para discernir esse tipo de gente. Talvez esse seja o motivo de os próximos versículos nos le­ varem ao assunto da oração, através da qual podemos pedir sabedoria.

S.

Continue pedindo, buscando e batendo (7:7-12) 7:7-8 Se pensarmos que podemos praticar os ensina­ mentos do Sermão do Monte mediante nossas forças, falhamos em perceber o caráter sobrenatural da vida para a qual o Salvador nos chamou. A sabedoria ou o poder para tal vida deve vir do alto. Portanto, aqui temos um convite: Pedi e continueis pedindo; buscai e continueis buscando; batei e continueis batendo. A sabedoria e o poder para a vida cristã serão dados a todos os que sinceramente e persistentemente oram por isso. Tirando do contexto, os versículos 7 e 8 podem parecer um cheque assinado em branco para os que creem, ou seja, que podemos obter qualquer coisa que pedirmos. Mas não é bem assim. Esses versículos pre­ cisam ser compreendidos dentro do contexto imediato e à luz de todos os ensinamentos da Bíblia a respeito da oração. Portanto, as promessas aparentemente sem limites estão realmente restritas por outras pas­ sagens. Por exemplo, em Salmos 66:18 aprendemos que uma pessoa que ora não pode ter nenhum pecado não confessado na sua vida. O cristão precisa orar com fé (Tg 1:6-8) e de conformidade com a vontade de Deus (ljo 5:14). A oração precisa ser oferecida com persis­ tência (Lc 18:1-8) e com sinceridade (Hb 10:22). 7:9-10 Quando as condições para as orações são cumpridas, o cristão pode ter inteira confiança de que Deus ouvirá e responderá. A segurança está baseada no caráter de Deus, nosso Pai. No nível humano, sabe­ mos que se o filho pedir pão o pai não lhe dará pedra. Tampouco lhe daria uma cobra se ele tivesse pedido peixe. 0 pai terreno não enganaria o filho faminto nem lhe daria algo que lhe trouxesse dor. 7:11 O Senhor argumenta tomando por base do menor ao maior. Se pais humanos recompensam os pedidos dos filhos com o que é melhor para eles, quanto mais nosso Pai, que está nos céus, nos dará boas coisas. 7:12 0 elo imediato do versículo 12 com os ver­ sículos anteriores é este: já que o Pai nos dá coisas boas, deveríamos imitá-lo mostrando bondade aos outros. A forma de provar se uma ação beneficia os demais é se gostaríamos de receber tal ação. A “re­ gra áurea" tinha sido expressa nos termos negativos pelo menos cem anos antes dessa época pelo Rabino Hillel. Portanto, declarando essa regra numa termi­ nologia positiva, Jesus vai além da restrição passiva para a benevolência ativa. 0 cristianismo não é sim­ plesmente uma questão de abstinência do pecado; é a bondade positiva. Essa declaração de Jesus é a Lei e os Profetas, isto é, resume os ensinamentos morais da Lei de

Moisés e os escritos dos Profetas de Israel. A retidão exigida pelo AT é cumprida nos cristãos convertidos que assim andam de acordo com o Espírito (Rm 8:4). Se esse versículo fosse obedecido universalmente, transformaria todas as áreas das relações interna­ cionais, a política nacional e a vida familiar e a da igreja. T. O caminho estreito (7:13-14) 0 Senhor agora adverte que a porta do discipulado cristão é estreita e o caminho é apertado.9 Mas os que fielmente seguem seus ensinamentos encontram vida abundante. Em contrapartida, existe a porta lar­ ga — uma vida de indulgência e prazer, que culmina na destruição. Essa não é uma discussão a respeito de alguém perder sua alma, mas de falhar em viver o propósito de sua existência. Esses versículos também se aplicam ao evangelho com a descrição das duas estradas e dos dois desti­ nos da raça humana. A porta larga e o caminho largo levam à destruição (Pv 16:25). A porta estreita e o caminho difícil levam àvida. Jesus é o portão (Jo 10:9) e o caminho (Jo 14:6). Mas, enquanto essa é uma apli­ cação válida dessa passagem, a interpretação é para os crentes. Jesus está dizendo que, para segui-lo, neces­ sitariam de fé, disciplina e perseverança. Mas essa vida difícil é a única que vale a pena viver. Se você escolher o caminho fácil, terá bastante companhia, mas perderá o melhor que Deus tem para você. U. Pelos seus frutos os conhecerá (7:15-20) 7:15 Onde quer que sejam ensinadas as árduas demandas do verdadeiro discipulado, haverá falsos profetas que defenderão a porta larga e o caminho espaçoso. Eles diluem a verdade até o ponto que C. H. Spurgeon menciona: “M o sobra o suficiente para fazer sopa para um gafanhoto faminto”. Esses homens que professam falar em nome de Deus entram dis­ farçados em ovelhas, dando a aparência de serem verdadeiros cristãos. Mas por dentro são lobos roubadores — malignos incrédulos que pregam aos imaturos, instáveis e fracos na fé. 7:16-18 Os versículos 16-18 tratam de detectar os fal­ sos profetas: Pelos seus frutos os conhecereis. A vida libertina deles e seus ensinos destrutivos os traem. Uma árvore ou uma planta produzem frutos de acordo com sua característica. E spinheiros não podem produzir uvas; abrolhos não podem produzir figos. Uma árvore boa produz bons frutos e uma árvore má produz maus frutos. Esse princípio é verdadeiro no mundo natural e no mundo espiritual. A vida e os ensinamentos dos que proclamam em nome de Deus deveriam ser aprovados pela palavra

de Deus. “Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Is 8:20). 7:1 9 -2 0 0 destino dos falsos profetas é serem lançados ao fogo. A destruição dos falsos mestres e profetas é a “repentina destruição” (2Pe 2:1). Eles podem ser conhecidos pelos seus frutos. V. Nunca os conheci (7:21-23) 7:21 Em seguida, o Senhor Jesus adverte as pessoas que falsamente professam conhecê-lo como Salvador, mas nunca se converteram. Nem todo o que me diz “Senhor, Senhor” entrará no reino dos céus. Apenas os que fazem a vontade de Deus entram no reino. 0 primeiro passo para fazer a vontade de Deus é crer no Senhor Jesus (Jo 6:29). 7:22-23 No dia do julgamento, quando os incré­ dulos comparecerem diante de Cristo (Ap 20:11-15), muitos o recordarão de que eles profetizaram, expe­ liram demônios, fizeram muitos milagres — tudo no nome dele. Mas seus protestos serão em vão. Jesus então lhes dirá explicitamente: nunca vos conheci nem vos reconheci como meus. Desses versículos aprendemos que nem todos os milagres são de origem divina e que nem todos os que fazem milagres são autorizados divinamente. Um milagre simplesmente demonstra que um poder sobrenatural está trabalhando. Aquele poder pode ser divino ou satânico. Satanás pode autorizar seus trabalhadores a expulsar demônios temporariamente, para criar a ilusão de que o milagre é divino. Ele não está dividindo o reino dele contra si mesmo nesse caso, mas conspirando uma invasão até pior de de­ mônios no futuro. W. Edifique sobre a rocha (7:24-29) 7:24-25 Jesus encerra o sermão com a parábola que enfatiza a importância da obediência. Não é suficiente apenas ouvir as minhas palavras; precisamos colocá-las em prática. 0 discípulo que ouve e pratica os ensinamentos de Jesus é comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Sua casa (vida) tem alicerce sólido, e quando soprada pelo ímpeto dos ventos e da chuva ela não cairá. 7:26-27 E todo aquele que ouve as palavras de Jesus e não as pratica é comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia.

9 (7:13-14) Tanto os textos críticos quanto muitas versões têm uma leitura exclamativa aqui: “Como é estreita a porta, e apertado o ca­ minho que leva à vida!” (NVI). Quando os manuscritos mais antigos (geralmente NU) e o texto majoritário (M) são concordes e contrários ao texto tradicional (TR) estão quase sempre corretos. Em tais casos, a tradição da RC e da RA tem suporte textual fraco.

Esse homem não estará capacitado a suportar as tempestades da adversidade; quando caiu a chuva, e sopraram os ventos, a casa desabou, pois ela não tinha base sólida. Se alguém vive de acordo com os princípios do Sermão do Monte, o mundo o chama de insensato; mas Jesus o chama de homem prudente. 0 mundo considera sábio o homem que vive pelo que vê, para o presente e para sua própria satisfação; Jesus o chama de insensato. É legítimo usar os construtores pruden­ tes e os insensatos para ilustrar o evangelho. 0 homem prudente deposita sua total confiança na Rocha, que é Jesus Cristo, como Senhor e Salvador. 0 homem insen­ sato recusa a se arrepender e rejeita Jesus como sua única esperança de salvação. Mas a interpretação da parábola realmente nos leva muito além da salvação, até o desenrolar da vida prática do cristão. 7:28-29 A medida que Jesus acabou de proferir suas palavras, as multidões ficaram maravilhadas. Se lermos o Sermão do Monte e não nos maravi­ lharmos com seu caráter revolucionário, então não chegamos a compreender seu significado. As multidões perceberam a diferença entre as pa­ lavras de Jesus e as dos escribas. Ele ensinava com autoridade; as palavras deles eram sem poder. As palavras do Senhor eram uma voz; as dos escribas, um eco. Jamieson, Fausset e Brown comentam: “A consciência de autoridade divina, como legislador, expositor e juiz brilhou tanto pelo seu ensino que os ensinamentos dos escribas não puderam parecer mais que ofuscados por tal luz”.10

V.

Os milagres do poder e da graça do Messias e as várias reações a eles (8:1— 9:34)

Nos capítulos 8— 12, o Senhor Jesus apresenta evi­ dências conclusivas à nação de Israel de que ele era realmente o Messias predito nos escritos dos Profetas. Por exemplo, Isaías havia profetizado que o Messias abriria os olhos dos cegos, desobstruiria os ouvidos dos surdos, faria o coxo saltar e a língua dos mudos cantar (35:5-6). Jesus, cumprindo essas profecias, provou que ele era o Messias. Israel, ao examinar as Escrituras, não deveria ter tido nenhuma dificuldade de identificá-lo como o Cristo. Mas nin­ guém é tão cego como os que não querem enxergar.

10 (7:28-29) JAMIESON, Fa u s s e t & BROWH. Criticai and Explanatory Commentary on the New Testament, vol. V, p. 50. 11 (8:2) Certas formas de lepra mencionadas na Bíblia não são o mesmo que a moléstia que chamamos de hanseníase. Por exemplo, em Levítico, que inclui a condição que pode infectar uma casa ou uma veste.

Os eventos registrados nesses capítulos estão apre­ sentados de acordo com um esquema temático, em vez de uma rígida ordem cronológica. Esse não é um relato completo do ministério do Senhor, mas uma apresenta­ ção de eventos selecionados pelo Espírito Santo para retratar certos motivos na vida do Salvador. Incluído nessa apresentação encontramos o seguinte: 1. A autoridade absoluta de Cristo sobre as doenças, os demônios, a morte e os elementos de natureza. 2. Sua declaração de seu senhorio absoluto na vida dos que o seguiriam. 3. A crescente rejeição de Jesus pela nação de Israel, especialmente por parte dos líderes religiosos. 4. A imediata recepção do Salvador de forma indivi­ dual por parte de gentios. A. O poder sobre a lepra (8:1-4) 8:1 Apesar de serem radicais e extremadas, as pala­ vras de Jesus tinham o poder de conquistar a atenção, tanto que grandes multidões o seguiam. A verdade é evidente, e, apesar de as pessoas talvez não gostarem disso, elas nunca poderão esquecer isso. 8:2 Um leproso ajoelhou-se perante Jesus apelan­ do desesperadamente pela cura. Ele tinha fé de que o Senhor podia curá-lo, e a fé sincera nunca se decep­ ciona. A lepra é um quadro apropriado do pecado de­ vido ao fato de ser repugnante, destrutiva, infecciosa e, em alguns casos, humanamente incurável.11 8:3 Os leprosos eram intocáveis. Contatos físicos com eles poderiam expor alguém à infecção. No caso dos judeus, esse contato fazia com que a pessoa fi­ casse contaminada cerimonialmente, isto é, imprópria para adorar com a congregação de Israel. Mas quando Jesus tocou o leproso e disse as palavras de poder curador a lepra desapareceu imediatamente. Nosso Salvador tem poder para limpar o pecado e tornar a pessoa purificada para a adoração. 8:4 Essa é a primeira vez no evangelho de Mateus em que se registra a ordem de Jesus para que tanto quem se beneficiou de um milagre realizado por ele quanto quem o presenciou não conte nada a ninguém (cf. tb. 9:30; 12:16; 17:9; Mc 5:43; 7:36; 8:26). Isso era provavelmente porque ele estava ciente do fato de que muitas pessoas, apenas interessadas na liber­ tação do jugo romano, queriam fazê-lo rei. Mas ele sabia que Israel ainda não havia se arrependido, que a nação rejeitaria sua liderança espiritual e que ele teria de ir primeiramente para a cruz. Sob a lei de Moisés, o sacerdote também atendia como médico. Quando um leproso era purificado, era obrigado a trazer uma oferta ao sacerdote a fim de ser declarado limpo (Lv 14:4-6) . Era raridade, sem dúvida, a cura de um leproso, um acontecimento tão

extraordinário que deveria ter alertado esse sacerdote a investigar se finalmente o Messias aparecera. Mas não vemos menção a tal reação. Jesus falou para o leproso obedecer à lei nesse caso. As implicações espirituais do milagre são claras. 0 Messias tinha vindo para Israel com poder de curar a nação de sua enfermidade. Ele apresentou esse milagre como uma das suas credenciais. Mas a nação ainda não estava pronta para seu Libertador. B. O poder sobre a paralisia (8:5-13) 8:5-6 A fé do centurião gentio é mostrada em con­ traste à falta de receptividade dos judeus. Se Israel não reconhecer seu Rei, os pagãos desprezados reconhecerão. 0 centurião era um oficial militar romano, comandante de cerca de cem homens, e sua base estava em Cafamaum, ou nas imediações. Ele apresentou-se a Jesus em busca da cura do seu criado que tinha sofrido uma violenta e dolorosa paralisia. Essa era uma demonstração de compaixão fora do normal — a maioria dos oficiais não teria demonstrado tanto cuidado pelo criado. 8:7-9 Quando o Senhor Jesus ofereceu-se para visitar o criado enfermo, o centurião mostrou a realidade e a profundidade da sua fé. Em efeito, ele disse: “Não sou digno de que entres em minha casa. De qualquer modo, não é necessário, pois o Senhor poderia facilmente curá-lo mandando com uma palavra. Eu conheço sua autoridade. Recebo ordens dos meus superiores, e dou ordens aos meus subordinados. Minhas ordens são obedecidas implici­ tamente. Quanto mais suas palavras têm mais poder sobre a enfermidade do meu criado!”. 8:10-12 Jesus admirou-se da fé do gentio. Essa é uma das duas ocasiões em que encontramos Jesus admirado (a outra foi devido à incredulidade dos judeus — Mc 6:6). Ele não achou fé como esta em Israel, que era o povo escolhido de Deus. Isso o fez dizer que em seu reino vindouro os gentios viriam de todos os lugares do mundo para desfrutar da comu­ nhão com os patriarcas judeus, enquanto os filhos do reino seriam lançados nas trevas onde haverá choro e ranger de dentes. Os filhos do reino são os que eram judeus por nascimento, que professavam reconhecer Deus como Rei, mas que nunca se con­ verteram com sinceridade. Mas o princípio se aplica hoje. Muitas crianças são privilegiadas em nascer e serem criadas em lares cristãos, mas perecerão no inferno por terem rejeitado a Cristo, enquanto selvagens apreciarão as glórias celestiais por terem acreditado no evangelho. 8:13 Então Jesus disse ao centurião: “Vai-te, e seja feito conforme a tua fé” . A fé é recompensada

em proporção à confiança no caráter de Deus. 0 servo foi curado instantaneamente, apesar de Jesus estar distante dele. Podemos ver nisso uma figura do ministério atual de Cristo, curando os gentios não privilegiados da paralisia do pecado, apesar de ele não estar presente corporalmente. C. O poder sobre a febre (8:14-15) Chegando à casa de Pedro, Jesus encontrou a sogra do apóstolo ardendo em febre. Jesus tomou-a pela mão, e a febre a deixou. Normalmente a febre deixa a pessoa bastante fraca, mas essa cura foi tão ins­ tantânea e completa que ela foi capaz de levantar da cama e passou a servi-lo — uma expressão nítida de gratidão pelo que o Salvador fizera por ela. Deve­ ríamos imitá-la, quando curados, servindo a ele com renovada dedicação e vigor. D.

O poder sobre demônios e várias doenças (8:16-17) Chegada a tarde, passado o sábado (cf. Mc 1:21-34), o povo apareceu a ele com muitos endemoninhados. Esses indivíduos patéticos eram habitados e contro­ lados por espíritos maus. Frequentemente exibiam poder e conhecimento sobrenaturais, e, em outras ocasiões, eram atormentados. Seu comportamento às vezes se assemelhava ao de pessoas loucas, mas a causa era mais demoníaca que física ou mental. Jesus, com a palavra, expeliu os espíritos. Ele também curou todos os que estavam doentes, para que se cumprisse o que estava escrito na pro­ fecia de Isaías 53:4: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas doenças. 0 versículo 17 é frequentemente citado pelos curadores de fé, que querem provar que a cura está na expiação, e, portanto, a cura física é algo que o crente pode reivindicar pela fé. Mas aqui o Espírito de Deus aplica a profecia ao ministério curativo terrestre de nosso Salvador e não ao seu trabalho na cruz. Até agora, neste capítulo, vimos estes quatro mi­ lagres: 1. A cura do judeu leproso, com Cristo presente. 2. A cura do criado do centurião, com Cristo a certa distância. 3. A cura da sogra de Pedro, com Jesus presente na casa. 4. A cura de todos os possuídos por demônios e doen­ tes, com Jesus presente. Gaebelein sugere que esses milagres simbolizam quatro fases do ministério do nosso Senhor: 1. Cristo em seu primeiro advento, ministrando ao seu povo, Israel.

2. A dispensação gentílica, com Jesus ausente. 3 .0 segundo advento, quando ele entrará na casa, restabelecendo suas relações com Israel e curará a filha doente de Sião. 4 .0 milênio, quando todos os possuídos por demônios e os doentes serão curados.12 Essa é uma análise intrigante do progresso do ensi­ no nos milagres, e deveria nos alertar para os signifi­ cados profundos escondidos nas Sagradas Escrituras. Deveríamos ser advertidos, porém, a não levarmos esse método ao extremo, forçando pensamentos que chegam a ponto de se tomarem ridículos. E. O milagre da recusa humana (8:18-22) Vimos Cristo exercendo autoridade sobre a doença e os demônios. É só quando ele entra em contato com homens e mulheres que ele encara a resistência— o milagre da recusa humana. 8:18-20 Quando Jesus preparava-se para atra­ vessar o mar da Galileia, de Cafamaum para o lado leste, um escriba autoconfiante se aproxima pro­ metendo segui-lo “caminho afora". A resposta do Senhor o desafiou a considerar o custo — uma vida de abnegação. As raposas têm seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. Em seu ministério público, ele não tinha seu próprio lar; no entanto, havia lares onde ele era um hóspede bem-vindo e ele geralmente tinha um lugar para dormir. A verdadeira ênfase de suas palavras parece ser espiritual: este mundo não poderia fomecer-lhe um lugar com duradouro e verdadeiro descanso. Ele tinha um serviço a fazer e não poderia descansar até que estivesse completo. 0 mesmo se refere aos seus seguidores; este mundo não é seu lugar de descanso — ou pelo menos não deveria ser! 8:21 E outro seguidor bem-intencionado expressou desejo de segui-lo, mas tinha uma prioridade maior: Senhor, permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Se o pai já falecera ou não, faz pouca diferença. 0 problema básico foi expresso nas palavras contradi­ tórias: Senhor, permite-me primeiro. Ele colocou a si mesmo antes de Cristo. É perfeitamente legítimo providenciar um sepultamento decente para o pai, mas se tom a um erro quando tal ato tão valoroso precede o chamado do Salvador.

12 (8:16-17) Am o C. G aebeleih ,The Gospel ofMatthew, p. 193. 13 (8:28) Os nomes da cidade e da região podem se sobrepor um pouco. “Alguus manuscritos trazem gergesenos (cf. RC-IBB); outros dizem gerasenos” (cf. nota na NVI).

8:22 Jesus, de fato, lhe respondeu neste senti­ do parafrástico: “Seu primeiro dever é seguir-me. Deixe os espiritualmente mortos enterrarem os fisicamente mortos. Uma pessoa não salva pode fazer esse tipo de serviço. Mas há um serviço que só você pode fazer. Dê o melhor de sua vida ao que realmente dura. Não a desperdice em algo trivial”. Não sabemos como esses dois discípulos reagiram. Mas tudo leva a crer que eles deixaram a Cristo a fim de viverem confortavelmente neste mundo e gastar a vida com o que era menos importante. Nós deveríamos, antes de condená-los, provar-nos nos dois critérios de discipu­ lado estabelecidos por Jesus nessa passagem. E Poder sobre as forças da natureza (8:23-27) 0 mar da Galileia é notável por repentinas e violentas tempestades que o açoitam em um encameiramento espumoso. Os ventos assopram pelo vale do Jordão desde o norte, aumentando sua velocidade no estreito desfiladeiro. Quando os ventos atingem o mar, ele se toma extremamente inseguro para a navegação. Nessa ocasião, Jesus estava atravessando do lado oeste para o leste. Quando a tempestade se iniciou, ele dormia no barco. Os discípulos, amedrontados, o acordaram com apelos frenéticos de socorro. Eles foram à pessoa correta, e isso é louvável. Após repre­ endê-los por sua fé insignificante, ele repreendeu os ventos e as ondas. Quando houve grande bonança, os homens maravilharam-se de que até as forças da natureza obedeceram ao humilde passageiro. Eles não conseguiram entender que o Criador e Sustentador do universo estava no navio naquele dia! Todos os discípulos se deparam com tempestades mais cedo ou mais tarde. As vezes parece que vamos ser engolidos pelas ondas. Que conforto saber que Jesus está no barco conosco. “Nenhuma água pode engolir o navio onde se encontra o Senhor do oceano, da terra e do céu.” Ninguém pode mitigar as tempes­ tades da vida como o Senhor Jesus. G.

Jesus cura dois homens endemoninhados (8:28-34) 8:28 No lado leste do mar da Galileia estava a terra dos gadarenos.13 Quando Jesus chegou, encontrou dois casos raros e violentos de possessão demonía­ ca. Esses endemoninhados moravam em sepulcros parecidos com cavernas e eram tão furiosos que era perigoso viajar naquela região. 8:29-31 Enquanto Jesus se aproximava, os demô­ nios gritaram: “ Que temos nós contigo, Jesus, ó Filho de Deus! VIeste aqui atormentar-nos antes do tempo?” . Eles sabiam quem era Jesus e que ele finalmente os destruiria. Por esse lado, sua teologia

era mais correta que a de muitos liberais modernos. Sentindo que Jesus ia expulsá-los dos homens, pedi­ ram para que pudessem ser transferidos para uma grande manada de porcos pastando por perto. 8:32 É de estranhar que Jesus tenha concedido seu pedido. Mas por que o Senhor Soberano deveria consentir o pedido dos demônios? Para entender sua ação, primeiro temos de lembrar dois fatos. Primeiro, os demônios evitam o estado desincorporado; eles querem morar nos seres humanos, ou, se isso não for possível, em animais ou outras criaturas. Segundo, o propósito dos demônios sem exceção alguma é destruir. Se Jesus simplesmente os tivesse expelido dos ende­ moninhados, os demônios seriam uma ameaça para as outras pessoas da região. Por permitir-lhes entrar na manada de porcos, ele impediu que entrassem em homens e mulheres e limitou seu poder destrutivo aos animais. Ainda não era o tempo para sua destruição final pelo Senhor. Assim que a transferência se efetuou, a manada se precipitou, despenhadeiro abaixo, para dentro do mar e se afogou. Esse incidente demonstra que o objetivo final dos demônios é destruir, e enfatiza a possibilidade apavo­ rante de que dois homens podem ser possuídos pelo número de demônios necessários para destruir dois mil porcos (Mc 5:13). 8:33-34 Os donos dos porcos foram correndo com a notícia do que acontecera. 0 resultado foi que os cidadãos, rebelando-se, vieram a Jesus e lhe rogaram que se retirasse da região. Desde então, Jesus foi criticado pela matança desnecessária dos porcos e pediram que se retirasse porque ele dava mais valor à vida humana que à dos animais. Se esses gadarenos fossem judeus, seria contra a lei criarem porcos. Mas se eram ou não judeus sua condenação está no fato de colocarem mais valor em uma manada de porcos que na cura de dois endemoninhados. H. Poder para perdoar os pecados (9:1-8) 9:1 Rejeitado pelos gadarenos, o Salvador atravessou novamente o mar da Galileia e veio até Cafamaum, que se tomara sua própria cidade após os de Nazaré terem tentado destruí-lo (Lc 4:29-31). Foi ah que ele efetuou alguns de seus milagres mais poderosos. 9:2 Quatro homens vieram a ele, carregando um paralítico numa rude cama ou esteira. 0 relato de Marcos conta que, por causa da multidão, eles tive­ ram de tirar o telhado e abaixar o homem na presença de Jesus (2:1-12). Quando Jesus lhes viu a fé, ele disse ao paralítico: “Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados” . Note que ele viu a fé deles. A fé impeliu os homens a trazerem o doente a Jesus, e a fé do doente foi até Jesus à procura de cura.

Nosso Senhor recompensou essa fé primeiramente pelo pronunciamento de seus pecados perdoados. 0 Grande Médico retirou a causa antes de tratar dos sintomas; ele deu a maior bênção primeiro. Isso nos faz questionar se Cristo alguma vez curou uma pessoa sem também conceder salvação. 9:3-5 Quando alguns escribas ouviram Jesus de­ clarar que os pecados do homem estavam perdoados, eles o acusaram de blasfêmia consigo mesmos. Afinal de contas, só Deus pode perdoar pecados — e eles certamente não iriam recebê-lo como Deus! 0 Senhor Jesus, onisciente, leu seus pensamentos, repreendeulhes pelo mal de descrença no coração, depois lhes perguntou se era mais fácil dizer: “Estão perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te, e anda?” . Na realidade, é fácil dizer tanto um quanto o outro, mas qual é mais fácil de fazer? Humanamente falando, ambos são impossíveis, mas os resultados da primeira ordem não são visíveis ao passo que os efeitos da segunda são vistos imediatamente. 9 :6-7 Para poder mostrar aos escribas que ele tinha autoridade sobre a terra para perdoar pecados (e, portanto, deveria ser honrado como Deus), Jesus dignou-se a dar-lhes um milagre que poderiam ver. Virando para o paralítico, ele disse: “ Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa” . 9:8 Quando as multidões o viram andando para casa com sua maca, sentiram duas emoções: temor e maravilhamento. Estavam com medo diante de uma visitação sobrenatural óbvia. Eles glorificaram a Deus por dar tal autoridade aos homens. Mas eles perderam por completo o significado do milagre. A cura visível do paralítico fora destinada a confirmar que os pecados do homem haviam sido perdoados, um milagre invisível. Eles deveriam ter percebido, nesse relato, que o que testificaram não fora uma demons­ tração de Deus dando autoridade aos homens, mas a presença de Deus entre eles na pessoa do Senhor Jesus Cristo. Mas eles não entenderam. Com relação aos escribas, sabemos de aconteci­ mentos posteriores que eles apenas ficaram mais endurecidos em sua descrença e ódio. I.

Jesus chama Mateus, o cobrador de impostos (9:9-13) 9:9 A atmosfera tensa que aumentava ao redor do Sal­ vador é temporariamente aliviada pela narração sim­ ples e humilde de Mateus acerca do próprio chamado. Ele, sendo publicano ou cobrador de impostos, junto com seus colegas de trabalho, era odiado intensamen­ te pelos judeus por causa de sua desonestidade, dos impostos opressivos (impostos que eles extorquiam) e, acima de tudo, porque serviam aos interesses do

Império Romano, o dominador de Israel. Enquanto Jesus passava pelo cobrador de impostos, ele disse a Mateus: Segue-me. A resposta foi instantânea; ele se levantou e o seguiu; deixando um trabalho tradi­ cionalmente desonesto para se tomar de imediato um discípulo de Jesus. Como alguém já disse: “Ele perdeu um emprego seguro, mas encontrou um destino. Ele perdeu uma boa renda, mas encontrou a honra. Ele perdeu uma confortável segurança, mas encontrou uma aventura com a qual nunca sonhara”. Entre todas as suas recompensas estava ainda a de se tomar um dos doze e ter a honra de escrever o evangelho que leva seu nome. 9:10 A refeição descrita aqui foi organizada por Mateus em honra a Jesus (Lc 5:29). Foi seu modo de confessar Cristo publicamente e apresentar seus companheiros ao Salvador. Portanto, os convidados, necessariamente, eram publicanos e outros conhe­ cidos em geral como pecadores! 9:11 Era a prática naqueles dias comer reclinado em divãs, olhando para a mesa. Quando os fariseus viram Jesus associar-se desse modo com a gentalha, foram aos discípulos e o incriminaram de “culpa por associação” (com certeza, nenhum profeta verdadeiro comeria com pecadores!). 9:12 Jesus ouviu e respondeu: Os sãos não pre­ cisam de médico, e, sim, os doentes. Os fariseus consideravam-se a si mesmos saudáveis e não es­ tavam dispostos a confessarem-se necessitados de Jesus. (Na verdade eles estavam espiritualmente mui­ to doentes e precisavam com urgência da cura.) Os publicanos e pecadores, em contrapartida, estavam mais dispostos a reconhecer sua verdadeira condição e procurar a graça salvadora de Cristo. Então a incri­ minação estava correta. Jesus realmente comeu com pecadores. Se ele tivesse comido com os fariseus, a incriminação continuaria verdadeira — talvez mais ainda! Se Jesus não comesse com pecadores num mundo como o nosso, ele sempre comeria sozinho. Mas é importante lembrar que quando ele comeu com pecadores nunca cedeu aos seus maus caminhos ou comprometeu seu testemunho. Ele usou a ocasião para chamar os homens à verdade e à santidade. 9:13 0 problema dos fariseus era que, embora seguissem os rituais do judaísmo com grande pre­ cisão, o coração deles estava endurecido, frio e sem misericórdia. Então Jesus os despediu com um de­ safio: aprendei o significado das palavras de Jeová: Misericórdia quero, e não holocaustos (citação de Os 6:6). Embora Deus houvesse instituído o sistema

sacrificial, ele não queria que os rituais se tomassem um substituto para a justiça interior. Deus não é um ritualista, e ele não se agrada de rituais divorciados de piedade pessoal — exatamente o que os fariseus fizeram. Eles observaram a lei ao pé da letra, mas não tinham compaixão dos que precisavam de ajuda espiritual. Associaram-se somente a pessoas que se consideravam justas como eles. Em contraste, o Senhor Jesus propositalmente lhes falou: Não vim chamar justos, mas pecadores. Ele cumpriu perfeitamente a vontade de Deus tanto na misericórdia como no sacrifício. Em certo sentido, não havia mais pessoas justas no mundo, então ele veio chamar todos os homens ao arrependimento. Mas aqui o pensamento é que seu chamado é apenas eficaz para os que se reconhecem pecadores. Ele não pode curar os orgulhosos, os que se consideram justos e não se arrependem — assim como os fariseus. J.

Jesus é interrogado acerca do jejum (9:14-17) 9:14 Nessa altura, João Batista provavelmente es­ tava na prisão. Seus discípulos vieram a Jesus com um problema. Eles mesmos jejuaram muitas vezes, e os discípulos de Jesus não. Por quê? 9:15 0 Senhor respondeu com uma ilustração. Ele era o noivo; e seus discípulos, os convidados do casa­ mento. Enquanto ele estivesse com eles, não havia razão para jejuar como sinal de luto. Ele seria tirado deles, então eles jejuariam. Isso enfim aconteceu — na morte e no sepultamento, e, desde sua ascensão, ele está corporalmente ausente dos seus discípulos. Embora as palavras de Jesus não ordenem o jejum, elas o aprovam como um exercício apropriado para os que esperam o Noivo. 9 :1 6 A pergunta feita pelos discípulos de João mais tarde impeliu Jesus a mostrar que o Batizador marcou o fim de uma dispensação, anunciando a era da graça, e ele mostra que seus respectivos princípios não podem se misturar. Tentar misturar a lei e a graça seria como usar um pedaço novo de pano que não encolheu para remendar um vestido velho. Quando lavado, o remendo encolheria, rompendo-se do pano velho. A rotura ficaria pior que nunca. Gaebelein critica com razão: “Um cristianismo judaico que, junto a uma profissão de graça e do evangelho, tenta guardar a lei e favorece a justiça legal é uma abominação maior aos olhos de Deus que o Israel do passado quando adorava ídolos”.14 9:17 Ou a mistura seria como colocar vinho novo em odres velhos. A pressão causada pela fermenta­ ção do novo vinho arrebentaria os odres velhos porque eles teriam perdido a elasticidade. A vida e a liberda­ de do evangelho estragam os odres do ritualismo.

A introdução da era cristã inevitavelmente re­ sultaria em tensão. A alegria que Cristo trouxe não poderia se conter dentro das formas e rituais do AT. Tem de liaver uma ordem totalmente nova das coisas. Pettingill deixa isso bem claro: Assim o Rei alerta os discípulos contra a mistura do velho [...] edonovo [...].Mas mesmo assim foi isso o que aconteceu por meio do cristianismo. 0 judaísmo foi remendado e adaptado em todos os lugares entre as igrejas, e o vestido velho é rotulado de “cristianismo”. 0 resultado é uma mistura confusa, que não é judaísmo nem cris­ tianismo, mas uma substituição ritualística de obras mortas por uma confiança no Deus vivo. 0 vinho novo da salvação pela graça foi derramado em odres velhos de legalismo. Com que resulta­ do? Os odres estão rotos e estragados, o vinho foi derramado e a maior parte desse precioso líquido vivificador se perdeu. A lei perdeu seu terror, porque está misturada com a graça, e a graça perdeu sua beleza e caráter de graça, porque está misturada com as obras da lei.15 K.

Poder para curar o incurável e ressuscitar os mortos (9:18-26) 9:18-19 0 discurso de Jesus sobre a mudança das dispensações foi interrompido por um perturbado chefe de sinagoga cuja filha acabara de morrer. Ele se ajoelhou perante o Senhor, pedindo-lhe que viesse e restaurasse a vida dela. Era excepcional que esse chefe viesse procurar a ajuda de Jesus; a maioria dos líderes judaicos temeria o escárnio e desprezo de seus correligionários por fazer tal coisa. Jesus honrou sua fé dirigindo-se com seus discípulos à casa do chefe. 9:20 Mais uma interrupção! Dessa vez era uma mulher que sofrerá de hemorragia durante doze anos. Jesus nunca ficara irritado por tais interrup­ ções; ele estava sempre equilibrado, acessível e afável. 9:21-22 A ciência médica fora incapaz de ajudar essa mulher; realmente, sua condição estava piorando (Mc 5:26). No momento de maior necessidade, ela encontrou Jesus — ou pelo menos ela o viu rodeado por uma multidão. Crendo que ele era capaz de curála e de que estava disposto a isso, ela se infiltrou despercebidamente na multidão e tocou a franja de sua veste. A fé verdadeira nunca passa desperce­ bida por ele. Jesus virou-se e a pronunciou curada; instantaneamente a mulher ficou sã pela primeira vez em doze anos. 9 :2 3 -2 4 A narrativa agora volta para o chefe cuja filha falecera. Tendo Jesus chegado a casa, os lamentadores profissionais estavam chorando

com o que alguém rotulou de “tristeza sintética”. Ele mandou que a sala fosse desocupada das vi­ sitas, ao mesmo tempo anunciando que a menina não estava morta, mas dormindo. A maioria dos especialistas da Bíblia acredita que o Senhor estava usando dormir aqui em sentido figurado para a morte. Alguns acreditam, no entanto, que a menina estava em coma. Essa interpretação não nega que Jesus po­ deria ressuscitá-la caso estivesse morta, mas enfatiza que Jesus era honesto demais para aceitar o crédito de ressuscitar dos mortos quando de fato a menina não havia morrido. Sir Robert Anderson tinha essa opinião. Ele mostrou o fato de que o pai e todos os demais disseram que ela morrera, mas Jesus disse que ela não tinha morrido. 9 :2 5 -2 6 De qualquer modo, o Senhor tom ou a menina pela mão e o milagre aconteceu — ela se le­ vantou. Não demorou muito para a notícia do milagre se espalhar por toda a região. L. Poder para dar visão (9:27-31) 9 :2 7 -2 8 Partindo Jesus dali, seguiram-no dois cegos, implorando por suas vistas. Embora não possuindo a visão natural, esses homens tinham um discernimento espiritual bem aguçado. Ao se dirigi­ rem a Jesus como Filho de Davi, eles o reconheceram como o tão esperado Messias e o legítimo Rei de Israel. E eles sabiam que, quando o Messias viesse, uma de suas credenciais seria dar vista “aos cegos” (Is 61:1, a nota “a” da Bíblia de estudo NVI traz: “A Septuaginta diz aos cegos"). Quando Jesus lhes provou a fé por perguntar se acreditavam que ele era capaz de fazer isso (dar-lhes visão), responderam sem hesitar: Sim, Senhor. 9:29-30 Então o Grande Médico tocou os olhos e deu-lhes a garantia de que, porque acreditaram, veriam. Imediatamente seus olhos se tomaram com­ pletamente normais. O homem diz: “Ver é crer”. Deus diz: “Crer é ver”. Jesus disse a Marta: “Não te disse eu que, se creres, verás a glória de Deus?” (Jo 11:40). 0 autor de He­ breus escreveu: “Pela fé, entendemos...” (11:3). 0 apóstolo João escreveu: “Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes [...] a vós outros que credes...” (ljo 5:13). Deus não se agrada com o tipo de fé que exige um milagre anterior. Ele quer que acreditemos nele simplesmente porque ele é Deus. Por que Jesus severamente advertiu aos homens curados a não contar a ninguém? Nos comentários a 8:4, sugerimos que provavelmente ele não queria fomentar um movimento prematuro para entronizá-lo

como Rei. As pessoas ainda não estavam arrependi­ das; ele não poderia reinar sobre elas até que nasces­ sem de novo. Além disso, uma rebelião revolucionária a favor de Jesus traria represálias terríveis do governo romano sobre os judeus. Afora o fato de que o Senhor Jesus tinha de ir até a cruz antes que pudesse reinar como Rei; qualquer coisa que bloqueasse seu caminho até o Calvário estava em discrepância com o plano predeterminado de Deus. 9:31 Em excessiva gratidão por enxergar, os dois homens divulgaram a notícia de sua cura miraculosa. Embora sejamos tentados a simpatizar, e até mesmo admirar seu testemunho exuberante, o fato inflexível é que eles de modo grosseiro desobedeceram a Jesus e inevitavelmente causaram mais dano que bem, talvez por incitar uma curiosidade superficial em vez de um interesse inspirado pelo Espírito. Nem mesmo a gra­ tidão é desculpa válida para a desobediência. M. Poder para dar a fala (9:32-34) 9:32 Primeiro Jesus dá vida aos mortos; depois visão aos cegos; agora dá fala aos mudos. Parece haver uma seqüência espiritual nos milagres aqui — primeiro vida, depois entendimento e em seguida testemunho. Um espírito maligno deixara esse homem mudo. Alguém ficou preocupado o bastante para trazer o endemoninhado a Jesus. Deus abençoa a companhia nobre de anônimos que têm sido seus instrumentos ao trazer outros a Jesus! 9:33 Assim que o demônio foi expelido, o mudo falou. Podemos assumir com toda a certeza que ele usou seu poder restaurado de fala para adorar e tes­ temunhar daquele que tão graciosamente o curara. O povo reconheceu que Israel estava testemunhando milagres nunca vistos. 9:34 Mas os fariseus responderam dizendo que Jesus expelia demônios pelo maioral dos demônios. Isso é o que Jesus mais tarde rotulou de pecado im­ perdoável (12:32). Atribuir os milagres que ele fazia pelo Espírito Santo ao poder de Satanás era blasfêmia contra o Espírito Santo. Enquanto os outros estavam sendo abençoados pelo toque curador de Cristo, os fariseus permaneceram mortos, cegos e mudos espiritualmente.

VI. Os apóstolos do Messias-Rei são enviados a Israel (9:35— 10:42) A.

A necessidade de trabalhadores na seara (9:35-38) 9:35 Nesse versículo começa o que é conhecido como “terceiro percurso galileu”. Jesus viajou por todas as cidades e povoados, pregando as boas-novas

do reino, isto é, que ele era o Rei de Israel e que, se a nação se arrependesse e o reconhecesse, ele reinaria sobre eles. Uma oferta genuína do reino foi feita a Israel nessa época. 0 que teria acontecido se Israel tivesse respondido positivamente? A Bíblia não responde a essa pergunta. Sabemos que Cristo ainda teria de morrer para providenciar uma base justa pela qual Deus poderia justificar os pecadores de todas as épocas. Como Cristo ensinou e pregou, ele curou todo tipo de doença. Assim como os milagres caracterizavam o primeiro advento do Messias, em graça humilde, as­ sim também serão um sinal de seu segundo advento, em poder e grande glória (cf. Hb 6:5: “os poderes do mundo vindouro”) . 9:36 Enquanto ele fitava as multidões de Isra­ el, atormentadas e desamparadas, ele as viu como ovelhas sem pastor. Sua grande compaixão foi até eles. Oh, se pudéssemos conhecer mais daquele de­ sejo ardente pelo bem-estar espiritual dos perdidos e dos que estão morrendo! Como necessitamos orar constantemente: Deixe-me fitar a multidão, como fez meu Senhor, Até que meus olhos com lágrimas se turvem; Deixe-me observar com piedade as ovelhas errantes, E amá-las por amor a ele. 9:37 Um grande trabalho de ceifa espiritual preci­ sava ser feito, mas os trabalhadores eram poucos. 0 problema parece persistir até o dia de hoje; a necessi­ dade é sempre maior que a força de trabalho. 9:38 0 Senhor Jesus falou para os discípulos pedi­ rem ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara. Note aqui que a necessidade não constitui um chamado. Os trabalhadores não deve­ riam ir até que fossem enviados. Cristo, o Filho de Deus, me enviou Às terras em trevas; Recebi minha ordenação De suas mãos cravadas. Gerhard Tersteegen Jesus não identificou o Senhor da seara. Alguns acham que é o Espírito Santo. Em 10:5, Jesus envia seus discípulos, então parece claro que ele é a pessoa a quem devemos orar na questão da evangelização mundial. B. Doze discípulos chamados (10:1-4) 10:1 No último versículo do capítulo 9, o Senhor ins­ truiu seus discípulos a orar por mais trabalhadores.

Para fazer esse pedido sinceramente, os que oram devem estar dispostos a ir. Então aqui encontramos o Senhor chamando seus doze discípulos. Ele os escolhera anteriormente, mas agora os chama a uma missão evangelística especial à nação de Israel. Com o chamado, veio a autoridade de expelir espíritos imundos e curar todo tipo de doença. A singularidade de Jesus é vista aqui. Outros homens fizeram milagre, mas nenhum homem já concedeu poder aos outros. 10:2-4 Os doze apóstolos foram: 1. Simão, por sobrenome Pedro. Impetuoso, de coração generoso, homem carinhoso que era, nasceu um líder. 2. André, seu irmão. Foi apresentado a Jesus por João Batista (Jo 1:36,40), depois trouxe seu irmão Pedro a ele. Empenhou-se, depois disso, em trazer homens a Jesus. 3. Tiago, filho de Zebedeu, que mais tarde foi morto por Herodes (At 12:2) — o primeiro dos doze a morrer como mártir. 4. João, seu irmão. Também filho de Zebedeu, ele foi o discípulo a quem Jesus amava. Devemos muito a ele pelo quarto evangelho, por três epístolas e pelo Apocalipse. 5. Filipe. Cidadão de Betsaida, ele trouxe Natanael a Jesus. Ele não deve ser confundido com Filipe, o evangelista, mencionado em Atos. 6. Bartolomeu. Acreditam que seja o mesmo Na­ tanael, o israelita em quem Jesus não achou nenhum dolo (Jo 1:47). 7. Tomé, também chamado Dídimo, que significa “gêmeo”. Popularmente conhecido como “Tomé, aquele que duvida”, suas dúvidas deram lugar a uma confissão magnífica de Cristo (Jo 20:28). 8. Mateus. 0 antigo cobrador de impostos que es­ creveu esse evangelho. 9. Tiago, filho de Alfeu. Pouco se sabe definitiva­ mente acerca dele. 10. Lebeu, apelidado Tadeu (RC). Ele também é conhe­ cido como Judas, filho de Tiago (Lc 6:16). Sua única elocução registrada se encontra em João 14:22. 11. Simão, o cananita (RC), a quem Lucas chama de Zelote (6:15). 12. Judas Iscariotes, o traidor de nosso Senhor. Os discípulos provavelmente tinham algo próximo aos vinte e tantos anos nessa época. Escolhidos de várias posições, provavelmente jovens de habilidade média, sua verdadeira grandeza estava no fato de se associarem a Jesus. C. A missão a Israel (10:5-33) 10:5-6 0 restante do capítulo contém as instruções de Jesus concernentes a uma viagem especial de

pregação à casa de Israel. Isso não é para ser con­ fundido com o envio posterior dos setenta (Lc 10:1) ou com a Grande Comissão (Mt 28:19-20). Isso foi uma missão temporária com o propósito específico de anunciar que o reino dos céus estava próximo. En­ quanto alguns dos princípios são de valor duradouro para o povo de Deus em todas as épocas, o fato de que alguns foram revogados pelo Senhor Jesus prova que não eram permanentes (Lc 22:35-36). Primeiro, a rota fora dada. Não era para irem aos gentios ou aos samaritanos, uma raça mista e detes­ tada pelos judeus. Seu ministério foi limitado nessa época às ovelhas perdidas da casa de Israel. 10:7 A mensagem era a proclamação de que o reino dos céus estava próximo. Se Israel recusasse, não haveria desculpa, porque um anúncio oficial deveria ser dado exclusivamente a eles. 0 reino se aproxima­ ra na pessoa do Rei. Israel deve decidir se o aceita ou o rejeita. 10:8 Os discípulos receberam credenciais para confirmar sua mensagem. Eles deveriam curar os enfermos, purificar os leprosos, ressuscitar os mortos16 e expelir os demônios. Os judeus exigiam sinais (ICo 1:22), então Deus graciosamente condescendeu em dar-lhes sinais. Quanto k remuneração, os representantes do Senhor não deviam cobrar por seus serviços. Eles receberam suas bênçãos sem pagar e deveriam reparti-las do mesmo modo. 10:9-10 Não deveriam fazer provisão de antemão para a viagem. Afinal de contas, eram israelitas pre­ gando a israelitas, e era um princípio reconhecido en­ tre os judeus de que o trabalhador merece sua comida. Então não seria necessário levar ouro, prata, cobre, alfoije com comida, duas túnicas, sandálias, nem bordões. Provavelmente o significado seja sandálias extras ou um bordão extra; se já tinham um bordão, tinham permissão de levá-lo (Mc 6:8). A ideia é que suas necessidades seriam supridas dia a dia. 10:11 Que providências deveriam tomar para aloja­ mento? Quando entrassem em uma cidade, tinham de procurar um anfitrião digno — um que os receberia como discípulos do Senhor e que estaria aberto à sua mensagem. Uma vez o achando, deveriam ficar com ele enquanto estivessem na cidade, em vez de mudar caso encontrassem condições melhores. 10:1 2 -1 4 Se uma casa os recebesse, deveriam saudar a família, mostrando cortesia e gratidão ao aceitar a hospitalidade. Se, em contrapartida, uma casa se recusasse a hospedar os mensageiros do

Senhor, eles não eram obrigados a pedir a paz para aquele lar, isto é, não pronunciariam uma bênção para a família. Não só isso. Deveriam dramatizar o desprazer de Deus ao sacudir o pó dos pés. Ao rejeitar os discípulos de Cristo, uma família estava rejeitando o próprio Cristo. 10:15 Ele queria que tal rejeição trouxesse puni­ ção mais severa no dia do juízo que a perversidade de Sodoma e Gomorra. Isso prova que haverá graus de punição no inferno; caso contrário, como poderia haver menos rigor para uns que para outros? 10:16 Nessa passagem, Jesus aconselha os doze a respeito de seu comportamento perante a perseguição. Seriam como ovelhas para o meio de lobos, rodea­ dos por homens depravados com o intento de destruí-los. Deveriam ser prudentes como as serpentes, evitando ofender ou serem tapeados em situações comprometedoras. Também deveriam ser súnplices como as pombas, protegidos pela armadura de um caráter justo e uma fé genuína. 10:17 Deveriam estar de guarda contra os judeus incrédulos que os arrastariam aos tribunais e os chicoteariam nas suas sinagogas. 0 ataque contra eles seria tanto civil como religioso. 10:18 Seriam arrastados à presença de gover­ nadores e de reis por causa de Cristo. Mas a causa de Deus triunfaria sobre a maldade do homem. “0 homem tem sua malvadeza, mas Deus tem seu mé­ todo.” Nessa hora de aparente derrota, os discípulos teriam o privilégio incomparável de testificar perante governadores e gentios. Deus estaria operando todas as coisas para o bem. 0 cristianismo sofreu muito por parte das autoridades civis, todavia “nenhuma doutrina foi jamais tão útil a esses que foram desig­ nados a governar”. 10:19-20 Não precisavam treinar o que diriam no julgamento. Quando a hora chegasse, o Espírito de Deus lhes daria sabedoria divina para responder de tal modo a glorificar a Cristo e a confundir e frustrar totalmente seus acusadores. Dois extremos deveriam ser evitados ao interpretar o versículo 19. 0 primeiro é a ingênua suposição de que um cristão nunca preci­ sa preparar uma mensagem de antemão. 0 segundo é que o aspecto desse versículo não se aplica a nós hoje em dia. É correto e desejável que um pregador espere em oração diante de Deus a fim de encontrar a palavra apropriada para uma ocasião específica. Mas também é verdade que nas crises todos os crentes podem recorrer à promessa feita a Deus de dar-lhes

17 (10:21) J. C. M acaulay, Obedient UntoDeath; Devotioral Studies in John 's Gospel, 11:59.

sabedoria ao falar com divina intuição. Eles se tomam porta-vozes do Espírito de seu Pai. 10:21 Jesus preveniu seus discípulos de que eles teriam de enfrentar deslealdade e traição. 0 irmão acusaria o irmão. Pai trairia seu filho. Filhos seriam informantes contra seus pais, resultando na execução dos pais. J. C. Macaulay expressou-o bem: Estamos em boa companhia ao suportar o ódio do mundo. [...] 0 servo não pode esperar tratamento melhor nas mãos do inimigo que o recebido pelo Senhor. Se o mundo tinha nada melhor que uma cruz para Jesus, não terá uma carruagem real para seus seguidores: se apenas espinhos para ele, não haverá grinaldas para nós. [...] Apenas nos certifiquemos de que o ódio do mundo por nós é de fato “por causa de Cristo”, e não de qualquer coisa detestável em nós e indigno do bondoso Deus a quem representamos.17 10:22-23 Os discípulos seriam odiados de todos — não por todos, sem exceção, mas por todas as culturas, nacionalidades e classes sociais. Porém, aquele que perseverar até o fim, esse será salvo. Isoladamente, isso poderia implicar que a salvação pode ser ganha por uma perseverança inabalável. Sabemos que não pode significar isso, pois, nas Escri­ turas, a salvação é apresentada como dádiva gratuita da graça de Deus mediante a fé (Ef 2:8-9). 0 versículo também não pode significar que os que permanecem fiéis a Cristo serão salvos da morte física; o versículo anterior prediz a morte de alguns discípulos fiéis. A explicação simples é que a perseverança é a autenti­ cidade dos genuinamente salvos. Aqueles que perseveram até o fim nos tempos de perseguição mostram, por sua perseverança, que são crentes verdadeiros. Essa mesma afirmação se encontra em Mateus 24:13, onde se refere a um remanescente fiel de judeus que, durante a tribulação, recusará comprometer sua leal­ dade ao Senhor Jesus. Sua perseverança os identifica como discípulos genuínos. Em passagens bíblicas que tratam do futuro, o Espírito de Deus frequentemente muda do futuro pró­ ximo para o futuro distante. Uma profecia pode ter um significado parcial e imediato assim como um cumpri­ mento completo mais adiante. Por exemplo, os dois adventos de Cristo podem ser reunidos em uma única passagem sem explicação (Is 52.14-15; Mq 5:2-4). Nos versículos 22-23, o Senhor Jesus faz esse tipo de transição profética. Ele alerta os doze discípulos acerca dos sofrimentos que terão de enfrentar por sua causa. Depois ele parece vê-los como uma espécie

de prefiguração de seus seguidores judeus devotos durante a grande tribulação. Ele vai das tribulações dos primeiros cristãos aos crentes anteriores à sua segunda vinda. A primeira parte do versículo 23 poderia referir-se aos doze discípulos: Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Eles não eram obrigados a permanecer sob a tirania dos seus inimigos se hou­ vesse uma maneira honrosa de escapar. “Não é errado escapar do perigo — somente do dever”. A parte final do versículo 23 nos leva adiante, aos dias que precedem a volta de Cristo para reinar: não acabareis de percorrer as cidades de Israel, até que venha o Filho do Homem” . Isto não poderia se referir à missão dos doze porque o Filho do Homem já tinha vindo. Alguns especialistas entendem isso como uma referência à destruição de Jerusalém em 70 d.C. Contudo, é difícil ver como esse holocausto pode ser relacionado com a vinda do “Filho do Homem”. Parece mais plausível encontrar uma referência aqui à sua segunda vinda. Durante a grande tribulação, os irmãos judeus e fiéis que confiam em Cristo levarão o evangelho do reino. Eles serão oprimidos e perse­ guidos. Antes de poderem atingir todas as cidades de Israel, o Senhor Jesus voltará para julgar seus inimigos e estabelecer seu reino. Poderia haver contradição entre o versículo 23 e Mateus 24:14. Aqui se afirma que nem todas as cidades de Israel serão alcançadas até que venha o Filho do Homem. Lá diz que o evangelho do reino será anunciado em todo o mundo antes de seu segun­ do advento. Todavia, não há nenhuma contradição. O evangelho será anunciado em todas as nações, embora não necessariamente a todos os indivíduos. Mas essa mensagem encontrará forte resistência, e os mensageiros serão severamente perseguidos e impedidos em Israel. Consequentemente, nem todas as cidades de Israel serão alcançadas. 10:24-25 Os discípulos do Senhor frequentemente teriam ocasião para imaginar por que eles deveriam suportar maus tratos. Se Jesus era o Messias, por que seus seguidores estavam sofrendo em vez de reinar? Nos versículos 24-25, ele antecipa suas perplexidades e responde lembrando-lhes de seu relacionamento com ele. Eles eram os discípulos; ele era seu Mestre. Eles eram servos; ele era seu Senhor. Eles eram membros da casa; ele era o Senhor da casa. Discipu­ lado significa seguir o Mestre, não sendo superior a ele. 0 servo não deveria ser tratado melhor que seu Senhor. Se os homens chamam o Senhor, digno dono da casa, de “ Belzebu” (“senhor de mosquitos”, um deus ecronita cujo nome foi usado pelos judeus para Satanás), eles lançarão insultos ainda maiores aos

membros de sua casa. Discipulado envolve repartir a rejeição do Senhor. 10:26-27 Três vezes o Senhor disse aos discípulos para não terem medo (v. 26,28,31). Primeiro, eles não deveriam temer a aparente vitória dos inimigos; sua causa seria gloriosamente vindicada num dia futuro. Até agora o evangelho estava relativamente encoberto e seus ensinamentos estavam compara­ tivamente ocultos. Mas logo os discípulos corajo­ samente proclamariam a mensagem cristã que, até esse momento, lhes fora contada em segredo, isto é, particularmente. 10:28 Em segundo lugar, os discípulos não deve­ riam temer a raiva assassina dos homens. 0 pior que eles poderiam fazer é matar o corpo. Morte física não é a maior tragédia para o cristão. Morrer é estar com Cristo e, portanto, muito melhor. É ser liberto do pecado, da tristeza, da doença, dos sofrimentos e da morte, e é a transladação em glória eterna. De maneira que o pior que os homens podem fazer é, em um sentido real, a melhor coisa que pode acontecer ao filho de Deus. Os discípulos não deveriam temer os homens, mas ter medo reverente daquele que pode fazer pere­ cer no inferno tanto a alma como o corpo. Essa é a maior perda — a separação eterna de Deus, de Cristo e da esperança. A morte espiritual é a perda que não pode ser medida e a condenação que deveria ser evitada a todo o custo. As palavras de Jesus no versículo 28 evocam me­ mórias de John Knox, cujo epitáfio diz: “Aqui jaz alguém que temeu a Deus de tal modo que nunca temeu o rosto de nenhum homem”. 10:29 No meio de tentações ardentes, os discípu­ los poderiam estar confiantes do cuidado de Deus. 0 Senhor Jesus nos ensina isso através do pardal que está presente em toda parte. Dois desses pássaros insignificantes eram vendidos por um asse. Não obstante, nenhum deles morrerá fora da vontade do Pai, sem seu conhecimento ou sua presença. Como alguém disse: “Deus acompanha o enterro de cada pardal”. 10:30-31 0 mesmo Deus que tem interesse pesso­ al em cada pardalzinho mantém uma contagem exata dos cabelos da cabeça de cada um de seus filhos. Um fio de cabelo vale muito menos que um pardal. Isso mostra que seu povo vale bem mais para ele que muitos pardais. Assim, por que temer? 10:32 Tendo em vista as considerações anteriores, o que é mais razoável senão que os discípulos de Cristo, sem medo algum, confesse ao Senhor diante dos homens? Qualquer vergonha ou opróbrio que poderiam carregar será grandemente recompensado

nos céus, quando o Senhor Jesus os confessar dian­ te de seu Pai. Confessar a Cristo aqui envolve um compromisso com ele mediante atos e palavras. No caso dos doze, isso os levou, no final das contas, à confissão do Senhor no martírio. 10:33 Negar a Cristo na terra será retribuído com uma negação diante do Pai. Negar a Cristo nesse sen­ tido significa se recusar a reconhecer suas exigências em nossa vida. Aqueles que em vida dizem: “Nunca o conheci”, por fim ouvirão: “Nunca os conheci”. 0 Se­ nhor não está se referindo a uma negação temporária, sob pressão, como no caso de Pedro, mas ao tipo de negação costumeira e definitiva. D. Não paz, mas espada (10:34-39) 10:34 As palavras de Jesus devem ser entendidas como uma figura de linguagem na qual os resultados visíveis de sua vinda são mencionados como o propó­ sito autêntico dela. Ele diz que não veio trazer paz, mas espada. Verdadeiramente ele veio trazer a paz (Ef 2:14-17); ele veio para que o mundo pudesse ser salvo por ele (Jo 3:17). 10:35-37 Mas o ponto principal aqui é este: assim que indivíduos se tomam seus seguidores, suas fa­ mílias ficam contra eles. Um pai convertido sofreria oposição de seu filho incrédulo; uma mãe cristã, de sua filha descrente. Uma sogra nascida de novo seria odiada pela nora não regenerada. Então uma escolha tem de ser feita entre Cristo e a família. Não se permite nenhum laço da natureza a desviar um discípulo da submissão total ao Senhor. 0 Salvador tem de ter prioridade sobre pai, mãe, filho ou filha. Um dos custos do discipulado é padecer tensão, contenda e afastamento da própria família. Essa hostilidade muitas vezes é mais amarga que a encontrada em outras áreas da vida. 10:38 Mas há algo ainda mais eficaz que a fa­ mília para roubar Cristo de seu lugar de direito: o amor à nossa vida. Por isso, Jesus acrescentou: E quem não toma a sua cruz e vem após mim, não é digno de mim. A cruz, é claro, era um meio de execução. Tomar a cruz e seguir a Cristo significa viver em uma renúncia tão devotada a ele que nem mesmo a própria morte é um preço alto demais a pagar. Não se requer que todos os discípulos sacrifiquem suas vidas ao Senhor, mas todos são chamados a tê-lo em tão elevada conta que não considerem a própria vida deles preciosa para si mesmos.

10:39 0 amor de Cristo deve sobrepujar o instinto de autopreservação. Quem acha a sua vida, perdê-laá; e quem, todavia, perde a vida por causa de Cris­ to, achá-la-á. A tentação está em tentar evitar a dor e a perda de uma vida de compromisso total. Mas essa é a maior perda — gastá-la em autogratificação. E. Um copo de água fria (10:40-42) 10:40 Nem todo mundo recusaria a mensagem dos discípulos. Alguns os reconheceriam como represen­ tantes do Messias e os receberiam graciosamente. Os discípulos teriam capacidade limitada para recompen­ sar tal bondade, mas não precisariam temer; qualquer coisa feita por eles seria reconhecida como feita ao próprio Senhor e seria recompensada de acordo. Receber o discípulo de Cristo seria equivalente a receber o próprio Cristo, e recebê-lo era o mesmo que receber o Pai que o enviou, visto que o enviado repre­ senta quem o envia. Receber um embaixador, que está no lugar do governo que o comissiona, é desfrutar de relações diplomáticas com seu país. 10:41 Qualquer um que recebe um profeta porque é profeta, receberá o galardão de profeta. Pierson comenta: Os judeus consideravam que a recompensa do profeta era a melhor; porque, enquanto reis go­ vernavam em nome do Senhor e sacerdotes mi­ nistravam em nome do Senhor, o profeta vinha do Senhor para instruir tanto o sacerdote como o rei. Cristo diz que se você apenas receber um profeta na qualidade de profeta, se você ajudar o profeta no seu caminho, a mesma recompensa dada ao profeta será dada a você. Pense nisso se você tem a tendência de criticar um pregador! Se você o ajudar a falar em favor de Deus, e encorajá-lo, você terá parte de sua recompensa; mas se você dificultar as coisas para ele exercer seu trabalho você perderá sua recompensa. É algo muito impor­ tante ajudar um homem que está procurando fazer o bem. Você não deveria reparar em suas roupas, em sua atitude, seus modos ou sua voz; mas você deveria olhar além dessas coisas e dizer: “Essa mensagem de Deus é para mim? Esse homem é um profeta de Deus para a minha alma?”. Se for, receba-o, engrandeça sua palavra e seu trabalho, e consiga parte de sua recompensa.18 Aquele que recebe um justo, porque ele é justo, receberá o galardão de justo. Aqueles que julgam os outros pela aparência física ou pelas riquezas materiais falham em perceber o verdadeiro valoi moral frequentemente escondido sob uma aparência

externa humilde. 0 modo como um homem trata o discípulo mais servil é o modo como ele trata o próprio Senhor. 10:42 Bondade nenhuma feita a um seguidor de Jesus passará despercebida. Até mesmo um copo de água fria será grandemente recompensado quando dado a um discípulo por ele ser seguidor do Senhor. Assim, o Senhor encerra suas ordens especiais aos doze investindo-os com dignidade real. Com certeza seriam resistidos, rejeitados, presos, tentados, encar­ cerados e, talvez, até mortos. Mas nunca deveriam esquecer que eram representantes do Rei e que seu privilégio glorioso era falar e agir por ele.

VII. Aumentam a oposição e a rejeição

(11- 12) A. João Batista encarcerado (11:1-19) 11:1 Tendo enviado os doze discípulos em uma mis­ são temporária à casa de Israel, Jesus partiu dali a ensinar e a pregar nas cidades da Galileia onde os discípulos haviam morado. 11:2-3 Agora João havia sido encarcerado por He­ rodes. Desanimado e sozinho, ele começou a pensar. Se Jesus fosse realmente o Messias, por que permi­ tiria que seu precursor adoecesse na prisão? Como muitos grandes homens de Deus, João sofreu uma perda temporária de fé. Então ele enviou dois dos seus discípulos (RC) a perguntar se Jesus realmente era quem os profetas haviam prometido, ou se eles deveriam ainda estar à procura do Ungido. 11:4-5 Jesus, respondendo, relembrou a João que ele estava fazendo os milagres preditos acerca do Mes­ sias: cegos veem (Is 35:5), coxos andam (Is 35:6), leprosos são purificados (Is 53:4; cf. Mt 8:16-17), surdos ouvem (Is 35:5) e mortos são ressuscitados (não profetizado acerca do Messias; era muito mais que os milagres preditos). Jesus também relembrou a João que o evangelho estava sendo pregado aos pobres no cumprimento da profecia messiânica em Isaías 61:1. Os líderes religiosos comuns frequentemente concen­ tram sua atenção nos ricos e aristocratas. 0 Messias trouxera as boas-novas aos pobres. 11:6 Depois o Salvador acrescentou: E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço. Nos lábios de outra pessoa, isso seria a jactância de um egoísta supremo. Nos lábios de Jesus, é a expressão válida de sua perfeição pessoal. Em vez de parecer um general condecorado, o Messias viera como um humilde carpinteiro. Sua bondade, humilda­ de e humilhação destoavam da imagem predominante do Messias militante. Os homens que eram guiados pelos desejos carnais poderiam duvidar do seu direito à monarquia. Mas a bênção de Deus repousaria na­

queles que, por visão espiritual, reconheceram Jesus de Nazaré como o Messias prometido. 0 versículo 6 não deveria ser interpretado como repreensão a João Batista. A fé de todos precisa ser confirmada e fortalecida de vez em quando. Uma coisa é sofrer um lapso temporário de fé, e outra muito distinta é tropeçar permanentemente quanto à iden­ tidade verdadeira do Senhor Jesus. A vida do homem não é composta de um único capítulo. Analisando a vida de João na totalidade, encontramos um registro de fidelidade e perseverança. 11:7-8 Logo que os discípulos de João partiram com as palavras de consolo de Jesus, o Senhor se dirigiu ao povo com palavras de grande elogio a João Batista. Essa mesma multidão fora ao deserto quando João estava pregando por lá. Por quê? Para ver um homem como uma cana fraca, vacilante, agitada por todo vento passageiro de opinião humana? Certamente que não! João era um pregador destemido, uma consciência personificada, que preferiria sofrer a ficar calado, e preferiria morrer a mentir. Será que eles saíram para ver um cortesão do palácio bem vestido, luxuosamente em conforto? Certamente que não! João era um simples homem de Deus cuja austeridade era uma repreensão ao grande mundanismo das pessoas. 11:9 Será que saíram para ver um profeta? Bem, João era um profeta — realmente, o maior dos profe­ tas. 0 Senhor não indicou aqui que ele era maior em relação ao seu caráter pessoal, à sua eloqüência ou persuasão; ele era maior por causa de sua posição como precursor do Rei Messias. 11:10 Isso fica claro no versículo 10. João fora o cumprimento da profecia de Malaquias 3:1 — o mensageiro que precederia o Senhor e prepararia o povo para a sua vinda. Outros homens profetizaram a vinda de Cristo, mas João fora o escolhido para anunciar sua efetiva chegada. Foi dito com acerto: “João abriu o caminho para Cristo e depois saiu do caminho para Cristo”. 11:11 A afirmação de que o menor no reino dos céus é maior do que ele prova que Jesus falava do privilégio de João, não de seu caráter. Alguém que é o menor no reino dos céus não necessariamente tem um caráter melhor que o de João, mas tem de fato um privilégio maior. Ser um cidadão do reino é maior que anunciar sua chegada. 0 privilégio de João fora grande ao preparar o caminho para o Senhor, mas ele não viveu para apreciar as bênçãos do reino. 11:12 Desde o início do ministério de João até a hora de sua prisão, o reino dos céus sofrerá violên­ cia (RC). Os fariseus e escribas opuseram-se ao reino com muito rigor. O rei Herodes fizera sua contribuição ao esbofetear o reino por prender o seu arauto.

... e pela força se apoderam dele (RC). Cabem duas interpretações a essa afirmação. Primeiro, os inimigos do reino fizeram o possível para se apoderar dele e assim destruí-lo. A rejeição de João prenunciara a rejeição do próprio Rei, assim como do reino. Mas pode também significar que os que estavam prontos para a chegada do Rei responderam energicamente ao anúncio e se esforçaram ao máximo para entrar. Esse é o significado em Lucas 16:16: “A Lei e os Profetas vigoraram até João; desde esse tempo, vem sendo anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar nele”. Aqui o reino é ilustrado como uma cidade sitiada, com todas as classes de homens batendo do lado de fora, tentando entrar. Certa violência espiritual é necessária. Qualquer que seja o significado adotado, o pensa­ mento é que a pregação de João disparou uma violenta reação com efeitos profundos e muito difundidos. l l : 1 3 fPorque todos os profetas e a lei profeti­ zaram até João. De Gênesis a Malaquias, todos os escritos predisseram a vinda do Messias. Quando João apareceu na história, seu único papel não era apenas profetizar, mas anunciar o cumprimento de todas as profecias a respeito da primeira vinda de Cristo. 11:14 Malaquias predisse que antes do surgimento do Messias Elias viria como precursor (Ml 4:5-6). Se as pessoas estivessem querendo reconhecer Jesus como Messias, João teria cumprido o papel de Elias. João não era Elias reencamado (ele negou ser Elias em Jo 1:21). Mas ele foi adiante de Cristo no espírito e poder de Ehas (Lc 1:17). 11:15 Nem todos apreciaram João Batista ou en­ tenderam o profundo significado de seu ministério. Portanto, o Senhor acrescentou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! Em outras palavras, preste atenção. Não perca o significado do que você está ouvindo. Se João cumpriu a profecia a respeito de Elias, então Jesus era o Messias prometido! Por acreditar em João Batista, Jesus estava reafirmando sua declaração de ser o Cristo de Deus. Aceitar a um conduziria à aceitação do outro. 1 1 :1 6 -1 7 Mas a geração a quem Jesus estava falando não tinha interesse em aceitar nenhum. Os ju­ deus, privilegiados em ver o advento do seu MessiasRei, não tinham prazer por ele ou por seu precursor. Eram um enigma. Jesus comparou-os a meninos teimosos que, sentados nas praças, se recusaram a ser satisfeitos com qualquer proposta. Se seus amigos

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queriam tocar a flauta para que pudessem dançar, eles recusaram. Se seus amigos queriam simular um enterro, eles se recusaram a prantear. 11:18-19 João veio como asceta e os judeus o acusaram de ser possuído pelo demônio. O Filho do Homem, em contrapartida, comeu e bebeu como qualquer um. Se o ascetismo de João, isto é, seu modo simples de viver, incomodava-os, então com certeza ficariam contentes com os hábitos normais de Jesus. Mas não! Eles o chamavam de glutão, bêbado, ami­ go de publicanos e pecadores. É óbvio que Jesus nunca comeu ou bebeu em excesso; a acusação foi totalmente inventada. É verdade que ele foi amigo de publicanos e pecadores, mas não do modo como eles queriam dizer. Ele fez amizade com os pecadores para poder salvá-los dos seus pecados, mas ele nunca compartilhou ou aprovou seus pecados. Mas a sabedoria é justificada por suas obras. 0 Senhor Jesus, sem dúvida, é a sabedoria personificada (ICo 1:30). Embora os homens incrédulos pudessem difamá-lo, ele era sustentado pelas suas obras e pela vida daqueles que o seguiam. Embora a multidão dos judeus recusasse a reconhecê-lo como Messias-Rei, seus direitos eram completamente verificados por seus milagres e pela transformação espiritual de seus consagrados discípulos. B.

Ai das cidades impenitentes da Galileia (11:20-24) 11:20 Grandes privilégios trazem grandes responsa­ bilidades. Cidade nenhuma foi mais privilegiada que Corazim, Betsaida e Cafamaum. 0 Filho encarnado de Deus andara por suas ruas empoeiradas, ensinara seu povo e demonstrara a maioria de seus milagres poderosos dentro de seus muros. Perante essa evi­ dência esmagadora, obstinadamente se recusaram a arrepender-se. Não é de admirar, então, que o Senhor deveria pronunciar o julgamento mais solene sobre eles. 11:21 Ele começou com Corazim e Betsaida. Essas cidades ouviram as súplicas graciosas do seu Deus-Salvador; não obstante, intencionalmente, mandaram-no embora. Sua mente se voltou às cidades de Tiro e Sidom, que estiveram sob o julgamento de Deus devido à sua idolatria e maldade. Se tivessem tido o privilégio de ver os milagres de Jesus, teriam se humilhado em profundo arrependimento. No dia do juízo, portanto, Tiro e Sidom teriam melhor sorte que Corazim e Betsaida. 11:22 As palavras “no dia do juízo haverá me­ nos rigor” indicam que haverá graus de punição no inferno, assim como haverá graus de recompensa

nos céus (ICo 3:12-15). 0 único pecado que envia os homens ao inferno é se recusar a submeter-se a Jesus Cristo (Jo 3:36b). Mas a profundidade do sofrimento no inferno é condicional aos privilégios rejeitados e aos pecados tolerados. 11:23-24 Poucas cidades foram tão favorecidas como Cafamaum. Tornou-se a cidade natal de Jesus após sua rejeição em Nazaré (9:1; cf. Mc 2:1-12), e alguns dos seus milagres mais extraordinários — evidências irrefutáveis da sua dignidade ou missão de Messias — foram realizados ali. Se a vil Sodoma, a capital da homossexualidade, fosse tão privilegiada, teria se arrependido e seria poupada. Mas o privilégio de Cafamaum fora maior. Seu povo deveria ter se ar­ rependido e alegremente reconhecido o Senhor. Mas Cafamaum perdeu seu dia de oportunidade. O pecado e a perversidade de Sodoma foram grandes. Mas nenhum pecado é maior que a rejeição de Cafamaum ao santo Filho de Deus. Portanto, Sodoma não será castigada tão severamente quanto Cafamaum no dia do julgamento. Elevada até ao céu em privilégios, Cafamaum descerá até ao inferno em julgamento. Se isso é verdade para Cafamaum, quanto mais ver­ dadeiro para lugares onde há abundância de Bíblias, onde o evangelho é proclamado e onde poucos, se houver alguns, estiverem sem desculpa. Nos dias de nosso Senhor, havia quatro cidades proeminentes na Galileia: Corazim, Betsaida, Ca­ famaum e Tiberíades. Ele pronunciou ais contra as primeiras três, mas não contra Tiberíades. Qual foi o resultado? A destruição de Corazim e Betsaida foi tão completa que sua localização exata é desconhecida; a de Cafamaum não é certa. Tiberíades ainda existe. Esse cumprimento maravilhoso da profecia é uma evidência a mais da onisciência do Salvador e da inspiração da Bíblia. C. A reação do Salvador à rejeição (11:25-30) 11:25-26 As três cidades da Galileia não tinham nem olhos para ver, nem coração para amar o Cristo de Deus. Ele sabia que sua atitude era apenas um prenúncio da rejeição numa escala maior. Como ele reagiu à sua impenitência? Não com amargura, cinismo ou vin­ gança. Em vez disso, ele elevou sua voz em gratidão a Deus, porque nada poderia frustrar seus propósitos soberanos. Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Deveríamos evitar duas possíveis interpretações errôneas. Primeira, Jesus não estava expressando prazer no julgamento inevitável das cidades galileias. Em segundo lugar, ele não deduziu que Deus arrogan­ temente retivera a luz dos sábios e prudentes.

As cidades tiveram toda a oportunidade de dar as boas-vindas ao Senhor Jesus. Deliberadamente se recusaram a submeter-se a ele. Quando recusaram a luz, Deus reteve a luz deles. Mas os planos de Deus não falharão. Se os intelectuais não acreditarão, então Deus se revelará aos humildes de coração. Ele alimenta os famintos com coisas boas e despacha os ricos vazios (Lc 1:53). Os que se consideram sábios demais e entendidos demais para precisarem de Cristo se afligem com a cegueira judaica. Mas os que admitem sua falta de sabedoria recebem uma revelação dele “em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Cl 2:3). Jesus agradeceu ao Pai por ordenar que, se alguns não o recebessem, outros o aceitariam. Em virtude de tamanha incredulidade, ele encontrou consolo no plano e no propósito de Deus, que nada nem ninguém poderia derrotar. 11:27 Tudo fora entregue a Cristo pelo seu Pai. Vindo de outra pessoa, isso seria uma presunçosa aclamação, mas do Senhor Jesus é uma simples afirmação da verdade. No momento, com a crescente oposição, não parecia que ele estivesse no controle; a verdade é que ele estava. 0 programa de sua vida estava indo rumo a um triunfo glorioso inevitável. Ninguém conhece o Filho senão o Pai. Há um mistério incompreensível acerca da pessoa de Cristo. A união da divindade e humanidade em uma pessoa gera problemas que embaralham a mente humana. Por exemplo, há o problema da morte. Deus não pode morrer. Mesmo assim, Jesus é Deus e morreu. Ainda mais, as naturezas divina e humana são inseparáveis. Então, embora possamos conhecê-lo, amá-lo e confiar nele, ainda há um sentido que somente o Pai pode verdadeiramente entender. Mas os grandes mistérios do teu nome A compreensão da criatura não excede; Só o Pai (gloriosa afirmação!) Pode compreender o Filho. Digno, oh, Cordeiro de Deus, és tu, Que todos os joelhos se curvem a ti! Josiah Conder E ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. 0 Pai também é inescrutável. Em última análise, somente Deus é grande o suficiente para entender Deus. 0 homem não pode conhecê-lo por esforços próprios ou pelo intelecto. Mas o Senhor Jesus pode, e, assim, revela o Pai àqueles a quem ele escolhe. Todo aquele que vem a conhecer o Filho vem também a conhecer o Pai Jo 14:7).

Todavia, após dizer tudo isso, devemos confessar que, ao procurar explicar o versículo 27, estamos li­ dando com verdades elevadas demais para nós. Vemos como num espelho, de forma obscura. Nem mesmo na eternidade nossa mente finita será capaz de apreciar a grandeza de Deus ou compreender completamente o mistério da encarnação. Quando lemos que o Pai é revelado somente àqueles a quem o Filho escolhe, podemos ser tentados a pensar na seleção arbitrária de poucos favorecidos. Os versículos seguintes nos impedem de fazer tal interpretação. O Senhor Jesus lança um convite universal a to­ dos os que estão cansados e sobrecarregados, para que venham a ele a fim de descansarem. Em outras palavras, as pessoas a quem ele escolhe revelar o Pai são aqueles que confiam nele como Senhor e Salvador. Ao examinarmos esse convite de infinita ternura, lembremos que foi lançado após a rejeição ruidosa pelas cidades favorecidas da Galileia. 0 ódio e a obstinação do homem não poderiam extingmr seu amor e sua graça. A. J. McClain afirma: “Embora a nação de Israel esteja indo em direção ao julgamento divino, o Rei, na sua palavra final, abre bem a porta da salvação pessoal. E assim ele prova que ele é Deus de graça, mesmo no limiar do julgamento”.19 11:28 Vinde. Vir significa acreditar (At 16:31), re­ ceber (Jo 1:12), comer (Jo 6:35),beber (Jo 7:37), olhar (Is 45:22), confessar (ljo 4:2), ouvir (Jo 5:24-25), entrar por uma porta (Jo 10:9), abrir uma porta (Ap 3:20), tocar a orla de sua veste (Mt 9:20-21) e aceitar a dádiva da vida eterna através de Cristo, nosso Senhor (Rm 6:23). A mim: o objeto de fé não é uma igreja, um credo ou um clérigo, mas o Cristo vivo. A salvação está em uma pessoa. Aqueles que têm Jesus estão tão salvos como só Deus pode fazer. Todos os que estais cansados e sobrecarregados: para poder verdadeiramente vir a Jesus, uma pessoa precisa admitir que está sobrecarregada com o peso do pecado. Só os que reconheceram sua perdição podem ser salvos. A fé no Senhor Jesus Cristo é pre­ cedida pelo arrependimento diante de Deus. E eu vos aliviarei: note que alívio aqui é um dom; não é conseguido nem é merecido. Esse é o descanso da salvação que vem pelo entendimento de ‘ que Cristo terminou a obra da redenção na cruz do Calvário. E o descanso da consciência que acompanha o reconhecer que a penalidade de nosso pecado já

19 (11:27) Alva J. Gospel McClam, The Greatness oftheKingdom, p. 311. 20 (11:30) J. H. JOWETT. Citado em Our Daily Bread.

foi paga uma vez por todas e que Deus não exigirá outro pagamento. 1 1:29 Nos versículos 29-30, o convite muda de salvação para serviço. Tomai sobre vós o meu jugo: isso significa entrar em submissão à sua vontade, transferir o controle da nossa vida para ele (Rm 12:1-2). E aprendei de mim: ao reconhecermos seu senho­ rio em toda área de nossa vida, ele nos treina nos seus caminhos. Porque sou manso e humilde de coração: em contraste com os fariseus que eram severos e or­ gulhosos, o verdadeiro Mestre é manso e humilde. Aqueles que tomam seu jugo aprenderão a ocupar o lugar mais humilde. E achareis descanso para as vossas almas: aqui não é o descanso da consciência, mas o descanso do coração que se encontra por ocupar o lugar mais hu­ milde perante Deus e o homem. É também o descanso que experimentamos no serviço de Cristo quando paramos de tentar ser grandes. 11:30 Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. Novamente aqui há um notável contraste com os fariseus. Jesus disse acerca deles: “Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los” (Mt 23:4). 0 jugo de Je­ sus é suave; não esfola. Alguém sugeriu que se Jesus tivesse uma placa do lado de fora de sua carpintaria, leríamos o seguinte: “Jugos bem ajustados”. Seu fardo é leve. Isso não significa que não haverá problemas, sofrimentos, trabalho ou preocupações na vida cristã. Mas significa que não temos de suportá-los sozinhos. Estamos emparelhados com aquele que dá graça suficiente para cada hora de necessidade. Servi-lo não é escravidão, mas verdadeira liberdade. J. H. Jowett diz: 0 erro fatal para o crente é procurar suportar o peso da vida em uma única coleira. Nunca foi a intenção de Deus que o homem levasse seu fardo sozinho. Cristo, portanto, lida somente com jugos! Um jugo é um arreio de pescoço para dois, e o próprio Senhor pleiteia o lugar de um deles. Ele quer compartilhar o labor de qualquer trabalho que esfola. O segredo de paz e vitória na vida cristã se encontra em tirar a coleira taxativa do “eu” e aceitar o “jugo” brando do Mestre”.20 D. Jesus é o Senhor do sábado (12:1-8) 12:1 Esse capítulo relata a crise culminante da re­ jeição. A malícia e a animosidade dos fariseus agora

estão a ponto de serem derramadas. A questão que abre as comportas é a do sábado. Nesse sábado em particular, Jesus e seus discí­ pulos estavam passando pelas searas. Seus dis­ cípulos entraram a colh er espigas e a comer. A lei permitia que se servissem do grão no campo do seu vizinho, contanto que não usassem a foice (Dt 23:25). 12:2 Mas os fariseus, catadores legalistas de lêndeas, os acusaram de terem quebrado o sábado. Embora suas acusações não sejam declaradas, pro­ vavelmente censuraram os discípulos por: 1) colher (pegar o grão); 2) debulhar (esfregá-lo nas mãos); 3) cirandar (separar o grão da palha). 1 2 :3 -4 Jesus respondeu à sua queixa ridícula lembrando um incidente na vida de Davi. Certa vez, quando em exílio, ele e seus homens foram ao deserto e comeram os pães da proposição, doze pães do me­ morial, proibidos como alimento a qualquer um, com exceção dos sacerdotes. Nem Davi nem seus homens eram sacerdotes, mesmo assim Deus nunca achou culpa neles por fazerem isso. Por que não? A razão é que a lei de Deus nunca teve a intenção de infligir opressão ao seu povo fiel. Não era culpa de Davi estar no exílio. Uma nação pecaminosa o rejeitara. Se ele tivesse recebido seu lugar de direito, ele e seus seguidores não teriam de comer o pão da proposição. Por haver pecado em Israel, Deus permi­ tiu um ato proibido em outra circunstância. A analogia é clara. 0 Senhor Jesus é o Rei de Israel por direito, mas a nação não o reconhecera como Soberano. Se a ele tivesse sido dado o devido lugar, seus seguidores não ficariam limitados a comer desse modo em um sábado, ou em qualquer outro dia da semana. A história estava se repetindo. 0 Senhor não reprovou seus discípulos, pois eles não fizeram nada de errado. 12:5 Jesus relembrou aos fariseus que os sacerdo­ tes violam o sábado por matar e sacrificar animais e por realizar muitas outras ocupações servis (Nm 28:9-10), mas mesmo assim ficam sem culpa porque estão ocupados no serviço de Deus. 12:6 Os fariseus sabiam que os sacerdotes traba­ lhavam todo sábado no templo sem profaná-lo. Por que então deveriam criticar os discípulos por agirem daquela forma na presença de alguém que é maior que o templo? A palavra em itálico alguém talvez possa ser mais bem traduzida por “algo maior que o templo está aqui”. 0 “algo” é o reino de Deus, presente na pessoa do Rei. 12:7 Os fariseus nunca entenderam o coração de Deus. Em Oseias 6:6, o Senhor disse: Misericórdia quero e não holocaustos. Deus coloca a compaixão antes do ritual. Ele preferiria ver seu povo apanhando

espigas no sábado para satisfazer sua fome a obser­ var o dia tão rigidamente a ponto de infligir angústia física. Se os fariseus tivessem percebido isso, não teriam condenado os discípulos. Mas valorizavam a aparência externa, o formalismo, acima do bem-estar humano. 12:8 Depois o Salvador acrescentou: Porque o Fi­ lho do Homem até do sábado é Senhor (RC). Foi ele quem, em primeiro lugar, instituiu a lei; portanto ele era o mais qualificado para interpretar seu verdadeiro significado. E. W. Rogers diz: “Parece que Mateus, aqui ensinado pelo Espírito, revisa rapidamente os muitos nomes e ofícios do Senhor Jesus: ele é Filho do homem, Senhor do sábado, meu servo, meu amado, Filho de Davi, maior que o templo, maior que Jonas, maior que Salomão. Ele assim o faz para poder de­ monstrar a grandiosidade do pecado que é negar a ele e aos seus direitos”.21 Antes de continuar com o próximo episódio — Je­ sus cura a mão ressequida no sábado — , examinemos brevemente o ensinamento das Escrituras sobre o sábado.

O sábado O dia do sábado era, e sempre será, o sétimo dia da semana. Deus descansou no sétimo dia, após seis dias de criação (Cn 2:2). Ele não ordenou que o homem guardasse o sábado naquele tempo, embora tenha estabelecido o princípio a ser seguido: um dia de descanso em cada sete. A nação de Israel recebeu a ordem de guardar o sábado quando os Dez Mandamentos foram dados (Êx 20:8-11). A lei do sábado era diferente dos outros nove mandamentos; era uma lei cerimonial, enquanto os outros eram princípios morais. A úni­ ca razão que tornava errado trabalhar no sábado era porque Deus assim o disse. Então os outros mandamentos tinham a ver com coisas que eram intrinsecamente erradas. A proibição contra o serviço no sábado nunca teve o objetivo de se aplicar ao serviço de Deus (Mt 12:5), obras de necessidade (Mt 12:3-4) ou obras de misericórdia (Mt 12:11 -12). Dos Dez Mandamentos, nove são repetidos no NT, não como leis, mas como instruções para os cristãos viverem sob a graça. O único mandamento que os cristãos nunca foram instruídos a guardar é o do sábado. Pelo contrário, Paulo ensina que o cristão não pode ser condenado por falhar em guardá-lo (Cl 2:16).

O dia característico do cristianismo é o primeiro dia da semana. O Senhor Jesus ressurgiu dos mortos naquele dia (Jo 20:1), prova de que o trabalho da redenção fora completo e divinamente aprovado. Nos dois domingos seguintes, ele reuniu-se com seus discípulos (Jo 20:1 9,26). O Espírito Santo fora dado no primeiro dia da semana (At 2:1; cf. Lv 23:15-16). Os primeiros discípulos reuniram-se naquele dia para partir o pão, mostrando a todos a morte do Senhor (At 20:7). É o dia designado por Deus, no qual cris­ tãos deveriam colocar à parte fundos para o trabalho do Senhor (1 Co 16:1-2). O sábado, ou o sétimo dia, tornou-se o fim de uma semana de trabalho; o dia do Senhor, ou domingo, inicia uma semana tranqüila com o conhecimento de que o trabalho de redenção já está completo. O sábado comemora a primeira criação; o domingo é ligado à nova criação. O sábado era um dia de responsabilidade; o dia do Senhor é um dia de privilégio. Os cristãos não "guardam " o dom ingo como meio de ganhar a salvação ou alcançar a santidade, nem por medo de punição. Colocam o dia à parte por causa da devoção àquele que deu a si mesmo por eles. Porque somos libertos da rotina, dos acon­ tecimentos seculares da vida, nesse dia, podemos colocá-lo à parte de uma maneira especial para a adoração e o serviço de Cristo. Não é certo dizer que o sábado foi transferido para o dia do Senhor. O sábado é sábado e o dia do Senhor é o domingo. O sábado era uma sombra; a essência é Cristo (Cl 2:16-1 7). A ressurreição de Cristo marcou um novo começo, o dia do Senhor representa aquele início. Como um judeu fiel vivendo sob a lei, Jesus guar­ dou o sábado (apesar das acusações dos fariseus dizendo o contrário). Como Senhor do sábado, eie libertou-o das falsas regras e regulamentos com as quais se cobrira. E. Jesus cura no sábado (12:9-14) 12:9 Dos campos da seara Jesus entrou na sinagoga deles. Lucas relata que os escribas e fariseus esta­ vam lá, observando-o para que pudessem encontrar alguma razão para acusá-lo (Lc 6:6-7). 12:10 Dentro da sinagoga achava-se um homem que tinha uma das mãos ressequida — um tes­ temunho silencioso da incapacidade dos fariseus em ajudá-lo. Até agora eles o trataram com apática desconsideração. Mas de repente ele se toma valioso para eles, como uma armadilha a Jesus. Eles sabiam que o Salvador estava sempre predisposto a aliviar a miséria humana. Se ele curasse no sábado, então eles o pegariam numa ofensa cabível de punição — assim

pensaram. Então começaram suscitando uma questão legal: É lícito curar no sábado? 12:11 0 Salvador respondeu perguntando-lhes se arrancariam uma de suas ovelhas de uma cova num sábado. É claro que o fariam! Mas por quê? Talvez seu pretexto fosse um ato de misericórdia, mas outra consideração poderia ser feita: a ovelha valeria muito dinheiro e eles não desejariam sofrer perda financeira, mesmo no sábado. 12:12 Jesus os fez lembrar de que o homem pos­ sui mais valor que uma ovelha. Se é certo mostrar misericórdia a um animal, quanto mais justificável é fazer o bem a um homem aos sábados! 12:13-14 Os líderes judeus foram pegos na cova da própria ganância, e Jesus curou a mão ressequida. Ao falar para o homem estender a mão, a fé e a von­ tade humana entraram em ação. Obediência foi então recompensada com a cura. A mão ficou sã como a outra pelo maravilhoso Criador. Os fariseus deveriam ter ficado contentes porque o homem, a quem eles não tinham, poder nem interesse de ajudar, fora curado. Em vez disso, ficaram loucos de raiva contra Jesus e conspiravam para matá-lo. Se eles tivessem a mão ressequida, ficariam contentes ao serem curados em qualquer dia da semana. E Cura para todos (12:15-21) 12:15-16 Mas Jesus, sabendo os pensamentos de seus inimigos, afastou-se dali. Não obstante, aonde quer que fosse, as multidões se reuniam; e onde quer que os doentes se reunissem, a todos ele curava. Mas os advertiu a não tomarem públicas suas curas miraculosas, não para proteger-se a si mesmo de perigos, mas para evitar qualquer movimento frívolo para fazê-lo o herói de uma revolução popular. 0 plano divino deve ser mantido. Sua revolução viria não por derramamento de sangue romano, mas pelo derramamento de seu próprio sangue. 12:17-18 Seu ministério gracioso estava cumprin­ do a profecia de Isaías 41:9; 42:1-4. 0 profeta viu de antemão o Messias como um conquistador gentflico. Ele prefigura Jesus como o Servo que Jeová escolhe­ ra, o amado em quem a alma de Deus se compraz. Deus colocaria seu Espírito sobre ele (profecia cum­ prida no batismo de Jesus). Seu ministério alcançaria além dos confins de Israel; ele anunciaria juízo aos gentios. Essa última nota se toma mais evidente à medida que o “não” de Israel aumenta. 12:19 Isaías predisse ainda que o Messias não disputaria nem gritaria e sua voz não seria ouvida nas praças. Em outras palavras, ele não seria um político incitador da plebe, incitando a população. McClain escreve: “Esse Rei, que é o ‘Servo’ de Deus,

não alcançará seu lugar de eminência por direito, por qualquer dos meios normais de força carnal ou demagogia política; nem ainda por meio de forças sobrenaturais ao seu comando”.22 12:20 Ele não esmagaria uma cana quebrada nem apagaria uma torcida que fumega. Ele não pisaria nos desapropriados ou nos desprivilegiados para poder alcançar seus objetivos. Ele encorajaria e fortaleceria os de coração quebrantado, os oprimidos. Ele sopraria até mesmo uma faísca de fé em uma chama. Seu ministério continuaria até que ele fizesse o ju ízo vencedor. Seu cuidado amoroso e humilde para com os outros não seria extinto pelo ódio e pela ingratidão dos homens. 12:21 E, no seu nome, esperarão os gentios. Em Isaías essa expressão é dita de outra maneira, mas o sentido é o mesmo: “... e as terras do mar aguardarão a sua doutrina”. As terras do mar se referem às nações gentíhcas. São ilustradas aqui como aguardando serem seus súditos leais. Leist e Lilly elogiam essa citação de Isaías como: “... uma das joias do evangelho, uma figu­ ra do Cristo de grande beleza. [...] Isaías ilustra a união de Cristo com o Pai, sua missão é instruir as nações, sua bondade é lidar com a humanidade em sofrimento e sua vitória final: não há esperança para o mundo a não ser no seu nome. Cristo, o Salvador do mundo, não expresso em termos enfadonhos e teológicos, mas vestido em ricas imagens orientais”.23 G. O pecado imperdoável (12:22-32) 12:22-24 Quando Jesus curou um endemoninhado cego e mudo, as pessoas comuns começaram a pen­ sar seriamente que ele poderia ser o Filho de Davi, o Messias de Israel. Isso enraiveceu os fariseus. Incapazes de tolerar qualquer sugestão de simpatia para com Jesus, eles explodiram com a acusação de que o milagre fora realizado pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios. Essa indicação agourenta foi a primeira acusação aberta de que o Senhor Jesus possuía o poder demoníaco. 1 2 :2 5 -2 6 Após ler seus pensam entos, Jesus continuou a expor a insensatez deles. Ele mostrou que nenhum reino, cidade ou casa dividida contra si mesma pode ter sucesso. Se ele estava expelindo os demônios de Satanás pelo poder de Satanás, então Satanás estava trabalhando contra si mesmo. Isso seria absurdo. 12:27 Jesus tinha uma segunda resposta devas­ tadora para os fariseus. Alguns correligionários judeus, conhecidos como exorcistas, alegavam ter o poder de expelir demônios. Jesus nem admitiu nem negou ter o poder deles, mas utilizou esse argumento para mostrar que se ele expulsasse demônios por

Belzebu então os filhos dos fariseus [i.e., aqueles exorcistas) também o faziam. Os fariseus nunca ad­ mitiriam isso, mas não podiam escapar da lógica do argumento. Seus correligionários os condenariam por implicar que exorcizavam como agentes de Satanás. Scofield disse: “Os fariseus foram bem rápidos a ponto de ressentir qualquer implicação do poder satânico no que tangia aos seus filhos, mas no rumo que sua conversa tomava, isto é, que Cristo expulsava demô­ nios por Belzebu, seus próprios filhos os julgariam inconsistentes, pois se o poder de expulsar demônios fosse satânico então qualquer pessoa que exercitasse esse poder estaria associada com a fonte daquele poder”.24 Eles não estavam sendo lógicos ao atribuir efeitos semelhantes a causas diferentes. 12:28 A verdade, é óbvio, era que Jesus expulsava demônios pelo Espírito de Deus. Sua vida inteira como homem na terra foi vivida pelo poder do Espí­ rito Santo. Ele era o Messias cheio do Espírito sobre o qual Isaías havia predito (Is 11:2; 42:1; 61:1-3). Portanto, ele disse aos fariseus: ... se, porém, eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, certa­ mente é chegado o reino de Deus sobre vós. Esse anúncio deve ter sido um golpe esmagador. Eles se orgulhavam do seu conhecimento teológico, mas o reino de Deus estava sobre eles porque o rei estava entre eles, e eles ainda não haviam entendido que ele estava lá! 12:29 Longe de estar associado com o Diabo, o Senhor Jesus foi o conquistador de Satanás. Isso ele ilustra com a história do homem forte, que re­ presenta Satanás. Sua casa é a esfera sobre a qual ele mantém o controle. Seus bens são os demônios. Jesus é quem amarra o valente, entra na sua casa e despoja seus bens. Verdadeiramente, o amarrar de Satanás acontece em estágios. Começou durante o mi­ nistério público de Jesus. Foi decisivamente garantido pela morte e ressurreição de Cristo. Será ainda mais verdadeiro durante o reino milenar do Rei (Ap 20:2). Enfim, será eternamente verdade quando ele for lan­ çado no lago de fogo (Ap 20:10). No tempo presente, o Diabo não está amarrado; ele ainda exerce poder considerável. Mas seu destino está determinado e seu tempo é curto. 12:30 Então Jesus disse: Quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espa­ lha. Sua atitude blasfema mostrou que os fariseus

22 (12:19) M cClaím , Kingdom, p. 283 23 (12:21) L eist & L illy, The New Testament Renderedfrom the Original Greek with Expanded Notes, p. 45 24 (12:27) Ella E. POHLE. C. I, Scofield’s Question Box, p. 97

não estavam com o Senhor; portanto, eles estavam contra ele. Por recusar-se a colher com ele, estavam espalhando o grão. Eles acusaram Jesus de expelir demônios pelo poder de Satanás enquanto realmente eles eram os servos de Satanás, procurando frustrar o trabalho de Deus. Em Marcos 9:40, Jesus disse: “Pois quem não é contra nós é por nós”. Isso parece uma contradição em relação a Mateus 12:30. A dificuldade desaparece quando vemos que em Mateus a salvação está em foco. Um homem ou é por Cristo ou contra ele; não há neutralidade. Em Marcos, o assunto é serviço. Há vastas diferenças entre os discípulos de Jesus — diferenças na comunhão da igreja local, métodos e interpretações de doutrinas. Mas aqui a regra é que se um homem não é contra o Senhor ele é por ele e deveria ser respeitado de acordo. 12:31-32 Esses versículos marcam um momento decisivo no procedimento de Cristo com os líderes de Israel. Ele os acusa de cometer o pecado imperdoável por blasfemar contra o Espírito Santo, isto é, por acusar Jesus de realizar seus milagres pelo poder de Satanás, em vez de pelo poder do Espírito Santo. Re­ almente isso era chamar o Espírito Santo de Belzebu, o soberano dos demônios. Há perdão para outras formas de pecado e blasfê­ mia. Alguém pode até falar contra o Filho do homem e ser perdoado. Mas blasfemar contra o Espírito Santo é um pecado para o qual não há perdão, nem neste mundo, nem no porvir ou no milênio. Quando Jesus disse neste mundo, ele estava falando dos dias do seu ministério público na terra. Há dúvidas razoáveis sobre se o pecado imperdoável pode ser cometido hoje, porque ele não está corporalmente presente realizando milagres. O pecado imperdoável não é o mesmo que rejeitar o evangelho; um homem pode refutar o Salvador por anos, depois se arrepender, crer e ser salvo. (E claro, se ele morrer na incredulidade, permanecerá sem perdão.) O pecado imperdoável também não é o pecado de re­ cair; um crente pode andar longe do Senhor, mas ainda ser restaurado à comunhão na família de Deus. Muitas pessoas se preocupam pensando que come­ teram o pecado imperdoável. Mesmo se esse pecado pudesse ser cometido hoje, o fato de a pessoa estar preocupada é evidência de que ela não é culpada dele. Aqueles que o cometeram eram duros e impenitentes em sua oposição a Cristo. Eles não tinham escrúpulos quanto a insultar o Espírito e não hesitavam em ma­

25 (12:34-35) Embora a maioria dos textos críticos omita “o coração”, sem dúvida seria subentendido.

quinar a morte do Filho. Não mostraram nem remorso nem arrependimento. H.

Uma árvore é conhecida pelo seu fruto (12:33-37) 12:33 Até mesmo os fariseus deveriam ter admitido que o Senhor tinha feito o bem ao expulsar os demô­ nios. No entanto, eles o acusaram de ser maligno. Aqui ele expõe a inconsistência deles dizendo: “Pen­ sem bem. Se uma árvore é boa, seu fruto é bom e vice-versa”. O fruto reflete a qualidade da árvore que o produz. O fruto do seu ministério fora bom. Ele curara doentes, cegos, surdos e mudos, expelira demônios e ressuscitara mortos. Será que uma árvore corrupta pode produzir bons frutos? Totalmente impossível! Por que então eles tão obstinadamente se recusaram a reconhecê-lo? 12:34-35 A razão estava em que eles eram uma raça de víboras. Sua maldade contra o Filho do ho­ mem, evidenciada por suas palavras venenosas, foi o escoadouro do coração maligno deles.25 Um coração cheio de bondade seria evidenciado por palavras de graça e retidão. Um coração maligno se expressa com blasfêmia, amargura e abuso. 12:36 Jesus solenemente os avisou (e a nós tam­ bém) de que as pessoas darão conta por cada palavra frívola que pronunciarem. Porque as palavras que as pessoas pronunciam são uma medida padrão de sua vida, elas formarão uma base para a condenação ou a absolvição. Quão grande será a condenação para os fariseus pelas palavras vis e desdenhosas que falaram contra o Santo Filho de Deus! 12:37 Porque pelas tuas palavras serás justifi­ cado, e pelas tuas palavras serás condenado. No caso dos crentes, a penalidade por fala negligente já foi paga pela morte de Cristo; porém, nossa fala descuidada, não confessada e não perdoada, resultará em perda de recompensa no tribunal de Cristo. I. O sinal do profeta Jonas (12:38-42) 12:38 Apesar de todos os milagres que Jesus reali­ zou, os escribas e fariseus tiveram a imprudência de pedir a ele um sinal, significando que creriam nele se ele pudesse provar ser o Messias! Mas sua hipocrisia era evidente. Se não acreditaram como resultado de tantas maravilhas, por que seriam convencidos por mais uma? A exigência de sinais milagrosos como condição de crença não agrada a Deus. Como Jesus disse a Tomé: “Bem-aventurados os que não viram e creram" (Jo 20:29). No arranjo de Deus, ver vem depois de crer. 12:39 0 Senhor se dirige a eles como uma geração má e adúltera; má porque propositadamente eles

estavam cegos quanto ao próprio Messias; adúltera porque espiritualmente foram infiéis a seu Deus. Seu Deus-Criador, uma pessoa singular unindo a deidade absoluta e a perfeita humanidade, estava em pé no seu meio falando com eles, mas mesmo assim ousa­ ram pedir-lhe um sinal. 12:40 Ele lhes disse resumidamente que nenhum sinal seria dado a eles senão o sinal do profeta Jonas, referindo-se à sua morte, sepultamento e ressurreição. A experiência de Jonas ter sido tragado pelo peixe e depois lançado fora (Jn 1:17; 2:10) prefigurava o sofrimento e a ressurreição do Senhor. Seu ressurgimento dos mortos seria o sinal derradeiro e o apogeu de seu ministério à nação de Israel. Do mesmo modo que Jonas esteve três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim nos­ so Senhor predisse que ele estaria três dias e três noites no coração da terra. Isso traz um problema. Se, como geralmente se crê, Jesus fora crucificado na sexta à tarde e ressurgira no domingo de manhã, então como pode ser dito que ele ficou três dias e noites no túmulo? A resposta é que, na contagem judaica, qualquer parte de um dia e noite conta como um período completo. “Um dia e uma noite fazem um onah, e uma parte de um onah é considerado um todo” (ditado judaico). 12:41 Jesus descreveu a culpa dos líderes judai­ cos mediante dois contrastes. Primeiro, os gentios de Nínive eram menos privilegiados; no entanto, quando ouviram a pregação de Jonas, um profeta errante, arrependeram-se com grande tristeza. Eles levantarão no juízo para condenarem os homens dos dias de Jesus por falhar em receber alguém maior do que Jonas — o Filho encarnado de Deus. 12:42 Em segundo lugar, a rainha de Sabá, gentia, fora do âmbito do privilégio judaico, viajou do sul, com grande empenho e despesa, para uma entre­ vista com Salomão. Os judeus da época de Jesus não tiveram de viajar para vê-lo; ele viajara do céu até onde eles estavam para ser seu Messias-Rei. No entanto, não tinham lugar na vida deles para o Senhor — aquele que é infinitamente maior do que Salomão. Uma rainha gentia os condenará no juízo por descuido libertino. Neste capítulo, nosso Senhor foi apresentado como maior que o templo (v. 6), Jonas (v. 41) e Salomão (v. 42). “Ele é maior que o maior e muito melhor que o melhor”. J. Um espírito imundo retorna (12:43-45) 12:43-44 Agora Jesus apresenta, em forma de pará­ bola, um resumo do passado, presente e futuro de um

Israel incrédulo. 0 homem representa a nação judai­ ca; o espírito imundo, a idolatria que caracterizava a nação desde a época de sua escravidão no Egito até o cativeiro na Babilônia (que temporariamente curou Israel de sua idolatria). Era como se o espírito imundo saísse do homem. Desde o final do cativeiro até os dias de hoje, o povo judeu não tem adorado ídolos. São como a casa que está vazia, varrida e ornamentada. Há mais de 1900 anos, o Salvador procurou re­ cepção naquela casa vazia. Ele era o ocupante por direito, o Senhor da casa, mas as pessoas constan­ temente se recusaram a deixá-lo entrar. Embora não mais adorassem a ídolos, nem mesmo adorariam o verdadeiro Deus. A casa vazia fala de um vácuo espiritual — uma condição perigosa, como a seqüência mostra. Refor­ ma não é o suficiente. Deve haver aceitação positiva do Salvador. 12:4 5 Em um dia vindouro, o espírito de ido­ latria resolverá voltar a casa, acompanhado por sete espíritos, piores do que ele. Visto que sete é o número da perfeição ou da integralidade, isso provavelmente se refere à idolatria na sua forma completa. Isso aponta para a frente, a tribulação, quando a nação apóstata adorará o anticristo. Cur­ var-se ao homem de pecado e adorá-lo como Deus é a forma mais terrível de idolatria de que a nação já fora culpada no passado. E então o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Israel incrédulo sofrerá os terríveis julgamentos da grande tribulação, e seu sofrimento excederá em muito os do cativeiro babilônico. A parte idólatra da nação será totalmente destruída na segunda vinda de Cristo. Assim também acontecerá a esta geração per­ versa. A mesma raça apóstata que rejeitara a Cristo e que desprezara o Filho de Deus na primeira vinda sofrerá o julgamento severo no segundo advento. K. A mãe e os irmãos de Jesus (12:46-50) Esses versículos descrevem um episódio aparente­ mente comum no qual a família de Jesus vem con­ versar com ele. Por que eles vieram? Marcos fornece uma pista. Alguns dos amigos de Jesus arrazoaram que ele estava fora de si (Mc 3:21,31-35), e talvez sua família viera para levá-lo embora discretamente (cf. tb. Jo 7:5). Quando lhe disseram que sua mãe e seus irmãos estavam esperando do lado de fora procu­ rando falar-lhe, o Senhor respondeu com a pergunta: Quem é minha mãe e quem são os meus irmãos? Depois, apontando para seus discípulos, ele disse:

Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe. Esse pronunciamento surpreendente é rico em significado espiritual; marca um ponto distinto no tratamento de Jesus com Israel. Maria e seus filhos representavam a nação de Israel, os parentes sanguí­ neos de Jesus. Até agora ele limitara seu ministério, em grande parte, às ovelhas perdidas da casa de Israel. Mas estava ficando claro que seu povo não o aceitaria. Em vez de se curvar ao Messias, os fariseus o acusaram de ser controlado por Satanás. Então agora Jesus anuncia uma nova ordem de coisas. Daqui em diante, seus laços com Israel não seriam o principal fator controlador na sua missão de alcançar os outros. Embora seu coração compassivo continuasse a implorar a seus patrícios segundo a carne, o capítulo 12 sinaliza uma quebra indiscutível com Israel. A conseqüência agora é clara. Israel não mais o terá, então ele se voltará aos que o querem. Parentes sanguíneos serão substituídos por parentes espirituais. Obediência a Deus trará homens e mu­ lheres, quer judeus quer gentios, em relacionamento vital com ele. Antes de deixar esse episódio, deveríamos men­ cionar dois pontos referentes à mãe de Jesus. Pri­ meiro, é evidente que Maria não ocupou nenhum lugar de privilégio especial no que se refere ao acesso à presença de Jesus. Em segundo lugar, a menção dos irmãos de Jesus golpeia os ensinamen­ tos de que Maria fora sempre virgem. A implicação é forte de que esses realmente eram filhos de Maria e, portanto, meio-irmãos (irmãos por parte de mãe) de nosso Senhor. Esse ponto de vista é fortalecido por outras partes das Escrituras como Salmos 69:8; Mateus 13:55; Marcos 3:31-32; 6:3; João 7:3,5; Atos 1:14; ICoríntios 9:5; Gálatas 1:19.

VIII. O Rei anuncia uma nova forma de intervalo no reino devido à rejeição de Israel (13)

Parábolas do reino Chegamos a um ponto crítico no evangelho de Ma­ teus. 0 Senhor indicara que os relacionamentos terrenos agora são superados pelos laços espirituais, que não são mais uma questão de nascimento judaico, mas de obediência a Deus, o Pai. Ao rejeitarem o Rei, os escribas e fariseus inevitavelmente rejeitaram o reino. Agora, por meio de uma série de parábolas, o Senhor Jesus apresenta uma pré-estreia da nova forma que o reino tomaria durante o período entre sua rejeição e sua inevitável manifestação como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Seis dessas parábo­

las começam com as palavras: “0 reino dos céus é semelhante...”. Para podermos ver essas parábolas na sua pers­ pectiva correta, vamos revisar o reino como foi discutido no capítulo 3. 0 reino dos céus é a esfera na qual o governo de Deus é reconhecido. Apresenta dois aspectos: 1) profissão exterior, incluindo todos os que dizem reconhecer o governo de Deus; e 2) realidade interior, incluindo somente os que entram no reino pela conversão. 0 reino se encontra em cinco fases: 1) a fase do AT, na qual fora profetizado; 2) a fase em que estava “perto” ou presente na pessoa do Rei; 3) a fase de transição, consistindo daqueles na terra que professam ser seus súditos após a rejeição e a volta do Rei aos céus; 4) a manifestação do reino durante o milênio; e 5) o reino final e eterno. Cada referência bíblica do reino se encaixa em uma dessas fases. E sobre a terceira, a fase de transição, que o capítulo 13 discursa. Durante essa fase, o reino, na sua realidade interior (os verdadeiros cristãos), é composto, desde Pentecostes até o arrebatamento, das mesmas pessoas da Igreja. Essa é a única iden­ tidade entre o reino e a Igreja; fora isso, são duas coisas distintas. Com esse cenário em mente, vamos analisar as parábolas. A. A parábola do semeador (13:1-9) 13:1 Jesus saiu da casa onde ele curara o endemoninhado e assentou-se à beira do mar da Galileia. Muitos estudiosos da Bíblia veem essa casa como figura da nação de Israel; e o mar, aos gentios. As­ sim, as ações do Senhor simbolizam uma quebra com Israel; durante sua fase de transição, o reino seria pregado às nações. 13:2 Como grandes multidões se reuniram na praia, ele entrou num barco e começou a pregar às pessoas por meio de parábolas. Parábola é uma história com um ensinamento espiritual ou moral subentendido, que nem sempre é imediatamente evidente. As sete parábolas seguintes contam como o reino será durante o tempo entre o primeiro e o segundo advento. As primeiras quatro foram relatadas à multidão; as três últimas, somente aos discípulos. 0 Senhor explicou as primeiras duas e a sétima aos discípulos, deixando que eles (e nós) interpretassem as outras com as chaves que ele já dera. 13:3 A primeira parábola trata de um semeador que plantou a semente em quatro tipos de solos diferentes. Como era de esperar, os resultados foram diferentes em cada caso.

SO LO 1. A beira do cam inho batido. 2. Uma camada fina de terra sobre depósitos de rocha. 3. Terra infestada por espinhos.

4. Boa terra.

RESU LTA D O S 1. Sementes comidas pelos pássaros. 2. A semente germinou rapidamente, mas sem raiz; queimou-se pelo sol e secou-se. 3. A semente germinou, mas o crescimento foi impossível por causa dos espinhos. 4. A semente germinou, cresceu e deu uma colheita: algumas hastes produziram cem, algum as sessenta, algum as trinta.

13:9 Jesus terminou a parábola com a admoestação enigmática: “Quem tem ouvidos [para ouvir], ouça!”. Na parábola, ele estava transmitindo uma mensagem importante à multidão, e uma diferente aos discípulos. Ninguém deveria perder o significado de suas palavras. Visto que o Senhor interpreta a parábola nos ver­ sículos 18-23, refrearemos nossa curiosidade até chegarmos àquele parágrafo. B. O propósito das parábolas (13:10-17) 13:10 Os discípulos estavam perplexos pelo fato de Jesus falar às pessoas com a linguagem tão velada das parábolas. Então eles pediram que ele explicasse seu método. 13:11 Na resposta, Jesus distinguiu entre a mul­ tidão incrédula e os discípulos crentes. A multidão, um grupo representativo da nação, obviamente estava rejeitando-o, ainda que essa rejeição só viesse a ser consumada na cruz. A eles não seria permitido co­ nhecer os mistérios (segredos) do reino dos céus, ao passo que seus verdadeiros seguidores seriam auxiliados na compreensão. Um mistério no NT é um fato que anteriormente nunca fora conhecido pelo homem, o qual o homem nunca poderia aprender a não ser por revelação di­ vina, mas que agora fora revelado. Os mistérios do reino são, portanto, verdades desconhecidas a respei­ to do reino na sua forma transitória. 0 mero fato de que o reino teria uma forma provisória havia sido um segredo até esse momento. As parábolas descrevem alguns dos aspectos do reino durante o tempo em que o Rei estaria ausente. Algumas pessoas, portanto,

chamam isso de “forma misteriosa do reino” — não que haja qualquer coisa misteriosa, mas simplesmen­ te que nunca fora conhecido antes. 13:12 Pode parecer arbitrário que esses segredos devessem ser retidos da multidão e revelados aos discípulos. Mas o Senhor fornece a razão: Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Os dis­ cípulos tinham fé no Senhor Jesus; portanto, seriam capacitados ainda mais. Aceitaram a luz; portanto, re­ ceberiam mais luz. A nação judaica, em contrapartida, rejeitara a Luz do mundo; portanto, não apenas seria impedida de receber mais luz, mas perderia a pouca luz que tinha. Rejeitar a Luz é negar a luz. 13:13 Matthew Henry compara as parábolas à nuvem e à coluna de fogo que iluminaram Israel enquanto confundia os egípcios. As parábolas seriam reveladas aos que sinceramente estivessem interessa­ dos, mas seriam “apenas uma irritação aos que eram hostis a Jesus”. Então não era questão de capricho da parte do Senhor, mas simplesmente a execução de um princí­ pio presente em todos os aspectos da vida: cegueira proposital é seguida por cegueira judicial. Por isso ele falou aos judeus em parábolas. H. C. Woodring expli­ cou assim: “Porque não possuíam o amor da verdade, não receberiam a luz da verdade”.26 Eles professaram ver, mas a Verdade encarnada estava perante eles e se recusaram vê-lo. Professaram ouvir a palavra de Deus, mas a Palavra viva de Deus estava no seu meio, e não lhe obedeciam. Não estavam dispostos a entender o fato maravilhoso da encarnação; portanto, a capacidade de entender foi-lhes tirada. 13:14-15 Estavam vivendo o cumprimento da pro­ fecia de Isaías 6:9-10. 0 coração de Israel endurecera e seus ouvidos estavam insensíveis à voz de Deus. Deliberadamente se recusaram a ver com seus olhos. Sabiam que se vissem, ouvissem, entendessem e se arrependessem Deus os curaria. Mas na sua doença e necessidade recusaram sua ajuda. Portanto, seu castigo seria que ouviriam, mas não entenderiam, e veriam, mas não perceberiam. 1 3 :1 6 -1 7 Os discípulos foram tremendamente privilegiados, porque estavam vendo o que ninguém vira antes. Os profetas e os homens justos do AT ansiavam estar vivos quando o Messias chegasse, mas seu desejo não fora cumprido. Os discípulos foram favorecidos a viverem no momento crítico da história, ver o Messias, testificar de seus milagres e ouvir os ensinamentos incomparáveis que vieram de seus lábios. 26 (13:13) H. Chester Woodring. Notas de aulas inéditas em Mateus, Emmaus Bible School, 1961.

C.

A explicação da parábola do semeador (13:18-23) 13:18 Tendo explicado por que usara parábolas, o Senhor agora expõe a parábola dos quatro solos. Ele não identifica o semeador, mas podemos ter a certeza de que ou ele se refere a si mesmo (v. 37) ou aos que pregam a mensagem do reino. Ele define a semente como a palavra do reino (v. 19). A terra representa os que ouvem a mensagem. 13:19 A terra batida pelo caminho trata das pes­ soas que se recusam a aceitar a mensagem. Ouvem o evangelho, mas não compreendem — não porque não podem, mas porque não compreenderão. Os pássaros representam Satanás; arrebata a semente do coração desses ouvintes. Ele coopera com eles na sua árida escolha. Os fariseus eram ouvintes de terra batida. 13:20-21 Quando Jesus falou do solo rochoso, ele tinha em mente uma camada fina de terra cobrindo a saliência de uma rocha. Isso representa as pessoas que ouvem a palavra e respondem com alegria. A princípio, o semeador poderia ficar orgulhoso do enorme sucesso de sua pregação. Mas logo ele apren­ de a lição mais profunda: que não é bom quando a mensagem é recebida com sorrisos e aclamações. Primeiro deve haver convicção de pecado, contrição e arrependimento. É muito mais promissor ver um inquiridor chorando até o Calvário que vê-lo andando pela igreja com coração leve e exuberante. A terra rasa produz uma profissão de fé superficial; não há profundeza na raiz. Mas, quando sua profissão é pro­ vada pelo sol escaldante da angústia ou perseguição, decide que não vale a pena e abandona toda profissão de sujeição a Cristo. 13:22 A terra infestada por espinhos representa outro grupo que ouve a palavra de maneira superfi­ cial. Aparentemente parecem ser súditos genuínos do reino, mas, com o passar do tempo, seu interesse é sufocado pelos cuidados do mundo e por sua fas­ cinação pelas riquezas. Não há fruto para Deus na vida deles. Lang ilustra isso por meio de um filho cujo pai ama as riquezas e é dono de um grande negócio. Seu filho ouviu a Palavra na juventude, mas ficou profundamente interessado nos negócios. Logo ele teve de escolher entre agradar a seu Senhor ou a seu pai. Portanto, os espinhos esta­ vam no solo quando a semente fora semeada e germinou; os cuidados desse mundo e a falsidade das riquezas estavam presentes. Concordou com

os desejos de seu pai, dedicou-se totalmente aos negócios, progrediu até ser o chefe do em­ preendimento e, quando bem avançado na vida, teve que reconhecer que negligenciara as coisas celestiais. Ele estava prestes a se aposentar e ex­ pressou sua intenção em ser mais diligente nas coisas espirituais. Mas de Deus não se zomba. 0 homem se aposentou e morreu de repente em poucos meses. Deixara uma fortuna e uma vida espiritualmente estragada. Os espinhos sufoca­ ram a palavra e ela fora infrutífera.27 13:23 A boa terra representa um crente verdadei­ ro. Ele ouve a palavra receptivamente e a compreen­ de por obedecer ao que ouve. Embora esses crentes não produzam a mesma quantidade de fruto, todos mostram pelo seu fruto que possuem a vida eterna. Fruto aqui, provavelmente, é a manifestação do caráter cristão em vez de almas ganhas para Cristo. Quando a palavra/h/fo é usada no NT, geralmente se refere ao fruto do Espírito (Gl 5:22-23). 0 que a parábola significava para as multidões? Obviamente as avisava contra o perigo de ouvir sem obedecer. Acreditava-se que encorajaria os indivíduos a receber a Palavra sinceramente, depois a provar sua realidade por produzir fruto para Deus. Com relação aos discípulos, a parábola os preparou, assim como aos futuros seguidores de Jesus, para o fato, em cir­ cunstâncias contrárias, desencorajadoras, de que re­ lativamente poucas pessoas que ouvem a mensagem são genuinamente salvas. Protege os súditos leais da desilusão de que todo o mundo será convertido através da propagação do Evangelho. Os discípulos também foram avisados nessa parábola contra três dos antagonistas do evangelho: 1) o inimigo (as aves — o maligno); 2) a carne (o sol causticante — tribula­ ção ou perseguição); e 3) o mundo (os espinhos — os cuidados do mundo e o prazer das riquezas). Por último, os discípulos recebem uma visão do extraordinário retorno por investir na personali­ dade humana. Trinta por um são 3.000% de juros, sessenta por um são 6.000% de juros e cem por um são 10.000% de juros no investimento. Realmente não há como medir os resultados de uma única e verdadeira conversão. Uma professora anônima de escola dominical investiu em Dwight L. Moody. Ele levou muitos a Cristo. Eles, por sua vez, ganharam outros. Essa professora iniciou uma reação em cadeia que nunca parará. D. A parábola do trigo e do joio (13:24-30) A parábola anterior foi uma ilustração viva do fato de que o reino dos céus inclui aqueles que servem ao Rei

somente da boca para fora, assim como os que são discípulos genuínos. Os primeiros três solos tipificam o reino no seu âmbito maior (profissão exterior). 0 quarto solo representa o reino como um círculo menor (os que verdadeiramente se converteram). 13:24-26 A segunda parábola (o trigo e o joio) também ilustra o reino nesses dois aspectos. 0 trigo representa os verdadeiros cristãos, o joio os meramen­ te professos. Jesus compara o reino a um homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo. Unger diz que o joio mais comum encontrado nos campos de cereais na Terra Santa é o joio farpado, “uma gramínea venenosa, quase indistinguível do trigo, enquanto os dois estão formando o limbo. Mas quando lançam as espigas, podem ser separadas sem nenhuma dificuldade’’.28 13:27-28 Quando os servos viram o joio misturado no meio do trigo, perguntaram ao dono da casa como isso acontecera. Imediatamente ele reconheceu nisto o trabalho de um inimigo. Os servos estavam prontos para arrancar a praga imediatamente. 13:29-30 Mas o fazendeiro ordenou que esperas­ sem até a colheita. Então os ceifeiros separariam os dois. 0 trigo seria recolhido aos celeiros e o joio seria queimado. Por que o fazendeiro exigiu essa demora na sepa­ ração? Na natureza, as raízes do trigo e do joio estão entrelaçadas e fica praticamente impossível arrancar um sem o outro. Essa parábola é explicada por nosso Senhor nos versículos 37-43, então não anteciparemos mais comentários até lá. E. A parábola do grão de mostarda (13:31-32) Em seguida, o Salvador assemelha o reino a um grão de mostarda, chamada por ele de a menor de todas as sementes, isto é, a menor de acordo com a experi­ ência de seus ouvintes. Quando um homem plantava uma dessas sementes, crescia até ser árvore, um crescimento fenomenal. A planta normal de mostarda é mais parecida com um arbusto que com uma árvore. A árvore era grande o suficiente para que as aves se aninhassem nos seus ramos. A semente representa o começo humilde do reino. A princípio, o reino era relativamente pequeno e puro como resultado da perseguição. Mas, com o apoio e a proteção do estado, sofreu crescimento anormal. Depois as aves vieram e fizeram seus ninhos nela. A mesma palavra para aves é usada aqui no versículo 4; Jesus explicou que as aves significam o maligno (v. 19). 0 reino tomou-se um lugar onde Satanás e seus agen­ tes se aninharam. Hoje, o guarda-chuva do cristianismo

abriga sistemas que negam a Cristo, como o unitarismo, a Ciência Cristã, o mormonismo, os testemunhas de jeová e a Igreja da Unificação (moonies). Aqui o Senhor avisa de antemão aos seus discípulos que durante sua ausência o reino experimentaria um crescimento anormal. Não deveriam se enganar ou igualar crescimento com sucesso. Seria um cresci­ mento não saudável. Embora a pequenina semente se tomasse uma árvore anormal, sua grandeza seria uma “morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável” (Ap 18:2). F. A parábola do fermento (13:33) Em seguida, o Senhor Jesus compara o reino ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha. Por fim, toda a farinha se levedou. Uma interpretação comum é que a farinha é o mundo, e o fermento é o evangelho que será pre­ gado em todo o mundo até que cada um se converta. Esse ponto de vista, entretanto, é rechaçado pelas Escrituras, pela história e pelos acontecimentos em andamento. 0 fermento é sempre um tipo, uma figura, do ma­ ligno na Bíblia. Quando Deus ordenou ao seu povo que tirasse de suas casas o fermento (Êx 12:15), eles entenderam isso. Se alguém comesse o que estava levedado desde o primeiro até o sétimo dia da Festa de Pães Asmos, seria cortado de Israel. Jesus alertou contra o fermento dos fariseus e saduceus (Mt 16:6,12) e o fermento de Herodes (Mc 8:15). Em ICoríntios 5:6-8, o fermento é definido como malícia e maldade, e o contexto de Gálatas 5:9 mostra que lá significa ensinamento falso. No geral, fermento signi­ fica doutrina maligna ou comportamento maligno. Então, nessa parábola, o Senhor alerta contra o poder impregnador do maligno trabalhando no reino dos céus. A parábola do grão de mostarda mostra o maligno no caráter exterior do reino; essa parábola mostra a corrupção interna que ocorreria. Acreditamos que, nessa parábola, farinha repre­ senta a comida do povo de Deus, como se encontra na Bíblia. 0 fermento é a doutrina maligna. A mulher é a falsa profetisa que ensina e ilude (Ap 2:20). Não é significativo que as mulheres foram as fundadoras de vários cultos falsos? Proibidas pela Bíblia de ensinar na igreja (ICo 14:34; ITm 2:12), algumas desafiadoramente ocuparam o lugar das autoridades doutrinais e adulteraram a comida do povo de Deus

28 (13:24-26) Merrill F. U nger, Ungefs Bible Dictionary, p. 1145 (cf. Bibliografia g eral).

com suas heresias destrutivas. J. H. Brookes diz: “Se argumentarem que Cristo não compararia o reino dos céus ao que é maligno, a resposta suficiente é que ele assemelha o reino ao que inclui tanto o trigo como o joio, que engloba os peixes bons como os maus, que inclui até um servo mau (Mt 18:23-32), que admite um homem que não possuía uma veste nupcial e estava perdido (Mt 22:1-13) ”.29 G.

O uso das parábolas cumpre a profecia (13:34-35)* Jesus falou as primeiras quatro parábolas às mul­ tidões. 0 uso desse método de ensino pelo Senhor cumpriu a profecia de Asafe, em Salmos 78:2, de que o Messias falaria em parábolas, proferindo enigmas dos tempos antigos. Essas características do reino dos céus na sua forma temporária, escondida até agora, estavam sendo anunciadas. H. A explicação da parábola do joio (13:36-43) 13:36 0 restante do discurso do Senhor foi dito aos discípulos, dentro da casa. Aqui os discípulos repre­ sentam o remanescente que crê da nação de Israel. Mencionar a casa novamente nos relembra do fato de que Deus não rejeitara para sempre seu povo, a quem de antemão conheceu (Rm 11:2). 1 3 :3 7 Ao interpretar a parábola do trigo e do joio, Jesus se identifica com o semeador. Ele semeou diretamente durante seu ministério terrestre, e con­ tinua a semear por meio de seus servos, através dos tempos. 13:38 0 campo é o mundo. É importante enfatizar que o campo é o mundo, não a igreja. A boa semente significa os filhos do reino. Poderia parecer bizarro e inconveniente pensar que seres humanos são plan­ tados no solo. Mas o importante é que esses filhos do reino foram semeados no mundo. Durante seus anos de ministério público, Jesus semeou no mundo com os discípulos que foram súditos leais do reino. O joio são os filhos do maligno. Satanás tem uma imitação para cada realidade divina. No mundo, ele semeia pessoas que parecem, falam e, até certo ponto, vivem como discípulos. Mas não são genuínos seguidores do Rei. 13:39 0 inimigo é Satanás, o adversário de Deus e seu povo. A ceifa é a consumação dos séculos, o fim do reino em sua forma interina, que ocorrerá quando Jesus Cristo voltar em poder e glória para reinar como

29 (13:33) J. H. B rookes , IAm Corning, p. 65.

+Veja “Suplementos” > -“Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo” .

Rei. O Senhor não está se referindo ao fim da era da Igreja; só gera confusão introduzir a Igreja aqui. 13:40-42 Os ceifeiros são os anjos (cf. Ap 14:1420). Durante a fase atual do reino, nenhuma separa­ ção obrigatória é feita do trigo e do joio. Permite-se que cresçam juntos. Mas no segundo advento de Cristo, os anjos juntarão todas as causas do pecado e todos os malfeitores, e estes serão jogados na forna­ lha acesa, onde chorarão e rangerão seus dentes. 13:43 Os súditos justos do reino que estiverem na terra durante a tribulação entrarão no reino do seu Pai para desfrutar o reino milenário de Cristo, Lá resplandecerão como o sol, isto é, serão resplande­ centes em glória. Novamente Jesus acrescenta a admoestação enig­ mática: Quem tem ouvidos, ouça! Essa parábola não justifica, como alguns erronea­ mente supõem, a tolerância a pessoas incrédulas em uma igreja local. Lembre-se de que o campo é o mun­ do, não a Igreja. Igrejas locais são explicitamente ordenadas a lançarem fora da sua comunhão os cul­ pados de certas formas de iniqüidade (ICo 5:9-13). A parábola simplesmente ensina que na sua forma misteriosa, o reino dos céus incluirá o verdadeiro e a imitação, o genuíno e o falsificado, e que essa condição continuará até a consumação dos séculos. Depois os mensageiros de Deus separarão os falsos, que serão levados para julgamento, dos verdadei­ ros, que desfrutarão o glorioso reinado de Cristo na terra. I. A parábola do tesouro escondido (13:44) Todas as parábolas até aqui ensinam que haverá no rei­ no súditos bons e maus, justos e injustos. As próximas duas parábolas mostram que haverá duas classes de súditos justos: 1) os judeus crentes durante os períodos antes da Igreja e após a época da Igreja; 2) os judeus e gentios crentes durante a época presente. Na parábola do tesouro, Jesus compara o reino ao tesouro oculto no campo. Um certo homem o encontra, cobre-o, depois, alegremente, vende tudo o que tem, e compra aquele campo. Sugerimos que o homem é o Senhor Jesus. (Ele foi o homem na parábola do trigo e do joio, v. 37.) 0 tesouro representa o remanescente piedoso de judeus crentes tais como existiam durante o ministério de Jesus enquanto aqui na terra e existirá novamente após o arrebatamento da Igreja (cf. SI 135:4, em que Israel é chamado de “seu tesouro peculiar”, isto é, sua possessão). Estão escondidos no campo em que estão dispersos pelo mundo e, num sentido real, desconhecidos de todos, a não ser de Deus. Jesus é retratado aqui como quem descobre o tesouro, depois

vai à cruz e dá tudo o que ele tem a fim de comprar o mundo onde o tesouro estava escondido (2Co 5:19; ljo 2:2). Israel redimido será tirado de seu esconde­ rijo quando seu Libertador sair de Sião e estabelecer o tão esperado reino messiânico. A parábola às vezes se aplica ao pecador, deixando tudo para poder encontrar a Cristo, o maior tesouro. Mas essa interpretação viola a doutrina da graça, que insiste em que a salvação é sem preço (Is 55:1; Ef 2:8-9). J.

A parábola da pérola de grande valor (13:45-46) O reino também é assemelhado a um homem nego­ ciante que busca boas pérolas. Quando ele encontra uma pérola rara de grande valor, sacrifica tudo o que tem para comprá-la. Em um hino que diz “Encontrei a pérola de maior preço”, o descobridor é o pecador, e a pérola é o Sal­ vador. Mas novamente declaramos que o pecador não tem de vender tudo e não tem de comprar Cristo. Pre­ ferimos acreditar que o negociante é o Senhor Jesus. A pérola de grande valor é a Igreja. No Calvário, ele vendeu tudo o que ele tinha para comprar essa pérola. Do mesmo modo que uma pérola é formada dentro de uma ostra, através do sofrimento causado pela irrita­ ção, assim a Igreja foi formada mediante o traspassamento e os ferimentos do corpo do Salvador. É interessante que, na parábola do tesouro, o reino é comparado ao próprio tesouro. Aqui o reino não é comparado à pérola, mas ao negociante. Por que essa diferença? Na parábola anterior, a ênfase está no tesouro — Israel redimido. 0 reino está intimamente ligado com a nação de Israel. A princípio foi oferecido à nação de Israel e, na sua forma futura, ao povo judeu, que será seu principal súdito. Como já mencionamos, a Igreja não é o reino. Todos os que estão na Igreja estão no reino na sua forma transitória, mas nem todos os que estão no reino es­ tão na Igreja. A Igreja não estará no reino na suaforma futura, mas reinará com Cristo sobre a terra renovada. A ênfase da segunda parábola está no próprio Rei e no tremendo preço que foi pago para alcançar e ganhar uma noiva que compartilharia de sua glória no dia de sua manifestação. Como a pérola sai do mar, assim a Igreja, às vezes chamada de noiva gentílica de Cristo, vem, na sua maioria, das nações. Isso não passa por cima do fato de que há israelitas convertidos nela, mas meramente afirma que a característica dominante da Igreja é ser um povo chamado das nações para o seu nome (de Cristo). Em Atos 15:14, Tiago confirmou isso como o grande propósito de Deus para o tempo atual.

K. A parábola da rede (13:47-50) 13:47-48 A parábola final nessa série compara o reino a uma peneira ou a uma rede varredoura que, lançada ao mar, recolhe peixes de toda espécie. 0 pescador arrumou os peixes, guardando os bons em recipientes e descartando os maus. 13:49-50 0 Senhor interpreta a parábola. 0 tempo é na consumação dos séculos, isto é, no final do período da tribulação. É a hora do segundo advento de Cristo. Os pescadores são os anjos. Os peixes bons são os justos, ou seja, os salvos, tanto judeus como gentios. Os peixes maus são os injustos, isto é, os incrédulos de todas as raças. Haverá uma sepa­ ração, como vimos na parábola do trigo e do joio (v. 30,39-43). Os justos entrarão no reino de seu Pai, ao passo que os injustos serão consignados ao lugar de fogo, onde se espera choro e ranger de dentes. Esse julgamento acontece no início do milênio, mas ainda não se trata do julgamento final; este só ocorrerá após o término dos mil anos (Ap 20:7-15). Gaebelein comenta assim essa parábola: “Como vimos, a rede varredoura é lançada ao mar, que repre­ senta as nações. A parábola refere-se à pregação do evangelho eterno, como ocorrerá durante a grande tri­ bulação (Ap 14:6-7). A separação dos bons e dos maus será feita pelos anjos. Tudo isso não pode referir-se ao tempo presente nem à Igreja, mas à época quando o reino está para ser estabelecido. Os anjos serão usa­ dos, como é visto claramente em Apocalipse. Os per­ versos serão lançados na fornalha de fogo, e os justos permanecerão na terra para o reino milenário”.30 L. O tesouro da verdade (13:51-52) 13:51 Quando acabou de relatar as parábolas, o Supremo Mestre perguntou aos seus discípulos se entenderam. Eles responderam: Sim. Isso pode nos surpreender, ou até mesmo nos deixar com inveja deles. Talvez não possamos responder sim com tanta confiança. 13 :5 2 Porque entenderam, foram obrigados a repartir com os outros. Discípulos são canais, não terminais de bênçãos. Os doze agora eram escribas treinados para o reino dos céus, isto é, professores e intérpretes da verdade. Eram com o um pai de família que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas. No AT tinham um depósito rico que poderíamos chamar de verdade antiga. No ensino por meio das parábolas de Cristo receberam o que era completamente novo. Desse vasto depósito de conhecimento deveriam agora divulgar a gloriosa verdade aos outros.

M. Jesus é rejeitado em Nazaré (13:53-58) 13:53-56 Tendo proferido estas parábolas, Jesus deixou as praias da Galileia e foi até Nazaré para sua última visita por lá. Enquanto ele os ensinava na sinagoga, o povo maravilhava-se de tal sorte da sua sabedoria e dos milagres relatados. Para eles, ele era simplesmente o filho do carpinteiro. Eles sabiam que sua mãe era Maria [...] e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas [...] e que suas irmãs estavam morando em Nazaré! Como um menino daquela cida­ de poderia dizer e fazer coisas que o tomaram tão famoso? Isso os deixou muito perplexos e acharam mais fácil apegar-se à ignorância que reconhecer a verdade. 13 :57 -5 8 Eles escandalizavam -se nele. Isso impeliu Jesus a exemplificar que um profeta genuíno geralmente é mais apreciado longe de casa. Sua ci­ dade e seus parentes permitiram que a familiaridade produzisse desdém. A grande incredulidade impediu o trabalho do Salvador em Nazaré. Ele curou apenas algumas pessoas doentes lá (cf. Mc 6:5). Não era porque ele não podia fazer as obras (a maldade do homem não pode restringir o poder de Deus). Mas ele não abençoaria pessoas que não tivessem o de­ sejo de ser abençoadas, não satisfaria necessidades onde não houvesse consciência dessa necessidade, não curaria pessoas que não queriam admitir que estavam doentes.

IX. A graça incansável do Messias depara com crescente hostilidade (14:1— 16:12) A. João Batista decapitado (14:1-12) 14:1-2 Notícias do ministério de Jesus chegaram a Herodes, o tetrarca. Esse filho infame de Herodes, o Grande, também era conhecido como Herodes Antipas. Foi ele que ordenou a execução de João Batista. Quando ouviu dos milagres de Cristo, sua consciência o perturbou. A lembrança do profeta que ele decapitou sempre vinha à memória. Ele falou aos seus servos (em linguagem parafrástica): “É João Batista. Ele ressuscitou dos mortos. Isso explica esses milagres”. 14:3 Nos versículos 3-12 temos o que é conhecido como flashback na narrativa. Mateus interrompe a história para recapitular as circunstâncias relativas à morte de João. 14:4-5 Herodes abandonara a esposa e estava vivendo uma relação adúltera e incestuosa com Herodias, a esposa do seu irmão Filipe. Sendo profeta de

Deus, João não podia deixar isso passar sem repreen­ são. Indignado e destemido, ele apontou o dedo para Herodes e o denunciou pela sua imoralidade. 0 rei estava muito zangado, mas não era politica­ mente propício matá-lo. 0 povo aclamava João como profeta, e teria reagido, talvez com violência, diante de sua morte. Então o déspota satisfez sua raiva momentaneamente pondo o Batizador na cadeia. “Os ímpios gostam de religião assim como gostam dos leões (mortos ou encarcerados); eles temem a religião quando ela se toma livre e começa a desafiar sua consciência”.31 14:6-11 No aniversário de Herodes, a filha de Herodias agradou ao rei de tal maneira pelas suas danças que ele impetuosamente lhe ofereceu qualquer coisa que desejasse. Instigada pela sua mãe atrevida, ela pediu descaradamente a cabeça de João Batista [...] num prato! A ira do rei estava, a essa altura, mais branda; talvez ele se admirasse da coragem e integridade do profeta. Mas, apesar de estar triste, sentiu que precisava cumprir sua promessa. A ordem foi dada. João foi decapitado e o horrível pedido da dançarina foi concedido. 14:12 Os discípulos de João enterraram o corpo do mestre com todo o respeito, depois foram e anun­ ciaram a Jesus. Eles não poderiam ter ido a alguém melhor para derramar sua tristeza e indignação. Nem poderiam ter-nos deixado um exemplo melhor. Em tempos de perseguição, opressão, sofrimento e tristeza, também deveríamos ir e contar a Jesus. Para Herodes, seu crime estava terminado, mas a memória permanecia. Quando ele ouviu das ati­ vidades de Jesus, o episódio inteiro voltou para perturbá-lo. B. A alimentação dos cinco mil (14:13-21) 14:13-14 Quando Jesus ouviu que Herodes estava perturbado pelas notícias dos seus milagres, retirouse de barco para um lugar deserto nas margens do mar da Galileia. Podemos ter a certeza de que ele não foi por causa do medo; ele sabia que nada po­ deria lhe acontecer antes da chegada do seu tempo. Não sabemos a principal razão da retirada, mas uma razão de menor importância era que os discípulos acabavam de voltar da sua missão de pregação (Mc 6:30; Lc 9:10) e precisavam de um tempo de descanso e tranqüilidade. Porém, as multidões saíram da cidade e seguiamno a pé. Ao desembarcar, estavam esperando-o. Lon­ ge de estar irritado com essa intrusão, o compassivo Senhor começou a trabalhar imediatamente e curou os enfermos.

14:15 Quando chegou a tarde, isto é, depois das quinze horas, seus discípulos sentiram que uma crise se aproximava. Tantas pessoas e nada para comer! Eles pediram a Jesus para mandá-las pelas aldeias onde po­ deriam procurar alimento. Quão pouco eles entenderam do coração de Cristo ou discerniram seu poder! 1 4:16-18 0 Senhor assegurou-lhes de que não havia necessidade. Por que seria necessário o povo retirar-se daquele que abre a mão e supre o desejo de todo ser vivente? Assim, ele pegou os discípulos de surpresa dizendo: Dai-lhes, vós m esm os, de comer. Eles ficaram admirados. “Dar-lhes algo de comer? Não temos nada senão cinco pães e dois peixes” (paráfrase do autor). Eles se esqueceram de que também tinham Jesus. Com paciência, o Salvador disse: Trazei-mos. Essa era a parte deles. 14:19-21 Podemos imaginar o Senhor instruin­ do a multidão que se assentasse sobre a relva. Tomando os cinco pães e os dois peixes, ele deu graças, partiu os pães, e deu-os aos discípulos para distribuição. Houve fartura para todos. Quando todos estavam satisfeitos, os discípulos recolheram doze cestos de sobras. Sobrava mais quando Jesus terminou que quando ele começou. Ironicamente, houve uma cesta para cada discípulo incrédulo. E uma multidão de talvez dez mil a quinze mil foi alimentada (cinco mil homens, mais mulheres e crianças.) 0 milagre é uma lição espiritual para discípulos de cada geração. A multidão faminta está sempre presente. Há sempre um pequeno grupo de discípulos com recursos aparentemente lamentáveis. E sempre há o Salvador compassivo. Quando os discípulos estão dispostos a dar-lhe o pouco que têm, ele o multiplica para alimentar milhares. A diferença notável é que os cinco mil homens alimentados na Galileia saciaram sua fome somente por pouco tempo; mas os que se alimentam do Cristo vivo hoje são satisfeitos para sempre (cf. Jo 6:35). C. Cristo anda sobre o mar (14:22-33) O milagre anterior assegurou aos discípulos que estavam seguindo alguém que podia suprir suas necessidades abundantemente. Agora aprendem que ele também pode protegê-los e capacitá-los. 14:22-23 Enquanto despedia a multidão, Jesus compeliu os discípulos a embarcarem e voltarem para o outro lado do lago. Em seguida, subiu ao mon­ te para orar. Quando caiu a tarde, isto é, depois do pôr do sol, ele estava sozinho ali. Na conta judaica havia duas “tardes” (cf. Êx 12:6). Uma, mencionada no versículo 15, começava no meio da tarde, e a outra, mencionada aqui, no pôr do sol.

14:24-27 Entretanto, o barco já estava longe da terra e lutando contra um vento contrário. Enquanto as ondas açoitavam o barco, Jesus viu o perigo dos discípulos. Na quarta vigília da noite (entre 3h e 6h da manhã), ele foi ter com eles, andando por sobre o mar. Pensando que era um fantasma, os discípulos entraram em pânico. Mas imediatamente ouviram a voz tranquilizante do mestre e amigo: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais! Quão semelhante à nossa experiência! Somos muitas vezes abalados na tempestade, perplexos, em desespero. Parece que o Senhor está bem longe. Mas em todo o tempo ele está orando por nós. Quando a noite parece mais escura, ele está ao lado. Muitas vezes não o reconhecemos, e apertamos o sinal de emergência. Depois, ouvimos sua voz confortante e lembramos que as ondas que nos causaram medo estão debaixo dos seus pés. 14:28 Quando Pedro ouviu a voz bem conhecida e bem-amada, sua afeição e seu entusiasmo transbor­ daram. Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo, por sobre as águas. Antes de ampliar o “se” de Pedro como sinal de pouca fé, deveríamos ver seu pedido corajoso como uma marca de grande confiança. Pe­ dro sentiu que as ordens de Jesus dão poder, que ele fornece força para tudo quanto ordena. 14:29-33 Logo que Jesus disse “Vem!” , Pedro desceu do barco e começou a andar em direção a ele. Enquanto fixava os olhos em Jesus, ele podia fazer o impossível, mas no momento em que se preocupou com o vento forte ele começou a submergir. Freneti­ camente ele gritou: “ Senhor, salva-me!” . 0 Senhor tomou-o pela mão, repreendeu gentilmente sua pe­ quena fé e levou-o ao barco. Logo que Jesus entrou no barco, o vento cessou. Uma reunião de adoração ocorreu no barco com os discípulos dizendo a Jesus: Verdadeiramente és Filho de Deus! A vida cristã, como andar sobre a água, é humana­ mente impossível. Só pode ser vivida pelo poder do Espírito Santo. Quando tiramos o olhar dos outros objetos e olhamos somente para Jesus (Hb 12:2), podemos experimentar uma vida sobrenatural. Mas no momento em que nos ocupamos de nós mesmos ou de nossas circunstâncias, começamos a submergir. Assim, precisamos clamar a Cristo para restauração e capacitação divina. D. Jesus cura em Genesaré (14:34-36) 0 barco chegou a terra em Genesaré, na margem noroeste do mar da Galileia. Logo que os homens viram Jesus, vasculharam a área, procurando todos os enfermos e trouxeram-lhe, para que os enfermos pudessem somente tocar na orla da sua veste;

e todos que tocaram , ficaram sãos. E assim os médicos, naquela região, tiraram férias. Por um pouco, pelo menos, não houve enfermos. A região experimentou saúde e cura através de uma visita do Grande Médico.

E. Contaminação vem de dentro (15:1-20) Muitas vezes se diz que Mateus não segue uma ordem cronológica nos primeiros capítulos. Mas desde o início do capítulo 14 até o fim os eventos seguem a seqüência em que ocorreram. No capítulo 15, uma ordem dispensacional também surge. Primeiro, as discussões e contendas contínu­ as dos fariseus e escribas antecipam a rejeição do Messias por Israel (v. 1-20). Segundo, a fé da mulher cananeia ilustra o evangelho alcançando os gentios nesta presente época (v. 21-28). E, por último, a cura das grandes multidões (v. 29-31) e a alimentação dos quatro mil (v. 32-39) apontam para a futura época do milênio com saúde e prosperidade mundiais. 15:1-2 Os escribas e os fariseus eram implacáveis nos esforços para enlaçar o Salvador. Uma delegação deles veio de Jerusalém acusando os discípulos de Jesus de impureza por comerem sem lavar as mãos, e, assim, violarem a tradição dos anciãos. Para poder apreciar esse episódio, devemos en­ tender as referências a limpo e imundo, e devemos saber o que os fariseus queriam dizer por lavar. Toda a concepção de limpo e imundo remonta ao AT. A impu­ reza de que os discípulos eram acusados foi somente um assunto cerimonial. Se uma pessoa tocasse num cadáver, por exemplo, ou se comesse certas coisas, contraía contaminação cerimonial — não estava apta a adorar a Deus. Antes de poder aproximar-se de Deus, a lei do Senhor exigia que a pessoa passasse por um ritual purificador. Mas os anciãos acrescentaram tradições aos rituais cerimoniais. Eles insistiram, por exemplo, em que antes de um judeu comer deveria fazer um ritual elaborado de limpeza, lavando não somente as mãos, mas também os braços até os cotovelos. Se tivesse ido ao mercado, ele deveria tomar um banho cerimonial. Assim, os fariseus acusaram os discípulos de estarem em falta por não observarem as complicações das lavagens ordenadas pela tradição judaica. 15:3-6 0 Senhor Jesus trouxe à memória dos seus críticos que eles transgrediram o mandamento de Deus, não somente a tradição dos anciãos. A lei ordenou aos homens honrarem os pais, incluindo dar assistência financeira se fosse necessário. Mas os escribas e fariseus (e muitos outros) não queriam gastar dinheiro para o sustento dos seus velhos pais. Então eles inventaram uma tradição pela qual

evitariam sua responsabilidade. Quando o pedido de ajuda era feito pelo pai ou mãe, somente bastava recitar palavras como estas: “Qualquer dinheiro que tenho e que poderia ser usado para o seu sustento já foi dedicado a Deus, e por isso não posso lhe dar”, e depois de recitar esta fórmula estavam livres de res­ ponsabilidade financeira para com os pais. Seguindo essa tradição errônea, eles anularam a palavra de Deus, que os mandou cuidar dos seus pais. 15:7-9 Depois dessa astuciosa má interpretação de palavras, eles cumpriram a profecia de Isaías 29:13. Eles professaram honrar a Deus com os seus lábios, mas o seu coração estava longe do Senhor. Sua adoração era sem valor porque estavam dando prioridade maior às tradições dos homens que à palavra de Deus. 15:10-11 Virando-se para a multidão, Jesus fez uma declaração de tremenda significância. Ele de­ clarou que não é o que entra pela boca o que con­ tamina o homem, mas o que sai da boca. E difícil apreciar o caráter revolucionário dessa declaração. Conforme o código Levítico, o que entrava na boca contaminava o homem. Os judeus eram proibidos de comer a carne de qualquer animal que não ruminava e que não tinha pés fendidos. Não lhes era permitido comer peixe sem barbatanas e escamas. Instruções minuciosas foram dadas por Deus acerca de alimentos que eram limpos ou imundos. Agora o Doador da lei preparou o terreno para a ab-rogação do sistema inteiro de contaminação ceri­ monial. Ele disse que o que os discípulos comeram sem lavar as mãos não os contaminava. Mas a hipo­ crisia dos escribas e fariseus — isto verdadeiramente contaminava. 1 5 :1 2 -1 4 Quando os discípulos contaram que os fariseus se escandalizavam por essa denúncia, Jesus respondeu comparando-os às plantas que não eram divinamente plantadas. Antes, eram joio em vez de trigo. Eles e os seus ensinos certamente seriam arrancados, isto é, destruídos. Depois ele disse: Deixai-os: são cegos, guias de cegos. Mesmo professando serem autoridades em coisas espirituais, eram cegos para as realidades espirituais como tam­ bém o povo que estavam guiando. Era inevitável que tanto os líderes como seus adeptos caíssem ambos no barranco. 15:15 Os discípulos, sem dúvida, ficaram admira­ dos dessa reversão completa em tudo o que lhes foi ensinado acerca de comida limpa e imunda. Parecialhes uma parábola, isto é, uma narrativa obscura e oculta. Pedro verbalizou seu estado inseguro quando pediu explicação.

15:16-17 0 Senhor se admirou de que eles fossem tão vagarosos em entender, e depois explicou que a verdadeira contaminação é moral, não física. Alimen­ tos comestíveis não são intrinsecamente limpos ou imundos. De fato, nenhuma coisa material é imunda em si, é o abuso de uma coisa que está errado. O que o homem come entra na boca, desce para o ventre, para a digestão, e o resíduo não assimilado é elimi­ nado. O seu ser moral não é afetado — somente o seu corpo. Hoje sabemos que “tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável, porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado” (ITm 4:4-5). A passagem não fala de plantas venenosas, com certeza, mas de alimentos designados por Deus para o consumo humano. Todos são bons e deveriam ser comidos com agradecimento. Se uma pessoa é alérgica a certas coisas, ou não pode tolerar outras, ela não deveria comê-los, mas em geral podemos comer assegurados de que Deus usa os alimentos para nos nutrir fisicamente. 15:18 Se alimento não contamina, então o que contamina? Jesus respondeu: O que sai da boca, vem do coração, e é isso que contamina o homem. Aqui o coração não é o órgão que bombeia o sangue, mas a fonte corrupta de motivos e desejos humanos. Essa parte da natureza moral do homem manifesta-se por pensamentos impuros, depois por palavras deprava­ das, seguidas por maus atos. 15:19-20 Algumas coisas que contaminam o ho­ mem são maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blas­ fêm ias (esta palavra grega inclui difamação dos outros). Os fariseus e escribas eram extremamente cuida­ dosos acerca da observância ostentosa e escrupulosa das cerimônias de lavar as mãos. Mas sua vida íntima era poluída. Eles enfatizaram as coisas menores e ne­ gligenciaram os assuntos de maior importância. Eles podiam criticar a falha dos discípulos no guardar as tradições não inspiradas, e ainda assim planejavam matar o Filho de Deus. Além disso, eram culpados da lista inteira de pecados registrados no versículo 19. F.

Uma gentia é abençoada pela sua fé (15:21-28) 15:21-22 Jesus retirou-se para os lados de Tiro e Sidom, na costa do Mediterrâneo. De acordo com o que sabemos, essa foi a única vez no ministério públi­ co em que ele esteve fora do território judaico. Ah na Fenícia, uma mulher cananeia pediu-lhe que curasse sua filha que estava endemoninhada. É importante reconhecer que essa mulher não era judia, mas gentia. Ela era descendente dos cananeus,

uma raça imoral que Deus tinha marcado para exter­ mínio. Através da desobediência de Israel, alguns sobreviveram à invasão de Canaã por Josué, e essa mulher era descendente dos sobreviventes. Como gentia, ela não desfrutava dos privilégios do povo escolhido de Deus na terra. Ela era estrangeira, não tendo nenhuma esperança. Posicionalmente, ela não tinha nenhum direito para com Deus ou o Messias. Conversando com Jesus, ela dirigiu-se a ele como Senhor, Filho de Davi, título que os judeus usavam ao falar do Messias. Embora Jesus fosse o Filho de Davi, uma gentia não tinha direito de aproximar-se dele daquela forma. É por isso que ele não lhe res­ pondeu logo. 15:23 Os seus discípulos, aproximando-se, roga­ ram-lhe: “Despede-a” ; para eles, ela era um estorvo. Para ele, ela era um exemplo bem-vindo de fé e um vaso no qual sua graça brilharia. Mas primeiro ele deve provar e educar sua fé. 15:24-25 Ele lembrou que sua missão era para as ovelhas perdidas da casa de Israel, não para os gentios, e certamente não para os cananeus. Ela não ficou desanimada por essa aparente recusa. Deixando o título Filho de Davi, ela o adorou dizendo: Senhor, socorre-m e! Se ela não podia ir a ele como uma judia ao seu Messias, ela iria como uma criatura ao seu Criador. 15:26 Para testar mais a realidade da sua fé, Jesus lhe disse que não era bom ele deixar de alimentar crianças judaicas para poder dar pão aos cachorrinhos gentios. Se isso parece severo para nós, deve­ ríamos lembrar que, como o bisturi do cirurgião, a intenção não era de ferir, mas curar. Ela era gentia. Os judeus consideravam os gentios cachorros revirando lixo, zanzando nas ruas por migalhas de comida. Porém, Jesus usou aqui a palavra para cachorrinhos de estimação. A pergunta era: “Será que ela reconhe­ ceria sua indignidade de receber a menor das suas misericórdias?”. 15:27 Sua resposta foi magnífica. Ela concordou completamente com a descrição. Tomando o lugar de uma gentia indigna, ela lançou-se na sua misericórdia, no seu amor e na sua graça. Ela disse: “0 Senhor está certo! Eu sou somente um dos cachorrinhos debaixo da mesa. Mas eu noto que migalhas às vezes caem da mesa. 0 Senhor não pode dar-me algumas migalhas? Eu não sou digna de que o Senhor cure a minha filha, mas eu lhe rogo que faça para uma das suas criaturas imerecedoras” (paráfrase do autor). 15:28 Jesus a elogiou por sua grande fé. Enquanto os filhos incrédulos não tinham fome para o pão, aqui estava uma, que se chamava “cachorrinho”, implorando-o. Sua fé foi recompensada: a filha foi

curada instantaneamente. 0 fato de que o Senhor curou uma filha gentia a certa distância sugere seu presente ministério à mão direita de Deus, dando cura espiritual aos gentios durante esta época, quando seu povo antigo é deixado de lado como nação. G. Jesus cura grandes multidões (15:29-31) Em Marcos 7:31 aprendemos que o Senhor partiu de Tiro, viajou para o norte, a Sidom, depois para o oriente, atravessando o Jordão, e para o sul através da região de Decápolis. Ali, perto do mar da Galileia^ ele curou coxo, cego, gago, aleijado, e muitos outros. 0 povo maravilhou-se e glorificou o Deus de Israel. A suposição é forte de que essa era uma região gentia. 0 povo, associando Jesus e seus discípulos com Israel, deduziu corretamente que o Deus de Israel estava trabalhando no meio deles. H. A alimentação dos quatro mil (15:32-39) 15:32 Leitores (ou críticos) descuidados, confundin­ do esse episódio com a alimentação dos cinco mil, têm acusado a Bíblia de duplicação, contradição e erro de cálculo. D fato é que os dois acontecimentos são bem distintos e se suplementam em vez de contradizer um ao outro. Depois de três dias com o Senhor, a multidão não tinha mais comida. Ele não os deixaria ir embora com fome, porque poderiam desfalecer no caminho. 15:33-34 Mais uma vez os discípulos se mostra­ ram frustrados com a tarefa impossível de alimentar tantas pessoas; dessa vez tinham somente sete pães e alguns peixinhos. 15:35-36 Como no caso dos cinco mil, Jesus man­ dou o povo assentar-se, deu graças, partiu os pães e os peixinhos e deu aos discípulos para distribuição. Ele espera que os discípulos façam o que podem; depois ele entra e faz o que eles não podem fazer. 15:37-39 Depois que todos se fartaram, houve sete grandes cestos de comida sobrando. 0 número alimentado era de quatro mil homens, além de mulheres e crianças. No próximo capítulo, veremos que as estatísticas em relação aos dois milagres de alimentação são significantes (16:8-12). Cada detalhe da narrativa bíblica é cheio de significado. Depois de despedir a multidão, o Senhor foi de barco para Magadã, no litoral ocidental do mar da Galileia.

* Veja “Suplementos” > “Mar da Galileia”. 32(16:2-3) E claro que essas indicações meteorológicas são válidas para Israel, mas não para muitos países com diferentes situações de la­ titude, longitude, posição relativa ao mar e muitas outras condições.

I. O fermento dos fariseus e saduceus (16:1-12) 16:1 Os fariseus e saduceus, antagonistas tradi­ cionais em assuntos teológicos, representavam duas extremidades doutrinárias. Mas sua hostilidade cedeu à cooperação quando se uniram com objetivo comum de enlaçar o Salvador. Para prová-lo, eles lhe pediram que demonstrasse um sinal vindo do céu. De alguma maneira, que para nós não é clara, eles estavam ten­ tando seduzi-lo a uma posição comprometedora. Ao pedir um sinal vindo do céu, talvez estivessem infe­ rindo uma fonte oposta dos seus milagres anteriores. Ou talvez queriam algum sinal sobrenatural no céu. Todos os milagres de Jesus foram feitos na terra. Será que ele poderia fazer milagres celestiais também? 16:2-3 Ele respondeu continuando o tema do céu. Quando viam o céu avermelhado de tarde, prognos­ ticavam bom tempo para o dia seguinte. Também sa­ biam que se o céu estava de um vermelho sombrio de manhã haveria tempestades naquele dia.32 Eram peritos em interpretar a aparência do céu, mas não podiam interpretar os sinais dos tempos. Que sinais eram esses? 0 profeta que anunciava o advento do Messias aparecera: João Batista. Os milagres profetizados (coisas que nenhum outro homem fizera) tinham sido realizados na presença deles. Outro sinal dos tempos era a óbvia rejeição do Messias pelos judeus e a ida do evangelho para os gentios, tudo em cumprimento de profecias. Mas apesar dessas evidências indiscutíveis eles não ti­ nham ideia da história se realizando ou de profecia sendo cumprida. 16:4 Ao procurar um sinal, quando ele mesmo estava no meio deles, os fariseus e saduceus mani­ festaram-se como uma geração má e espiritualmente adúltera. Nenhum sinal agora seria dado a eles, senão o sinal do profeta Jonas. Como foi explicado nos comentários de 12:39, isso seria a ressurreição de Cristo no terceiro dia. Uma geração má e adúltera crucificaria o Messias, mas Deus o ressuscitaria de entre os mortos. Isso seria um sinal da condenação de todos os que recusam submeter-se a ele como o legítimo Soberano. 0 parágrafo termina com as tristes e contundentes palavras: E deixando-os, retirou-se. As implicações espirituais das palavras deveriam ser óbvias a todos. 16:5-6 Quando os discípulos se reuniram com o Senhor no lado oriental da lagoa, eles se esquece­ ram de levar pão. Portanto, quando Jesus os saudou com um aviso, “ acautelai-vos do ferm ento dos fariseus e saduceus” , eles pensaram que ele dizia: “Não vão a esses líderes judaicos para comprar ali­ mentos!”. Sua preocupação com alimentos levou-os

a procurar uma explicação literal e natural enquanto uma lição espiritual era intentada. 16:7 -1 0 Eles ainda estavam preocupados com a falta de comida, apesar do fato de que ele, que alimentou cinco mil e depois quatro mil, estava com eles. Então ele lhes fez lembrar dos dois milagres de alimentação. A lição que surgiu dizia a respeito de aritmética divina e recursos divinos, porque quanto menos Jesus tinha em mãos mais ele alimentava, e mais alimento sobrava. Quando havia somente cinco pães e dois peixes, ele alimentou mais de cinco mil e sobraram doze cestos. Com mais pães e peixes, ele alimentou somente mais de quatro mil e só sobraram sete cestos cheios. Se colocarmos nossos recursos limitados à sua disposição, ele pode multiplicá-los em proporção inversa à sua quantidade. “Pouco é muito se Deus está no meio”. Aqui a palavra usada para cestos33 é diferente daquela usada na ocasião da alimentação dos cinco mil. Os sete cestos, nesse episódio, são considerados maiores que os doze na ocasião anterior. Mas a lição básica permanece: Por que se preocupar com fome e escassez quando somos ligados a quem tem infinito poder e recursos? 16:11-12 Ao falar do fermento dos fariseus e dos saduceus, o Senhor não se referia ao pão, mas à má doutrina e má conduta. Em Lucas 12:1 o fermento dos fariseus é definido como hipocrisia. Professaram aderir à palavra de Deus nos detalhes minúsculos, mas sua obediência era externa e superficial. Por dentro eram maus e corruptos. 0 fermento dos saduceus era o racionalismo. Livres-pensadores do seu tempo, eles, como os li­ berais de hoje, construíram um sistema de dúvidas e negações. Eles negaram a existência dos anjos e espíritos, a ressurreição do corpo, a imortalidade da alma e a punição eterna. Esse fermento de ceticismo, se tolerado, vai se esparramar e impregnar como fermento na farinha.

X. O Rei prepara seus discípulos (16:13— 17:27) A. A grande confissão de Pedro (16:13-20) 16:13-14 Cesareia de Filipe estava a uns quarenta quilômetros ao norte do mar da Galileia e oito qui­ lômetros ao oriente do Jordão. Quando Jesus veio às aldeias ao redor (Mc 8:27), ocorreu um episódio ge­ ralmente reconhecido como o auge do seu ministério de ensino. Até esse momento ele estava conduzindo seus discípulos para uma verdadeira compreensão de sua pessoa. Tendo sucedido isso, agora ele vira seu rosto resolutamente para a cruz.

Ele começou perguntando aos discípulos o que os homens estavam dizendo a respeito de sua identidade. As respostas variavam: João Batista, Elias, Jeremias ou um dos outros profetas. Na média ele era um entre muitos. Bom, mas não o melhor. Grande, mas não o mais notável. Um profeta, mas não o profeta. Esse ponto de vista não servia. Condenava-o com um elogio fraco. Se ele fosse somente qualquer outro homem, ele era um impostor, porque afirmava ser igual a Deus, o Pai. 1 6 :1 5 -1 6 Então ele perguntou aos discípulos quem eles criam que ele era. Isso extraiu de Simão Pedro a confissão histórica: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Em outras palavras, ele era o Messias de Israel e Deus Filho. 16:17-18 0 Senhor pronunciou uma bênção sobre Simão, filho de Jonas. 0 pescador ainda não tinha chegado a esse conceito do Senhor Jesus por meio do intelecto ou sabedoria natural; foi-lhe revelado sobrenaturalmente por Deus, o Pai. Mas o Filho tinha algo importante a dizer também a Pedro. Assim, Jesus acrescentou: Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Sabemos que mais controvérsias têm rodeado esse versículo que qualquer outro nos evangelhos. A per­ gunta é: “Quem ou o que é a rocha?”. Uma parte do problema vem do fato de que as palavras gregas para Pedro e rocha são semelhantes, mas os sentidos são diferentes. A primeira, petros, quer dizer uma pedra ou rocha solta; a segunda, petra, quer dizer rocha, como um recife rochoso; então, o que Jesus realmente disse era: “... tu es Pedro [pedra] e sobre esta rocha edifi­ carei a minha igreja” . Ele não disse que edificaria sua igreja sobre uma pedra, mas sobre uma rocha. Se Pedro não é a rocha, então o que é? Se nos ape­ garmos ao contexto, a resposta óbvia é que a rocha é a confissão de Pedro (“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”) , a verdade na qual a Igreja é fundada. Efésios 2:20 ensina que a Igreja é edificada sobre Jesus Cristo, a pedra angular. Sua declaração de que somos edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas se refere não a eles, mas ao fundamento posto nos seus ensinos relativos ao Senhor Jesus Cristo. Cristo é descrito como uma rocha em ICoríntios 10:4. Nesse assunto, Morgan fornece um lembrete útil: “Lembre-se, ele estava falando aos judeus. Se traçarmos o uso figurativo da palavra rocha através das Escrituras hebraicas, descobriremos que nunca

33 (16:7-10) Nos doze kophinoi dos 5.000 poderia caber menos que nos sete spurides dos 4.000.

é usada como símbolo do homem, mas sempre de Deus. Então, aqui em Cesareia de Filipe, não é sobre Pedro que a Igreja é edificada. Jesus não brincava com figuras de linguagem. Ele usou sua velha ilustração hebraica (rocha sempre o símbolo de Deus) e disse: ‘Sobre Deus mesmo — Cristo, o Filho do Deus vivo — edificarei a minha Igreja’”.34 Pedro nunca falou de si mesmo como o fundamento da Igreja. Duas vezes ele se referiu a Cristo como pedra (At 4:11-12; lPe 2:4-8), mas ali a figura é dife­ rente; a pedra é a angular, não o fundamento. Edificarei a minha igreja. Aqui temos a primeira menção à igreja na Bíblia. Não existia no AT. A Igre­ ja, ainda futura, quando Jesus disse essas palavras, foi formada em Pentecostes e é composta de todos os verdadeiros crentes em Cristo, tanto judeu como gentio. Uma sociedade distinta, conhecida como o Corpo e noiva de Cristo, tem uma vocação e destino únicos e celestiais. Dificilmente esperaríamos que a Igreja fosse apre­ sentada no evangelho de Mateus, em que Israel e o reino são os temas predominantes. Porém, como conseqüência da rejeição de Israel a Cristo, um perí­ odo parentético — a época da Igreja — segue e con­ tinuará até o arrebatamento. Depois Deus reassumirá suas transações com Israel nacionalmente. Assim, é próprio que Deus introduza a Igreja aqui como o próximo passo no seu programa dispensacional após a rejeição de Israel. As portas do inferno não prevalecerão contra ela pode ser entendido de duas maneiras. Primeira: as portas do inferno são apresentadas como uma fracas­ sada ofensiva contra a Igreja — a Igreja sobreviverá a todos os ataques. Segunda: a Igreja é apresentada como tomando a ofensiva e sendo a vencedora. Em qualquer caso, os poderes da morte serão vencidos pelo arrebatamento dos crentes vivos e a ressurreição dos mortos em Cristo. 16:19 Dar-te-ei as chaves do reino dos céus não quer dizer que Pedro recebeu autoridade para admitir os homens nos céus. Isso tem relação com o reino dos céus na terra — a esfera contendo os que profes­ sam submissão ao Rei, os que afirmam ser cristãos. 0 termo chaves indica acesso ou entrada. As chaves que abrem a porta à esfera de profissão de fé são sugeridas na Grande Comissão: discipular, batizar e ensinar (Mt 28:19). (0 batismo não é necessário para salvação, mas é o rito inicial, pelo qual os homens publicamente professam fidelidade ao Rei.) A pri­ meira vez que Pedro usou as chaves foi em Pentecos34 (16:17-18) G. Campbell M organ , The GospelAccording toMatthew, p. 211. 35 (16:19) Charles C. R y rie, ed., Bíblia Anotada Expandida, p. 934.

tes. Elas não lhe foram dadas exclusivamente, mas como um representante de todos os discípulos (cf. Mt 18:18, onde a mesma promessa é dada a todos). O que ligares na terra, terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra, terá sido desligado nos céus. Essa e uma passagem paralela em João 20:23 são, às vezes, usadas para ensinar que a Pedro e seus supostos sucessores foi dada a autoridade de perdoar pecados. Sabemos que isso não é possível; somente Deus pode perdoar os pecados. Há duas maneiras de entender o versículo. Primei­ ro: pode ter o sentido de que os apóstolos tinham um poder de ligar e desligar que não temos hoje em dia. Por exemplo, Pedro ligou os pecados de Ananias e Safira de modo que foram punidos com morte instan­ tânea (At 5:1-10), enquanto Paulo desligou o homem disciplinado em Corinto das conseqüências do seu pecado porque se arrependera (2Co 2:10). Ou o versículo pode ter o sentido de que qualquer coisa que os apóstolos ligaram ou desligaram na terra já deve ter sido ligado ou desligado nos céus. Assim, Ryrie diz: “0 céu, não os apóstolos, inicia todo o ligar e desligar, enquanto os apóstolos anunciam estas coisas”.35 0 versículo só é verdadeiro hoje em sentido declarativo. Quando um pecador se arrepende verdadeira­ mente dos seus pecados e recebe Jesus Cristo como Senhor e Salvador, um cristão pode declarar que os pecados daquela pessoa são perdoados. Quando um pecador rejeita o Salvador, um obreiro cristão pode de­ clarar os pecados dessa pessoa como retidos. William Kelly escreve: “Sempre que a Igreja age no nome do Senhor e verdadeiramente faz a sua vontade, o selo de Deus está sobre os seus atos”. 16:20 Mais uma vez encontramos o Senhor Jesus ordenando aos discípulos que a ninguém dissessem ser ele o Messias. Por causa da incredulidade de Is­ rael, nenhum bem surgiria de tal divulgação. E dano concreto poderia surgir de um movimento popular para coroá-lo como Rei; tal ação fora de tempo seria subjugada cruelmente pelos romanos. Stewart, que chama esse trecho de a mudança na direção do ministério de Jesus, escreve: 0 dia em Cesareia de Filipe marca a linha di­ visória dos evangelhos. Daqui para a frente as correntes fluem em outra direção. A corrente de popularidade que, nos dias anteriores, parecia querer levá-lo ao trono ficou para trás. A maré se fixa rumo à cruz. [...] Em Cesareia, Jesus se deteve como se ela fosse uma linha divisória. Era como se fosse o cume de um monte de onde ele podia ver, atrás de si, todo o caminho que andara e, à sua frente, a estrada escura e ameaçadora

que o esperava. Um olhar para trás, para o entar­ decer de dias alegres que ainda se estendiam, e então ele virou e marchou em frente, em direção às sombras. A sua trajetória apontava agora para o Calvário”.36 B.

Preparando os discípulos para sua morte e ressurreição (16:21-23) 16:21 Agora que os discípulos reconheceram que Jesus é o Messias, o Filho do Deus vivo, estavam prontos para ouvir sua primeira predição direta da sua morte e ressurreição. Agora sabiam que sua causa não poderia falhar; que eles estavam do lado vence­ dor; que não importava o que aconteceria, o triunfo estava assegurado. Assim, o Senhor contou as notí­ cias ao coração preparado. Ele deve ir a Jerusalém, deve sofrer muitas coisas dos líderes religiosos, deve ser morto, e ressuscitado no terceiro dia. As notícias eram suficientes para decifrar a condenação de qualquer movimento — tudo, exceto aquele último imperativo — deve [...] ressuscitar no terceiro dia. Isso fez a diferença! 16:22 Pedro estava indignado ao pensar que seu Mestre poderia ser sujeito atai tratamento. Chamando-o à parte, como se quisesse bloquear-lhe o cami­ nho, ele protestou: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá. 16:23 O Senhor repreendeu Pedro. Ele veio ao mundo para morrer pelos pecadores. Qualquer coisa ou qualquer pessoa que o impedisse desse propósito estava fora de sintonia com a vontade de Deus. Sendo assim, ele disse a Pedro: Arreda! Satanás; tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e, sim, das dos homens. Ao chamar Pedro de Satanás, Jesus não inferiu que o apóstolo estava possesso por demônios, ou controlado por Satanás. Ele simplesmente queria dizer que as ações e palavras de Pedro eram o que esperava de Satanás (cujo nome quer dizer adversário). Por ser contrário ao Calvário, Pedro tornou-se um impedimento ao Salvador. Cada cristão é chamado a tomar sua cruz e seguir o Senhor Jesus, mas quando a cruz aparece no cami­ nho, logo à frente, uma voz dentro de cada um diz: “Longe de ti! Salva-te a ti mesmo”. Ou talvez as vozes de pessoas queridas tentam-nos desviar do caminho de obediência. Em tais ocasiões, também devemos dizer: “Atrás de mim, Satanás! Tu és um obstáculo para mim”. Preparação para o discipulado verdadeiro (16:24-28) 16:24 Agora o Senhor Jesus afirma claramente o que está envolvido em ser seu discípulo: negação de

si mesmo, tomar a cruz e segui-lo. Negar a si não é o mesmo que abnegação; significa submeter-se ao seu controle tão completamente que a própria pessoa não tem nenhuma prerrogativa. Tomar a cruz significa a disposição de tolerar vergonha, sofrimento e talvez martírio por sua causa; morrer para o pecado, para si mesmo e para o mundo. Seguir a ele significa viver como ele vivia com tudo o que envolve de humildade, pobreza, compaixão, amor, graça e cada outra virtude divina. 16:25 0 Senhor prevê dois impedimentos ao disci­ pulado. 0 primeiro é a tentação natural de conservarse longe de desconforto, dor, solidão ou perdas. 0 outro é tomar-se rico. Em relação ao primeiro, Jesus avisou que os que conservam sua vida por propósitos egoístas nunca acharão realização; os que abandonam sua vida sem reservas a ele, sem contar o custo, descobrirão a razão da sua existência. 16:26 A segunda tentação — a de tomar-se rico — é irracional. Jesus disse que um homem se tom tão próspero nos negócios que ele possuía o mundo inteiro. Essa busca louca absorveria tanto de seu tempo e sua energia que ele perderia o propósito central da sua vida. Que bem faria ganhar tanto dinheiro, depois morrer, deixando tudo para trás, e passar a eternidade com mãos vazias? O homem está aqui para negócios maiores que juntar dinheiro. Ele é chamado para representar os interesses do seu Rei. Se ele perde isso, perde tudo. No versículo 24, Jesus lhes contou o pior. Isso é característico do cristianismo; você sabe o pior no começo. Mas você nunca cessa de descobrir os tesou­ ros e as bênçãos. Bamhouse explicou bem: “Depois de ver tudo o que é proibitivo nas Escrituras, não sobra nada escondido que possa causar surpresa. Cada coisa nova que aprenderemos nesta vida ou na próxima virá como um deleite”.37 16:27 Agora o Senhor recorda aos seus acerca da glória que segue o sofrimento. Ele aponta, no futuro, para seu segundo advento, quando voltará à terra com os seus anjos na transcendente glória do seu Pai. Então ele recompensará os que vivem para ele. A única maneira de se ter uma vida bem-sucedida é projetar-se para a frente, para aquele tempo glorioso, decidir o que realmente será importante naquele dia, e então prosseguir nisso com toda a força. 16:28 Ele depois fez a declaração alarmante de que havia alguns ao lado dele que não passariam

C.

36 (16:20) James S. Stew aet, The Life and Teaching o f Jesus Chríst, p. 106. 37 (16:26) Donald Grey B arnhouse, Words Fitly Spoken, p. 53.

pela morte antes de vê-lo vindo no seu Reino. 0 problema, de fato, é que todos aqueles discípulos já morreram, mas Cristo ainda não veio em poder e gló­ ria para estabelecer o reino. 0 problema é resolvido se omitirmos a quebra do capítulo e considerarmos os primeiros oito versículos do próximo capítulo como uma explicação da sua declaração enigmática. Esses versículos descrevem o episódio no monte da Transfiguração. Ali, Pedro, Tiago e João viram Cristo transfigurado. Eles foram realmente privilegiados em ter uma antevisão de Cristo na glória do seu reino. Somos justificados ao enxergar a transfiguração de Cristo como uma prefiguração do seu reino futuro. Pedro descreve o evento como “... o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Pd 1:16). 0 poder e a vinda do Senhor Jesus Cristo se referem ao seu segun­ do advento. E João fala da experiência no monte como aquele tempo: “... vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1:14). 0 primeiro advento de Cristo foi em humilhação; o segundo será em glória. Assim, a profecia do versículo 28 foi cumprida no monte: Pedro, Tiago e João viram o Filho do Homem, não mais como o humilde Nazareno, mas como o Rei glorificado. D.

Preparando os discípulos para a glória: a transfiguração (17:1-8) 17:1-2 Seis dias depois do incidente em Cesareia de Filipe, Jesus levou Pedro, Tiago e João a um alto monte, na Galileia. Muitos comentaristas colocam im­ portância aos seis dias. Gaebelein, por exemplo, diz: “Seis é o número do homem, o número que significa os dias de trabalho. Depois de seis dias — depois do trabalho e o dia do homem terminar, em seguida, vem o dia do Senhor, o reino”. Quando Lucas fala que a transfiguração ocorreu “cerca de oito dias” mais tarde (9:28), obviamente ele inclui os dias finais tanto como os dias no meio. Visto que oito é o número da ressurreição e de um novo começo, é apropriado que Lucas identifique o reino com um novo começo. Pedro, Tiago e João, que parecem ter ocupado um lugar de proximidade especial ao Salvador, foram privilegiados em vê-lo transfigurado. Até agora sua glória fora encoberta em um corpo de carne. Mas agora o seu rosto e vestes resplandecem como o sol è são brancos como a luz, uma manifestação visível da sua deidade, como a nuvem de glória ou shekinah, no AT, simbolizava a presença de Deus. A cena foi uma antecipação do que o Senhor Jesus será quando voltar para estabelecer seu reino. Ele não mais aparecerá como o Cordeiro sacrificial, mas como o Leão da tribo de Judá. Todos os que o virem hão de reconhecê-lo

imediatamente como Deus, o Filho, o Rei dos reis e Senhor dos senhores. 17:3 Moisés e Elias apareceram no monte e fala­ ram da aproximação da sua morte em Jerusalém (Lc 9:30-31). Moisés e Elias podem representar os santos do AT. Ou, se tomarmos Moisés como representante da Lei, e Elias representando os Profetas, então aqui vemos ambas as partes do AT apontando para os sofrimentos de Cristo e as glórias que seguiriam. Uma terceira possibilidade é que Moisés, levado ao céu por meio da morte, representa todos os que serão ressuscitados da morte para entrar no milênio, enquanto Elias, trasladado para o céu, representa os que entrarão no reino pelo caminho de trasladação. Os discípulos Pedro, Tiago e João podem repre­ sentar os santos do N.T. em geral. Eles também poderiam prefigurar o remanescente fiel dos judeus que estarão vivos no segundo advento e entrarão no reino com Cristo. A multidão ao pé do monte (v. 14, compare com Lc 9:37) representa as nações gentílicas que com­ partilharão também das bênçãos do reino milenário de Cristo. 17:4-5 Pedro estava muito comovido com a oca­ sião; ele tinha um senso positivo da história. Queren­ do cativar o esplendor, ele precipitadamente sugeriu que se fizessem três tabernáculos memoriais, ou tendas — uma para Jesus, uma para Moisés e uma para Elias. Ele estava certo em colocar Jesus no primeiro lugar, mas errado em não lhe dar a preeminência. Jesus não é um entre iguais, mas é Senhor sobre todos. Para poder ensinar essa lição, Deus, o Pai, envolveu-os com uma nuvem luminosa, e dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi. No reino, Cristo será o Incomparável, o Monarca supremo cuja palavra será a autoridade fi­ nal. Assim deveria ser no coração dos seus seguidores nos dias atuais. 17:6-8 Pasmados pela nuvem gloriosa e pela voz de Deus, os discípulos caíram de bruços. Mas Jesus disse-lhes para erguer-se e não temer. Quando se le­ vantaram, ninguém viram, senão só a Jesus. Assim será no reino: o Senhor Jesus será toda a glória na terra de Emanuel. E. Referindo-se ao precursor (17:9-13) 17:9 Descendo do monte, Jesus ordenou aos dis­ cípulos que ficassem calados acerca do que tinham visto até que ele ressuscitasse. Os judeus, excessiva­ mente ansiosos por qualquer um que poderia libertálos do jugo romano, o teriam recebido alegremente para salvá-los de Roma, mas não o queriam como um Salvador do pecado. Para todos os propósitos práticos,

Israel tinha rejeitado o Messias, e seria em vão contar para os judeus dessa visão da glória messiânica. De­ pois da ressurreição, a mensagem seria proclamada pelo mundo inteiro. 17:10-13 Os discípulos acabaram de ter uma ante­ cipação da vinda de Cristo em poder e glória, mas seu precursor não tinha aparecido. Malaquias profetizou que Elias deveria vir antes do advento do Messias (Ml 4:5-6), então os seus discípulos perguntaram a Jesus acerca disso. 0 Senhor concordou que, de fato, Elias tinha de vir primeiro como reformador, mas explicou que Elias já viera. Obviamente ele se referia a João Batista (cf. v. 13). João não era Elias (Jo 1:21), mas veio “no espírito e poder de Elias” (Lc 1:17). Se Israel tivesse aceitado João e a sua mensagem, ele teria cumprido o papel profetizado de Elias (Mt 11:14). Mas a nação não reconheceu a significância da missão de João, e o tratou como bem quis. A morte de João era um símbolo adiantado do que fariam ao Filho do Homem. Eles rejeitaram o precursor; eles também rejeitariam o Rei. Quando Jesus explicou isso, os discípulos reconheceram que ele se referia a João Batista. Há toda razão para se crer que, antes da segunda vinda de Cristo, um profeta aparecerá para preparar Israel para o advento do Rei. Se será Elias pessoal­ mente ou alguém com um ministério semelhante é quase impossível dizer. F.

A preparação para o serviço mediante oração e jejum (17:14-21) A vida não é sempre uma experiência no cume do monte. Depois de momentos de regozijo espiritual, vêm horas e dias de trabalho e esgotamento. Há uma hora quando devemos deixar o monte para ministrar no vale da necessidade humana. 17:14-15 Ao pé do monte, um pai perturbado es­ perava o Salvador. Ajoelhando perante ele, implorou que seu filho endemoninhado fosse curado. 0 filho sofria de violentos ataques epiléticos que às vezes o faziam cair no fogo e muitas vezes na água; assim, sua miséria estava misturada com queimaduras e, por pouco, afogamentos. Ele era um exemplo clássico do sofrimento causado por Satanás, o mais cruel de todos os déspotas. 17:16 0 pai tinha ido aos discípulos procurando ajuda, somente para aprender que “vão é o socorro do homem” (SI 60:11). Eles eram incapazes de curar. 17:17 A frase “ Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei con vosco? A té quando vos sofrerei?” é dirigida aos discípulos. Eles não tinham a fé para curar o epilético, mas, nesse aspecto, eram

um grupo representativo do povo judaico daquele dia: sem fé e perverso. 17:18 Logo que o epilético foi trazido a ele, Jesus repreendeu o demônio, e o doente ficou curado desde aquela hora. 17:19-20 Atordoados pela sua falta de poder, os discípulos pediram ao Senhor, em particular, uma explicação. A resposta foi franca: incredulidade. Se tivessem fé do tamanho de um grão de mostarda (a menor das sementes), eles poderiam ordenar a uma montanha a que se lançasse ao mar e isso aconte­ ceria. Naturalmente, deveria ser entendido que a verdadeira fé deve ser baseada sobre alguma ordem ou promessa de Deus. Esperar algo espetacular para poder satisfazer um capricho pessoal não é fé, mas presunção. Entretanto, se Deus guia um cristão numa certa direção ou dá uma ordem, o cristão pode ter a maior confiança de que dificuldades montanhosas serão removidas milagrosamente. Nada é impossível aos que creem. 17:21 A frase “ Esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum” é omitida na maioria das Bíblias modernas, porque está ausente em muitos manuscritos antigos. Porém, é achado na maioria dos manuscritos e se encaixa no contexto de um problema especialmente difícil. G.

Preparando os discípulos para a traição (17:22-23) Outra vez, sem drama ou estardalhaço, o Senhor Jesus preveniu os discípulos de que ele seria morto. Mas, mais uma vez, houve aquela palavra de vindicação e vitória: ele ressuscitaria no terceiro dia. Se ele não tivesse contado sobre sua morte de antemão, sem dúvida teriam ficado completamente desiludidos quando ela enfim aconteceu. Uma morte de vergonha e sofrimento não era consistente com suas expectati­ vas acerca do Messias. Mesmo assim, eles se entristeceram muito porque ele ia deixá-los e seria morto. Eles ouviram a predição da sua paixão, mas pareciam não entender a promes­ sa da sua ressurreição. H.

Pedro e o Mestre pagam imposto (17:24-27) 17:24-25 Em Cafamaum, os cobradores do imposto do templo perguntaram a Pedro se o Mestre pagava as duas dracmas usadas para a manutenção valiosa do templo. Pedro respondeu “ Sim” . Talvez o discípulo desorientado quisesse salvar Cristo de uma situação embaraçosa. A onisciência do Senhor é vista no que se seguiu. Quando Pedro voltou para casa, Jesus falou com ele

XI. O Rei instrui seus discípulos (18— 20)

que os homens devem ser convertidos e tomar-se como crianças para entrar no reino dos céus. Ele estava falando do reino na sua realidade interna; para ser um crente genuíno, um homem deve abandonar pensamentos de grandeza pessoal e tomar a posi­ ção humilde de uma criança. Isso começa quando ele reconhece sua pecaminosidade e indignidade e recebe Jesus Cristo como sua única esperança. Essa atitude deveria continuar através da sua vida cristã. Jesus não estava sugerindo que seus discípulos não eram salvos. Todos, exceto Judas, tinham genuína fé nele e, assim, foram justificados. Mas eles ainda não tinham recebido o Espírito Santo como uma pessoa em residência e, portanto, faltava o poder para a verdadeira humildade da qual dispomos hoje, mas que não usamos como deveríamos. Também eles precisa­ vam ser convertidos no sentido de ter todos os seus pensamentos falsos conformados ao reino. 18:4 A pessoa maior no reino dos céus é aquela que se humilha como uma criança. Obviamente os padrões e valores no reino são exatamente opostos aos do mundo. Nosso inteiro modo de pensar deve ser invertido; devemos pensar conforme os pensamentos de Cristo (cf. Fp 2:5-8). 18:5 Aqui o Senhor Jesus passa quase imperceptivelmente do assunto de uma criança natural a uma criança espiritual. Qualquer pessoa que recebe um dos seus humildes seguidores em seu nome será recompensada como se tivesse recebido o próprio Senhor. 0 que é feito para o discípulo é considerado sendo feito ao Mestre. 18:6 No entanto, qualquer pessoa que convence um cristão a pecar é sujeito à condenação enorme; me­ lhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho e fosse afogado na profun­ deza do mar. (A grande pedra de moinho mencionada aqui exigia um animal para rodá-la; uma menor podia ser rodada à mão). É bastante ruim pecar contra si mesmo, mas levar um cristão a pecar é destruir sua inocência, corromper sua mente e manchar sua reputação. Seria melhor morrer uma morte violenta que causar dano à pureza do próximo!

A. Quanto à humildade (18:1-6) 0 capítulo 18 foi chamado de discurso sobre grandeza e perdão. Ele descreve convenientes princípios de condu­ ta para os que afirmam ser súditos de Cristo, o Rei. 18:1 Os discípulos sempre pensaram no reino do céu como a era dourada de paz e prosperidade. Agora começaram a cobiçar posições preferenciais nele. 0 espírito egoísta expressou-se na pergunta: Quem é, porventura, o maior no reino dos céus? 18:2-3 Jesus respondeu com uma lição objetiva e vivaz. Colocando uma criança no meio deles, ele disse

B. Quanto às ofensas (18:7-14) 18:7 Jesus continuou explicando que seria inevitável o surgimento de ofensas. 0 mundo, a carne e o Diabo estão unidos para seduzir e perverter. Mas se alguém se toma um representante das forças do mal, sua cul­ pa será grande. Então o Salvador avisou os homens para tomarem ação drástica em disciplinar-se antes de conduzirem um filho de Deus à tentação. 18:8-9 Não importa qual seja o membro pecamino­ so — a mão, o pé ou o olho — , é melhor sacrificá-lo ao bisturi do cirurgião que deixá-lo destruir a obra de

primeiro — antes de Pedro ter uma oportunidade de contar o que aconteceu. Simão, que te parece? De quem cobram os reis da terra impostos ou tributo; dos seus filhos, ou dos estranhos? A pergunta deve ser entendida à luz daqueles dias. Um governante cobrava impostos dos seus súditos para a manutenção do seu reino e da sua família, mas ele não cobrava impostos da própria família. Geralmente, debaixo dos sistemas de govemo das democracias ocidentais, todo mundo paga impostos, incluindo o governante e sua casa. 17:26 Pedro respondeu corretamente que os go­ vernantes cobravam tributos dos estranhos. Assim, Jesus disse que os filhos são livres. A questão era que o templo era a casa de Deus. Para Jesus, o Filho de Deus, pagar tributo para a manutenção desse tem­ plo seria equivalente a pagar tributo a si mesmo. 17:27 Porém, antes de causar ofensa desnecessá­ ria, o Senhor concordou em pagar o tributo. Mas o que ele poderia usar como dinheiro? Nunca é registrado que Jesus pessoalmente carregava dinheiro. Ele en­ viou Pedro ao mar da Galileia e instruiu-o a tirar o primeiro peixe que fisgasse. Na boca daquele peixe se achou um dinheiro, ou estáter, que Pedro usou para pagar o tributo — metade para ele e a outra para o Senhor. Esse milagre admirável, narrado de forma bem me­ tódica, demonstra claramente a onisciência de Cristo. Ele sabia qual de todos os peixes no mar da Galileia tinha um estáter na boca. Ele sabia a localização daquele peixe. E ele sábia que seria o primeiro peixe que Pedro fisgaria. Se qualquer princípio divino fosse envolvido, Jesus não teria feito o pagamento. Era um assunto de indi­ ferença moral para ele, e ele estava pronto a pagar antes de ofender. Nós, como cristãos, somos livres da lei. Todavia, em assuntos que não se referem à moral, deveríamos respeitar a consciência dos outros, e não fazer coisa alguma que pudesse causar ofensa.

Deus na vida de outra pessoa. Melhor entrar na vida sem membros ou vista que ser consignado ao inferno com todos os membros intactos. 0 Senhor não sugere que alguns corpos terão membros faltando no céu, mas somente descreve a condição física na hora em que um cristão sai dessa vida para a próxima. Não há dúvida de que o corpo ressurreto será completo e perfeito. 18:10 Agora o Filho de Deus avisa contra o des­ prezo de um dos seus pequeninos, sejam crianças, seja qualquer um que pertença ao reino. Para enfa­ tizar sua importância, ele acrescentou que os seus anjos estão incessantemente na presença de Deus, contemplando-lhe a face. Anjos aqui, provavelmente, quer dizer anjos guardiães ((cf. tb. Hb 1:14). 18:11 Embora omitido em muitas versões moder­ nas da Bíblia, esse versículo, que fala da missão do Salvador, é um ponto culminante adequado a essa divisão e tem grande apoio dos manuscritos.38 18:12-13 Esses pequeninos são também o objeto do ministério salvador do temo Pastor. Mesmo que um deles, no meio de cem ovelhas, se extraviasse, ele deixaria as noventa e nove e procuraria a ex­ traviada até achá-la. 0 prazer do Pastor ao achar a extraviada deveria ensinar-nos a avaliar e respeitar seus pequeninos. 18:14 São importantes não somente aos anjos e ao Pastor, mas também a Deus, o Pai. Não é a vontade dele que nenhum deles pereça. Se são de tanta importância para atrair a atenção dos anjos, do Senhor Jesus e de Deus, o Pai, então claramente nunca deveríamos desprezá-los, não importa quão desagradáveis ou humildes possam parecer. C. Quanto à disciplina de ofensores (18:15-20) 0 restante do capítulo trata das resoluções das dife­ renças entre os membros da igreja, e da necessidade de se exercer perdão ilimitado. 18:15 Instruções explícitas são dadas concernentes à responsabilidade do cristão quando ofendido por outro cristão. Primeiramente, o assunto seria tratado em particular entre as duas partes. Se o ofensor reco­ nhecer a culpa, a reconciliação é realizada. 0 problema é que não fazemos isso. Fofocamos com todo mundo acerca disso. Assim, o assunto se espalha como fogo e a contenda se multiplica. Vamos lembrar que o primeiro passo é ir e argui-lo entre ti e ele só. 18:16 Se o irmão culpado não escuta, o ofendido deveria levar um ou dois outros juntos, procurando restaurá-lo. Isso enfatiza a crescente seriedade da sua rebeldia contínua. Ainda mais, isso fornece testemu­ nho competente, como requisitado pelas Escrituras: pelo depoimento de duas ou três testemunhas se estabelecerá o fato (Dt 19:15). Ninguém pode medir

a perturbação que atormenta a igreja por falhar em obedecer à simples regra de que uma acusação contra outra pessoa deve ser apoiada pelo testemunho de mais dois ou três. Nessa questão, tribunais munda­ nos muitas vezes agem com mais retidão que igrejas cristãs ou assembleias. 18:17 Se o acusado ainda recusa confessar e pedir desculpas, o assunto deve ser levado perante a igreja local. É importante notar que a igreja local é corpo responsável para ouvir o caso, e não um tribunal civil. 0 cristão é proibido de ir a juízo contra outro cristão (ICo 6:1-8). Se o acusado se recusa a admitir sua falta perante a igreja, então ele é considerado gentio ou publicano. 0 sentido mais óbvio dessa expressão é que ele deveria ser considerado fora da esfera da igreja. Mesmo que seja um cristão verdadeiro, ele não está se comportando como um, e deveria ser tratado de acordo. Mesmo ainda na Igreja universal, ele deve ser proibido dos privilégios da igreja local. Tal disciplina é uma ação séria; temporariamente entrega um cristão ao poder de Satanás “para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor [Jesus] ” (ICo 5:5). 0 propósito disso é trazê-lo ao raciocínio certo e fazê-lo confessar o pecado. Até chegar nesse ponto, os cristãos devem tratá-lo com cortesia, mas também mostrar pela sua atitude que eles não jus­ tificam seu pecado e não podem ter comunhão com ele como irmão. A igreja local deveria estar pronta a recebê-lo de volta imediatamente quando houvesse evidência de arrependimento sincero. 18:18 0 versículo 18 é ligado com o que o precede. Quando uma igreja, em oração e obediência à Palavra, disciplina uma pessoa, aquela ação é honrada no céu. Quando a pessoa disciplinada se arrepende e confessa seu pecado, e a igreja a restaura à comunhão, aquela ação é ratificada por Deus (cf. Jo 20:23). 18:19 Apergunta surge: “Qual deve ser o tamanho de uma igreja para poder ligar e desligar, como des­ crita acima?”. A resposta é que dois cristãos podem trazer tais assuntos a Deus em oração com a certeza de serem ouvidos. Embora o versículo 19 possa ser usado como uma promessa geral de respostas à oração, no contexto ele se refere à oração em relação à disciplina na igreja. Quando usado em relação à oração coletiva em geral, deve ser tomado à luz de todos os outros ensinos sobre oração. Por exemplo, as orações devem ser: a) em conformidade com a vontade revelada de Deus (ljo 5:14-15); b) em fé (Tg 1:6-8); c) em sinceridade (Hb 10:22a) etc.

38 (18:11) É omitido pelo texto crítico (NU), mas consta da maioria dos manuscritos (M).

18:20 0 versículo 20 deveria ser interpretado à luz do contexto. Não se refere primariamente à composição de uma igreja neotestamentária na sua forma mais simples, nem a uma reunião geral de oração, mas a uma reunião em que a igreja procura a reconciliação de dois cristãos separados por algum pecado. Pode ser legitimamente aplicado a todas as reuniões de cristãos, em que Cristo é o centro, mas um tipo de reunião específica está em foco aqui. Reunir “em seu nome” quer dizer pela sua autori­ dade, em reconhecimento de tudo o que ele é e em obediência à sua Palavra. Nenhum grupo pode afirmar ser o único que se reúne no seu nome; se fosse assim, sua presença seria limitada a um pequeno segmento do seu corpo na terra. Onde estiverem dois ou três reunidos em reconhecimento dele como Senhor e Salvador, ele estará presente no meio deles. D.

Quanto ao arrependimento sem limite (18:21-35) 18:21-22 Nesse ponto, Pedro perguntou quantas vezes ele deveria perdoar a um irmão que pecou contra ele. Provavelmente ele pensava que estava mostrando graça fora do comum por sugerir sete como limite. Jesus respondeu: não [...] sete vezes, mas até setenta vezes sete. Ele não queria que entendêssemos quatrocentas e noventa vezes, ao pé da letra; isso era uma maneira figurativa de dizer “indefinidamente”. Talvez alguém possa perguntar: “Por que é impor­ tante seguir os passos alinhados anteriormente? Por que ir ao acusado sozinho, depois com um ou dois outros, depois levá-lo à igreja? Por que não somente o perdoar e terminar o assunto?”. A resposta é que há estágios na administração de perdão, como segue: 1. Quando um irmão faz algo contra mim ou peca con­ tra mim, deveria perdoá-lo imediatamente no meu coração (Ef 4:32). Isso me liberta de um espírito amargo e implacável, e deixa o resultado nos seus ombros. 2. Apesar de ter perdoado no meu coração, eu ainda não conto para ele que ele está perdoado. Não seria justo administrar perdão publicamente até ele se arrepender. Assim eu estou obrigado a ir a ele e repreendê-lo em amor, esperando encaminhá-lo à confissão {Lc 17:3). ” 3. Logo que ele pede desculpas e confessa seu pecado, eu lhe conto que ele está perdoado (Lc 17:4). 18:23 Jesus agora conta uma parábola do reino dos céus para alertá-los contra as conseqüências de um espírito que não perdoa por parte dos súditos que foram perdoados livremente.

1 8 :2 4 -2 7 A história se refere a certo rei que queria ajustar contas com seus servos. Um servo, que lhe devia dez mil talentos, estava insolvente, então o senhor ordenou que ele e sua família fossem vendidos como escravos para pagar a dívida. 0 servo, desnorteado, pediu tempo, prometendo pagar-lhe tudo se lhe desse a oportunidade. Como muitos devedores, ele estava incrivel­ mente otimista acerca do que poderia fazer se somente tivesse tempo (v. 26). A renda total da Galileia eqüivalia a trezentos talentos e esse homem devia dez mil! 0 detalhe da vasta soma é intencional. É para abalar os ouvintes e assim capturar a sua atenção, e também enfatizar uma dívida imensa para com Deus. Martinho Lutero costumava dizer que todos nós somos indigentes perante ele. Não temos possibilidade de pagar. Daily Notes ofthe Scripture Union Quando o senhor viu a atitude contrita do seu servo, perdoou-lhe os dez mil talentos completamente. Era uma manifestação épica de graça, não de justiça. 18:28-30 Agora, aquele servo tinha um conservo que lhe devia cem denários (umas centenas de dóla­ res). Em vez de perdoar-lhe, ele agarrou-o, sufocava-o e exigia o pagamento total. 0 infeliz devedor pediu um prazo, mas de nada valeu. Ele foi posto na cadeia até pagar a dívida — uma coisa difícil de fato, sendo que a sua chance de ganhar dinheiro não existia enquanto ele estivesse preso. 18:31-34 Os outros servos, indignados por essa conduta inconsistente, avisaram o seu senhor. Ele ficou furioso com o emprestador cruel. Sendo perdoa­ do de uma grande dívida, ele não queria perdoar uma quantidade pequena. Assim, ele foi encarcerado até pagar a dívida. 18:35 A aplicação é clara. Deus é o Rei. Todos os seus servos tinham contraído uma grande dívida de pecado a qual eram incapazes de pagar. Em graça maravilhosa e compaixão, o Senhor pagou a dívida e concedeu perdão gratuito e pleno. Agora vamos supor que algum cristão prejudique outro. Quando repre­ endido, ele pede desculpas e perdão. Mas o cristão ofendido recusa. Ele mesmo foi perdoado de milhões de dólares, mas não perdoa algumas centenas. Será que o Rei vai permitir que tal comportamento fique impune? Certamente não! 0 culpado será castigado nesta vida e sofrerá perdas no tribunal de Cristo. E.

Quanto ao casamento, divórcio e celibato (19:1-12) 19:1-2 Depois de completar seu ministério na Gali­ leia, o Senhor virou-se para o sul, a Jerusalém. Ape­

sar da sua rota exata não ser conhecida, parece que ele viajou através de Pereia, no lado oriente do Jordão. Mateus fala vagamente da área como o território da Judeia, além do Jordão. 0 ministério na Pereia se estende de 19:1 até 20:16 ou 20:28; não está claro quando ele atravessou o Jordão para a Judeia. 19:3 Provavelmente foram as multidões que o se­ guiam para receber a cura que alertaram os fariseus acerca do lugar onde o Senhor estava. Como uma matilha de cães ferozes, eles o rodearam, esperando enlaçá-lo pelas suas palavras. Eles perguntaram se divórcio era legal por qualquer motivo. Não importa como ele respondesse, ele enfureceria algum segmen­ to dos judeus. Uma facção adotava uma atitude muito liberal quanto ao divórcio; outra era extremamente rígida. 19:4-6 O Senhor explicou que a intenção original de Deus era que o homem tivesse somente uma esposa. 0 Deus que criou macho e fêmea decretou que o relacionamento de casamento substituiria o paterno, e disse também que o casamento é uma união de pessoas. O ideal de Deus é que essa união divinamente ordenada não seja quebrada por ato humano ou decreto. 19:7 Os fariseus pensaram que eles tinham pegado o Senhor numa contradição flagrante ao AT. Moisés não fez provisão para divórcio? Um homem podia simplesmente dar à sua esposa um documento escrito e depois expulsá-la de casa (Dt 24:1-4). 19:8 Jesus concordou que Moisés tinha permitido o divórcio, não como a coisa melhor de Deus para a humanidade, mas por causa da condição apóstata de Israel. Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossas mulhe­ res; entretanto, não foi assim desde o princípio. O ideal de Deus era que não houvesse divórcio. Mas Deus muitas vezes tolera condições que não são da sua diretiva vontade. 19:9 Então o Senhor disse com autoridade absoluta que a clemência no passado com respeito ao divórcio estava descontinuada de agora em diante. Doravante haveria somente uma base válida para divórcio: liber­ tinagem. Se uma pessoa se divorciasse por qualquer outra razão e casasse de novo, ela seria culpada de adultério. Apesar de não ser declarado de forma expressa, parece se depreender das palavras do Senhor que, se um divórcio for obtido por causa de adultério, a pessoa inocente seria livre para se casar de novo. De outro modo, o divórcio não serviria para qualquer propósito que não fosse realizado igualmente por separação. Imoralidade sexual, ou fomicação, é geralmente entendida como adultério. Porém, muitos estudiosos idôneos da Bíblia pensam que se refere somente à

imoralidade antes do casamento que é descoberta de­ pois do matrimônio (Dt 22:13-21). Outros creem que se refere apenas aos costumes de casamento judaico, e, por isso, a “cláusula de exceção” é somente achada aqui em Mateus, o evangelho judaico. Para tuna discussão mais ampla sobre o divórcio, veja comentários em 5:31-32. 19:1 0 Quando os discípulos ouviram o ensino do Senhor acerca do divórcio, eles se provaram ex­ tremistas por adotar a posição absurda de que, se divórcio somente pode ser obtido numa base, então, para evitar pecado dentro do matrimônio, seria me­ lhor não casar. Mas isso não os salvaria de pecar no estado de solteiro. 19:11 Assim, o Salvador lembrou-os de que a ha­ bilidade de ficar celibatário não era a regra comum; somente poderiam privar-se do casamento aqueles a quem fora dada graça especial. O dito “Nem todos são aptos para receber este conceito, mas apenas aqueles a quem é dado” não quer dizer que todos não podem entender o que segue, mas que não po­ dem viver uma vida pura a não ser que chamados para isso. 19:12 0 Senhor Jesus explicou que há três tipos de eunucos. Alguns homens são eunucos porque nasceram sem o poder de reprodução. Outros são as­ sim porque foram castrados pelos homens; regentes orientais muitas vezes submetiam criados do harém à cirurgia para fazê-los eunucos. Mas Jesus tinha sobretudo em mente os que a si mesmos se fize­ ram eunucos, por causa do reino dos céus. Esses homens poderiam ser casados e não ter nenhum en­ fraquecimento físico. Mas, em dedicação ao Rei e seu reino, eles voluntariamente se privam de casamento para dar-se a si mesmos à causa de Cristo sem distra­ ção. Como Paulo escreveu mais tarde: “Quem não é casado cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor” (ICo 7:32). O seu celibato não é físico, mas uma questão de abstinência voluntária. Nem todos os homens podem viver esse tipo de vida; somente os que foram divinamente capacitados: “... no entanto, cada um tem de Deus o seu próprio dom; um, na verdade, de um modo; outro, de outro” (ICo 7:7). F. Quanto às crianças (19:13-15) É interessante que as crianças são introduzidas logo depois do discurso do divórcio (cf. tb. Mc 10:1-16); muitas vezes são as que sofrem mais severamente com os lares desfeitos. Os pais trouxeram suas criancinhas a Jesus para serem abençoadas pelo Mestre-Pastor. Os discípulos enxergaram isso como uma intrusão e um aborreci­ mento, e repreendiam os pais. Mas Jesus interveio

com aquelas palavras que desde então o tornaram querido das crianças de toda idade: Deixai os peque­ ninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus. Várias lições importantes emergem daquelas pala­ vras. Primeira, deveriam impressionar os servos do Senhor com a importância de alcançar as crianças, cuja mente é mais receptiva à palavra de Deus. Se­ gunda: as crianças que querem confessar sua fé no Senhor Jesus deveriam ser encorajadas, e não desa­ nimadas. Ninguém sabe a idade da pessoa mais jovem no inferno. Se uma criança verdadeiramente quer ser salva, não deveria ser dito que ela é jovem demais. Ao mesmo tempo, as crianças não devem ser forçadas a fazer uma profissão falsa. Como são suscetíveis aos apelos emocionais, deveriam ser protegidas dos mé­ todos de evangelismo de alta pressão. Crianças não precisam se tornar adultas para serem salvas, mas adultos precisam se tomar como crianças (18:3-4; Mc 10:15). Terceira: essas palavras do Senhor respondem à pergunta: “O que acontece às crianças que morrem antes de alcançar a idade de responsabilidade?”. Jesus disse: dos tais é o reino dos céus. Isso deve ser uma garantia adequada aos pais que sofreram a perda de pequeninos. Às vezes essa passagem é usada para favorecer o batismo de pequeninos para poder fazê-los membros de Cristo e herdeiros do reino. Leitura mais cuidadosa mostrará que os pais trouxeram as crianças a Jesus, não ao batistério. Mostrará que as crianças já eram possuidoras do reino. E mostrará que não há uma gota de água na passagem. G. Quanto às riquezas: O jovem rico (19:16-26) 1 9 :1 6 Esse episódio fornece um estudo em con­ trastes. Tendo acabado de ver que o reino dos céus pertence aos pequeninos, agora veremos quão difícil é para os adultos entrarem. Um homem rico interrompeu o Senhor com uma pergunta aparentemente sincera. Saudando Jesus como Bom Mestre, ele perguntou o que ele preci­ sava fazer para alcançar a vida eterna. A pergunta revelou sua ignorância da verdadeira identidade de Jesus e do caminho da salvação. Ele chamou a Jesus de Mestre, colocando-o no mesmo nível dos outros grandes homens. E ele falou de ganhar vida eterna como dívida, em vez de dádiva. 19:17 O Senhor sondou-o nesses dois pontos. Ao perguntar: Por que me chamas bom? Não há bom, senão um só que é Deus (RC). Jesus não estava negando sua divindade, mas estava fornecendo ao homem .uma oportunidade de dizer “Por isso eu te chamo bom: Tu és Deus”.

Para prová-lo no caminho da salvação, Jesus disse: Se queres, porém, entrar na vida, guarda os man­ damentos. 0 Salvador não estava inferindo que o homem pode ser salvo por guardar os mandamentos. Antes, ele estava usando a lei para produzir convicção de pecado no coração do homem. O homem ainda estava debaixo do engano de que ele poderia herdar o reino pelo princípio do fazer. Por isso, deixa-o obe­ decer à lei, que o instrui sobre o que fazer. 19:18-20 O Senhor citou os cinco mandamentos que tratavam primariamente do homem, culminando por dizer: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Cego no próprio egoísmo, o homem gabou-se de que ele sempre guardava esses mandamentos. 19:21 0 Senhor então expôs a falha do homem em amar seu próximo como a si mesmo por dizer-lhe para vender todos os seus bens e dar o dinheiro aos pobres. Depois ele deveria vir a Jesus e segui-lo. O Senhor não queria dizer que esse homem pode­ ria ter sido salvo por vender os seus bens e dar os rendimentos à caridade. Há um só caminho para a salvação: a fé no Senhor. Mas, para poder ser salvo, um homem deve reco­ nhecer que ele pecou e não alcançou as exigências santas de Deus. A repugnância do rico em comparti­ lhar seus bens mostrou que ele não amava seu pró­ ximo como a si mesmo. Ele deveria ter dito: “Senhor, se é isso o que é necessário, então sou pecador. Não posso salvar a mim mesmo pelos meus esforços. Con­ sequentemente, eu te peço para salvar-me pela sua graça”. Se ele tivesse reagido à instrução do Salvador, teria sido instruído no caminho da salvação. 19:22 Em vez disso, ele retirou-se triste. 1 9 :2 3 -2 4 A resposta do rico instigou Jesus a observar que é difícil entrar um rico no reino dos céus. Riquezas têm a tendência de tomarem-se um ídolo. E difícil tê-las sem confiar nelas. 0 Senhor declarou: é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino dos céus. Ele estava usando uma figura de lingua­ gem conhecida como hipérbole (declaração feita de forma intensificada para produzir um efeito vivido e inesquecível). E absolutamente impossível para um camelo passar pelo fundo de uma agulha! 0 “fundo de uma agulha” é muitas vezes explicado como a porta pequena no portão da cidade. Um camelo era capaz de entrar ajoelhado, mas com grande dificuldade. Porém, a palavra para “agulha” na passagem paralela em Lucas é a mesma usada para descrever a agulha utilizada pelos cirurgiões. Parece claro no contexto que o Senhor não estava falando de dificuldade, mas de impossibilidade. Humanamente falando, um rico simplesmente não pode ser salvo.

19:25 Os discípulos ficaram grandemente mara­ vilhados por essas observações. Por serem judeus e viverem debaixo da lei mosaica, pela qual Deus prometeu prosperidade aos que lhe obedecessem, eles consideravam corretamente que riquezas eram indicativas da bênção de Deus. Se os que assim des­ frutavam a bênção de Deus não poderiam ser salvos, então quem poderia? 19:26 0 Senhor respondeu: Isto é im possível aos homens, mas para Deus tudo é possível. Hu­ manamente falando, é impossível que alguém seja salvo; só Deus pode salvar uma alma. Mas é mais difícil para um rico subjugar sua vontade a Cristo que para um pobre, como é evidenciado pelo fato de que poucos ricos se salvam. Eles acham quase impossível substituir confiança em meios visíveis de sustento por fé em um Salvador invisível. Somente Deus pode efetuar tal mudança. Comentaristas e pregadores invariavelmente introduzem aqui que é perfeitamente legal para cristãos serem ricos. E estranho que usem uma passagem na qual o Senhor denuncia riqueza como impedimento ao bem-estar etemal do homem para justificar a acumu­ lação de riquezas terrestres! E é difícil ver como um cristão pode apegar-se às riquezas em vista da grande necessidade em todo lugar, da iminência da volta de Cristo e da proibição clara contra amontoar tesouros na terra. Riqueza amontoada nos condena por não amarmos o próximo como a nós mesmos. H.

Quanto aos galardões por viver sacrificialmente (19:27-30) 19:27 Pedro pegou o sentido do ensino do Salvador. Reconhecendo que Jesus estava dizendo: “Deixa tudo e segue-me”. Pedro exultou que ele e os ou­ tros discípulos tinham feito exatamente isso; depois acrescentou: Que será, pois, de nós? A vida egoísta de Pedro estava manifestando-se, a natureza velha reafirmando-se. Era um espírito que cada um de nós deve evitar. Ele estava barganhando com o Senhor. 19:28-29 0 Senhor assegurou a Pedro que tudo feito para ele seria recompensado maravilhosamente. Quanto aos doze especificamente, eles terão lugares de autoridade no milênio. A regeneração refere-se ao reino futuro de Cristo na terra; é explicada pela expressão quando o Filho do homem se assentar no trono da sua glória. Referimo-nos antes a essa frase do reino como o reino em manifestação. Naquele tempo, os doze se assentarão em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. Galardões no NT são intimamente ligados com posições de administração no milênio (cf. Lc 19:17,19). Eles são conferidos no tribunal de Cristo, mas manifestos quando o Senhor voltar para reinar na terra.

Quanto aos crentes em geral, Jesus acrescentou que todos que tiverem deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por causa do seu nome, receberão muitas vezes mais, e herdarão a vida eterna. Nesta vida, eles desfrutam uma comunhão mundial de cristãos que mais que compensa laços terrestres rompidos. No lugar de uma casa que deixam, recebem cem lares cristãos onde são bem-vindos. Para terras ou outras formas de riqueza deixadas, eles recebem riquezas espirituais de valor incalculável. 0 galardão futuro para todos os crentes é vida eterna. Isso não quer dizer que ganhamos a vida eterna por abandonar e sacrificar tudo. A vida eterna é uma dádiva e não pode ser obtida pelo trabalho ou merecida. Aqui o pensamento é que os que deixam tudo são recompensa­ dos com a capacidade maior de desfrutar a vida eterna no céu. Todos os crentes terão aquela vida, mas nem todos a desfrutarão do mesmo modo. 19:30 0 Senhor terminou suas observações com um aviso contra um espírito de barganha. Ele disse a Pedro: “Qualquer coisa que fizer por minha causa será recompensada, mas tome cuidado para não ser guiado pelas considerações egoístas; porque, nesse caso, “muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros” (paráfrase do autor). Isso é ilustrado por uma parábola no próximo capítulo. Essa declaração pode também ter sido um aviso de que não é suficiente começar bem na senda de discipulado. 0 que conta é como terminamos. Antes de deixar esse trecho, deveríamos notar que as expressões “reino do céu” e “reino de Deus” são usadas alternadamente nos versículos 23-24; sendo assim, os dois termos são sinônimos. I.

Quanto às recompensas pelo trabalho na vinha (20:1-16) 20:1-2 Essa parábola, uma continuação do discurso sobre recompensas no final do capítulo 19, ilustra a seguinte verdade: enquanto todos os discípulos verdadeiros serão recompensados, a ordem de re­ compensas será determinada pelo espírito no qual o discípulo servia. A parábola descreve um dono de casa que saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para sua vinha. Esses homens foram contratados para trabalhar por um denário por dia, um ordenado ra­ zoável naquele tempo. Suponhamos que começariam a trabalhar às 6 horas da manhã. 20:3-4 Às 9 horas, o fazendeiro encontrou outros trabalhadores sem serviço na praça. Nesse caso não havia acordo salarial. Foram trabalhar dependendo somente da sua palavra de que ele daria o que fosse justo.

20:5-7 Ao meio-dia e às 3 horas da tarde o fazen­ deiro contratou mais homens com base no ordenado justo que daria. Às 5 horas da tarde ele achou mais homens desempregados. Não eram preguiçosos; eles somente queriam serviço, mas não o achavam. Assim, ele os mandou para a vinha sem falar no pagamento. É importante notar que os primeiros foram contra­ tados com acordo de pagamento; todos os outros deixaram o pagamento a critério do fazendeiro. 20:8 No fim do dia, o fazendeiro instruiu seu ad­ ministrador a pagar aos homens, começando pelos últimos, e indo até os primeiros. (Assim os primeiros viram o que os outros receberam.) 20:9-12 Era o mesmo pagamento para todos — um denário. Os que começaram às 6 horas da manhã achavam que receberiam mais; mas não, também receberam um denário. Eles ficaram amargamente ressentidos; afinal, trabalharam mais tempo e durante o calor do dia. 20:13-14 Na resposta do fazendeiro a um deles, encontramos lições permanentes da parábola. Primei­ ramente, ele disse: Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que é teu, e vai-te; pois quero dar a este último, tanto quanto a ti. 0 primeiro concordou com um denário por dia e recebeu o salário combinado. Os outros confiaram na graça do fazendeiro e receberam graça. Graça é melhor que justiça. É melhor deixar nossas recompensas na mão do Senhor que tentar negociar com ele. 20:15 Então disse o fazendeiro: Porventura não me é lícito fazer o que quero do que é meu? A lição, sem dúvida, é que Deus é soberano. Ele pode agir como quiser. E a vontade dele sempre será certa, justa e legítima. Ele acrescentou: Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom? Essa pergunta ex­ põe a linha egoísta da natureza humana. Os homens de 6 horas receberam exatamente o que mereciam, mas foram ciumentos porque os outros receberam o mesmo pagamento trabalhando menos horas. Muitos de nós temos de admitir que, a nosso ver, parece um pouco injusto também. Isso somente prova que no reino dos céus devemos adotar um modo de pensar completamente novo, devemos abandonar nosso espírito ganancioso e competitivo, e pensar como o Senhor. 0 fazendeiro sabia que todos esses homens precisa­ vam de dinheiro; assim, ele lhes pagou conforme a ne­ cessidade em vez da ganância deles. Ninguém recebeu menos do que mereceu, mas todos receberam o que precisavam para suas necessidades e as necessidades

da família. A lição, conforme James Stewart, é esta: a pessoa “que pensa negociar acerca da recompensa final estará sempre errada, e a benevolência de Deus sempre terá a última e inalterável palavra”.39 Quanto mais estudamos essa parábola sob essa óptica, mais reconhecemos que não é somente justa, mas eminen­ temente bela. Os que foram assalariados às 6 horas deveriam ter sentido uma recompensa adicional em servir um senhor tão maravilhoso o dia todo. 20:16 Jesus terminou a parábola com as palavras: Assim, os últimos serão os primeiros, e os pri­ meiros serão últimos (cf. 19:30). Haverá surpresas no assunto de recompensas. Algumas pessoas, que pensaram que seriam as primeiras, serão as últimas, porque seu serviço foi inspirado por orgulho e ambi­ ção egoísta. Outras que serviram pelo amor e gratidão serão grandemente honradas. Ações que para nós eram de grande valor Ele nos mostrará que eram apenas pecados Pequenas ações que havíamos esquecido Ele nos mostrará que foram para ele. Anônimo J.

Quanto à sua morte e ressurreição (20:17-19) E evidente que o Senhor estava saindo de Pereia rumo a Jerusalém, via Jericó (cf. v. 29). Mais uma vez ele chamou à parte os doze para explicar o que acontece­ ria depois de chegar à Cidade Santa. Ele seria entregue aos principais sacerdotes e aos escribas — uma re­ ferência óbvia à perfídia de Judas. Ele seria condenado à morte pelos líderes judaicos. Faltando autoridade para infligir pena de morte, eles iam entregá-lo aos gentios (os romanos). Ele seria escarnecido, açoitado e crucificado. Mas a morte não poderia segurar sua vítima: ele ressuscitaria no terceiro dia. K. Quanto à posição no reino (20:20-28) E uma triste nota sobre a natureza humana que, imediatamente depois da terceira predição da sua paixão, seus seguidores pensavam mais na própria glória que nos seus sofrimentos. A primeira predição do sofrimento de Cristo oca­ sionou a objeção de Pedro (16:22); logo depois da segunda vieram as perguntas dos discípulos: “Quem é o maior?” . Agora, achamos a terceira seguida pelo pedido ambicioso de Tiago e João. Eles persistentemente fecharam os olhos aos avi­ sos de perigo e os abriram somente à promessa de glória, formando dessa forma uma concepção errada e materialista do reino. Daily Notes ofthe Scripture Union

20:20-21 A mãe de Tiago e João chegou ao Senhor pedindo que seus filhos pudessem assentar-se um à sua direita e o outro à sua esquerda no seu reino. É louvável da sua parte que ela quisesse os filhos perto de Jesus, e que ela ainda esperasse seu futuro reino, Mas ela não entendeu os princípios pelos quais as honras seriam conferidas no reino. Marcos diz que os filhos mesmos fizeram o pedido (Mc 10:35); talvez eles tenham pedido em cumprimen­ to às ordens da mãe, ou talvez os três aproximaram-se juntos do Senhor. M o significa contradição. 20:22 Jesus respondeu claramente que eles não entendiam o que estavam pedindo. Eles queriam uma coroa sem uma cruz, um trono sem o altar de sacrifício, a glória sem o sofrimento anterior. Então ele lhes perguntou sem rodeios: Podeis vós beber o cálice que eu estou para beber? Não precisamos questionar o que ele queria dizer pelo cálice; ele acabou de descrevê-lo nos versículos 18-19. Ele deve sofrer e morrer. Tiago e João expressaram a habilidade de comparti­ lhar dos seus sofrimentos, mas talvez a sua confiança fosse baseada mais no zelo que no conhecimento. 20:23 Jesus assegurou-lhes de que eles beberiam do seu cálice. Tiago seria martirizado e João perse­ guido e exilado na ilha de Patmos. Robert Little disse: “Tiago morreu uma morte de mártir; João viveu uma vida de mártir”. Depois Jesus explicou que ele não podia por si garantir lugares de honra no reino; o Pai tinha de­ terminado uma base especial na qual essas posições seriam designadas. Eles acharam que era um caso de patronato político, que, por que estavam tão perto de Cristo, teriam um direito especial aos lugares de preferência. Mas não era uma questão de favoritismo pessoal. Nos conselhos de Deus, os lugares à sua di­ reita e esquerda seriam dados na base do sofrimento a favor dele. Isso quer dizer que as mais altas honras no reino não são limitadas aos cristãos do primeiro século; alguns que são vivos hoje poderiam ganhá-las pelo sofrimento. 20 :2 4 Os outros dez discípulos indignaram-se porque os filhos de Zebedeu fizeram tal pedido. Pro­ vavelmente ficaram indignados porque eles mesmos queriam ser os maiores e se ressentiram das petições feitas por Tiago e João! 20:25-27 Assim, o Senhor tinha a oportunidade de fazer uma declaração revolucionária a respeito da grandeza no seu reino. Os gentios pensam a grandeza em termos de senhorio e autoridade. No reino de Cris­ to, grandeza é manifesta pelo serviço. Quem deseja grandeza deve tomar-se um servo, e quem quiser ser o primeiro deve tomar-se um escravo.

20:28 0 Filho do homem é o exemplo perfeito de serviço humilde. Ele entrou neste mundo não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. 0 propósito total da encarnação pode ser resumido em duas palavras: servir e dar. É admirável pensar que o Senhor exaltado humilhou-se à manjedoura e à cruz. Sua grandeza foi manifesta na profundeza da sua humilhação. E assim deve ser para nós. Ele deu sua vida em resgate por muitos. Sua morte satisfez todas as exigências justas de Deus contra o pecado. Foi suficiente para purificar todos os pecados do mundo inteiro. Mas é somente eficaz para os que o aceitam como Senhor e Salvador. Você já fez isso? L. A cura de dois cegos (20:29-34) 20:29-30 Jesus tinha atravessado o Jordão de Pereia e chegou a Jericó. Ao sair da cidade, dois cegos cla­ maram: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de nós! 0 uso do título Filho de Davi significa que, ape­ sar de estarem fisicamente cegos, sua visão espiritual estava tão sensível que reconheceram Jesus como Messias. Eles podem representar o remanescente fiel de Israel cego que o reconhecerá como Cristo quando ele voltar para reinar (Is 35:5; 42:7; Rm 11:25-26; 2Co 3:16; Ap 1:7). 20:31-34 A multidão os repreendia para que se calassem, mas eles gritavam cada vez mais. Quando Jesus perguntou o que queriam, eles não perderam tempo com generalidades, como muitas vezes fazemos quando oramos. Eles somente disseram: Senhor, que se nos abram os olhos. 0 pedido específico recebeu uma resposta específica. Jesus tinha compaixão e tocou-lhes os olhos. E imediatamente eles recupe­ raram a vista e foram seguindo-o. Sobre o toque de Jesus, Gaebelein fornece uma observação útil: Já aprendemos o sentido típico de cura pelo toque nesse evangelho. Sempre que o Senhor cura pelo toque, há referência, dispensacionalmente, à sua presença pessoal na terra, e à sua relação misericordiosa com Israel. Quando ele cura pela sua Palavra, ausente pessoalmente [...] ou se ele é tocado pela fé, refere-se ao tempo quando ele estiver ausente da terra, e os gentios, aproximando-se dele pela fé, são curados.40 Há dificuldades em conciliar o relato de Mateus desse episódio com o de Marcos 10:46-52 e de Lucas

18:35-43; 19:1. Aqui há dois cegos; em Marcos e Lucas, somente um é mencionado. A sugestão feita é de que Marcos e Lucas mencionam o bem-conhecido Bartimeu, e Mateus, escrevendo o evangelho prin­ cipalmente a judeus, menciona dois como o número mínimo de um testemunho válido (2Co 13:1). Em Ma­ teus e Marcos, o fato ocorreu quando Jesus partiu de Jericó; em Lucas, quando ele aproximou-se da cidade. De fato, houve duas Jericós, uma velha e uma nova, e o milagre de cura provavelmente ocorreu enquanto Jesus estava saindo de uma e entrando na outra.

XII. A apresentação e rejeição do Rei (21— 23) A. A entrada triunfal (21:1-11) 21:1-3 Na subida de Jericó, Jesus chegou pelo lado leste do monte das Oliveiras, onde se localizavam Betânia e Betfagé. De lá, a estrada acompanhou a parte sul das Oliveiras, entrou no vale de Jeosafá, atravessou o ribeiro Cedrom e subiu a Jerusalém/ Ele enviou dois discípulos a Betânia, sabendo de antemão que achariam uma jumenta presa e com ela um jumentinho. Eles tinham de desprender os animais e trazê-los a Jesus. Se alguém reclamasse, eles haviam de explicar que o Senhor precisava dos animais, então o dono consentiria. Talvez o dono conhecesse Jesus e tivesse oferecido ajuda antes. Ou esse acontecimento pode demonstrar a onisciência e a autoridade suprema do Senhor. Tudo aconteceu exatamente como Jesus predisse. 21:4-5 A requisição dos animais cumpriu as profe­ cias de Isaías e Zacarias: Dizei à filha de Sião: Eis aí te vem o teu Rei, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de animal de carga. 21:6 Depois os discípulos puseram suas vestes em cima dos animais, e Jesus montou no jumentinho (Mc 11:7) e cavalgou para Jerusalém. Era um momento histórico. As 69 semanas da profecia de Daniel já foram cumpridas, conforme sir Robert Anderson.41 Logo o Messias seria cortado (Dn 9:26). Entrando em Jerusalém dessa maneira, o Senhor Jesus declarou de forma deliberada e desvendada ser o Messias. Lange comenta: Ele cumpre intencionalmente uma profecia que no seu tempo foi interpretada unanimemen­ te como sendo sobre o Messias. Se antes ele

+Veja “Suplementos” > “Jerusalém”. 41 (21:6) Veja os cálculos no livro O Príncipe que há de vir, disponível em http://www.espada.eti.br/principe.htm, acesso em 31/jul/2O08. 42 (21:6) J. P. L ange, A Commentary on theHoly Scriptures, 25 vols., s.p.

considerou a declaração da sua dignidade como perigosa, agora ele considera o silêncio incom­ preensível. [...] Daqui em diante nunca mais foi possível dizer que ele nunca se declarou de maneira totalmente evidente. Mais tarde, quando Jerusalém foi acusada do assassinato do Mes­ sias, não poderia dizer que o Messias se negara a dar um sinal inteligível para todos”.42 21:7-8 0 Senhor cavalgava para a cidade sobre um tapete de vestes e ramos de árvores, com a aclama­ ção do povo ressoando nos seus ouvidos. Por um mo­ mento, pelo menos, ele foi reconhecido como Rei. 21:9 As multidões clamaram: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Essa citação de Salmos 118:25-26 obviamente se refere ao advento do Messias. Hosana originalmente queria dizer “salve agora”; talvez o povo quisesse dizer: “Salve-nos dos opressores romanos”. Mais tarde o termo tomou-se uma exclamação de louvor. “ Filho de Davi” e “Bendito o que vem em nome do Senhor” indicam claramente que Jesus estava sendo reconhecido como o Messias. Ele é o bendito que vem pela autoridade de Jeová para fazer sua vontade. 0 relato de Marcos cita como parte das aclamações do povo a frase “Bendito o reino que vem, o reino de Davi, nosso pai! Hosana, nas maiores alturas” (Mc 11:10). Isso indica que o povo pensava que o reino es­ tava prestes a chegar, com Cristo assentado no trono de Davi. Ao clamar “Hosana, nas maiores alturas!” , a multidão estava convidando os céus a compartilhar com a terra no louvor ao Messias, e talvez o convi­ dando para salvar dos mais altos céus. Marcos 11:11 relata que ao entrar em Jerusalém, Jesus foi ao templo (não dentro do templo, mas ao pátio). Supostamente era a Casa de Deus, mas ele não se sentiu em casa nesse templo porque os sacerdotes e o povo se recusavam a dar-lhe o devido lugar. Depois de observar tudo, o Salvador saiu para Betânia com os doze. Era domingo à noite. 21:10-11 Entretanto, dentro da cidade havia alvo­ roço acerca da sua identidade. Os que perguntavam foram informados somente de que ele era o profeta Jesus de Nazaré da Galileia. Parece que poucos realmente entenderam que ele era o Messias. Em menos de uma semana, o povo inconstante clamaria “Crucifica-o! Crucifica-o!”. B. Purificando o templo (21:12-13) 2 1 :1 2 No início do seu ministério público, Jesus expulsou o comércio das imediações do templo (Jo 2:13-16). No entanto, no pátio externo do templo novos abusos surgiram. Animais e aves para sacrifício

iram trazidos e vendidos por preços exorbitantes. Cambistas convertiam outras moedas em meio ciclo, }ue os judeus tinham de pagar como tributo do templo (imposto), por uma taxa exorbitante. Agora, chegando 10 fim do seu ministério, Jesus mais uma vez expul­ sou os que lucravam com as atividades sagradas. 21:13 Usando textos de Isaías e Jeremias, ele conlenou a profanação, o mercantilismo e o exclusivismo. Ditando Isaías 56:7, lembrou-os de que Deus pretendia que o templo fosse uma casa de oração. Eles a trans­ tornaram em covil de salteadores (Jr 7:11). Essa purificação do templo era seu primeiro ato ofi;ial depois de entrar em Jerusalém. Ao agir assim, ele sem dúvida afirmou seu senhorio sobre o templo. . Esse episódio tem uma mensagem dupla para hoje. Em nossa vida na igreja, precisamos do seu poder purificador para expulsar bazares, refeições e muitos Dutros meios de granjear dinheiro. Na vida pessoal, há a necessidade constante do ministério purificador do Senhor no nosso corpo, o templo do Espírito Santo.

No relato de Marcos (11:12-14) há o comentário de que não era a época de figos. Portanto, ao condenar a árvore por não ter fruto, o Salvador seria mostrado como irracional e mal-humorado. Sabendo que isso não pode ser verdade, como explicar essa dificuldade? Figueiras nas terras da Bíblia produziam um fruto prematuro e comestível antes do aparecimento das folhas. Isso era um precursor da colheita normal. Se nenhum figo prematuro aparecesse, como no caso des­ sa figueira, não haveria colheita normal mais tarde. Esse é o único milagre no qual Cristo amaldiçoou em vez de abençoar — destruiu em vez de restaurar a vida. Isso foi citado como uma dificuldade. Tal censura demonstra ignorância sobre Cristo. Ele é Deus, o Soberano do universo. Alguns dos seus procedimentos são misteriosos a nós, mas devemos começar com a premissa de que são sempre certos. Nesse caso, o Senhor sabia que a figueira nunca daria figos e ele agiu como um fazendeiro faria em eliminar uma árvore infrutífera do seu pomar. Mesmo os que criticam o Senhor por amaldiçoar a C. A indignação dos sacerdotes e dos escribas figueira admitem que foi uma ação simbólica. Esse (21:14-17) episódio é a interpretação do Senhor da tumultuosa 21:14 A próxima cena encontra o Senhor curando saudação que ele acabara de receber em Jerusalém. os cegos e os coxos no pátio do templo. Aonde quer Como a videira e a oliveira, a figueira representa a que fosse, ele atraía os necessitados, e nunca mandou nação de Israel. Quando Jesus veio à nação, havia embora sem suprir suas necessidades. folhas que testemunhavam a profissão pública de fé 21:15-16+Mas olhos hostis observavam. E quando do povo, mas nenhum fruto para Deus. Jesus estava esses principais sacerdotes e os escribas ouviram as com fome do fruto da nação. crianças aclamando-o como o Filho de Davi indignaPor causa da falta de fruto prematuro, ele sabia que ram-se. Disseram: Ouves o que estes estão dizendo? não haveria fruto mais tarde daquele povo incrédulo, — como se esperassem que ele proibisse as crianças e assim ele amaldiçoou a figueira. Isso prefigurou o de aclamá-lo como o Messias! Se Jesus não fosse o julgamento que cairia sobre a nação em 70 d.C. Messias, teria sido um tempo apropriado para assim Devemos lembrar que na condição de incrédulo, dizer de uma vez por todas. Mas sua resposta indicou Israel será infrutífero para sempre, o resíduo da que as crianças estavam certas. Ele citou Salmos 8:2 nação voltará ao Messias depois do arrebatamento. da LXX: Da boca de pequeninos e crianças de peito Eles produzirão fruto para ele durante a tribulação e tiraste o perfeito louvor. Se os supostos sacerdotes durante seu reino de mil anos. e escribas entendidos não o louvassem como o Ungi­ Mesmo que a interpretação primária dessa passa­ do, o Senhor seria adorado pelas criancinhas. Muitas gem se refira à nação de Israel, há uma aplicação para vezes as crianças têm entendimento espiritual além de pessoas de todas as épocas que aliam uma conversa sua idade e suas palavras de fé e amor trazem glória elevada e um andar fraco. 21:20-22 Quando os discípulos expressaram admi­ extraordinária ao nome do Senhor. 2 1 :1 7 Deixando os líderes religiosos ponderar ração pelo fato de a árvore ter secado tão depressa, o Senhor contou-lhes que eles poderiam fazer milagres sobre essa verdade, Jesus voltou a Betânia e passou maiores que esse se tivessem fé. Por exemplo, eles a noite ali. poderiam dizer a uma montanha: Ergue-te e lançate no mar, e sucederia. E tudo quanto pedirdes em D. A figueira sem fruto (21:18-22) 2 1 :1 8 -1 9 Voltando para Jerusalém de manhã, o oração, crendo, recebereis. Senhor aproximou-se de uma figueira, esperando achar fruto nela para saciar sua fome. Não achando nada senão folhas, ele disse: Nunca mais nasça 'Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus fruto de ti. E a figueira secou imediatamente. Cristo”.

Outra vez devemos explicar que essas promessas que aparecem injustificadas acerca de oração devem ser entendidas à luz de tudo o que a Bíblia ensina sobre o assunto. 0 versículo 22 não quer dizer que qualquer cristão pode pedir qualquer coisa que ele quiser e esperar que vá recebê-la. Ele deve orar de acordo com as condições descritas na Bíblia. E.

A autoridade de Jesus questionada (21:23-27) 21:23 Quando Jesus chegou ao pátio fora do prédio do templo, os principais sacerdotes e os anciãos do povo interromperam seu ensino, perguntando quem lhe dera a autoridade para ensinar, efetuar milagres e purificar o templo. Eles esperavam apanhá-lo, seja qual fosse sua resposta. Se alegasse a autoridade em si, como o Filho de Deus, eles o acusariam de blas­ fêmia. Se alegasse a autoridade vinda dos homens, eles o desacreditariam. Se alegasse a autoridade vinda de Deus, eles contenderiam com ele. Eles se consideravam os protetores da fé, profissionais que, pelo treinamento formal e pela indicação de homens, foram autorizados a dirigir a vida religiosa do povo. Jesus não tinha qualquer instrução formal e certamente estava sem as credenciais dos líderes de Israel. 0 desafio deles refletia o velho ressentimento dos religiosos profissionais contra os homens que tinham o poder da unção divina. 21:24-25 0 Senhor se ofereceu a explicar sua auto­ ridade se eles respondessem a uma pergunta: “Donde era o batismo de João, do céu ou dos homens?”. O batismo de João significaria o ministério de João. Consequentemente a pergunta era: “Quem autorizou João a cumprir o seu ministério? A sua ordenação era humana ou divina? Quais credenciais ele recebia dos líderes de Israel?”. A resposta era óbvia, João era um homem enviado de Deus. Seu poder veio de autoridade divina, e não humana. Os sacerdotes e anciãos estavam perplexos. Se ad­ mitissem que João era enviado por Deus, eles estavam numa cilada. João indicara aos homens que Jesus era o Messias. Se a autoridade de João era divina, por que eles não se arrependeram e creram em Cristo? 21:26 Aliás, se dissessem que João não fora au­ torizado por Deus, eles adotariam uma posição que seria ridicularizada pelo povo, que, em sua maioria, ‘ concordara que João era um profeta de Deus. Se eles respondessem de maneira correta, que João fora autorizado por Deus, eles teriam a resposta à própria pergunta. Jesus era o Messias do qual João era o precursor. 21:27 Mas eles recusaram encarar os fatos, então apelaram para a ignorância. Eles não foram capazes

de contar a origem do poder de João. E Jesus por sua vez disse: Nem eu vos digo com que autoridade faço estas coisas. Por que ele lhes contaria o que eles já sabiam mas não queriam admitir? F. A parábola dos dois filhos (21:28-32) 21:28-30 Essa parábola é uma forte repreensão aos principais sacerdotes e anciãos pela sua falha em obedecer ao chamado de João ao arrependimento e à fé. Envolve um homem cujos dois filhos foram ordenados a trabalhar na vinha. Um deles recusou, depois mudou de ideia e foi. 0 outro concordou em ir, mas não foi. 21:31-32 Ao perguntar qual filho fez a vontade do seu pai, os líderes religiosos, sem saber, se con­ denaram por dizer: O primeiro (RC, NVI; a RA traz “o segundo”). 0 Senhor interpretou a parábola. Publicanos e meretrizes eram como o primeiro filho. A princípio eles não manifestaram o desejo de obedecer a João Batista, mas mais tarde muitos deles se arrepende­ ram e creram em Jesus. Os líderes religiosos eram como o segundo filho. Eles professaram concordar com a pregação de João, mas nunca confessaram seus pecados ou confiaram no Salvador. Portanto, os grandes pecadores entraram no reino de Deus enquanto os líderes religiosos, satisfeitos consigo mesmos, permaneceram do lado de fora. É o mesmo até hoje. Pecadores notórios recebem o evangelho com mais facilidade que os com a aparência de falsa piedade. A expressão “João veio a vós outros no caminho de justiça” quer dizer que ele veio pregando a neces­ sidade de justiça pelo arrependimento e pela fé. G. A parábola dos lavradores maus (21:33-46) 21:33-39 Ampliando a resposta acerca de autorida­ de, Jesus relatou a parábola de certo dono de casa, que plantou uma vinha. Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar [...] edificou-lhe uma torre, arrendou-a a uns lavradores, e viajou para um país distante. Ao tempo da colheita [...] ele enviou os seus servos aos lavradores para receberem os frutos que lhe diziam respeito, mas os lavradores, agarran­ do os servos, espancaram a um, mataram outro, e a outro apedrejaram. Quando ele enviou ainda outros servos, eles receberam o mesmo tratamento. A ter­ ceira vez enviou-lhes o seu próprio filho, pensando que eles o respeitariam. Sabendo bem que ele era o herdeiro, mataram-no com o intento de apoderar-se da sua herança. 21:40-41 Nesse ponto, o Senhor perguntou aos sacerdotes e anciãos o que o senhor da vinha faria

àqueles lavradores. Eles responderam: Fará perecer horrivelmente a estes malvados e arrendará a vi­ nha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos. A parábola não é difícil de interpretar. Deus é o senhor da vinha, Israel é a vinha (SI 80:8; Is 5:1-7; Jr 2:21). A sebe é a lei de Moisés que separava Israel dos gentios e os preservava como um povo peculiar para o Senhor. O lagar, pela metonímia, significa o fruto que Israel deveria ter produzido para Deus. A torre sugere o cuidado vigilante de Jeová com o seu povo. Os lavradores são os principais sacerdotes e escribas. Repetidamente Deus enviou seus servos, os pro­ fetas, ao povo de Israel, procurando da vinha os frutos de comunhão, santidade e amor. Mas o povo perseguiu os profetas e matou alguns deles. Por último, Deus enviou seu Filho, dizendo: “A meu filho respeitarão” (v. 37). Os principais sacerdotes e escri­ bas disseram: “Este é o herdeiro” — uma confissão fatal. Eles concordaram secretamente que Jesus era o Filho de Deus (apesar de negá-lo publicamente) e assim responderam à própria pergunta relativa à autoridade dele. A autoridade de Jesus advinha do fato de ele ser Deus, o Filho. Na parábola, os principais sacerdotes e escribas são citados dizendo: “Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança” (v. 38). Na realidade eles disseram: “Se o deixarmos assim, todos crerão nele; depois, virão os romanos e tomarão não só o nosso lugar, mas a própria nação” (Jo 11:48). E assim o rejeitaram, lançaram-no fora e o crucificaram. 21:42 Quando o Salvador perguntou o que o senhor da vinha faria, a resposta que deram os condenou, como ele mostra nos versículos 42-43. Ele citou as palavras de Salmos 118:22: A pedra que os constru­ tores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do SENHOR, e é maravilhoso aos nossos olhos. Quando Cristo, a Pedra, apresentouse aos construtores — os líderes de Israel não tinham lugar nenhum para ele nos seus planos de construção. Eles o colocaram de lado como se não tivesse valor. Mas depois da sua morte, ele ressuscitou dentre os mortos e Deus lhe deu o lugar de preeminência. Ele foi feito a principal pedra, a angular, no edifício de Deus: “... Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome” (Fp 2:9). 21:43 Depois Jesus claramente anunciou que o reino de Deus seria tirado de Israel e entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos. E assim aconteceu. Israel foi posto de lado como o povo escolhido de Deus e cegado judicialmente. Sobre a

raça que rejeitou seu Messias veio endurecimento. A profecia de que o reino de Deus seria entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos foi reconhecida como referente a: 1) a Igreja, composta de judeus e gentios que creram — uma “nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (lPd 2:9), ou 2) o remanescente de Israel que crê e que estará vivo no arrebatamento. Israel redimido produzirá fruto para Deus. 21:44 Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará redu­ zido a pó. Na primeira parte do versículo, a pedra está sobre a terra; na segunda parte, vinda de cima. Isso sugere os dois adventos de Cristo. Quando ele veio a primeira vez, os líderes judeus tropeçaram nele e foram despedaçados. Quando ele voltar, descerá em julgamento, esmiuçando seus inimigos como pó. 21:45-46 Os principais dos sacerdotes e fariseus entenderam que essas parábolas foram dirigidas diretamente a eles, em resposta à sua pergunta da au­ toridade de Cristo. Eles gostariam de ter lançado mão sobre ele naquele momento, mas temeram as multi­ dões que ainda o consideravam como profeta. H. A parábola das bodas (22:1-14) 22:1-6 Jesus ainda não tinha terminado de tratar com os principais dos sacerdotes e os fariseus. Na parábo­ la das bodas, mais uma vez ele ilustrou o favorecido Israel sendo posto de lado e os desprezados gentios sendo convidados à mesa. Ele fez em duas etapas. Pri­ meiro, um convite adiantado, entregue pessoalmente pelos servos, que encontrou uma recusa definida. 0 segundo convite anunciou que o banquete estava preparado. Alguns trataram o convite com desprezo, porque estavam ocupados demais com suas fazendas e seus negócios, e outros, agarrando os servos, maltrataram-nos e mataram. 22:7-10 0 rei estava tão irado que exterminou aqueles assassinos e lhes incendiou a cidade. Des­ cartando a primeira lista de convidados, ele lançou um convite geral para todos os que quisessem vir. Dessa vez não houve lugar vazio na sala de banquete. 22:11-13 No meio dos convidados, porém, havia um que não trazia veste nupcial. Desafiado por causa de sua aparência imprópria, ele emudeceu. O rei ordenou que fosse lançado fora, nas trevas, onde haveria choro e ranger de dentes. Os servos do ver­ sículo 13 não são os mesmos do versículo 3. 22:14 0 Senhor concluiu a parábola com as pala­ vras: Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos. Quanto ao sentido da parábola, o rei é Deus, e seu Filho é o Senhor Jesus. A festa nupcial é uma

descrição apropriada da alegria festiva que carac­ teriza o reino dos céus. Introduzir a Igreja como a noiva de Cristo nessa parábola complica o quadro desnecessariamente. O pensamento principal é o desprezo de Israel — não a chamada distinta e o destino da Igreja. A primeira parte do convite representa João Batista e os doze discípulos convidando Israel graciosamente à festa nupcial. Mas a nação recusou o convite. As palavras “estes não quiseram vir” (v. 3) foram drama­ tizadas culminantemente na crucificação. A segunda parte do convite sugere a proclamação do evangelho aos judeus no livro de Atos. Alguns trataram o convite com desdém. Alguns trataram os mensageiros com violência; a maior parte dos após­ tolos foi martirizada. O Rei, irado com razão contra Israel, enviou “seus exércitos”, isto é, Tito e suas legiões romanas, para destruir Jerusalém e a maioria do povo em 70 d.C. Eram “os seus exércitos” no sentido de que ele os usou como instrumentos para punir Israel. Oficial­ mente eram dele, mesmo não o conhecendo pesso­ almente. Agora Israel é posto de lado nacionalmente e o evangelho vai para os gentios, tanto bons como maus, isto é, para todos independentemente de sua situação (At 13:45-46; 28:28). Mas a realidade de cada pessoa que vem é testada. O homem sem veste nupcial é um que professa estar pronto para o reino, mas que nunca foi revestido da justiça de Deus por intermé­ dio do Senhor Jesus Cristo (2Co 5:21). De fato, não havia (e não há) desculpa para o homem sem veste nupcial. Como Ryrie destaca, era o costume naqueles dias fornecer uma veste para os convidados, se não a tivessem. Obviamente, o homem não aproveitou da provisão oferecida. Sem Cristo, ele fica mudo quando interrogado acerca do seu direito de entrar no reino (Rm 3:19). Sua sentença foi as trevas exteriores, onde há choro e ranger de dentes. O choro sugere o sofrimento do infemo. Alguns sugerem que o ranger de dentes significa ódio contínuo e rebelião contra Deus. Se for assim, refuta a ideia de que as chamas do infemo exercem um efeito purificador. O versículo 14 se refere à parábola inteira e não somente ao episódio do homem sem a veste nupcial. Muitos são chamados, isto é, o convite do evange­ lho alcança a muitos. Mas poucos são escolhidos. Alguns recusam o convite, e, mesmo entre os que respondem favoravelmente, alguns são identificados como falsos professos. Todos os que respondem às boas-novas são escolhidos. 0 único modo pelo qual alguém pode saber se é escolhido é pela maneira de tratar o Senhor Jesus Cristo. Como Jennings fala:

“Todos são convidados para desfrutar da festa, mas nem todos querem confiar no Doador para fornecer a veste adequada para a festividade”. I. Rendendo a César e a Deus (22:15-22) O capítulo 22 é um capítulo de perguntas, registrando as tentativas de três delegações diferentes enviadas para enlaçar o Filho de Deus. 22:15-16 Aqui temos uma tentativa dos fariseus e herodianos. Esses dois partidos eram inimigos ferrenhos, temporariamente reconciliados pelo ódio comum ao Salvador. Seu alvo foi convencer Cristo a fazer uma declaração política com implicações peri­ gosas. Eles aproveitaram a divisão dos judeus sobre a submissão a César. Alguns se opuseram fortemente a submeter-se ao imperador gentílico. Outros, como os herodianos, adotaram um ponto de vista mais tolerante. 22:17 Primeiramente eles complementaram com fingimento sua pureza de caráter, sua veracidade e intrepidez. Enfim, lançaram a pergunta pesada: É lícito pagar tributo a César, ou não? Se Jesus respondesse “não”, ele não somente antagonizaria os herodianos, mas seria acusado de rebelião contra o governo romano. Os fariseus o teriam levado embora e incitado acusações contra ele. Se ele dissesse “sim”, iria contra o forte espírito nacionalista dos judeus. Ele perderia muito apoio do povo humilde — apoio tal que até agora impedia os líderes nas suas tentativas de pôr as mãos nele. 22:18-19 Jesus denunciou-lhes bruscamente como hipócritas, tentando enlaçá-lo. Em seguida, ele pediulhes que mostrassem um denário, a moeda usada para pagar impostos ao governo romano. Cada vez que os judeus viam a efígie e o título de César na moeda, era um lembrete irritante de que estavam sob a autoridade e os impostos gentüicos. O denário deveria tê-los lembrado de que sua servidão a Roma foi o resultado do seu pecado. Se tivessem sido leais a Jeová, a questão de pagar impostos a César nunca teria surgido. 22:20-21 Jesus lhes perguntou: De quem é esta efígie e inscrição? Foram forçados a responder: De César. Então o Senhor lhes disse: Dai, pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. As suas perguntas tinham efeito bumerangue. Eles esperavam enlaçar Jesus na questão do tributo a César. Ele expôs sua falha em dar tributo a Deus. Mesmo sendo irritante, eles deram a César o que era devido, mas tinham negligenciado as exigências de Deus sobre a vida deles. Estava perante eles alguém que era a expressão exata do Ser de Deus (Hb 1:3), e eles deixaram de dar-lhe o legítimo lugar.

A resposta de Jesus mostra que o crente tem ci­ dadania dupla. Ele é responsável por obedecer ao governo humano e apoiá-lo financeiramente. Ele não deve falar mal dos seus governantes nem trabalhar para derrubar o governo. Ele deve orar pelos que exercem autoridade. Como cidadão do céu, ele é res­ ponsável por obedecer a Deus. Se tiver um conflito entre os dois, sua primeira lealdade é para com Deus (At 5:29). Ao citar o versículo 21, a maioria de nós enfatiza a parte acerca de César e passa ligeiramente por cima da parte referente a Deus, exatamente a falha dos fariseus repreendida por Jesus! 22:22 Quando os fariseus ouviram sua resposta, reconheceram que foram vencidos. Eles ficaram ad­ mirados e foram-se. J.

Os saduceus e seu enigma em relação à ressurreição (22:23-33) 22:23-24 Como mencionado antes, os saduceus eram os teólogos liberais daqueles dias, negando a ressur­ reição do corpo, a existência dos anjos e os milagres. De fato, suas negações eram mais numerosas que suas afirmações. Um grupo deles veio a Jesus com uma história inventada para que a ideia de ressurreição pareces­ se ridícula. Eles o lembraram da lei concernente ao casamento levirato em Deuteronômio 25:5. Conforme aquela lei, se um israelita morresse sem deixar fi­ lhos, o seu irmão deveria se casar com a viúva para preservai o nome da família em Israel e conservar a herança dentro da família. 22:25-28 O enigma envolvia uma mulher que per­ deu o marido e depois se casou com um dos irmãos dele. 0 segundo irmão morreu, então ela se casou com o terceiro, e assim por diante, até o sétimo. Por últi­ mo, a mulher morreu. Agora surgiu a pergunta com a intenção de humilhar aquele que é a ressurreição (Jo 11:25): Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será ela esposa? Porque todos a desposaram. 22:29 Basicamente, eles sustentaram que a ideia da ressurreição apresentava dificuldades insuperá­ veis, por isso não era razoável; consequentemente, não era verdade. Jesus respondeu que a dificuldade não estava na doutrina, mas na mente deles; eles desconheciam as Escrituras e o poder de Deus. Em primeiro lugar, desconheciam as Escrituras. A Bíblia nunca fala que o relacionamento de marido e mulher continuará no céu. Enquanto os homens serão reconhecidos como homens, e mulheres como mulheres, serão como os anjos no sentido de que nem se casam ou são dados em casamento.

Em segundo lugar, eles desconheciam o poder de Deus. Se ele podia criar o homem do pó, será que não poderia tão facilmente ressuscitar do pó o corpo dos que tinham morrido e transformá-lo em corpo glorioso? 22:30-32 Então o Senhor Jesus apresentou um argumento das Escrituras para mostrar que a res­ surreição é uma necessidade absoluta. Em Êxodo 3:6 Deus se apresentou como o Deus de Abraão [...] Isaque, e [...] Jacó. Não obstante Jesus indicou: Deus não é Deus de mortos e, sim, de vivos. Deus fez pactos com esses homens, mas eles morreram antes de serem totalmente cumpridos. Como é que Deus pode se apresentar como o Deus de três homens cujos corpos estão na sepultura? Como é que ele, que não pode falhar em cumprir suas promessas, cumprirá as que foram feitas a homens que já morreram? Existe só uma resposta: a ressurreição. 22:33 Não é de admirar que as multidões se ma­ ravilhavam da sua doutrina. Nós também! K. O grande mandamento (22:34-40) 22:34-36 Quando os fariseus ouviram que Jesus fi­ zera calar seus antagonistas, os saduceus, reuniramse para uma entrevista. Um deles, intérprete da lei, perguntou qual era o grande mandamento da lei. 22:37-38 De maneira imperiosa, o Senhor Jesus resumiu a obrigação do homem para com Deus como o grande e primeiro mandamento: “Amarás o Se­ nhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda o teu entendimento” . 0 relato de Marcos inclui a frase “de toda a tua força” (Mc 12:30). Isso quer dizer que a primeira obrigação do homem é amar a Deus com a totalidade do seu ser. Como já foi indicado: o coração fala da natureza emocional; a alma, da natureza volitiva; a mente, da natureza intelectual; e a força, da natureza física. 2 2:39-40 Em seguida, Jesus acrescentou que a segunda responsabilidade do homem é “amar o seu próximo como a si mesm o”. Bames diz: “Amor a Deus e ao homem compreende a religião inteira: isso tem sido o desígnio de Moisés, dos profetas, do Salvador e dos apóstolos”. Deveríamos considerar frequentemente as palavras “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” . Deveríamos pensar no quanto nós nos amamos, de quanto da nossa atividade se cen­ traliza ao redor do nosso cuidado e conforto pessoal. Em seguida deveríamos tentar imaginar o que seria se derramássemos aquele amor em nosso próximo. É o que deveríamos pôr logo em prática. Tal comporta­ mento não é natural; é sobrenatural. Somente os que são nascidos de novo podem agir assim, e somente permitindo que Cristo o faça através deles.

L.

O Filho de Davi é o Senhor de Davi (22:41-46) 2 2 :4 1 -4 2 Enquanto os fariseus ainda estavam admirados pela resposta de Jesus ao intérprete da lei, ele apresentou-lhes um problema provocativo: Que pensais vós de Cristo? De quem é Filho? A maior parte dos fariseus não acreditou que Jesus era o Cristo; eles ainda esperavam o Messias. Sendo assim, Jesus não estava perguntando-lhes “Que pensais de mim?” (sem dúvida, isso estava envolvido). Ele estava perguntando, de modo geral, como o Filho, o Messias, seria quando ele aparecesse. Eles responderam corre­ tamente que o Messias seria descendente de Davi. 22:43-44 Em seguida, o Senhor Jesus citou Salmos 110:1, em que Davi disse: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés. 0 primeiro uso da palavra “Senhor” refere-se a Deus, o Pai, e o segundo ao Messias. Assim Davi falou do Messias como seu Senhor. 22:45 Agora Jesus propôs a pergunta: Se Davi, pois, lhe chama Senhor, com o é ele seu filho? A resposta é que o Messias é tanto o Senhor como o Filho de Davi — Deus e homem. Como Deus, ele é o Senhor de Davi; como homem, ele é o Filho de Davi. Se os fariseus estivessem prontos a serem ensina­ dos, eles teriam reconhecido que Jesus era o Messias, o Filho de Davi, através da linhagem de Maria, e o Filho de Deus como revelado por suas palavras, obras e maneiras. 2 2 :4 6 Mas eles se recusaram a ver. Completa­ mente confusos pela sua sabedoria, eles cessaram de tentar enlaçá-lo com perguntas. Daqui por diante eles usariam outro método: a violência. M. Aviso contra conversa altiva e andar fraco (23:1-12) 23:1-4 Nos primeiros versículos desse capítulo, o Sal­ vador alerta as multidões e seus discípulos contra os escribas e os fariseus. Esses líderes se assentavam na cadeira de Moisés, ou ensinavam a lei de Moisés. Geralmente, seus ensinos eram de confiança, mas não sua conduta. 0 seu credo era melhor que suas ações. Era um caso de conversa altiva e andar tíbio. Então Jesus disse: Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. Eles fizeram exigências pesadas (provavelmente interpretações extremas da letra da lei) ao povo, mas 43 (23:9-10) H. G. W eston , Matthew, the Genesis oftheNew Testament, p. 110.

não queriam ajudar alguém a carregar essas cargas intoleráveis. 23:5 Eles praticaram observâncias religiosas para serem vistos pelos homens, e não porque eram since­ ros no íntimo. Um exemplo foi o uso de filactérios. Ao ordenar a Israel atar suas palavras como sinal nas mãos e na testa entre os olhos, Deus queria que a lei estivesse sempre perante eles, guiando suas ativida­ des (Êx 13:9,16; Dt 6:8; 11:18). Eles reduziram essa ordem espiritual a um sentido literal e físico. Colo­ cando porções em cápsulas de couro, eles as ataram na testa ou nos braços. Eles não se importaram em obedecer à lei, enquanto tinham pelo uso de grandes e absurdos filactérios, a aparência de superespirituais. A lei também ordenava aos judeus que usassem borlas presas por cordões azuis nos cantos das vestes (Nm 15:37-41; Dt 22:12). Esses ornamentos distinti­ vos deviam lembrá-los de que eram um povo especial e de que deveriam andar separados das nações. Os fariseus deixaram de lado a lição espiritual e se sa­ tisfizeram alongando suas franjas. 23:6-8 Eles demonstraram sua presunção procu­ rando os lugares de honra nas festas e nas sinago­ gas. Eles nutriram o ego nas saudações nas praças e especialmente gostaram de ser chamados rabi (que quer dizer “o grande” ou “professor”). 2 3 :9 -1 0 Aqui o Senhor alertou os discípulos contra o uso de títulos distintivos que deveriam ser reservados à Divindade. Não devemos ser chama­ dos “rabi” como título distintivo porque só há um Mestre — o Cristo. Não devemos chamar homem algum pai; Deus é o nosso Pai. Weston escreve com discernimento: E uma declaração das relações essenciais do homem para com Deus. Ttês coisas constituem um cristão: o que ele é, o que ele crê, o que ele faz; doutrina, experiência, prática. Para ser espiritual o homem precisa de três coisas: vida, instrução, orientação; justamente o que o Senhor declara nas dez palavras do evangelho: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida”. [...] Não reconheça homem nenhum como Pai, porque nenhum homem pode transmitir ou sustentar vida espiritual; não considere homem algum um mestre infalível; não deixe ninguém assumir o ofício de diretor espiritual; a sua relação com Deus e com Cristo é tão íntima como a de qual­ quer outra pessoa.43 0 sentido óbvio das palavras do Salvador é que, no reino do céu, todos os crentes formam uma fraterni­ dade igualitária, sem ter lugar para títulos distintivos que colocam um acima do outro. Todavia, medite

nos títulos pomposos encontrados no cristianismo de hoje: reverendo, reverendíssimo, padre, e muitos outros. Até o título “doutor”, que parece inofensivo, quer dizer “mestre” no latim. (Esse aviso se aplica claramente às relações espirituais, e não relações naturais, profissionais ou acadêmicas. Por exemplo, isso não proíbe uma criança de chamar seu pai de “pai”, nem um paciente de se dirigir ao seu médico por “doutor”.) Concernente às relações terrenas, a regra é dar a todos o que é devido: “... a quem respeito, respeito; a quem honra, honra” (Rm 13:7). 23:11-12 Mais uma vez o caráter revolucionário do reino do céu é visto no fato de que grandeza ver­ dadeira é o oposto do que o povo supõe. Jesus disse: Mas o maior dentre vós será vosso servo. Quem a si mesmo se exaltar, será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado. Grandeza verdadeira humilha-se para servir. Os fariseus que se exaltam serão humilhados. Discípulos verdadeiros que se humilham serão exaltados no devido tempo. N. Ais contra os escribas e fariseus (23:13-36) O Senhor Jesus pronuncia agora oito ais sobre os religiosos arrogantes e hipócritas de seu tempo. Não são “maldições”, antes, expressões de tristeza do seu destino, semelhantes à expressão “Ai de vós!”. 23:13 0 primeiro ai é dirigido contra a obstinação e obstrucionismo. Eles mesmos recusaram entrar no reino e agressivamente impediram outros de entrar. Estranhamente, muitas vezes líderes religiosos são os mais ativos antagonistas do evangelho da graça. Eles podem ser agradavelmente tolerantes com tudo, menos com as boas-novas de salvação. 0 homem natural não quer ser o objeto da graça de Deus e não quer que Deus seja gracioso com os outros. 2 3 :1 4 0 segundo ai44 denuncia a apropriação das casas de viúvas e o porquê de fazerem longas orações. Algumas seitas modernas usam técnica semelhante, obrigando viúvas idosas, e às vezes des­ crentes sem discernimento, a doar sua propriedade à “igreja”. Tais aspirantes à piedade sofrerão juízo muito mais severo. 23:15 A terceira acusação contra eles é zelo mal orientado. Usavam métodos inimagináveis para con­ seguir um prosélito, mas depois de ser ganho, faziam-no duas vezes mais amaldiçoado que eles. Uma analogia moderna é o zelo das seitas falsas. Certo grupo eStá pronto para bater nas setecentas portas a fim de alcançar uma pessoa para a sua causa, mas o resultado final é maldição. Como alguém disse: “A pessoa mais convertida muitas vezes se toma a pessoa mais pervertida”. 23:16-22 Em quarto lugar, o Senhor denunciou seus sofismas, ou raciocínio deliberadamente deso­

nesto. Eles edificaram um sistema falso de raciocínio para evitar o pagamento de votos. Por exemplo, ensinaram que se jurasse pelo templo não tinha a obrigação de pagar, mas se jurasse pelo ouro do templo ficava obrigado apagar o voto. Eles disseram que jurar pela dádiva no altar era obrigatório, mas jurar pelo altar vazio não. Assim colocaram mais valor no ouro que em Deus (o templo era a casa de Deus), e a dádiva no altar (riqueza de alguma forma) acima do próprio altar. Eles estavam mais interes­ sados no material que no espiritual. Estavam mais interessados em adquirir (a dádiva) que em dar (o altar era o lugar de dar). Chamando-lhes guias cegos, Jesus expôs o sofisma deles. O ouro do templo adquiriu valor especial somente por causa de ser associado com a casa de Deus. Era o altar que dava valor à dádiva sobre ele. Pessoas que pensam que o ouro tem valor intrínseco são cegas; tem valor somente quando é usado para a glória de Deus. Dádivas oferecidas com motivos carnais são sem valor; as oferecidas ao Senhor ou no nome do Senhor têm valor etemo. 0 fato é que, por tudo quanto os fariseus juravam, Deus estava envolvido e eram obrigados a cumprir o voto. 0 homem não pode escapar das suas obrigações por raciocínios plausíveis. Os votos são obrigatórios e as promessas devem ser cumpridas. Não adianta apelar ao tecnicismo para evitar obrigações. 2 3 :2 3 -2 4 0 quinto ai é contra ritualismo sem realidade. Os escribas e fariseus eram escrupulosos em dar ao Senhor um dízimo das ervas mais insigni­ ficantes que cultivavam. Jesus não os condenou por esse cuidado de pequenos detalhes de obediência, mas ele os denunciava por serem completamente inescrupulosos quando deveriam mostrar justiça, misericórdia e fidelidade aos outros. Usando uma figura de linguagem insuperável por sua expressi­ vidade, Jesus descreveu-os coando um mosquito e engolindo um camelo. 0 mosquito, um pequeno inseto que caía muitas vezes num copo de vinho doce, era coado sugando-se o vinho através dos dentes. Quão ridículo tomar tanto cuidado com o insignificante, e depois engolir o animal maior e mais imundo na Palestina! Os fariseus colocaram muita importância nas minúcias, mas estavam absolutamente cegos com respeito aos grandes pecados como hipocrisia, desonestidade, crueldade e ganância. Eles tinham perdido o sentido de proporção. 23:25-26 0 sexto ai diz respeito à exterioridade. Os fariseus, cuidadosos em manter uma aparência exterior de religiosidade e moralidade, tinham o

coração cheio de rapina e intem perança.45 Eles deveriam limpar primeiro o interior do copo e do prato (RC), isto é, certificar que os seus corações estavam purificados pelo arrependimento e fé. Só assim o comportamento deles perante os outros seria aceitável. Há uma diferença entre nossa pes­ soa e nossa personalidade. Temos a tendência de enfatizar a personalidade — o que queremos que os outros pensem de nós. Deus enfatiza a pessoa — o que realmente somos. Ele deseja a verdade no íntimo (SI 51:6). 23:2 7-28 0 sétimo ai também é contra a exterioridade. A diferença é que o sexto ai castiga o encobrimento da avareza, enquanto o sétimo con­ dena o encobrimento da hipocrisia e iniqüidade. Os sepulcros eram caiados para que os judeus não tocassem neles por acidente e assim ficassem imun­ dos cerimonialmente. Jesus assemelhou os escribas e fariseus aos sepulcros caiados, que pareciam limpos por fora, mas eram cheios de corrupção por dentro. Os homens pensaram que estando em conta­ to com esses líderes religiosos seriam santificados, mas de fato era uma experiência que contaminava, porque eram cheios de hipocrisia e iniqüidade. 2 3 :29-30 0 ai final é contra o que poderíamos qualificar como homenagem aparente e homicídio interno. Os escribas e fariseus alegavam honrar os profetas do AT edificando e/ou remendando os túmulos e colocando coroas nos seus monumentos. Nos discursos memoriais, eles diziam que não te­ riam sido cúmplices dos seus pais na morte dos profetas. 23:31 Jesus lhes disse: Assim, contra vós mes­ mos testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. Mas como é que eles testemunhavam isso? Quase dá a impressão no versículo anterior de que eles se desassociavam dos seus pais que mataram os profetas. Em primeiro lugar, admitiram que seus pais, dos quais eram filhos físicos, derramaram o sangue dos profetas. Mas Jesus usou a palavra filhos no sentido de pessoas com as mesmas características. Ele sabia que, mesmo quando eles decoravam os se­ pulcros dos profetas, estavam conspirando sua morte. Em segundo lugar, ao mostrar tal respeito para com os profetas mortos, eles diziam: “Os únicos profetas de que gostamos são os mortos”. Nesse sentido tam­ bém eram filhos dos seus pais. 23:32 Em seguida o Senhor disse: Enchei vós, pois, a medida de vossos pais. Os pais tinham enchi­

45 (23:25-26) 0 texto majoritário (M) lê injustiça (adikia) por intem­ perança (iakrasia).

do parcialmente o copo de assassinato por matar os profetas. Os escribas e fariseus logo o encheriam até a borda matando o Senhor Jesus e seus seguidores, assim chegando a um terrível clímax naquilo que seus pais começaram. 23:33 Nesse instante, o Cristo de Deus profere aquelas palavras trovejantes: Serpentes, raça de ví­ boras! Como escapareis da condenação do infemo? Será que o Amor encarnado pode dizer tais palavras flamejantes? Sim, porque o verdadeiro amor deve também ser justo e santo. A concepção popular de Jesus como um reformador inofensivo, sem emoção, mas apenas amor, é antibíblica. O amor pode ser firme e deve ser sempre justo. É importante lembrar que essas palavras de conde­ nação eram atiradas aos líderes religiosos, e não aos beberrões e réprobos. Em um dia ecumênico, quando alguns crentes evangélicos estão unindo as forças com inimigos reconhecidos da cruz de Cristo, é bom ponderar no exemplo de Jesus, e lembrar as palavras de Jeú a Josafá: “Devias tu ajudar ao perverso e amar aqueles que aborrecem o SENHOR?” (2Cr 19:2). 23:34-35 Jesus não somente previa a própria mor­ te; ele falou claramente para os escribas e fariseus que eles matariam alguns dos mensageiros que ele enviaria — profetas, sábios e escribas. Alguns que escapariam ao martírio seriam açoitados nas sinago­ gas e perseguidos de cidade em cidade. Assim, os líderes religiosos de Israel amontoariam sobre si a culpa acumulada da história de martírio. Sobre eles recairia todo o sangue justo derramado sobre a ter­ ra de [...] Abel [...] até [...] Zacarias (que não deve ser confundido com o autor do livro homônimo do AT), cujamorte está registrada em 2Crônicas 24:20-21, no último livro da ordem hebraica da Bíblia. 23:36 Toda a culpa do passado cairia sobre a gera­ ção ou raça à qual Cristo estava falando, como se todo o derramamento de sangue inocente anteriormente de alguma maneira se juntasse chegando ao apogeu na morte do impecável Salvador. Uma torrente de puni­ ção seria derramada na nação que odiava o Messias sem causa e o pregaria na cruz de um criminoso. O. Jesus lamenta sobre Jerusalém (23:37-39) 23:37 E bem significante que o capítulo que, mais que qualquer outro, contém os ais do Senhor Jesus termine com suas lágrimas! Depois de sua forte de­ núncia dos fariseus, ele profere um lamento pungente sobre a cidade de oportunidade perdida. A repetição do nome “ O Jerusalém, Jerusalém” é dirigida com emoção incalculável. Ela tinha matado os profetas e apedrejado os que foram enviados, mesmo assim o Senhor a amava, e quantas vezes com amor e prote­

ção teria reunido os seus filhos a si, como a galinha ajunta os seus pintinhos, mas ela não quis. 23:38 Ao terminar seu lamento, o Senhor Jesus disse: Eis que a vossa casa vos ficará deserta. Primariamente, a casa aqui é o templo, mas pode também incluir a cidade de Jerusalém e a própria nação. Haveria um intervalo entre sua morte e a se­ gunda vinda, durante o qual o descrente Israel não o veria (depois da sua ressurreição ele foi visto somente pelos crentes). 23:39 0 versículo 39 antecipa o segundo advento, quando uma porção crente de Israel o aceitará como o Messias-Rei. Essa aceitação é implícita nas palavras: Bendito o que vem em nome do Senhor. Não há sugestão de que os que mataram a Cristo terão uma segunda oportunidade. Ele estava falando de Jerusalém, e assim, pela metonímia, dos seus habitantes e de Israel em geral. A próxima vez que os habitantes de Israel o veriam depois da sua morte seria quando eles olhassem aquele a quem traspassaram e pranteassem por um unigênito (Zc 12:10). Na avaliação judaica não há pranto tão amargo como aquele por um unigênito.

XIII.

O discurso do Rei no monte das Oliveiras (24— 25)

Os capítulos 24 e 25 formam o que é conhecido como “Discurso do monte das Oliveiras”, porque foi pronunciado nesse local. Esse importante discurso é inteiramente profético; ele aponta para o período da tribulação e da segunda vinda do Senhor. Primei­ ramente, mas não exclusivamente, afeta a nação de Israel. Sua localidade obviamente é a Palestina; por exemplo: “... os que estiverem na Judeia fujam para os montes” (24:16). O cenário é distintamente judaico; por exemplo: “Orai para que a vossa fuga não se dê [...] no sábado” (24:20). A referência aos escolhidos (24:22) deveria ser entendida como os judeus escolhi­ dos de Deus, e não a Igreja. Não se acha a Igreja nem nas profecias nem nas pa­ rábolas do discurso, como tentaremos demonstrar. A. Jesus prediz a destruição do templo (24:1-2) O discurso é introduzido pela declaração significante: Tendo Jesus saído do templo, ia-se retirando. Esse movimento é especialmente significativo em vista das palavras que ele acabara de proferir: “... a vossa casa vos ficará deserta” (23:38). Isso nos lembra a descrição de Ezequiel da glória se levantando do templo (Ez 9:3; 10:4; 11:23). Os discípulos queriam que o Senhor apreciasse com eles a beleza arquitetônica do templo. Eles estavam ocupados com o transitório em vez do etemal, inte­

ressados nas sombras e não na essência. Jesus avisou que o edifício seria tão completamente destruído que não ficaria pedra sobre pedra. Tito tentou salvar o templo, mas não conseguiu, pois seus soldados puseram fogo, assim cumprindo a profecia de Cris­ to. Quando o fogo derreteu a decoração de ouro, o metal derretido correu entre as pedras. Para poder alcançá-lo, os soldados precisavam remover as pedras uma por uma, justamente como o Senhor profetizou. Esse julgamento foi executado em 70 d.C. quando os romanos sob Tito saquearam Jerusalém. B. A primeira metade da tribulação (24:3-14) 2 4:3 Depois que Jesus tinha atravessado para o monte de Oliveiras, os discípulos se aproximaram dele em particular e fizeram três perguntas: 1. Quando estas coisas sucederiam, isto é, quando o templo seria destruído? 2. Que sinal haveria da sua vinda, isto é, qual evento sobrenatural precederia sua volta à terra para instalar o reino? 3. Que seria o sinal da consumação do século, isto é, o que anunciaria o fim do tempo imediatamente antes do seu reino glorioso? (A segunda e a terceira perguntas são essencialmente a mesma). Devemos lembrar que os pensamentos desses discípulos judeus giravam ao redor da época gloriosa do Messias na terra. Eles não estavam pensando na vinda de Cristo para a Igreja; eles sabiam pouco ou nada acerca dessa fase da sua vinda. Sua expectativa era a sua vinda em poder e glória para destruir seus inimigos e reinar sobre o mundo. Também deveríamos ter a certeza de que eles não estavam falando do fim do mundo (como na RC), mas do fim do século (grego aioh). A primeira pergunta não é respondida diretamente. Antes o Salvador parece fundir o cerco de Jerusalém em 70 d.C. (cf. Lc 21:20-24) com um cerco semelhante que ocorrerá nos últimos dias. No estudo de profecia, muitas vezes vemos o Senhor indo quase imperceptivelmente de um cumprimento precoce e parcial a um cumprimento posterior e final. A segunda e a terceira pergunta são respondidas em 24:4-44. Esses versículos descrevem o período de sete anos da tribulação que precederá o advento glorioso de Cristo. Os primeiros três anos e meio são descritos nos versículos 4-14. Os últimos três anos e meio, conhe­ cidos como “grande tribulação” e “tempo de angústia parajacó” (Jr 30:7), será um tempo de sofrimento sem precedente para os que estão na terra. Muitas das condições que caracterizam a primeira metade da tribulação têm existido de uma maneira

ou de outra na história da humanidade, mas apare­ cerão de forma muito intensificada durante o período em análise. Aos da Igreja foram prometidas aflições (Jo 16:33), mas isso é bem diferente da tribulação que será derramada sobre um mundo que rejeitou o Filho de Deus. Cremos que a Igreja será retirada do mundo (lTs 4:13-18) antes do início do dia da ira de Deus (lTs 1:10; 5:9; 2Ts 2:1-12; Ap 3:10). 24:4-5 Durante a primeira metade da tribulação, muitos falsos messias aparecerão e conseguirão en­ ganar as multidões. O aparecimento atual de muitas falsas seitas pode ser um prelúdio para isto, mas não é um cumprimento. Esses falsos líderes religiosos serão judeus alegando ser o Cristo. 24 :6-7 Haverá guerras e rumores de guerras. Nação levantará contra nação, e reino contra reino. Seria fácil pensar que estamos vendo essas coisas sendo cumpridas hoje, mas o que encon­ tramos é leve em comparação ao que acontecerá. Realmente o próximo evento no calendário de Deus é o arrebatamento da Igreja (Jo 14:1-6; ICo 15:51-57). Não há profecia para ser cumprida antes disso. De­ pois que a Igreja for removida, o relógio profético de Deus começará e essas condições se manifestarão rapidamente. Fomes, pestilências e terrem otos sucederão em várias partes da terra. Mesmo hoje, os líderes do mundo estão ficando inquietos pela aparição de fome por meio da explosão populacional. Mas isso será acentuado pelas deficiências causadas pelas guerras. Terremotos estão atraindo um aumento de aten­ ção — não somente os que estão acontecendo, mas os que são esperados. Mais uma vez, esses são palha no vento (sinais), e não o atual cumprimento das palavras do nosso Salvador. 24 :8 O versículo 8 identifica claramente esse período como o princípio das dores — o princípio de dores de parto que trarão uma nova ordem sob o Messias-Rei de Israel. 24:9-10 Crentes fiéis experimentarão a grande prova pessoal durante a tribulação. As nações diri­ girão uma amarga campanha de ódio contra todos os que são fiéis a ele. Não somente serão investigados nos tribunais religiosos e de justiça (Mc 13:9), mas muitos serão martirizados porque se recusarão a retratar-se. Visto que tais provas têm acontecido durante todos os períodos de testemunho cristão, aqui parece ter referência particular aos 144 mil crentes judeus que terão um ministério especial durante esse período. Muitos apostatarão em vez de sofrer e morrer. Membros da família denunciarão seus parentes e

haverão de traí-los, entregando-os nas mãos de perseguidores brutais. 24:11 Muitos falsos profetas se levantarão e enganarão multidões. Eles não podem ser confun­ didos com os falsos messias do versículo 5. Falsos profetas alegam ser porta-vozes de Deus. Eles podem ser descobertos de duas maneiras: suas profecias nem sempre acontecem e seus ensinos sempre levam os homens para longe do Deus verdadeiro. A menção de falsos profetas aumenta a confirmação de nossa declaração de que a tribulação é inicialmente judai­ ca em caráter. Falsos profetas são associados com a nação de Israel; na Igreja o perigo vem de falsos mestres (2Pe 2:1). 24:12 Com a maldade prevalecente, afeições hu­ manas serão menos evidentes. Atos sem amor serão comuns. 24:13 Aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo. Obviamente, isso não quer dizer que as almas dos homens serão salvas naquele tempo pela sua constância; a salvação é sempre apresentada na Bíblia como um dom da graça de Deus, recebida pela fé na morte substitutiva e na ressurreição de Cristo. Nem pode significar que todos os que perseveram escaparão de danos físicos (já aprendemos que muitos crentes serão martirizados — v. 9). É uma declaração geral de que os que ficarem firmes, suportando per­ seguição sem apostatar, serão liberados no segundo advento de Cristo. Ninguém deveria imaginar que apostasia será um meio de escape ou segurança. Somente os que têm fé verdadeira serão salvos. Embora a fé salvadora possa ter lapsos, sempre tem a qualidade de permanência. 2 4 :1 4 Durante esse período, o evangelho do reino será proclamado por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Como foi explicado nos comentários de 4:23, o evangelho do reino são as boas-novas de que Cristo vem para estabelecer seu reino na terra, e que os que o receberem pela fé durante a tribulação desfrutarão as bênçãos do seu reino milenário. 0 versículo 14 muitas vezes é usado erroneamente para mostrar que Cristo não poderia voltar para a Igreja a qualquer momento porque tantas tribos ainda não ouviram o evangelho. A dificuldade é removida quando reconhecemos que isso se refere à sua vinda com os santos, e não para os santos. E isso se refere ao evangelho do reino, não ao evangelho da graça de Deus (cf. os comentários de 4:23). Há um paralelo impressionante entre os eventos registrados nos versículos 3-14 e os de Apocalipse 6:1-11. O cavaleiro no cavalo branco (messias falso); o cavaleiro no cavalo vermelho (guerra); o cavaleiro no cavalo preto (fome); o cavaleiro no cavalo amarelo

(pestilência ou morte). As almas debaixo do altar são os mártires. Os eventos descritos em Apocalipse 6:12-17 são ligados com os de Mateus 24:19-31. C. A grande tribulação (24:15-28) 24:15 Nesse ponto chegamos ao meio da tribulação. Sabemos isso comparando o versículo 15 com Daniel 9:27. Daniel predisse que no meio da septuagésima semana, isto é, no fim de três anos e meio, uma imagem idólatra seria elevada no lugar santo, quer dizer, o templo em Jerusalém. A todos será ordenado adorar essa imagem abominável. Se não cumprirem essa ordem, serão mortos (Ap 13:15). Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda). A montagem do ídolo será o sinal para os que conhecem a palavra de Deus de que a grande tribulação começou. Note que o Senhor quer que aquele que ler a profecia entenda. 24:16 Os que estiverem na Judeia fujam para os montes; perto de Jerusalém a recusa de adorar a imagem seria descoberta rapidamente. 24:17-19 A maior pressa será necessária. Se um homem estiver sobre o eirado, não deverá descer para tirar de casa alguma coisa. O tempo gasto em juntar pertences poderá ser a diferença entre a vida e a morte. 0 homem trabalhando no campo não deverá voltar para buscar a sua roupa, onde quer que ele a tenha deixado. Grávidas e as que amamentam terão uma desvantagem distinta — será difícil para elas escapar rapidamente. 24:20 Os crentes deveriam orar para que a crise não venha no inverno com os adicionais perigos, e que não seja no sábado, quando a distância que poderiam viajar seria limitada pela lei (Êx 16:29). A viagem de um sábado não seria bastante para levá-los para longe da zona de perigo. 24:21 Porque nesse tempo haverá grande tri­ bulação, com o desde o princípio do mundo até agora não tem havido, e nem haverá jamais. Essa descrição isola o período de todas as inquisições, devastações e purgações, e de todos os massacres e genocídios da história. Essa profecia não poderia ser cumprida por quaisquer perseguições anteriores porque é claramente declarado que terminará pela segunda vinda de Cristo. 24:22 A tribulação será tão intensa que, se não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo. Isso não pode significar que a grande tribulação, tantas vezes especificada sua duração de três anos e meio, será encurtada. Provavelmente significa que Deus encurtará milagrosamente as ho­ ras da luz do dia — pois é nesse período que ocorre

a maior parte do combate e da matança. Por causa dos escolhidos (os que receberam Jesus), o Senhor concederá o descanso das prematuras trevas. 24:23-26 Os versículos 23-24 contêm avisos re­ novados contra falsos messias e falsos profetas. Numa atmosfera de crise, notícias circularão de que o Messias está em algum local secreto. Tais notícias poderiam ser usadas para enlaçar os que sinceramen­ te e com amor esperam o Cristo. Por isso o Senhor alerta todos os discípulos para não acreditarem em notícias de um advento local e secreto. Mesmo os que efetuam milagres não são necessariamente de Deus; milagres podem ser satânicos em origem. Ao “homem do pecado” será dado poder satânico para efetuar milagres (2Ts 2:9-10). 24:27 0 advento de Cristo será inconfundível — será de repente, público, universal e glorioso. Como o relâmpago, será instantânea e claramente visível a todos. 24:28 Nenhuma corrupção moral escapará à sua fúria e ao seu julgamento. Porque onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres. 0 cadáver descreve o judaísmo e a cristandade apóstatas e o sistema do mundo inteiro que está em oposição a Deus e seu Cristo. As águias ou abutres tipificam os julgamentos de Deus que serão descarregados em associação com o aparecimento do Messias. D. O segundo advento (24:29-31) 24:29 Ao fim da grande tribulação haverá terríveis distúrbios nos céus. O sol escurecerá, e já que a luz da lua é somente um reflexo da luz do sol a lua não dará claridade. As estrelas cairão do firmamento e os planetas sairão de suas órbitas. É desnecessário dizer que tais distúrbios cósmicos afetarão o tempo, as marés e as estações na Terra. Uma pequena ideia do que pode acontecer é dada na descrição de Velikovsky do que aconteceria se um corpo celeste chegasse a terra e a fizesse tombar no seu eixo: Naquele momento um terremoto faria a terra tremer. Ar e água continuariam a se movimentar através da inércia; furacões passariam sobre a terra e os oceanos correriam com ímpeto so­ bre os continentes, levando cascalho e areia e animais marinhos, e jogando-os na terra. Calor se desenvolveria, rochas derreteriam, vulcões estourariam, lava jorraria das fendas na terra rachada e cobriria vastas áreas. Montanhas erigiriam das planícies, viajariam e subiriam nos ombros de outras montanhas, causando falhas e fendas. Lagoas seriam inclinadas e esvaziadas,

rios mudariam os leitos; grandes áreas de terra com os habitantes desapareceriam sob o mar. As florestas incendiariam e furacão e mares bravos as arrancariam de onde cresceram e as amon­ toariam, galhos e raízes, em grandes montes. Os mares se tornariam desertos e suas águas desapareceriam.46 24:30 Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem. Não somos informados de que sinal será esse. 0 primeiro advento foi acompanhado por um sinal no céu: a estrela. Talvez uma estrela milagrosa anunciará também a segunda vinda. Alguns pensam que o Filho do Homem mesmo é o sinal. Seja qual for a interpretação, será claro para todos quando aparecer. Todos os povos da terra se lamentarão, sem dúvida por o terem rejeitado. Mas primeiramente as tribos da ferra47 lamentarão (as doze tribos de Isra­ el): “... olharão para mim, a quem traspassaram; e o prantearão como quem pranteia por um unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amar­ gamente pelo primogênito” (Zc 12:10, RC). Depois, eles verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória. Que momento maravilhoso! Aquele no qual cuspiram e a quem crucificaram será vindicado como o Senhor da vida e da glória. 0 manso e meigo Jesus aparecerá como o próprio Jeová. 0 Cordeiro sacrificial descerá como Leão vencedor. O desprezado carpinteiro de Nazaré virá como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Suas carruagens serão as nuvens dos céus. Ele virá em régio poder e resplendor — o momento pelo qual a criação tem gemido por milhares de anos. 24:31 Quando descer, ele enviará os seus anjos por toda parte da terra para reunir os seus escolhi­ dos, o crente Israel, na terra da Palestina. De toda parte da terra se ajuntarão para encontrar o seu Messias e desfrutar do seu glorioso reino. E. A parábola da figueira (24:32-35) 24:32 Aprendei, pois, a parábola da figueira. Mais uma vez o Senhor tira uma lição espiritual da nature­ za. Quando os ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão. Temos visto que a figueira tipifica a nação de Israel (21:18-22). Por cente­ nas de anos Israel tem estado dormente, sem governo próprio, terra, templo, sacerdócio, sem sinal de vida nacional. 0 povo tem estado espalhado pelo mundo.

16 (24:29) I. V elikovsky ,Earth in Upheaval, p. 136. 47 (24:30) A palavra terra tanto em português quanto em grego (ge, compare com o prefixo português “geo”) pode significar “terra” e “território”. 43 (24:34) E W. Grast, “Matthew” NumericalBíble, The Gospels, p. 230.

Em 1948, Israel tornou-se uma nação com terra própria, governo, moeda, selos etc. Espiritualmente, a nação ainda é estéril e fria; não há fruto para Deus. Mas, nacionalmente, podemos dizer que seus ramos são verdes e tenros. 24:33 Assim também vós, quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas. A aparição de Israel como nação não somente quer dizer que o começo da tribulação está perto, mas que o mesmo Senhor está perto, às portas! Se a chegada de Cristo para reinar está tão perto, quanto mais iminente é o arrebatamento da Igreja! Se já enxergamos sombras dos acontecimentos que devem anteceder sua aparição em glória, quanto mais perto estamos da primeira fase da sua parousia ou advento (lTs 4:13-18)! 24:34 Depois de mencionar a figueira, Jesus acres­ centou: Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. A expressão esta geração não poderia significar os que viviam quando Cristo estava na terra; todos já morreram, mas os acontecimentos do capítulo 24 não acon­ teceram. Então, o que Jesus queria dizer por esta geração? Há duas explicações plausíveis. E W. Grant e outros creem que a ideia é: “A mesma geração que vir o começo dessas coisas verá o fim”.48 Os mesmos que virem Israel levantar como nação (ou os que virem o começo da tribulação) verão o Senhor Jesus vindo nas nuvens do céu para reinar. A outra explicação é que geração deveria ser entendida como raça. Essa é uma tradução legítima da palavra grega; tem em vista os homens da mesma origem, criação ou família (Mt 12:45; 23:35-36). Assim Jesus estava profetizando que a raça judaica sobreviveria para ver essas coisas realizadas. Sua sobrevivência, apesar da terrível perseguição, é um milagre histórico. Mas penso que há outra sugestão. Nos dias de Jesus “esta geração” era uma raça que firmemente recusou reconhecê-lo como Messias. Eu creio que ele estava profetizando que o Israel nacional continuaria na sua condição de rejeitar a Cristo até sua segunda vinda. Então, toda a rebelião será esmagada, e so­ mente os que se submeterem voluntariamente ao seu reino serão poupados para entrar no milênio. 24:35 Para enfatizar o caráter infalível das suas profecias, Jesus acrescentou que o céu e a terra passariam, porém as suas palavras não passa­ riam. Ao falar sobre o céu passando, ele se referia aos céus astrais e atmosféricos (o firmamento azul acima de nós), não ao céu que é a morada de Deus (2Co 12:2-4). A dissolução do céu e da terra é des­ crita em 2Pedro 3:10-13 e mencionada outra vez em Apocalipse 20:11.

F. Dia e hora desconhecidos (24:36-44) 24:36 0 dia e a hora exata da sua segunda vinda nin­ guém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho,49 mas somente o meu Pai. Isso deveria nos prevenir contra a tentação de marcar datas ou crer naqueles que assim o fazem. Enquanto os que estão vivos antes da volta de Cristo não conhecerão o dia ou a hora, parece que os que têm conhecimento da profecia poderiam ser capazes de saber o ano. Saberão, por exemplo, que será aproximadamente três anos e meio depois da imagem do ídolo ser erguido no templo (Dn 9:27; cf. tb. Dn 7:25; 12:7,11; Ap 11:2-3; 12:14; 13:5). 24:37-39 Naqueles dias, porém, a maioria será indiferente, como nos dias de Noé. Apesar do fato de que os dias antes do dilúvio foram muito perversos, não é o aspecto enfatizado aqui. 0 povo comia, bebia, casava e dava-se em casamento; enfim, vivia como se fosse viver para sempre. Apesar de ser avisado de que um dilúvio vinha, eles viviam como se fossem isentos dos perigos do dilúvio. Quando aconteceu, eles estavam desprevenidos, fora do único lugar de segurança. Será assim quando Cristo voltar. Somente os que estão em Cristo, a arca da segurança, serão salvos. 24:40-41 Dois estarão no campo; um será toma­ do em julgamento, o outro será deixado para entrar no milênio. Duas estarão trabalhando num moinho, serão instantaneamente separadas. Uma será levada pela enchente do julgamento; a outra, deixada para usufruir as bênçãos do reino de Cristo. (Os versículos 40 e 41 são usados muitas vezes como aviso para os descrentes, em referência ao arrebatamento — a primeira fase da vinda de Cristo, quando ele levará os crentes para o céu e deixará os descrentes para trás, para julgamento. Embora pudesse ser uma aplicação válida da passagem, o contexto deixa bem claro que a interpretação é em relação à vinda de Cristo para reinar). 24:42-44 Em vista da incerteza do dia e da hora, os homens devem vigiar. Se alguém sabe que a sua casa será roubada, estará pronto, mesmo não sabendo o tempo exato. 0 Filho do Homem virá quando menos esperado pela maioria. Sendo assim, seu povo deveria estar com vivida expectativa. G.

A parábola dos servos sábios e maus (24:45-51) 24:45-47 Na divisão final desse capítulo, o Senhor Jesus mostra que um servo manifesta seu verdadeiro caráter pelo seu comportamento enquanto espera a volta do Senhor. Todos os servos devem alimentar a família no devido tempo. Mas nem todos os que pro­ fessam ser servos de Cristo são servos genuínos.

O servo sábio é aquele que é achado cuidando do povo de Deus. 0 tal será honrado com grande res­ ponsabilidade no reino. 0 mestre lhe confiará todos os seus bens. 2 4 :4 8 -5 1 0 servo mau representa um crente nominal, cujo comportamento não é orientado pela antecipação da breve volta do Senhor. Ele passa a espancar os seus companheiros, e a comer e beber com ébrios. Tal comportamento demonstra que ele não está pronto para o reino. Quando o Rei vier, ele castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócri­ tas, onde choram e rangem os dentes. Essa parábola se refere à volta visível de Cris­ to para a terra como Messias-Rei. Mas o princípio aplica-se de igual modo ao arrebatamento. Muitos que professam ser cristãos mostram, pela sua hostilidade para com o povo de Deus e a sua confraternização com os pecadores, que não estão esperando a volta de Cristo. Para eles significará julgamento, e não bênção. H. A parábola das dez virgens (25:1-13) 25:1-5 A primeira palavra (Então) refere-se ao capí­ tulo 24 e coloca essa parábola claramente no tempo antes e durante a volta do Rei à terra. Jesus compara o reino dos céus naquele tempo a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo. Cinco entre elas eram prudentes e tinham azeite para suas lâmpadas; as outras, não. Enquanto esperavam, todos adormeceram. As cinco prudentes representam discípulos ver­ dadeiros de Cristo durante a tribulação. As lâmpa­ das falam de confissão de fé, e azeite é geralmente reconhecido como uma figura do Espírito Santo. As néscias representam os que professam aderir à es­ perança messiânica, mas que nunca se converteram e, assim, não possuem o Espírito Santo. O noivo é Cristo, o Rei; a sua demora simboliza o período entre os dois adventos. 0 fato de que todas as dez virgens adormeceram mostra que aparentemente não há muito para diferenciá-las. 2 5 :6 À meia-noite se ouviu um grito de que o noivo estava chegando. No capítulo anterior apren­ demos que a chegada dele será anunciada por sinais pavorosos. 25:7-9 As virgens se levantam e preparam as suas lâmpadas — todas queriam parecer prontas. As néscias, faltando azeite, pediram-no às outras, mas foram enviadas a comprar. A recusa das prudentes

49 (24:36) 0 texto crítico (NU) acrescenta “ném o Filho”, seguido pelas principais traduções em português.

parece egoísta, mas no reino espiritual ninguém pode transmitir o Espírito a outra pessoa. Na verdade, o Espírito Santo não pode ser comprado, mas a Bíblia usa a figura literária de comprar a salvação sem dinheiro e sem preço. 2 5 :10 -1 2 E saindo elas, chegou o noivo. As versões Siríaca e Vulgata dizem que ele chegou acom­ panhado da sua noiva. Isso se encaixa no quadro profético perfeitamente. 0 Senhor Jesus voltará das bodas com sua noiva, a Igreja (lTs 3:13). As bodas ocorrem no céu (Ef 5:27), depois do arrebatamento. 0 remanescente fiel dos santos da tribulação entrará com ele na ceia das bodas. A ceia das bodas é uma designação apropriada ao deleite e à bênção do reino terrestre de Cristo. As prudentes entraram com ele nas bodas (ou “festa"), e fechou-se a porta. Era tarde demais para qualquer outro entrar no reino. Quando as outras virgens chegaram procurando entrar, o noivo negou conhecê-las — prova clara de que nunca foram nascidas de novo. 25:13 A lição, disse Jesus, era vigiar, porque o dia e a hora da sua vinda são desconhecidos. Os crentes deveriam viver como se o Senhor viesse a qualquer momento. Será que nossas lâmpadas estão preparadas e cheias de azeite? I. A parábola dos talentos (25:14-30) 25:14-18 Essa parábola também ensina que quando o Senhor voltar haverá servos verdadeiros e falsos. A história gira ao redor de um homem que, antes de ausentar-se do país, chamou os seus servos e deu a cada um diversas quantidades de dinheiro, conforme a sua própria capacidade. Um recebeu cinco talentos, outro recebeu dois, e o último um. Eles tinham de negociar com esse dinheiro para trazer renda ao mestre. 0 homem com cinco ganhou outros cinco talentos. 0 homem com dois dobrou os seus. Mas o homem com um, saindo, abriu uma cova e o escondeu. Não é difícil ver que Cristo é o Mestre, e a viagem longa é o período entre os adventos. Os três servos são israelitas vivendo durante a tribulação, res­ ponsáveis por representar os interesses do Senhor ausente. A eles é dada responsabilidade conforme suas capacidades individuais. 25:19-23 Depois de muito tempo, voltou o se­ nhor daqueles servos e ajustou contas com eles. Isso descreve o segundo advento. Os primeiros dois receberam a mesma recomendação: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. A prova do seu serviço não foi quanto eles ganharam, mas o grau do seu esforço. Cada um usou sua capacidade

ao limite e ganhou 100%. Esses representam crentes verdadeiros cuja recompensa é desfrutar as bênçãos do reino messiânico. 25:24-25 0 terceiro servo não tinha nada mais que insultos e desculpas para o mestre. Ele o acusou de ser severo e injusto: ceifas onde não semeaste, e ajuntas onde não espalhaste. Desculpou-se so­ bre a base de que enterrou o talento porque ficara paralisado e com medo. Esse servo, sem dúvida, era descrente; nenhum servo genuíno cogitaria tais pensamentos acerca do mestre. 25:26-27 0 senhor o repreendeu como mau e ne­ gligente. Tendo tais pensamentos do seu mestre, por que ele não entregou o seu dinheiro aos banqueiros para ganhar juros? De fato, no versículo 26, o mestre não está concordando com as acusações feitas contra ele. Antes, ele está dizendo: “Se esse é o tipo de mes­ tre que você pensa que eu sou, há mais razão ainda para pôr o seu talento para render. Suas palavras não o desculpam, mas condenam você”. 2 5 :2 8 -2 9 Se esse homem tivesse ganhado um talento com o talento de que dispunha, teria recebido a mesma recomendação dos outros. Em vez disso, ele só podia mostrar um buraco no chão! Seu talento foi tirado e dado ao homem com dez talentos. Assim se­ gue uma lei fixa no reino espiritual: Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Aos que desejam ser usados para a glória de Deus são dados os meios. Quanto mais fazem, mais são capacitados a fazer para ele. Reciprocamente, perdemos o que não usamos. Atrofia é a recompensa da indolência. A menção “aos banqueiros” no versículo 27 sugere que se não podemos usar nossas possessões para o Senhor, deveríamos entregá-las aos que podem. Os banqueiros, nesse caso, podem ser missionários, sociedades bíblicas, editoras cristãs, programas radiofônicos evangélicos etc. Em um mundo como o nosso, não há desculpa para deixar o dinheiro sem funcionar. Pierson nos ajuda recomendando: Pessoas tímidas, incapazes de servir arrojada e independentemente em favor do reino, podem unir sua incapacidade à capacidade e sagacidade de outros que usarão seus dons e suas posses­ sões para o Mestre e para a Igreja dele. [...] 0 administrador tem dinheiro, ou talvez outras dádivas, que pode ser usado, mas lhe falta fé e antevisão, energia, prática e sabedoria. Os “banqueiros” do Senhor podem mostrar-lhe como adquirir lucro para o Mestre. [...] A Igreja existe, em parte, para que a força de um membro possa ajudar a fraqueza do outro, e, pela cooperação

de todos, o poder do menor e mais fraco possa ser aumentado.50 25:30 O servo inútil foi lançado fora — excluído do reino. Ele compartilhou o destino angustiante dos ímpios. Não foi sua falha em investir o talento que o condenou; antes, sua falta de boas obras mostrou que a ele faltou a fé salvadora. J. O Rei julga as nações (25:31-46) 25:31 Essa divisão descreve o julgamento das na­ ções, que se distingue do tribunal de Cristo e do julgamento do grande trono branco. 0 tribunal de Cristo, um tempo de revista e galar­ dão somente para os crentes, realiza-se depois do ar­ rebatamento (Rm 14:10; ICo 3:11-15; 2Co 5:9-10). O julgamento do grande trono branco realiza-se na eter­ nidade, depois do milênio. Os mortos perversos serão julgados e lançados no lago de fogo (Ap 20:11-15). 0 julgamento das nações ou dos gentios (a palavra grega abarca os dois sentidos) realiza-se na terra, depois que Cristo vier para reinar, como o versículo 31 afirma: Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele. Se estivermos certos em identificá-lo com Joel 3, o local é o vale de Josafá, fora de Jerusalém (3:2). As nações serão julgadas de acordo com o tratamento que deram aos irmãos judeus de Cristo durante a tribulação (J13:1-2,12-14; Mt 25:31-46). 25:32 E importante notar que três classes são mencionadas — ovelhas, cabritos e os irmãos de Cristo. As primeiras duas classes, sobre as quais Cristo senta em julgamento, são gentios que estarão vivos durante a tribulação. A terceira classe são os fiéis irmãos judeus de Cristo que se recusarão a negar o nome do Senhor durante a tribulação, apesar de grande perseguição. 25:33-40 0 Rei coloca as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda. Então ele convida as ovelhas a entrarem no seu reino glorioso, preparado para eles desde a fundação do mundo. A razão dada é que eles lhe deram de comer quando teve fome, deram de beber quando teve sede, hospedaram-no quando era forasteiro, vestiram-no quando estava nu, visitaram-no quando enfermo e foram vê-lo na prisão. As ovelhas justas professam ignorância de mostrar tais bondades ao Rei; ele nem estava na terra na sua geração. Ele explica que ao mostrar amizade a um destes pequeninos irmãos, o faz a ele. Qualquer coisa feita para um dos seus discípulos é recompen­ sada como se feita a ele mesmo. 25:41-45 Aos cabritos injustos está ordenado apar­ tarem-se dele para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos, porque falharam em cuidar

dele durante o terrível tempo da perturbação de Jacó. Quando eles se escusam ao dizer que nunca o viram, ele faz-lhes lembrar que o fato de terem negligenciado seus seguidores constituiu negligência a ele. 2 5 :4 6 Assim, os cabritos vão para o castigo eterno, mas as ovelhas para a vida eterna. Porém, aqui surgem dois problemas. Primeiramente, a pas­ sagem parece ensinar que as nações são salvas ou perdidas em massa. Em segundo lugar, a narrativa cria a impressão de que as ovelhas são salvas pelas boas obras, e os cabritos são condenados pela omissão em realizar o bem. Em relação à primeira dificulda­ de, devemos lembrar que Deus trata com as nações como um todo. A história do Antigo Testamento é rica em exemplos de nações sendo castigadas por causa do pecado (Is 10:12-19; 47:5-15; Ez 25:6-7; Am 1:3,6,9,11,13; 2:1,4,6; 0b 10; Zc 14:1-5). Não é irra­ cional crer que as nações continuarão a experimentar retribuição divina. Isso não quer dizer que cada indi­ víduo na nação será envolvido na conseqüência, mas que os princípios de justiça divina serão aplicados tanto numa base nacional quanto individual. A palavra ethne, traduzida “nações” nessa passa­ gem, bem pode ser traduzida “gentios”. Alguns creem que a passagem descreve o julgamento de gentios individualmente. Mesmo sendo nações ou indiví­ duos, há o problema de saber como uma tão grande multidão poderia ser reunida perante o Senhor na Palestina. Talvez seja melhor pensar em represen­ tantes das nações ou classes individuais reunidas para julgamento. Em relação ao segundo problema, o trecho não pode ser usado para ensinar salvação pelas obras. 0 testemunho uniforme da Bíblia é que salvação é pela fé e não pelas obras (Ef 2:8-9). Mas a Bíblia enfatica­ mente ensina que a fé verdadeira produz boas obras. Se não houver boas obras, é uma indicação de que a pessoa nunca foi salva. Assim devemos entender que os gentios não são salvos por amparar o remanescente judeu, mas que essa bondade reflete seu amor para com o Senhor. Mais três pontos poderiam ser mencionados. Pri­ meiro, dizem que o reino foi preparado para os jus­ tos desde a fundação do mundo (v. 34), enquanto o infemo foi preparado para o Diabo e seus anjos (v. 41). 0 desejo de Deus é que os homens sejam aben­ çoados; não foi a intenção original que o infemo fosse preparado para a raça humana. Mas, se as pessoas teimosamente recusam a vida, elas necessariamente escolhem a morte.

0 segundo ponto é que o Senhor Jesus falou de fogo eterno (v. 41), castigo etemo (v. 46) e vida eterna (v. 46). 0 mesmo que ensinava a vida eterna ensinava castigo etemo. Visto que a mesma palavra para eterna é usada para descrever ambos, é inconsistente acei­ tar uma sem a outra. Se a palavra traduzida eterna não quer dizer perpétua ou para sempre, então não haveria palavra na língua grega para transmitir esse sentido. Mas sabemos que realmente quer dizer per­ pétua, para sempre, porque é usada para descrever a imortalidade de Deus (ITm 1:17). Por fim, o julgamento dos gentios faz-nos lembrar de uma maneira toda especial que Cristo e o seu povo são um; o que tem influência sobre eles tem influência sobre ele. Temos um grande potencial para mostrar bondade a ele mostrando bondade aos que o amam.

XIV. O sofrimento e a morte do Rei (26— 27) A. A conspiração para matar Jesus (26:1-5) 26:1-2 Pela quarta e última vez nesse evangelho o Senhor preveniu os discípulos de que ele deveria mor­ rer (16:21; 17:23; 20:18). Sua declaração significava um breve tempo entre a Páscoa e sua crucificação: Sabeis que daqui a dois dias celebrar-se-á a Pás­ coa; e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado. Naquele ano a Páscoa cumpriria seu verdadeiro sentido. 0 Cordeiro pascal tinha agora chegado e logo seria morto. 26:3-5 Enquanto ele falava, os principais sacer­ dotes e os anciãos se reuniram no palácio de Caifás, o sumo sacerdote, para planejar sua estratégia. Eles queriam prendê-lo traiçoeiramente e matá-lo, mas não acharam prudente agir assim durante a festa; o povo era capaz de reagir violentamente contra sua execução. É incrível que os líderes religiosos de Israel tomassem a frente em conspirar na morte do seu Messias. Deveriam ter sido os primeiros a reconhecêlo e entronizá-lo. Em vez disso, eles constituíram a vanguarda dos seus inimigos. B. Jesus é ungido em Betânia (26:6-13) 26:6-7 Esse episódio fornece um bem-vindo alívio, vindo entre a traição dos sacerdotes, a irritabilidade dos discípulos e a deslealdade de Judas. Quando Jesus estava na casa de Simão, o leproso, em Be­ tânia, aproximou-se dele uma mulher e derramou um vaso de precioso bálsamo sobre a sua cabeça.

f Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo” .

A preciosidade do seu sacrifício expressou a intensi­ dade da sua devoção para com o Senhor Jesus, como que dizendo não haver nada que fosse algo bom demais para ele. 26:8-9 Os seus discípulos, e Judas em particular (Jo 12:4-5), consideravam o ato um grande desperdí­ cio. Eles pensavam que seria melhor dar o dinheiro aos pobres. 26:10-12 Jesus corrigiu esse pensamento distor­ cido. 0 ato dela não era sem propósito, mas belo. Não somente isso, chegou na hora certa. Os pobres podem ser ajudados a qualquer hora. Mas somente uma vez na história do mundo o Salvador poderia ser ungido para sepultamento. Aquele momento chegou e uma mulher solitária, com discernimento espiritual, aproveitou-o. Crendo nas profecias do Senhor acerca da sua morte, ela deve ter reconhecido que tinha de ser agora ou nunca. Como sucedeu, ela estava certa. Aquelas mulheres que planejavam ungir o corpo de Jesus depois do sepultamento foram impedidas pela ressurreição (Mc 16:1-6). 26:13 0 Senhor Jesus imortalizou esse singelo ato de amor: Em verdade vos digo, onde for pregado em todo o mundo este evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua. Qualquer ato de verdadeira adoração enche os pátios do céu com fragrância e é registrado indelevelmente na memória do Senhor. C. A traição de Judas (26:14-16) 2 6:14-15f Então um dos doze, um dos discípulos que havia vivido com o Senhor Jesus, viajado com ele, visto seus milagres, ouvido seu ensino incomparável e testemunhado o milagre de uma vida impecável, alguém a quem Jesus podia chamar “meu amigo íntimo [...] que comia do meu pão” (SI 41:9) foi o que levantou seu calcanhar contra o Filho de Deus. Judas Iscariotes foi ter com os principais sacerdotes e concordou em vender o Mestre por trinta moedas de prata. Os sacerdotes pagaram-lhe na hora o total desprezível equivalente a um mês de serviço de um simples trabalhador. É impressionante notar o contraste entre a mu­ lher que ungiu Jesus na casa de Simão e Judas. Ela valorizou sobremaneira o Salvador, e Judas o teve em pouco valor. 2 6 :1 6 E, assim, alguém que somente recebeu bondade de Jesus saiu para combinar sua parte da terrível transação. D. A última Páscoa (26:17-25) 26:17 Era o primeiro dia dos pães asmos — um tempo quando todo o fermento era removido dos lares dos judeus. Que pensamentos devem ter enchido a

mente do Senhor enquanto ele mandava os discípulos a Jerusalém para preparar [...] a Páscoa. Cada deta­ lhe da refeição teria um significado doloroso. 26:18-20 Jesus enviou os discípulos para procurar certo homem que os guiaria à casa designada. Talvez a incerteza das instruções objetivasse despistar os conspiradores. Pelo menos reparamos o conhecimen­ to total dos indivíduos, onde estavam e sua vontade de cooperar. Note as palavras: 0 M estre manda dizer: “ 0 meu tempo está próximo; em tua casa celebrarei a Páscoa com os meus discípulos” . Ele enfrentou a proximidade da sua morte com serenida­ de. Com graça perfeita ele organizou a refeição. Que privilégio para esse homem anônimo emprestar sua casa para essa Páscoa final! 26:21-24 Enquanto comiam, Jesus fez a declaração chocante de que um dos doze ia traí-lo. Os discípulos estavam muitíssimo contristados, com pesar e des­ confiança de si mesmos. Perguntaram um por um: Porventura sou eu, Senhor? Quando todos senão Judas indagaram, Jesus disse que era aquele que metia com ele a mão no prato. Em seguida, o Senhor pegou um pedaço de pão, molhou no caldo da carne, e deu-o ajudas (Jo 13:26) — um símbolo de afeição e amizade especial. Ele lembrou-lhes que havia certa inevitabilidade no que aconteceria com ele. Mas isso não livrou o traidor da sua responsabilidade; seria melhor para ele se nunca nascesse. Judas delibe­ radamente escolheu vender o Salvador e, assim, é pessoalmente responsável. 26:25 Quando Judas, enfim, perguntou se era ele, Jesus respondeu: “Sim”. E. A primeira ceia do Senhor (26:26-29) Em João 13:30 aprendemos que logo que Judas rece­ beu o pedaço de pão, ele saiu, e era noite. Concluímos, então, que ele não estava presente quando a ceia do Senhor fora instituída (apesar de haver bastante desentendimento nesse ponto). 2 6 :2 6 Depois de observar a última Páscoa, o Salvador instituiu o que conhecemos como “ceia do Senhor”. Os elementos essenciais (pão e vinho) esta­ vam já na mesa como parte da refeição pascal; Jesus deu a eles um sentido novo. Primeiramente ele tomou um pão, e abençoando-o, o partiu. Enquanto ele o deu aos discípulos, ele disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo. Uma vez que seu corpo não fora dado na cruz ainda, é claro que ele falava figurativamente, usando o pão para simbolizar o corpo. 2 6 :2 7-28 A mesma verdade ocorre em relação ao cálice; o recipiente é usado para expressar o que contém. O cálice continha o fruto da vide, que por sua vez era um símbolo do sangue da nova aliança.

A nova aliança da graça, sem restrições, seria ratifi­ cada pelo seu precioso sangue derramado por muitos para remissão dos pecados. Seu sangue era suficiente para providenciar perdão para todos. Mas aqui foi derramado por muitos, sendo eficaz para remir os pecados apenas dos que creem. 26:29 0 Salvador assim avisou seus discípulos de que ele não beberia do fruto da videira com eles até que ele voltasse para reinar na terra. Assim, o vinho teria um novo significado; falaria do deleite e da bem-aventurança do reino do seu Pai. A pergunta é feita, às vezes, se deveríamos usar pão com fermento ou sem fermento, vinho fermen­ tado ou sem fermentação para a ceia do Senhor. Há pouca dúvida de que o Senhor usou pão sem fermento e vinho fermentado (todo vinho naqueles dias era fermentado). Os que argumentam que pão com fermento estraga o tipo (fermento é um quadro do pecado) deveriam reconhecer que o mesmo é verdade da fermentação. É uma tragédia quando nos tomamos tão ocupados com os componentes a ponto de falharmos em ver o próprio Senhor. Paulo enfatizou que é o sentido espiritual do pão, não o pão mesmo que vale. “Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso, celebramos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade” (ICo 5:7-8). Não é o fermento no pão que tem valor, mas o fermento na nossa vida. F. Os discípulos autoconfiantes (26:30-35) 26:30 Depois da ceia do Senhor, o pequeno grupo cantou um hino, provavelmente tirado dos salmos 113 a 118 — “0 grande Hallel". Eles saíram de Jeru­ salém, atravessaram o ribeiro Cedrom, e galgaram a ladeira ocidental do monte das Oliveiras para o jardim do Getsêmani. 26:31 Durante seu ministério terrestre, o Senhor Jesus tinha avisado fielmente seus discípulos sobre o futuro. Agora ele lhes falou que todos se escan­ dalizariam dele naquela noite. 0 medo tomaria conta deles quando vissem a fúria da tempestade se aproximando. Para livrarem-se, eles abandonariam o Mestre. A profecia de Zacarias seria cumprida: “Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas” (13:7). 26:32 Mas ele não os deixou sem esperança. Ape­ sar de estarem envergonhados da sua associação com ele, ele nunca os abandonaria. Depois de ressuscitar de entre os mortos, ele os encontraria na Galileia. Um amigo maravilhoso, que nunca falha! 2 6 :3 3 -3 4 Pedro impetuosamente interrompeu para assegurar ao Senhor que, mesmo se os outros o

desamparassem, ele nunca faria tal coisa; Jesus cor­ rigiu o nunca para esta noite [...] três vezes. Antes que o galo cantasse, o discípulo impetuoso negaria seu Mestre três vezes. 26:35 Ainda assegurando sua lealdade, Pedro insistiu que morreria com Cristo antes de negá-lo. Todos os discípulos disseram a mesma coisa. Eles eram sinceros; eles eram sérios no que diziam; eles somente não conheciam o próprio coração. G. A agonia no Getsêmani (26:36-46) Ninguém pode se aproximar desse relato do jardim do Getsêmani sem reconhecer que está andando em terra santa. Qualquer um que tente comentá-lo sente um grande senso de admiração e reserva. Guy King escreveu: “0 caráter sobrenatural do acontecimento faz-nos temer a possibilidade de danificá-lo ao tocar". 2 6:36-38 Depois de entrar no Getsêmani (que quer dizer “barril” ou “prensa de azeitonas”), Jesus falou para oito dos onze discípulos para assentar e esperar, depois levou Pedro e os dois filhos de Zebedeu mais longe. Será que isso pode sugerir que diferentes discípulos têm capacidades diferentes para compadecer-se com o Salvador na sua agonia? Ele começou a entristecer-se e a angustiar-se. Ele contou abertamente a Pedro, Tiago e João que sua alma estava profundamente triste até a morte. Sem dúvida isso foi a repugnância incalculável da sua alma santa enquanto ele antecipava tornar-se por nós um sacrifício pelo pecado. Nós, que somos pecadores, não podemos entender o que significava para ele, que não conheceu pecado, ser feito pecado em nosso lugar (2 Co 5:21). 2 6 :3 9 Não é de admirar que ele deixou os três e adiantou-se um pouco mais no jardim. Ninguém mais poderia compartilhar de seu sofrimento e de sua oração: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim, como tu queres. Para não pensar que essa oração expressou aversão ou desejo de voltar atrás, deveríamos lembrar suas palavras em João 12:27-28: Agora está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim, para esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Portanto, ao orar para que o cálice pudesse passar dele, ele não estava pedindo para ser livrado da cruz. Isso foi o exato propósito da sua vinda ao mundo! A oração era retórica, isto é, não pretendia uma resposta, mas nos ensinar uma lição. Jesus estava dizendo: “Meu Pai, se houver qualquer outro cami­ nho pelo qual ímpios pecadores possam ser salvos a não ser pela cruz, revele esse caminho agora! Mas

em tudo isso, eu quero que seja conhecido que nada desejo contrário à sua vontade”. Qual foi a resposta? Nenhuma; os céus ficaram em silêncio. Por esse silêncio eloqüente sabemos que não havia outro meio pelo qual Deus poderia justificar os pecadores culpados, a não ser por Cristo, o Salvador impecável, morrer como nosso substituto. 26:40-41 Voltando para os discípulos, achou-os dormindo. 0 espírito deles estava pronto, mas a carne era fraca. Não devemos condená-los quando pensamos na nossa vida de oração; dormimos melhor que oramos, e nossa mente vagueia quando deveria estar vigiando. Quantas vezes o Senhor precisa falar conosco como ele falou aos discípulos: Nem uma hora pudestes vós vigiar com igo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. 26:42 Tomando a retirar-se, orou de novo, ex pressando submissão à vontade do Pai. Ele beberia o cálice de sofrimento e morte até o fim. Ele estava necessariamente só na sua vida de oração. Ele ensinou os discípulos a orar, e ele orou na sua presença, mas ele nunca orou com eles. A singularidade de sua pessoa e obra excluía outros de compartilhar da sua vida de oração. 2 6 :4 3 -4 5 Quando ele chegou aos discípulos a segunda vez, eles estavam outra vez dormindo. Do mesmo modo a terceira vez; ele orava, eles dormiam. Nesse caso, ele lhes disse: Ainda dormis e repousais! Eis que é chegada a hora, e o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos de pecadores. 26:46 A oportunidade de vigiar com ele na sua vigília terminou. Os passos do traidor estavam se aproximando, Jesus disse: Levantai-vos, vamos — não em retirada, mas para enfrentar o inimigo. Antes de deixar o jardim, vamos pausar mais uma vez para ouvir seus soluços, para ponderar na sua tristeza e agradecer-lhe de todo o nosso coração. H. Jesus traído e detido no Getsêmani (26:47-56) A traição do impecável Salvador por uma das suas criaturas apresenta uma das mais surpreendentes anomalias da história. Se não fosse a perversão humana, seriamos incapazes de explicar a traição desprezível e inescusável de Judas. 2 6 :4 7 Enquanto Jesus falava ainda aos onze, Judas chegou com a turba armada com espadas e cacetes. Certamente as armas não eram ideia de Judas; ele nunca viu o Salvador resistir ou combater. Talvez as armas simbolizassem a determinação dos principais dos sacerdotes e anciãos para prendê-lo sem nenhuma possibilidade de fuga.

26:48 Judas usaria um beijo como sinal para aju­ dar o motim a distinguir Jesus dos seus discípulos. 0 símbolo universal de amor ia ser prostituído pelo uso mais vil. 2 6:49 Ao aproximar-se do Senhor, Judas disse: “ Salve, M estre” , depois o beijou repetidamente. Duas palavras diferentes para beijo são usadas nes­ se trecho. A primeira, no versículo 48, é a palavra normal para beijo. Mas, no versículo 49, uma palavra mais forte é usada, expressando beijos repetidos ou demonstrativos. 26:50 Com serenidade e concentração convincen­ tes, Jesus perguntou: Amigo, para que vieste? Sem dúvida a pergunta veio com poder abrasador para Judas, mas os acontecimentos estavam seguindo rapidamente agora. 0 motim avançou e prendeu o Senhor Jesus sem demora. 26:51 Um dos discípulos sacou a espada, cortou a orelha do servo do sumo sacerdote (sabemos por João 18:10 que o discípulo era Pedro). É improvável que Pedro tenha tentado acertar a orelha; sem dúvida ele tinha planejado um golpe mortal. Que o alvo tenha sido tão pobre como o seu discernimento deve ser atribuído à providência divina. 2 6 :5 2 A glória moral do Senhor Jesus brilha radiantemente aqui. Em primeiro lugar ele repreen­ deu a Pedro: Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada, à espada perece­ rão. No reino de Cristo, vitórias não são ganhas por meios carnais. Recorrer à força armada na guerra espiritual é pedir desastre. Deixe que os inimigos do reino usem a espada; certamente eles encontrarão derrota. Deixe o soldado de Cristo recorrer à oração, à palavra de Deus e ao poder de uma vida cheia do Espírito. Aprendemos do doutor Lucas que Jesus curou a orelha de Malco — esse era o nome da vítima (Lc 22:51; Jo 18:10). M o é isso uma demonstração maravilhosa da graça? Ele amou os que o odiaram e mostrou bondade aos que queriam matá-lo. 26:53-54 Se Jesus desejasse resistir ao motim, ele não teria se limitado à espada débil de Pedro. Num instante, ele poderia ter pedido e recebido mais de doze legiões de anjos (de 36 mil a 72 mil anjos). Mas isso teria frustrado o programa divino. As Escrituras que profetizavam a sua traição, sofrimento, crucifica­ ção e ressurreição deveriam ser cumpridas. 26 :5 5 Depois Jesus fez lembrar às multidões quão incongruente era para eles sair atrás dele com armas. Eles nunca o tinham visto recorrer à violência ou comprometer-se em pilhagem. Antes, ele tinha sido um Mestre pacífico, todos os dias, assentado no templo. Teria sido fácil prendê-lo naquele tempo, mas não o fizeram. Por que vir agora com espadas e

cacetes? Falando humanamente, o comportamento deles era irracional. 26:56 Mas o Salvador reconheceu que a maldade do homem estava tendo sucesso somente em cumpri­ mento ao plano definido de Deus. Tudo isto, porém, aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas. Reconhecendo que não haveria liberta­ ção para o Mestre, todos os discípulos, deixando-o, fugiram em pânico. Se a covardia deles era imperdoá­ vel, a nossa é muito mais. Ainda não eram habitados pelo Espírito Santo; nós somos. I. Jesus perante Caifás (26:57-68)' 26:57 Houve dois julgamentos principais do Senhor Jesus: um religioso, perante os líderes judaicos, e um civil, perante as autoridades romanas. Juntando os relatos dos quatro evangelhos notamos que cada julgamento tinha três estágios. 0 relato de João sobre o julgamento judaico mostra que Jesus foi trazido pri­ meiramente perante Anás, o sogro de Caifás. 0 relato de Mateus começa com o segundo estágio, na casa de Caifás, o sumo sacerdote. 0 Sinédrio estava reunido ah. Normalmente, era dada uma oportunidade aos acusados para preparar sua defesa. Mas os líderes religiosos desesperadamente levaram Jesus à prisão e justiça com pressa (Is 53:8), de toda maneira lhe negando um julgamento justo. Nessa noite em particular, os fariseus, saduceus, escribas e anciãos que formavam o Sinédrio mostra­ ram descuido para com as regras sob as quais eles deveriam operar. Não era costume encontrar-se de noite nem durante qualquer festa dos judeus. Não era lícito subornar testemunhas para cometer peijúrio. Um veredicto de morte não podia ser realizado até passar uma noite. E, a não ser que se encontrassem na Sala de Pedra Lavrada na área do templo, seus veredictos não eram obrigatórios. Na ânsia de ficar livre de Jesus, as autoridades judaicas não hesitaram em quebrar suas próprias leis. 26:58 Caifás era o juiz presidente do júri. Apa­ rentemente, o Sinédrio servia como júri e executor; no mínimo, uma combinação irregular. Jesus era o acusado. Pedro o observava de longe; ele assentou-se entre os serventuários para ver o fim. 26:59-61 Os líderes judaicos tiveram um tempo difícil, procurando alguma testemunha falsa contra Jesus. Teriam tido mais sucesso se tivessem cumpri­ do sua obrigação anterior no processo judicial e pro­ curassem evidência da sua inocência. Por fim, duas

* Veja “Suplementos" > “0 julgamento e a crucificação de Jesus: locais em Jerusalém”.

testemunhas falsas produziram um relato deturpado das palavras de Jesus: “Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei” (Jo 2:19-21). Conforme as testemunhas, ele ameaçara destruir o santuário de Deus em Jerusalém (o templo) e depois reconstruí-lo. Na realidade, ele estava profetizando a própria morte e a subsequente ressurreição. Os judeus agora usa­ ram aquela profecia como desculpa para matá-lo. 26:62-63 Durante essas acusações, o Senhor guar­ dou silêncio: “... como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca” (Is 53:7). O sumo sacerdote, irritado pelo silêncio, obrigava-o a uma declaração; ainda assim o Salvador não respondeu. Então o sumo sacerdote lhe disse: Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. A lei de Moisés exigia que um judeu testificasse quando posto sob juramento pelo sumo sacerdote (Lv 5:1). 2 6 :6 4 Sendo um judeu obediente à lei, Jesus respondeu: Tu o disseste. Ele assim declarou ser o Messias e a sua divindade mais enfaticamente: entretanto, eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu. Em essência, ele estava dizendo “Eu sou o Cristo, o Filho de Deus, como disseste. A minha glória, por enquanto, é velada em um corpo humano. Eu pareço com qualquer outro homem. Você me vê nos dias da minha humilhação. Mas o dia vem quando vocês, judeus, hão de me ver como o Glorificado, igual em todos os aspectos a Deus, assentado à sua mão direita e vindo nas nuvens do céu”. No versículo 64, o primeiro tu51 é singular, referindo-se a Caifás. O segundo é plural (também o terceiro, referindo-se aos judeus como representantes daque­ les israelitas, vivendo no tempo do aparecimento glorioso de Cristo, os quais verão claramente que ele é o Filho de Deus). Lenski escreve: “Às vezes se afirma que Jesus nunca se chamou ‘Filho de Deus’. Aqui no versículo 64 ele jura que verdadeiramente o é”.52 2 6 :6 5 -6 7 f Caifás não perdeu o significado das palavras do Senhor. Jesus tinha feito referência a uma profecia messiânica de Daniel: “Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao

51 (26:64) 0 pronome singular no grego su é reforçado para dar ênfase. 0 segundo você é humin (plural) e o terceiro é o final no verbo opsesthe. 52 (26:64) R. C. H. Lenski, The Interpretation ofSt. Matthew’s Gospel, p. 1064. +Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”.

Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele” (Dn 7:13). A reação do sumo sacerdote prova que ele entendia que Jesus estava alegando igualdade com Deus (cf. Jo 5:18). Ele rasgou as suas vestes sacerdotais, um sinal de que a testemunha tinha blasfemado. Suas palavras inflamadas ao Sinédrio assumiram que Jesus era culpado. Quando o veredicto foi pedido, o conselho respondeu: E réu de morte. 26:68 O segundo estágio do julgamento terminou com os juristas esbofeteando e cuspindo no acusado, depois o escarnecendo para que usasse seu poder como Cristo para identificar seus agressores. O pro­ cedimento inteiro não foi somente contra o sistema judicial, mas também escandaloso. J.

Pedro nega Jesus e chora amargamente (26:69-75) 26:69-72 A hora mais tenebrosa para Pedro acaba­ ra de chegar. Enquanto estava assentado fora, no pátio, aproximou-se uma criada e o acusou de ser companheiro de Jesus. A negação foi vigorosa e ime­ diata: Não sei o que dizes. Ele saiu para o alpendre, talvez para escapar de ser visto. Mas ah outra criada publicamente o identificou como um que tinha estado com Jesus de Nazaré. Desta vez ele jurou que não conhecia o homem. “O homem” era o seu Mestre. 26:73-74 Logo depois, aproximaram-se os que ah estavam, dizendo: Verdadeiramente és também um deles, porque o teu modo de falar o denuncia. Uma simples negação não era mais suficiente; desta vez ele confirmou praguejando e jurando: Não conheço esse homem! Com precisão alarmante, um galo cantou. 26:7 5 0 som familiar penetrou não somente o silêncio da madrugada, mas também o coração de Pedro. Ele, abatido, lembrando o que o Senhor tinha dito, saiu e chorou amargamente. Há uma aparente contradição nos evangelhos acer­ ca do número e da hora das negações. Em Mateus, Lucas e João relata-se que Jesus disse: “... antes que o galo cante, tu me negarás três vezes” (Mt 26:34; cf. tb. Lc 22:34; Jo 13:38). Em Marcos, a profecia é "... antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes” (Mc 14:30). É possível que houvesse mais que um galo cantan­ do, um durante a noite e outro na alvorada. Também é possível que os evangelhos relatem pelo menos seis negações diferentes de Pedro. Ele negou Cristo perante: 1) uma criada (Mt 26:69-70; Mc 14:66-68); 2) outra criada (Mt 26:71-72; Mc 14:69-70); 3) a multidão presente (Mt 26:73-74; Mc 14:70-71); 4) um homem (Lc22:58);5) outro homem (Lc 22:59-60); 6) um servo do sumo sacerdote (Jo 18:26-27). Cremos que esse último homem é diferente dos outros, porque

ele disse: “Não te vi eu no jardim com ele?” (Jo 18:26). Os outros não são descritos por dizer isso. K.

O julgamento ao romper o dia perante o Sinédrio (27:1-2) 0 terceiro estágio do julgamento religioso realizou-se perante o Sinédrio, ao romper o dia. Nenhum caso poderia ser completado no mesmo dia em que come­ çou, a não ser que o acusado fosse perdoado. Uma noite deveria transcorrer antes do pronunciamento do veredicto “para que os sentimentos de misericórdia pudessem ter tempo para aparecer”. Nesse caso, os líderes religiosos davam a impressão de ter intentos de abafar quaisquer sentimentos de misericórdia. Entretanto, como julgamentos de noite eram irregu­ lares, eles convocaram uma sessão matinal para dar validade legal ao veredicto. Conforme a legislação romana, os líderes judaicos não tinham autoridade para impor a pena da morte. Por essa razão, eles levam Jesus apressadamente a Pôncio Pilatos, o governador romano. Apesar de o seu ódio de qualquer coisa romana ser intenso, estavam prontos a “usar” esse poder para satisfazer um ódio maior. Oposição a Jesus une os inimigos mais ferrenhos. L. O remorso e a morte de Judas (27:3-10) 2 7 :3-4 Reconhecendo o pecado em trair sangue inocente, Judas ofereceu devolver o dinheiro aos principais sacerdotes e aos anciãos. Esses astutos conspiradores que cooperaram tão avidamente umas horas antes agora se recusaram a participar do as­ sunto. Essa é uma das recompensas da traição. Judas estava cheio de remorso, mas isso não era um arre­ pendimento piedoso que leva à salvação. Arrependido dos efeitos que o seu crime trouxe sobre si, ele ainda não estava pronto a reconhecer Jesus Cristo como Senhor e Salvador. 27:5 Em desespero, Judas atirou para o santuário as moedas de prata, onde somente os sacerdotes poderiam ir, depois se retirou e se enforcou. Com­ parando essa narrativa com Atos 1:18, concluímos que ele se enforcou numa árvore, que a corda ou o galho quebrou, e que o corpo foi arremessado por um precipício, o que fez que seu corpo se partisse e suas entranhas se espalhassem. 27:6 Os principais sacerdotes, “espirituais” de­ mais para pôr o dinheiro no cofre das ofertas, por­ que era o preço de sangue, eram os culpados que pagaram aquele dinheiro para poder ter o Messias nas mãos deles. Parece que isso não os incomodou. Como o Senhor tinha dito, eles limparam o exterior

do copo, mas por dentro estavam cheio de engano, traição e assassínio. 2 7 :7 -1 0 Eles usaram o dinheiro para comprar um campo do oleiro, onde estrangeiros gentílicos e imundos poderiam ser enterrados, sem imaginar quantas multidões de gentios invadiriam sua terra e chapinhariam suas ruas com sangue. Tem sido um campo de sangue para aquela nação culpada desde aquele tempo. Os principais sacerdotes inconscientemente cum­ priram a profecia de Zacarias de que o dinheiro do sepultamento seria usado para comprar um oleiro (Zc 11:12-13). De maneira estranha a passagem de Zacarias tem uma versão alternativa: em vez de “oleiro” aparece “caixa de coletas do templo” (BV) ou “tesouro do Templo” (NTLH). Os sacerdotes tinham escrúpulos de pôr dinheiro de sangue na tesouraria, então eles cumpriram a profecia da outra versão, em dar ao oleiro em troca do seu campo. Daily Notes ofthe Scripture Union Mateus imputa essa profecia a Jeremias, enquanto obviamente vem do livro de Zacarias. Provavelmente ele classifica a citação como de Jeremias porque aquele profeta estava no cabeçalho do rolo profético que ele usou, conforme a ordem antiga preservada em numerosos manuscritos hebraicos e familiares da tradição do Talmude. Um uso similar ocorre em Lucas 24:44, em que Salmos nomeia a terceira divisão inteira do cânon hebraico. M. O primeiro aparecimento de Jesus perante Pilatos (27:11-14) As queixas principais dos judeus contra Jesus eram religiosas, e eles o julgaram nessa base. Mas acusa­ ções religiosas não tinham influência no tribunal ro­ mano. Sabendo isso, quando eles o trouxeram perante Pilatos, insistiram em três acusações políticas contra ele (Lc 23:2): 1) era um revolucionário que apresen­ tava uma ameaça ao império; 2) induzia o povo a não pagar impostos, assim debilitando a prosperidade do império; 3) afirmava ser um Rei, assim ameaçando o poder e a posição do imperador. No evangelho de Mateus, ouvimos Pilatos interrogando-o sobre a terceira acusação. Ao perguntar se ele era o Rei dos Judeus, Jesus respondeu que sim. Isso causou uma torrente de abuso e difamação dos líderes judaicos. Pilatos admirou-se grandemente do silêncio do acusado; ele não realçou nenhuma da­ quelas acusações com uma resposta. Provavelmente

o governador nunca tinha visto ninguém ficar calado sob tal acusação. N. Jesus ou Barrabás? (27:15-26) 27:15-18 Era o costume das autoridades romanas aplacar os judeus ao soltar um preso judaico no tem­ po da Páscoa. Um preso elegível era Barrabás, um judeu culpado de revolta e homicídio (Mc 15:7). Sendo um revoltoso contra o regime romano, provavelmente era popular entre seus patrícios. Assim, quando Pi­ latos lhes deu uma escolha entre Jesus e Barrabás, eles clamaram pelo último. 0 governador não ficou surpreso; ele sabia que a opinião pública tinha sido moldada em parte pelos principais dos sacerdotes, que eram invejosos de Jesus. 2 7 :1 9 Os procedimentos foram interrompidos momentaneamente pelo mensageiro da esposa de Pilatos. Ela implorava ao seu esposo para não se envolver com Jesus; ela tivera um sonho muito per­ turbador a respeito dele. 2 7 :2 0 -2 3 Atrás das cenas, os principais dos sacerdotes e anciãos estavam exercendo tudo para a liberação de Barrabás e a morte de Jesus. Então, quando Pilatos perguntou ao povo, de novo, qual eles queriam que fosse solto, eles pediram. Pego no laço da própria indecisão, Pilatos perguntou: Que farei então de Jesus, chamado Cristo? Eles una­ nimemente exigiram sua crucificação, uma atitude incompreensível ao governador. Por que crucificálo? Que crime ele cometeu? Mas era tarde demais para apelar por calma; o histerismo tinha tomado conta da multidão. Cada vez clamavam mais: Seja crucificado! 27:24 Era óbvio a Pilatos que o povo era implacá­ vel e que uma revolta estava começando. Então ele lavou as suas mãos perante o povo, declarando sua inocência do sangue do acusado. Mas água nunca absolverá a culpa de Pilatos no mais grave extravio de justiça da história. 27:25 0 povo, frenético demais para preocupar-se com a culpabilidade, estava pronto para levar a cul­ pa. Caia sobre nós o seu sangue, e sobre nossos filhos! Desde então o povo de Israel tem cambaleado entre os guetos, que são os bairros de judeus, até ao massacre de judeus, dos campos de concentração à câmara de gás, sofrendo a terrível culpa do sangue do seu Messias rejeitado. Eles ainda enfrentarão o “tempo da perturbação de Jacó” (aqueles sete anos de tribulação descritos em Mateus 24 e Apocalipse 6— 19). A maldição continuará até que reconheçam o Jesus rejeitado como o seu Messias-Rei. 27:26 Pilatos soltou Barrabás à multidão, e desde então o espírito de Barrabás tem dominado o mundo. 0 assassino ainda é entronizado; o Rei justo é rejei­

tado. Depois, como era de costume, o condenado foi açoitado. Um grande chicote de couro embutido com pedaços de metal áspero lacerou suas costas, cada chicotada abrindo a carne e causando correntes de sangue. Agora não ficava nada para o governador medroso fazer a não ser entregar Jesus aos soldados para ser crucificado. O. Os soldados zombam de Jesus (27:27-31) 27:27-28 Os soldados do governador levaram Jesus para o pretório, reuniram em tom o dele toda a cor­ te, provavelmente várias centenas de homens. 0 que seguiu é difícil de imaginar! 0 Criador e Sustentador do universo sofreu indignidades inexprimíveis dos sol­ dados cruéis e incultos, suas criaturas indignas e peca­ minosas. Despojando-o das suas vestes, cobriram-no com um manto escarlate, em imitação de um manto real. Mas aquele manto tem uma mensagem para nós. Já que escarlate é associado com pecado (Is 1:18), gosto de pensar que o manto descreve meus pecados sendo postos sobre Jesus para que o manto de justiça de Deus pudesse ser posto sobre mim (2Co 5:21). 27:29-30 Eles teceram uma coroa de espinhos, e a puseram na sua cabeça. Mas além da zombaria cruel, entendemos que ele foi coroado de espinhos para que pudéssemos ser coroados de glória. Eles o escarneceram como o Rei de pecado; nós o adoramos como Salvador dos pecadores. Também deram-lhe um caniço — um cetro simu­ lado. Eles não sabiam que a mão que segurou aquele caniço é a mão que rege o mundo. Aquela mão cica­ trizada de pregos de Jesus agora segura o cetro de domínio universal. Ajoelharam-se diante dele e saudaram-lhe como o Rei dos judeus. Não contentes com isso, eles cuspiram no rosto do único homem perfeito que já viveu; depois tomaram o caniço e davam-lhe com ele na cabeça. Jesus suportou tudo com paciência; ele não disse palavra. “Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma” (Hb 12:3). 27:31 Por último eles o vestiram com as suas próprias vestes. Em seguida o levaram para ser crucificado. R A crucificação do Rei (27:32-44) 27:32 0 Senhor carregou a cruz parte do caminho (Jo 19:17). Depois os soldados obrigaram um homem chamado Simão (de Cirene, na África do Norte) a carregá-la para ele. Alguns pensam que ele era um judeu; outros, que ele era um homem negro.

0 importante é que ele teve o privilégio maravilhoso de carregar a cruz. 27:33 Gólgota é o aramaico para “crânio”. Calvário é a tradução latina aportuguesada da palavra grega kranion. Talvez a área fosse em forma de crânio ou recebeu o nome porque era um lugar de execução. A localidade é incerta. 27:34 Antes de ser crucificado, os soldados ofe­ receram a Jesus vinho amargo e fel, dado aos crimi­ nosos condenados como narcótico. Jesus se recusou a tomá-lo. Para ele era necessário suportar a carga total dos pecados dos homens sem qualquer diminui­ ção dos sentidos, nenhum alívio da dor. 27:35f Mateus descreve a crucificação com simpli­ cidade e sem emoção. Ele não usa drama, nem recorre a jornalismo sensacional ou se alonga em detalhes sórdidos. Ele simplesmente relata o fato: Eles o crucificaram. Não obstante, a eternidade inteira não esgotará as profundezas daquelas palavras. Como profetizado em Salmos 22:18, os soldados repartiram entre si as suas vestes [...] e [...] dei­ taram sortes sobre a túnica sem costura. Essas eram suas únicas possessões terrenais. Denney disse: “A única vida perfeita vivida neste mundo é a vida da­ quele que nada possuía e que nada deixou, senão as vestes que vestiu”. 2 7 :3 6 Esses soldados eram representantes de um mundo de homens baixos. Aparentemente eles não tinham nenhuma ideia de que a história estava sendo feita. Se eles apenas soubessem, eles não teriam assentado e o guardado; eles teriam ajoelhado e adorado. 27:37 Por cima da cabeça de Cristo puseram o título: E s t e é J e s u s , o R e i d o s J u d e u s . A exata fraseologia da acusação é um pouco diferente nos quatro evangelhos.53 Marcos diz: “0 R EI DOS JUDEUS” (15:26); Lucas: “ E s t e é o R e i d o s J u d e u s ” (23:38); e João: “ J e s u s N a z a r e n o , o R e i d o s J u d e u s ” (19:19). Os principais sacerdotes protestaram que o título não deveria ser uma declaração do fato, mas a mera declaração do acusado. Porém, Pilatos prevaleceu; a verdade estava ali para todo mundo ver — em hebraico, latim, e grego (Jo 19:19-22). 27:38 0 impecável Filho de Deus estava flanqueado por dois ladrões. Não foi Isaías que predisse setecentos anos antes que ele seria contado com os transgressores (53:12)? No princípio, os dois ladrões lhe diziam os mesmos impropérios (v. 44). Mas um se arrependeu e foi salvo na última hora; em poucas ho­ ras ele estava com Cristo no Paraíso (Lc 23:42-43). 27:39-40 Se a cruz revela o amor de Deus, tam­ bém revela a depravação do homem. Os que iam passando, pararam o suficiente para zombar do Pastor enquanto ele estava morrendo pelas ovelhas:

Tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas! Salva-te a ti mesmo, se és Filho de Deus! E desce da cruz. Assim é a linguagem de descrença racionalista. “Deixe-nos ver e creremos”. Também é a linguagem do liberalismo. “Desce da cruz — em outras palavras, tire a ofensa da cruz e creremos”. William Booth disse: “Alegaram que eles teriam crido se ele tivesse descido da cruz; nós cremos porque ele não desceu”. 27:41-44 Os principais sacerdotes, com os es­ cribas e anciãos, uniram-se no coro. Com introspecção despercebida gritaram: Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar. Eles diziam isso em tom de escárnio; nós o transformamos em um hino de louvor: Ele não podia salvar-se a si mesmo, Na cruz, ele devia morrer, Senão misericórdia não poderia vir Aos pecadores arruinados; Sim, Cristo, o Filho de Deus deveria morrer Para que pecadores pudessem ser libertos do pecado. Albert Midlane Era verdade na vida do Senhor e na nossa também. Não podemos salvar os outros enquanto tentamos salvar-nos a nós mesmos. Os líderes religiosos zombaram da sua afirmação de ser o Salvador, o R ei de Israel e o Filho de Deus. M esmo os ladrões juntaram-se nas suas imprecações. Os líderes religiosos uniram-se com os criminosos em difamar o seu Deus. Q. Três horas de trevas (27:45-50) 27:45 Os sofrimentos e as indignidades que ele su­ portou nas mãos dos homens eram poucos em compa­ ração com o que ele agora enfrentou. Da hora sexta (meio-dia) até a hora nona (quinze horas), houve trevas não somente sobre toda a terra da Palestina, mas na sua santa alma também. Foi durante aquele tempo que ele carregou a maldição indescritível dos nossos pecados. Naquelas três horas foram comprimi­ dos o infemo que merecíamos, a fúria de Deus contra todas as nossas transgressões. Enxergamos obscura­ mente; não é possível entendermos o que custou para ele satisfazer as exigências justas de Deus contra o pecado. Somente sabemos que nessas três horas ele +Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”. 53 (27:37) Se todas as partes mencionadas forem colocadas juntas, leremos: “Este é Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus”. Outra possibi­ lidade é que cada evangelista menciona o texto completo, mas cita línguas diferentes, que poderiam ter variado.

pagou o preço, liquidou a dívida e terminou a obra necessária para a redenção do homem. 27:46* Quase às quinze horas, ele clamou em alta voz, dizendo: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? A resposta se acha em Salmos 22:3: “... Tu és santo entronizado entre os louvores de Israel”. Porque Deus é santo, ele não pode passar por cima do pecado. Ao contrário, ele deve puni-lo. 0 Senhor Jesus não tinha pecado em si, mas ele levou a culpa dos nossos pecados sobre si mesmo. Quando Deus, como Juiz, baixou os olhos e viu nossos pecados sobre o substituto impecável, ele retirou-se do Filho do seu amor. Foi essa separação que exprimiu do coração de Jesus o que a senhora Browning tão lindamente chamou “a exclamação de órfão de Emanuel”: Desamparado! Antes, Deus podia separar-se da sua própria essência; E os pecados de Adão têm surgido entre o Justo Filho e o Pai: Sim, uma vez, o choro de órfão de Emanuel fez tremer o universo, Subiu sozinho, sem eco, “Meu Deus, eu estou desamparado!”. Elizabeth Barrett Browning 27:47-48 Quando Jesus clamou: Eli, Eli [...] al­ guns que ali estavam diziam que elè chamava por Elias. Se eles realmente confundiam os nomes ou es­ tavam simplesmente zombando não é claro. Um deles usou um caniço para elevar uma esponja embebida em vinagre aos seus lábios. Conforme Salmos 69:21, não era um ato de misericórdia, mas um aumento no sofrimento. 27:49 A atitude normal era esperar e ver se Elias cumpriria a parte que a tradição judaica lhe designava — vir em auxílio do justo. Mas não estava na hora de Elias vir (Ml 4:5); era a hora de Jesus morrer. 27:50 Quando ele clamou outra vez com grande voz, ele entregou o espírito. A exclamação alta de­ monstra que ele morreu em vigor, não em fraqueza. 0 fato de que ele entregou o seu espírito distinguiu a sua morte de todas as outras. Morremos porque somos obrigados; ele morreu porque era sua escolha. Afinal, ele não tinha dito: “... eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la” (Jo 10:17-18)?

f Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”.

0 Criador do universo Como homem, por homem foi feito uma maldição; As asserções das leis que ele fez Ele pagou ao máximo. Os seus dedos santos fizeram o ramo No qual cresceram os espinhos que coroaram a sua testa. Os cravos que lhe furaram as mãos foram minados Em lugares secretos que ele designou. Ele plantou as florestas onde nasceu A árvore na qual o seu corpo foi pendurado. Ele morreu numa cruz de madeira, Ainda que tenha criado o monte no qual foi posto. 0 céu que escureceu por cima da sua cabeça Foi estendido por ele acima da terra. 0 sol que escondeu dele o seu rosto, Pelo seu decreto estava suspenso no espaço; A lança que derramou o seu sangue precioso Foi temperada na fornalha de Deus. 0 sepulcro no qual o seu corpo foi posto Foi lavrado na rocha que as suas mãos fizeram; 0 trono no qual ele aparece agora Era dele desde a eternidade; Mas uma nova glória coroa a sua testa, E todo joelho se dobrará perante ele. F. W. Pitt R. O véu rasgado (27:51-54) 27:51 No momento em que ele expirou, a pesada cor­ tina tecida separando as duas salas mais importantes do santuário foi rasgada por uma mão invisível de alto a baixo. Até então, aquele véu impediu todos, a não ser o sumo sacerdote, de entrar no Santo dos Santos, onde Deus habitava. Somente um homem poderia entrar no santuário interior e apenas entraria em um dia do ano. Em Hebreus aprendemos que o véu representava o corpo de Jesus. O rasgo ilustrava a doação do seu corpo na morte. Mediante sua morte temos “intrepi­ dez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne” (Hb 10:19-20). Agora o crente mais humilde pode entrar na presença de Deus em oração e louvor a qualquer hora. Mas nunca devemos esquecer que o privilégio foi comprado para nós com enorme preço: o sangue de Jesus. A morte do Filho de Deus também produziu enor­ mes levantes na natureza, como se fosse uma empatia entre a criação inanimada e seu Criador. Houve um terremoto que fendeu grandes rochas e abriram-se muitos sepulcros. 27:52-53 Mas observe que não foi senão depois da ressurreição de Jesus que os ocupantes desses

sepulcros ressuscitaram e entraram em Jerusalém, onde apareceram a muitos. A Bíblia não conta se esses santos ressurretos morreram outra vez ou foram para o céu com o Senhor Jesus. 27:54 As convulsões estranhas da natureza con­ venceram o centurião romano e seus homens de que Jesus era o Filho de Deus (embora, no grego, não apareça o artigo definido antes de Filho de Deus, a ordem das palavras é decisiva}.54 0 que o centurião queria dizer? Será que era uma confissão completa de Jesus Cristo como Senhor e Salvador, ou o reconheci­ mento de que Jesus era mais que um simples homem? Não podemos ter certeza. Indica, de fato, um senso de temor e constatação de que os distúrbios da natureza, de algum modo, estavam ligados à morte de Jesus, e não à morte dos que foram crucificados com ele. S. As mnlheres fiéis (27:55-56) Menção especial é feita às mulheres que ministravam fielmente ao Senhor, e que o tinham seguido desde a Galileia até Jerusalém. Maria Madalena, Maria, a mãe de Tiago e de José, e Salomé, a esposa de Zebe­ deu, estavam ah. A devoção destemida dessas mulhe­ res destaca-se com brilho especial. Elas permaneceram com Cristo enquanto os discípulos fugiram! T.

0 sepultamento no túmulo de José (27:57-61)+ 2 7:57-58n José de Arimateia, um homem rico e membro do Sinédrio, não concordara com a decisão de entregar Jesus a Pilatos (Lc 23:51). Se até então ele fora um discípulo secreto, agora se tornara valente. Corajosamente foi ter com Pilatos e pediu permissão para sepultar o Senhor. Podemos tentar imaginar a surpresa de Pilatos, e a provocação aos judeus, que um membro do Sinédrio se posicionasse publicamente ao lado do crucificado. Na verdade, José se enterrou econômica, social e religiosamente ao sepultar o corpo de Jesus. Esse ato o separou para sempre da autoridade constituída que matou Cristo. 27:59-60 Pilatos concedeu permissão, e José afe­ tuosamente embalsamou o corpo envolvendo-o num pano limpo de linho, colocando especiarias entre as dobras. Depois ele o depositou no seu túmulo novo, esculpido na rocha sólida. A boca do túmulo foi fe­ chada por uma grande pedra, em formato de mó, em pé, num canal também esculpido de pedra. Séculos antes, Isaías profetizara: “Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte” (53:9). Seus inimigos sem dúvida pla­ nejavam lançar o corpo no vale de Hinom, para ser consumido pelas chamas da lixeira ou comido pelas raposas. Mas Deus prevaleceu sobre os planos deles

usando José para assegurar que Jesus fosse sepultado com os ricos. 27:61 Depois da retirada de José, Maria Madalena e a mãe de Tiago e José esperavam para vigiar em frente da sepultura. U. O túmulo vigiado (27:62-66) 27:62-64 0 primeiro dia da Páscoa, chamado dia da Preparação, foi o dia da crucificação. No dia seguinte, os principais sacerdotes e os fariseus estavam in­ quietos. Lembrando o que Jesus tinha dito em relação a ressuscitar, foram a Pilatos e pediram que uma guarda especial fosse posta ao túmulo. Isso foi feito suposta­ mente para impedir os seus discípulos de roubarem o corpo, assim criando a impressão de que ele tinha ressuscitado. Eles temeram que se isso acontecesse, o último embuste seria pior que o primeiro, isto é, o relato da sua ressurreição seria pior que o seu direito de ser o Messias e o Filho de Deus. 27:65-66 Pilatos respondeu: Aí tendes uma escol­ ta; ide e guardai o sepulcro como bem vos parecer. Pode ser que uma guarda romana já lhes fora desig­ nada, ou pode ser: “0 seu pedido é concedido. Agora eu vos designo uma guarda”. Será que havia ironia na voz de Pilatos quando ele disse guardai como bem vos parecer? Eles fizeram o melhor. Selaram a pedra e montaram guardas, mas suas melhores medidas de segurança não eram suficientes. Unger diz: “As precauções que seus inimigos usaram para ‘guardar o sepulcro com segurança, selando-o e montando uma escolta’ (62-64), somente resultaram em Deus pre­ dominando sobre os planos dos ímpios e oferecendo prova indisputável da ressurreição do Rei”.55 XV. O triu n fo d o R e i (2 8 )ttf A.

O túmulo vazio e o Senhor ressurreto (28:1-10) 28:1-4 No domingo, antes da alvorada, as duas Marias foram ver o sepulcro. Enquanto chegavam houve um grande terremoto. Um anjo [...] desceu do céu, removeu a pedra da boca do sepulcro e assentou-se sobre ela. Os guardas romanos, com medo do ser radiante, de veste alva como a neve, desmaiaram.

54 (27:54) No grego os pronomes definidos predicativos que precedem o verbo geralmente não usam o artigo (parte da “regra de Colwell). * Veja “Suplementos” > “0 túmulo”. t+ Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo” . 55 (27:65-66) Merrill F. U n g e r , Unger’s Bible Handbook, p. 491. +ttVeja “Suplementos” > “Da ressurreição à ascensão: aparecimentos de Cristo”.

28:5-6 0 anjo tranquilizou as mulheres, que não precisavam ter medo. Aquele a quem procuravam tinha ressuscitado, como ele havia prometido: Vin­ de ver onde ele jazia. A pedra fora removida, não para deixar o Senhor sair, mas para permitir que as mulheres vissem que ele tinha ressuscitado. 28:7-10 0 anjo enviou as mulheres depressa para anunciar as gloriosas novas aos seus discípulos. 0 Senhor estava vivo de novo e os encontraria na Galileia. No meio do caminho para avisar os discípu­ los, Jesus apareceu a elas, saudando-as com uma só palavra: Salve!56 Elas responderam caindo aos seus pés, e adorando-o. Ele as autorizou pessoalmente a notificar aos discípulos que o veriam na Galileia. B.

Os soldados subornados para mentir (28:11-15) 28:11 Ao voltar a si, alguns dos soldados foram informar timidamente aos principais sacerdotes. Eles tinham falhado em sua missão! 0 túmulo estava vazio! 28:12-13 É fácil imaginar a consternação dos líde­ res religiosos. Os sacerdotes se reuniram em conselho com os anciãos para traçar uma estratégia. Em deses­ pero, subornaram os soldados para relatar o conto fantástico de que, enquanto os soldados dormiam, os discípulos roubaram o corpo de Jesus. Essa explicação cria mais perguntas que respos­ tas. Por que os soldados estavam dormindo quando deveriam estar de guarda? Como é que os discípulos poderiam tirar a pedra sem acordá-los? Como é que todos os soldados dormiram ao mesmo tempo? Se es­ tavam dormindo, como é que sabiam que os discípulos roubaram o corpo? Se o conto era verdade, por que os soldados tinham de ser subornados para contá-lo? Se os discípulos tinham roubado o corpo, por que é que eles tomaram tempo para retirar os lençóis de linho e dobrar o lenço? (Lc 24:12; Jo 20:6-7). 2 8 :1 4 De fato, os soldados foram pagos para contar uma história que os incriminava. Dormir em serviço poderia ser castigado com a morte, conforme a lei romana. Assim, os líderes judaicos precisavam prometer intervir a favor deles se a notícia chegasse aos ouvidos do governador. 0 Sinédrio estava aprendendo que, enquanto a verdade se autossustenta, a mentira tem de ter o "apoio de muitas outras mentiras. 28:15 Todavia, o mito persiste entre muitos ju ­ deus até ao dia de hoje, e entre os gentios também. E há outros mitos. Wilbur Smyth resume dois deles: 56 (28:7-10) “Salve” era a saudação padrão grega; aqui, na manhã da ressurreição, a tradução literal da RA parece ser a mais apropriada.

1. Primeiramente foi sugerido que as mulheres foram ao túmulo errado. Pense nisso por um momento. Será que você poderia errar o túmulo de um ente querido entre sexta-feira de tarde e domingo de manhã? E mais, esse não era um cemitério de José de Arimateia. Era seu jardim particular. Nenhum outro túmulo estava ah. Agora suponhamos que existiam outros túmulos, mas não existiam, e suponhamos que as mulheres, com os olhos cheios de lágrimas, tropeçaram e chegaram ao túmulo errado. Bem, vamos conceder isso para as mulheres. Mas o duro Simão Pedro e João, dois pescado­ res que não estavam chorando, também foram ao túmulo e acharam-no vazio. Será que eles foram ao túmulo errado? E ainda mais, quando eles chegaram ao túmulo e descobriram que estava vazio, havia um anjo que disse: “Ele não está aqui; ressuscitou, como havia dito. Vinde ver onde ele jazia” . Será que o anjo foi ao túmulo errado também? Todavia, não esqueça, homens inteligentes têm sugerido essas teorias. Essa teoria é absurda! 2. Outros têm sugerido que Jesus não morreu, mas somente desmaiou, e que ele, de algum modo, acordou nesse túmulo úmido e saiu. Uma grande pedra estava posta na frente do túmulo e selada com selos do governo romano. Ninguém dentro daquele túmulo poderia rolar a pedra que descia um declive e encaixava-se em um sulco. Ele não saiu daquele túmulo como um inválido anêmico. A simples verdade é que a ressurreição do Senhor Jesus é um fato bem atestado na história. Ele se apresentou vivo aos discípulos depois do seu sofrimento por muitas e infalí­ veis provas. Pense nessas ocasiões específicas em que ele apareceu: 1. A Maria Madalena (Mc 16:9-11). 2. Às mulheres (Mt 28:8-10). 3. A Pedro (Lc 24:34). 4. Aos dois discípulos no caminho para Emaús (Lc 24:13-32). 5. Aos discípulos, salvo Tomé (Jo 20:19-25). 6. Aos discípulos, com Tomé (Jo 20:26-31). 7. Aos sete discípulos junto ao mar da Galileia (Jo 21). 8. A mais de quinhentos crentes(lCo 15:6). 9. A Tiago (ICo 15:7). 10. Aos discípulos no monte das Oliveiras (At 1:3-12). Uma das grandes pedras fundamentais da fé cristã, inabalável e imóvel, é a evidência históri­

ca da ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Aqui podemos ficar firmes e batalhar pela fé porque te­ mos uma situação que não pode ser contestada. Pode ser negada, mas não pode ser refutada.57 C. A grande comissão (28:16-20) 28:16-17 Na Galileia o Senhor Jesus ressurreto apa­ receu aos discípulos em um monte cujo nome não é citado. Essa é a mesma aparição relatada em Marcos 16:15-18 e ICoríntios 15:6. Que reunião maravilhosa! Seus sofrimentos se foram para sempre. Porque ele vivia, eles também viveriam. Ele ficou perante eles no seu corpo glorificado. Eles adoraram o Senhor vivo e amoroso — mesmo ainda que dúvidas se escondes­ sem na mente de alguns. 28:18 Assim, o Senhor explicou que toda a au­ toridade lhe foi dada no céu e na terra. Em certo sentido, de fato, ele sempre tinha toda a autoridade. Mas aqui ele estava falando de autoridade como cabeça da nova criação. Desde sua morte e ressurreição, ele tinha autoridade para dar vida eterna a todos os que Deus lhe deu (Jo 17:2). Ele sempre teve poder, sendo o primogênito de toda a criação. Mas, agora que ele tinha completado a obra de redenção, ele tinha autoridade, sendo o primogênito de entre os mortos — “para em todas as coisas ter a primazia” (Cl 1:15,18). 28:19-20 Como cabeça da nova criação, ele lançou a Grande Comissão, contendo “ordens permanentes” para todos os crentes durante a atual fase do reino — o tempo entre a rejeição do Rei e seu segundo advento. A comissão contém três ordens, não sugestões: l.Id e , portanto, fazei discípulos de todas as na­ ções. Isso não pressupõe a conversão do mundo. Por pregar o evangelho, os discípulos veriam outros tomando-se aprendizes ou seguidores do Salvador — de toda nação, tribo, povo e língua. 2. Batize em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Os mensageiros de Cristo têm a responsa­ bilidade de ensinar acerca do batismo e enfatizá-lo como uma ordem a ser obedecida. No batismo do crente, os cristãos identificam-se publicamente com a Trindade. Eles reconhecem que Deus é o seu Pai, que Jesus Cristo é o seu Senhor e Salvador, e que o Espírito Santo é alguém que o habita, capacita e ensina. 0 nome no versículo 19 está no singular. Um nome, ou essência, mas três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. 3. Ensine-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. A comissão vai além de evangelismo; fazer proséhtos e deixá-los cuidar de si mesmos não é o bastante. Eles devem ser ensinados a obe­ decer aos mandamentos de Cristo como delineados

no NT. A essência do discipulado é tomar-se como o Mestre, e isso é conseguido por ensinamento sistemático da Palavra e submissão à mesma. Em seguida, o Salvador acrescentou a promessa de sua presença com os discípulos até a consumação do século. Eles não prosseguiriam sozinhos ou sem auxilio. Em todo o seu serviço e viagens, eles conhe­ ceriam a presença do Filho de Deus. Note os quatro “todos” em relação à Grande Comis­ são: toda a autoridade; todas as nações; todas as coisas; todos os dias. Assim, o evangelho de Mateus termina com a co­ missão e o conforto do nosso glorioso Senhor. Quase vinte séculos mais tarde, suas palavras têm a mesma irrefutabilidade, relevância e aphcação. A obra ainda não foi concluída. 0 que estamos fazendo para cumprir a última ordem do Senhor?

Bibliografia Donald Grey. Words Fitiy Spoken. Wheaton: Tyndale, 1969. G a e b e le in , A. C. The Gospel o f Matthew. New York: Loizeaux Bros., 1910. K e l l y , William. Lectures on Matthew. New York: Loi­ zeaux Bros., 1911. L e n sk i, R. C. H. The Interpretation o f Saint Matthew ’s Gospel. Minneapolis: Augsburg, 1933. M a c a u la y , J. C. BeholdyourKing. Chicago: The M o o d y Bible Institute, 1982. M o r g a n , G. Campbell. The Gospel According to Mat­ thew. New York: Fleming H. Revell, 1929. P e t t i n g i l l , W. L. Simple Studies in Matthew. Harrisburg: Fred Kelker, 1910. T a s k e r , R. V G. The Gospel According to St. Matthew, T B C . Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1961. T h o m a s , W. H. Griffith. Outline Studies in Matthew. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1961. W e s t o n , H. G. Matthew, The Genesis oftheNew Testament. Philadelphia: American Baptist Publication Society, s.d.

B aknhouse,

Periódicos e materiais não publicados Smith, Wilbur. “In the Study”, Moody Monthly, abril de 1969. Woodring, H. Chester. Class Notes on Matthew, 1961, Emmaus Bible School, Oak Park (atual Emmaus Bible College).

57 (28:15) Wilbur Smith, “In the Study”, Moody Monthly, abril de 1969.

MARCOS' Introdução Há uma vivacidade e uma energia em Marcos que fascina o leitor cristão e o faz almejar, a exemplo de seu bendito Senhor, servir de alguma forma. AugustVan Ryn

I.

Posição sin gu lar no cânon

Visto que Marcos é o evangelho mais curto e cerca de 90% de seu conteúdo também aparece em Ma­ teus, Lucas ou em ambos, que contribuição o torna imprescindível? Primeiramente, a brevidade e a simplicidade de Marcos fazem do seu evangelho uma introdução ide­ al à fé cristã. Em novos campos missionários, Marcos frequentemente é o primeiro livro a ser traduzido. Mas não é somente o estilo direto e ativo — es­ pecialmente apropriado aos romanos e seus cor­ respondentes modernos — que faz de Marcos um evangelho especial. O conteúdo também contribui para isso. Enquanto na maioria das vezes Marcos relata os mesmos acontecimentos que Mateus e Lucas, e alguns com exclusividade, ele fornece detalhes esclarecedores ausentes nos outros. Por exemplo, menciona a maneira de Jesus olhar para os discípulos, a ira dele e como o Senhor andou à frente rumo a Jerusalém. Sem dúvida ele recebeu esses dados de Pedro (Marcos foi discípulo de Pedro até o final da vida desse apóstolo). A tradição diz, e provavelmente está certa, que o evangelho de Marcos é essencial­ mente as reminiscências de Pedro, o que explica os detalhes pessoais, a ação e o impacto do livro de uma testemunha ocular. É comum a crença de que Marcos é o jovem que fugiu desnudo (14:51), e que isso é sua modesta assi­ natura ao livro (os títulos nos evangelhos não faziam parte original desses livros). Visto que João Marcos viveu em Jerusalém, a tradição provavelmente está correta, pois não haveria razão para contar essa pequena história se o jovem não tivesse nenhuma relação com o evangelho.

II.

Autoriatt

A maioria dos autores aceita a opinião unânime da igreja primitiva de que o segundo evangelho foi escrito por João Marcos. Ele era o filho de Maria de Jerusalém, que possuía uma casa onde os cristãos se reuniam. A evidência externa para isso é antiga, forte e de várias partes do império. Papias (cerca de 110 d.C.)

cita João, o Presbítero (provavelmente o apóstolo João, embora seja concebível outro discípulo primi­ tivo), como tendo dito que Marcos, o companheiro de Pedro, escreveu o evangelho. Com isso estão de acordo Justino Mártir, Ireneu, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes e o Prólogo antimarcionita de Marcos. A evidência interna para a autoria de Marcos, em­ bora não extensiva, encaixa-se com essa tradição universal do cristianismo primitivo. O escritor obviamente conhecia a Palestina muito bem, em especial Jerusalém. (Os relatos concernen­ tes ao cenáculo são mais detalhados que nos outros evangelhos — não seria de admirar se fosse o lugar de sua infância!) O evangelho nos mostra um am­ biente aramaico (a língua da Palestina), costumes judeus são compreendidos e a nitidez da narrativa sugere vínculos próximos de uma testemunha ocu­ lar. O esboço do conteúdo do livro se assemelha ao sermão de Pedro em Atos 10. A tradição de que Marcos escreveu em Roma é demonstrada pela grande quantidade de palavras latinas em relação aos outros evangelhos (com o centurião, censo, denário, legião e pretório). Dez vezes no NT nosso autor é mencionado por seu nome gentílico (latim), "Marcos", e três vezes por seu nome composto judeu e gentílico, "joão Marcos". Marcos, o "servo", ou assistente, primeiro de Paulo, depois de seu primo Barnabé e, de acor­ do com tradição confiável, de Pedro antes de sua morte, foi a pessoa ideal para escrever o evangelho do Servo Perfeito.

III. Data A data de Marcos é debatida mesmo entre os estu­ diosos conservadores que creem na Bíblia. Embora nenhuma data possa ser fixada com exatidão, indicase uma anterior à destruição de Jerusalém. A tradição está dividida se Marcos redigiu a pre­ gação de Pedro sobre a vida de Jesus antes da morte do apóstolo (antes de 64-68) ou após. Se Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito, como a maioria agora ensina, então uma data an­ terior é necessária para que Lucas tenha utilizado o material desse evangelista. Alguns estudiosos datam Marcos no início dos anos 50, mas uma data entre 57-60 parece mais provável.

COMENTÁRIO

IV. Contexto e tema Nesse evangelho, temos a maravilhosa história do Perfeito Servo de Deus, o Senhor Jesus Cristo. É a his­ tória de alguém que deixou de lado a forma exterior de sua glória no céu e assumiu a forma de Servo na terra (Fp 2:7). É a história incomparável de alguém que "não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Mc 10:45). Se lembrarmos que esse Servo Perfeito era nenhum outro a não ser Deus, o Filho, e que ele voluntaria­ mente se vestiu com o avental de escravo, tornandose Servo dos homens, o evangelho brilhará com incessante esplendor. Aqui vemos o Filho encarnado de Deus vivendo como um Homem dependente na terra. Tudo o que ele fez estava em perfeita obediên­ cia à vontade do Pai, e suas obras poderosas foram todas realizadas no poder do Espírito Santo. O autor, João Marcos, foi um servo do Senhor que começou bem, afastou-se por um tempo (At 15:38) e, no final, foi restaurado para o serviço (2Tm 4:11). O estilo de Marcos é ágil, cheio de energia e con­ ciso. Ele enfatiza mais as ações que as palavras do Senhor, o que se evidencia no registro de dezenove milagres, mas somente quatro parábolas. Ao estudarmos o evangelho, procuraremos desco­ brir três coisas: 1) O que diz? 2) O que quer dizer? 3) Qual é a lição para mim? Esse evangelho demons­ trará ser um valioso manual de serviço para os que desejam ser fiéis e verdadeiros servos do Senhor. Esboço I. A preparação do Servo (1:1-1 3) II. Os primeiros ministérios do Servo na Galileia ( 1 :14— 3 :12)

III. O chamado do Servo e o treinamento dos seus discípulos (3:1 3— 8:38) IV. A viagem do Servo para Jerusalém (9— 10) V. O ministério do Servo em Jerusalém (11 — 12) VI. O discurso do Servo no monte das Oliveiras (1 3) VII. O sofrimento e a morte do Servo (14— 15) VIII. O triunfo do Servo (16)

f Veja “Suplementos” > “A vida de Cristo e seu ministério público”. 1 (1:2-3) 0 texto crítico (NU) lê: “Isaías, o profeta”, mas a primeira citação é de Malaquias; a leitura tradicional: “os profetas” (CF), defendida por uma maioria dos manuscritos, é mais acertada.

I. A.

A preparação do Servo (1:1-13)

O precursor do Servo prepara o caminho ( 1:1-8) 1:1 0 tema de Marcos é as boas-novas acerca de Jesus Cristo, Filho de Deus. Visto que seu propósito é enfatizar o papel de servo do Senhor Jesus, ele inicia com o ministério público do Salvador (anunciado por João Batista, o arauto das boas-novas), e não com sua genealogia. 1:2-3 Tanto Malaquias como Isaías1 predisseram que um mensageiro precederia o Messias, chamando o povo a se preparar de modo moral e espiritual para a sua chegada (Ml 3:1; Is 40:3). João Batista cumpriu essas profecias. Ele foi o mensageiro, a voz do que clama no deserto. 1:4 Sua mensagem era para que as pessoas se arrependessem (mudassem de ideia e abandonassem seus pecados) a fim de poderem receber a remissão de pecados, caso contrário não estariam em condição de receber o Senhor. Somente as pessoas santas são capazes de apreciar o Santo Filho de Deus. 1:5 Quando os ouvintes se arrependiam, João os batizava como expressão exterior da sua meia-volta. 0 batismo os separava publicamente da multidão da nação de Israel que abandonara o Senhor. Unia-os com o remanescente que estava pronto a receber o Cristo. Parece que no versículo 5 a resposta à prega­ ção de João fora universal. Esse não foi o caso. Pode ser que inicialmente tenha havido um grande entu­ siasmo, com multidões correndo ao deserto para ouvn o ardente pregador, mas a maioria não confessou genuinamente nem abandonou seus pecados. Veremos isso à medida que a narrativa avança. 1:6 Que tipo de homem era João? Hoje em dia seria chamado de fanático e ascético. Seu lar era o deserto. Suas roupas, como as de Elias, eram as mais rústicas e simples. Sua comida era suficiente para manter vida e força, mas raramente luxuosa. Ele era um homem que subordinou todas essas coisas à gloriosa incumbência de fazer Cristo conhe^ cido. Talvez ele pudesse ter sido rico, mas preferir ser pobre. Assim se tornou o arauto perfeito daquele que não tinha lugar para deitar a cabeça. Aprende mos aqui que a simplicidade deveria caracterizar os servos do Senhor. 1:7 Sua mensagem era a superioridade do Senho] Jesus. Ele disse que Jesus era maior em poder, en excelência pessoal e no ministério. João não se consi derou digno de desatar as correias das sandálias dc Salvador, dever servil de um escravo. Uma pregaçãc

cheia do Espírito sempre exalta o Senhor Jesus e destrona o eu. 1:8 0 batismo de João era com água. Era um sím­ bolo externo, mas não produzia nenhuma mudança na vida da pessoa. Jesus os batizaria com o Espírito Santo; esse batismo produziria um grande influxo de poder espiritual (At 1:8). Também incorporaria todos os crentes na Igreja, o Corpo de Cristo (ICo 12:13). B. O precursor batiza o Servo (1:9-11) 1:9 0 período chamado de trinta anos de silêncio em Nazaré agora estava no fim. 0 Senhor Jesus estava pronto para entrar no serviço público. Primeiro ele viajou aproximadamente 96 quilômetros de Nazaré até o Jordão, perto de Jericó. Lá ele foi batizado por João. No caso de Jesus, é claro, não havia arre­ pendimento porque não havia pecado a confessar. 0 batismo para o Senhor foi uma ação simbólica representando seu conseqüente batismo pela morte no Calvário e sua ressurreição dos mortos. Assim, no início de seu ministério público, havia esse vivido presságio de uma cruz e um túmulo vazio. 1:10-11 Assim que ele saiu da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito descendo como pomba sobre ele. A voz de Deus, o Pai, foi ouvida, reconhe­ cendo Jesus como seu Filho amado. Nunca houve um tempo na vida do Senhor em que ele não estivesse cheio do Espírito Santo. Mas agora o Espírito Santo desceu sobre ele, ungindo-o para o serviço e investindo-o de poder. Era um ministério especial do Espírito, preparatório aos três anos de serviço que estavam pela frente. 0 poder do Espírito Santo é indispensável. Uma pessoa pode ser letrada, talentosa e fluente, mas, sem essa qualidade miste­ riosa que chamamos de “unção”, seu serviço será sem vida e sem significado. A pergunta é básica: “Tenho tido uma experiência do Espírito Santo, dando-me poder para o serviço do Senhor?”. C. O Servo tentado por Satanás (1:12-13) 0 Servo de Jeová foi tentado por Satanás no deserto durante quarenta dias. O Espírito de Deus guiou-o a esse encontro para provar que Jesus não podia pecar, não para ver se ele pecaria. Se Jesus pudesse ter peca­ do como homem na terra, que segurança teríamos de que ele não pode agora pecar como homem no céu? Por que Marcos diz que ele estava com as feras? Esses animais eram energizados por Satanás para tentarem destruir o Senhor? Ou eram dóceis na pre­ sença de seu Criador? Podemos apenas fazer essas perguntas. Os anjos o serviam no final dos quarenta dias (cf. Mt 4:11); durante a tentação ele nada comeu (Lc 4:2).

As provações são inevitáveis para o que crê. Quanto mais perto seguimos o Senhor, mais intensas serão. Satanás não desperdiça sua pólvora em cristãos no­ minais, mas atira seus canhões contra os que estão ganhando território na guerra espiritual. Não é peca­ do ser tentado. 0 pecado está em ceder à tentação. Não podemos resistir na nossa força. Mas o Espírito Santo, que habita em nós, é a força do crente para subjugar as paixões tenebrosas.

II. Os primeiros ministérios do Servo na Galileia (1:14— 3:12)+

A. O Servo inicia seu ministério (1:14-15) Marcos passa por cima do ministério do Senhor na Judeia (cf. Jo 1:1— 4:54) e inicia com o grande ministério na Galileia, um período de um ano e nove meses (1:14— 9:50). Depois ele registra brevemente a parte final do ministério na Pereia (10:1-45) antes de passar a última semana em Jerusalém. Jesus foi para a Galileia, pregando o evangelho do Reino2 de Deus (RC). Sua mensagem específica foi: 1 .0 tempo estava cumprido. De acordo com o ca­ lendário profético, uma data fora fixada para a aparição pública do Rei. Agora chegara. 2 .0 reino de Deus estava próxim o; o rei estava presente e estava fazendo uma oferta genuína do reino à nação de Israel. O reino estava próximo no sentido de que o Rei aparecera em cena. 3. Os homens foram chamados: arrependei-vos e cr de no evangelho. Para poderem ser qualificados a entrar no reino, teriam de dar meia-volta na vida de pecado e crer nas boas-novas acerca do Senhor Jesus. B. Quatro pescadores chamados (1:16-20) 1:16-18 Caminhando pela praia do mar da Gali­ leia, t+ Jesus viu Simão e André pescando. Ele já os encontrara antes. Eles até mesmo se tomaram seus discípulos no início de seu ministério (Jo 1:40-41). Agora ele os chama para estar com ele, prometendo fazê-los pescadores de homens. Imediatamente, deixaram sua pescaria rendosa para segui-lo. A obe­ diência deles foi imediata, sacrificial e completa. Pescar é uma arte, assim como ganhar almas. Isso requer: 1.Paciência. Frequentemente há horas solitárias de espera. * Veja “Suplementos” > “Ministério na Galileia”. 2 (1:14-15) 0 texto (NU) omite “do reino”, seguido pelas versões RA e NVI. ” Veja “Suplementos” > “Mar da Galileia” .

2.Habilidade ao usar isca, chamarizes ou redes. constantemente chamado a lidar com a parte espiri­ 3.Discernimento e bom senso para ir aonde os peixes tual. Será que esses não são os maiores milagres que estão. o Senhor Jesus mencionou em João 14:12: “... aquele 4.Perseverança. Um bom pescador não é facilmente que crê em mim fará também as obras que eu faço e desencorajado. outras maiores fará...”? 5. Tranqüilidade. A melhor política é evitar distúrbios 1:21-22 Mas agora vamos voltar à narrativa de e manter o eu em segundo plano. Marcos. Em Cafamaum, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar no sábado. As pessoas perce­ Tomamo-nos pescadores de homens por seguir a beram que aquele não era um professor qualquer. Cristo. Quanto mais parecemos com o Senhor, mais Havia poder inegável em suas palavras, o que não sucesso teremos ao ganhar outros para ele. Nossa acontecia com os escribas que falavam de maneira responsabilidade é segui-lo. Ele cuidará do restante. monótona e automática. Suas frases eram flechas do 1:19-20 Pouco mais adiante, o Senhor Jesus en­ Todo-Poderoso. Suas lições eram impressionantes, controu Tiago e João, os filhos de Zebedeu, enquanto convincentes, desafiadoras. Os escribas mascateaestavam consertando as redes. Assim que ele os vam uma religião de segunda. Não havia manobras chamou, disseram adeus a seu pai e seguiram após astuciosas para enganar nos ensinamentos do Senhor o Senhor. Jesus. Ele tinha o direito de dizer o que disse, porque Cristo ainda chama homens a abandonar tudo e viveu o que ensinou. segui-lo (Lc 14:33). Nem posses nem pais devem Os que ensinam a palavra de Deus deveriam falar impedir a obediência. com autoridade ou não falar de jeito nenhum. O salmista disse: “Cri; por isso falei” (SL 116:10, RC). C. Um espírito imundo lançado fora (1:21-28) Paulo ecoou essas palavras em 2Coríntios 4:13. Suas Os versículos 21-34 descrevem um dia típico na vida mensagens brotaram de uma profunda convicção. do Senhor Jesus Cristo. Milagres e mais milagres 1:23 Na sinagoga havia um homem possesso por aconteciam enquanto o Grande Médico curava os um demônio. 0 demônio é descrito como um espírito endemoninhados e doentes. imundo. Isso provavelmente significa que o espírito Os milagres de cura do Salvador ilustram como ele manifestou sua presença deixando o homem fisica­ liberta os homens dos terríveis resultados do pecado. mente ou moralmente impuro. Ninguém confunda pos­ Isso é ilustrado no quadro a seguir. sessão demoníaca com várias formas de insanidade. Embora o pregador do evangelho não seja chamado As duas coisas são distintas. Uma pessoa possuída a realizar essas obras de cura física hoje em dia, ele é pelo demônio é realmente habitada e controlada por

MILAGRE 1. 2. 3. 4. 5. 6.

A cura de um endemoninhado (1:23-26) A cura da sogra de Simão (1:29-31) A cura do leproso (1:40-45) A cura do paralítico (2:1-12) A cura do homem com mão ressequida (3:1-5) A cura do endemoninhado (5:1 -20)

7. 8.

A mulher com hemorragia (5:25-34) A ressurreição da filha de Jairo (5:21-24; 35-43) 9. A cura da filha da siro-fenícia (7:24-30) 10. A cura do surdo e gago (7:31-37) 11. A cura de um cego (8:22-26) 12. A cura de um jovem possesso (9:14-29) 1 3. A cura do cego Bartimeu (10:46-52)

LIBERTAÇÃO 1. 2. 3. 4. 5.

Da impureza do pecado Da febre e inquietação do pecado Da repugnância dOo pecado Do desamparo causado pelo pecado Da inutilidade causada pelo pecado

6.

Da miséria, da violência e do terror do pecado Do poder do pecado de sugar a vitalidade Da morte espiritual causada pelo pecado

7. 8.

9. Da escravidão do pecado e de Satanás 10. Da incapacidade de ouvir a palavra de Deus e de falar acerca de coisas espirituais 11. Da cegueira à luz do evangelho 12. Da crueldade do domínio de Satanás 13. Do estado cego e miserável a que o pecado reduz

um espírito maligno. A pessoa é frequentemente ca­ paz de executar coisas sobrenaturais e muitas vezes se toma violenta ou blasfema quando confrontada com a pessoa e o serviço do Senhor Jesus Cristo. 1:24 Veja que o espírito maligno reconheceu Jesus e conversou com ele como o Nazareno e o Santo de Deus. Veja também a mudança de pronomes de plural para singular: Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? Bem sei quem és. A princípio o demônio fala como se fosse unido ao homem; depois ele fala por si só. 1 :2 5 -2 6 Jesus não aceitaria o testemunho de um demônio, mesmo se fosse verdadeiro. Então ele ordenou ao espírito: Cala-te e sai desse homem. Deve ter sido estranho ver o homem agitando-se violentamente e ouvir o grito sinistro do demônio ao deixar a vítima. 1 :2 7 -2 8 0 milagre causou espanto. Era coisa nova e surpreendente para as pessoas que, com uma simples ordem, um homem pudesse expulsar um demônio. Será que pensaram que isso era o início de um novo sistema de ensinamento religioso? Notícia do milagre imediatamente correu em todas as direções da Galileia. Antes de deixar essa seção, observemos três coisas: 1 .0 primeiro advento de Cristo aparentemente provo­ cou uma grande explosão de atividade demoníaca na terra. 2 .0 poder de Cristo sobre esses espíritos malignos prefigura seu triunfo final sobre Satanás e seus agentes. 3. Onde quer que Deus trabalhe, Satanás se opõe. Todos os que se propuserem servir o Senhor podem esperar oposição a cada passo do caminho: “Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os domi­ nadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6:12). D. A cura da sogra de Pedro (1:29-31) “Imediatamente” e seus sinônimos (“lo g o ”, “no mesmo instante”) são palavras caraterísticas desse evangelho, e são especialmente apropriadas para o evangelho que enfatiza o caráter de servo do Senhor Jesus. 1:29-30 Da sinagoga o Senhor foi à casa de Simão. Assim que ele chegou, logo ficou sabendo que a sogra de Simão achava-se acamada, com febre. 0 versícu­ lo 30 afirma que logo lhe falaram a respeito dela. Eles não perderam tempo ao trazer sua necessidade aos cuidados do Médico. 1:31 Sem dizer palavra, Jesus tomou-a pela mão e ajudou-a a ficar em pé. Ela foi curada imediatamente.

Em geral a febre deixa a pessoa debilitada. Nesse caso, o Senhor não apenas curou a febre, mas deu força imediata para servir. E ela passou a servi-los. J. R. Miller diz: Toda pessoa doente que é restaurada, em condi­ ção normal ou extraordinária, deveria se apressar em consagrar ao serviço de Deus a vida que lhe foi devolvida. [...] Muitas pessoas estão sempre desejando oportunidades para ministrar a Cristo, imaginando algum serviço esplêndido e excelente que gostariam de prestar. No entanto, deixam escapar das mãos as coisas em que Cristo quer que elas o sirvam. 0 verdadeiro ministério a Cristo é, antes de tudo, fazer, e fazer bem feito, nossas tarefas diárias.3 E notável que em cada um dos milagres de cura o procedimento do Senhor seja diferente. Isso nos lem­ bra que duas conversões não são exatamente iguais. Todo mundo deve ser tratado numa base individual. 0 fato de Pedro ter uma sogra mostra que a ideia de um sacerdote celibatário era estranha àqueles dias. É tradição de homens, que não tem fundamento na palavra de Deus e que gera uma multidão de males. E. A cura ao pôr do sol (1:32-34) A notícia da presença do Salvador se espalhara du­ rante o dia. No sábado, as pessoas não se atreveram a trazer-lhe os necessitados. Mas ao cair do sol, findo o sábado, houve uma correria à porta da casa de Pedro. Lá os enfermos e os endemoninhados experimentaram o poder que livra de todo aspecto e de toda forma de pecado. F. Pregando por toda a Galileia (1:35-39) 1:35 Jesus levantou-se alta madrugada e foi para um lugar onde estaria livre de distrações e passaria tempo em oração. O servo de Jeová se punha a ouvir a cada manhã, de Deus, o Pai, as instruções para o dia (Is 50:4-5). Se o Senhor Jesus sentiu a necessidade desse tempo matinal, quanto mais nós! Note também que a oração dele teve um preço; ele levantou e saiu alta madrugada. A oração não deveria ser uma ques­ tão de conveniência pessoal, mas de autodisciplina e sacrifício. Será que isso explica por que tanto de nosso serviço é ineficaz? 1:36-37 Quando Simão e os outros levantaram, a multidão já estava reunida novamente do lado de

fora da casa. Os discípulos foram avisar o Senhor de sua crescente popularidade. 1:38 Surpreendentemente, ele não voltou à cida­ de, mas levou os discípulos às povoações ao redor, explicando a necessidade de que ele pregue também ali. Por que ele não voltou a Cafamaum? 1. Em primeiro lugar, estivera em oração e aprendera o que Deus queria que ele fizesse naquele dia. 2. Em segundo, ele percebeu que o movimento popular em Cafarnaum era superficial. 0 Salvador nunca fora atraído por grandes multidões. Ele olhava além da superfície para ver o que estava no coração deles. 3. Ele conhecia o perigo da popularidade e ensinou os discípulos, por seu exemplo, a acautelarem-se de quando todos os homens falassem bem deles. 4. Ele consistentemente evitou qualquer demonstra­ ção superficial ou emocional que o daria a coroa antes da cmz. 5. Sua grande ênfase estava em pregar a Palavra. Os milagres de cura, enquanto pretendiam aliviar a miséria humana, também foram designados para chamar a atenção à pregação. 1:39 Assim, por toda a Galileia e nas sinagogas Jesus foi pregando e expelindo os demônios. Ele uniu a pregação com a prática, o falar com o fazer. E interessante ver a frequência com que ele expeliu demônios nas sinagogas. As igrejas liberais hoje em dia corresponderiam às sinagogas? G. Um leproso curado (1:40-45) 0 relato do leproso fomece-nos um exemplo instru­ tivo da oração que Deus responde: 1. Foi sincera e desesperada — rogando-lhe. 2. Foi reverente — de joelhos. 3. Foi humilde e submissa — se quiseres. 4. Foi confiante — podes. 5. Reconhecia a necessidade — purifica-me. 6. Foi específica — não “me abençoe”, mas purifi­ ca-me. 7. Foi pessoal — purifica-me. 8. Foi breve — cinco palavras no original. Note o que aconteceu! Jesus ficou profundamente compadecido. Não leiamos essas palavras sem um senso de exaltação e gratidão. Ele estendeu a mão. Pense nisso! A mão de Deus estendida em resposta a uma oração humilde e con­ fiante. Ele tocou-o. Sob a lei, uma pessoa se tomava cerimonialmente imunda quando tocava em um leproso.

Também havia, é óbvio, o perigo de contrair a doença. Mas o Santo Filho do Homem identificou-se com as misérias da humanidade, dissipando as ruínas do pecado sem ser contaminado por elas. Ele disse: Quero. Ele está mais disposto a curar que nós a sermos curados. Depois: fica limpo. Em um instante a pele do leproso estava lisa e limpa. Ele proibiu a divulgação do milagre até que o ho­ mem primeiro se apresentasse ao sacerdote e tivesse cumprido a oferta exigida (Lv 14:2). Isso foi um teste, antes de tudo, da obediência do homem. Ele faria como lhe fora ordenado? Não o fez; ele divulgou sua história e, como resultado, impediu o trabalho do Senhor (v. 45). Era um teste do discernimento do sacerdote. Será que ele perceberia que o tão esperado Messias chegara, realizando maravilhosos milagres de cura? Se ele era um representante típico da nação de Israel, não perceberia. Novamente encontramos Jesus se retirando das multidões e ministrando em lugares ermos. Ele não mediu sucesso através de números. H. Um paralítico curado (2:1-12) 2 :1 -4 Logo depois que o Senhor entrou em Ca­ farnaum, muitos afluíram ao redor da casa onde ele estava. A notícia correu, e as pessoas estavam ansiosas para ver o operador de milagres em ação. Quando Deus age com poder, as pessoas são atraídas. 0 Salvador fielmente anunciava-lhes a palavra à medida que se aglomeravam à porta. Lá atrás da mul­ tidão havia um paralítico, levado por quatro pessoas numa maca improvisada. A multidão impediu que ele pudesse se aproximar do Senhor Jesus. Geralmente há impedimentos quando queremos trazer outros a Jesus. Mas a fé é engenhosa. Os quatro carregadores subiram as escadas externas que iam ao telhado, des­ cobriram uma parte do eirado e abaixaram o paralíti­ co até o solo, talvez a um pátio no centro, trazendo-o perto do Filho de Deus. Alguém apelidou esses quatro amigos de Simpatia, Cooperação, Originalidade e Persistência. Deveríamos esforçar-nos para ser um amigo que manifesta essas qualidades. 2:5 Jesus, impressionado com a fé deles, disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados. Isso parecia algo estranho de se dizer. Era uma ques­ tão de paralisia, e não de pecado, não era? Sim, mas Jesus foi além do sintoma, até a causa. Ele não cura­ ria o corpo e negligenciaria a alma. Ele não remedia­ ria uma condição temporal e deixaria uma condição eterna intata. Então ele disse: Os teus pecados estão perdoados. Foi uma proclamação maravilhosa. Agora, nesta terra, nesta vida, os pecados do homem foram perdoados. Ele não teve de esperar até o Dia do Jul­

gamento. Ele tinha a garantia de perdão no presente. Do mesmo modo, os que colocam a fé no Senhor Jesus também possuem a mesma garantia. 2:6 -7 Os escribas rapidamente entenderam o significado da afirmação. Eram bem treinados na doutrina bíblica para saber que apenas Deus pode perdoar pecados. Qualquer um que declarasse per­ doar pecados estava, portanto, alegando ser Deus. Até esse ponto a sua lógica era correta. Mas, em vez de reconhecerem o Senhor Jesus como Deus, eles, no coração, o acusaram de blasfêmia. 2 :8-9 Jesus leu seus pensamentos, uma prova em si de seu poder sobrenatural. Ele lhes fez uma pergunta provocativa: “É mais fácil pronunciar que os pecados de um homem estão perdoados ou que sua paralisia está curada?” (paráfrase do autor). Na realidade, falar uma é tão fácil quanto falar a outra. Mas é igualmente impossível, humanamente falando, fazer tanto uma quanto outra. 2:10-12 0 Senhor já pronunciara que os pecados do homem estavam perdoados. Sim, mas será que realmente acontecera? Os escribas não podiam ver os pecados do homem perdoados, portanto, não acreditariam. Para poder demonstrar que os pecados do homem realmente foram perdoados, o Salvador deu aos escribas algo que pudessem ver. Ele falou ao paralítico para levantar, carregar o acolchoado de palha e andar. 0 homem imediatamente atendeu. As pessoas ficaram admiradas. Jamais viram coisa assim antes. Mas os escribas não acreditaram, apesar da evidência irresistível. Crença envolve vontade, e eles não queriam acreditar. I. O chamado de Levi (2:13-17) 2:13-14 Enquanto Jesus ensinava junto do mar, ele viu Levi recebendo os impostos. Conhecemos Levi como Mateus, que, mais tarde, escreveu o primeiro evangelho. Ele era judeu, porém sua profissão não era muito judaica, considerando que ele arrecadava impos­ tos para o tão odiado governo romano! Tais homens nem sempre eram reconhecidos por sua honestidade; para dizer a verdade, eram tratados com menosprezo, como prostitutas, como a ralé da sociedade. Todavia, foi para o crédito etemal de Levi que, ao ouvir o cha­ mado de Cristo, deixou tudo e o seguiu. Que cada um de nós possa ser como ele em obediência instantânea e incondicional. Pode parecer um grande sacrifício na hora, mas na eternidade será visto como absolutamen­ te sem sacrifício. Como o missionário e mártir Jim Elliot disse: “Não é tolo o que dá o que não pode guardar, para ganhar o que não pode perder”. 2:15 Um banquete foi organizado na casa de Levi para que pudesse apresentar seus amigos ao Senhor

Jesus. A maioria deles era como o próprio Levi: pu­ blicanos e pecadores. Jesus aceitou o convite para estar com eles. 2:16 Os escribas e fariseus (RC) pensaram que o haviam pegado numa falha muito séria. Em vez de ir diretamente a ele, foram aos discípulos dele e tentaram minar sua confiança e lealdade. Por que seu Mestre comia e bebia com os publicanos e pecadores? 2:17 Jesus ouvindo isto os fez recordar que as pessoas saudáveis não precisam de médico; somente as que estão doentes. Os escribas pensavam que estavam sãos; portanto, não reconheceram sua neces­ sidade do Grande Médico. Os publicanos e pecadores admitiram sua culpa e sua necessidade de ajuda. Je­ sus veio chamar pecadores como eles, e não pessoas presunçosas. Há uma lição aqui para nós. Não deveríamos nos fechar em comunidades cristãs. Pelo contrário, de­ veríamos procurar tomar-nos amigos dos infiéis para poder apresentá-los ao nosso Senhor e Salvador. Ao fazermos amizade com os pecadores, não devemos fazer qualquer coisa que comprometa nosso teste­ munho, nem permitir que os incrédulos nos arras­ tem para baixo, até ao seu nível. Devemos tomar a iniciativa em guiar a amizade em canais positivos de ajuda espiritual. Seria muito mais fácil nos isolarmos do mundo mau, mas Jesus não agiu assim, nem seus seguidores devem fazê-lo. Os escribas pensavam que arrumariam a reputação do Senhor por chamá-lo de amigo dos pecadores. Mas o insulto que pretendiam causar tomou-se um atributo afetuoso. Todos os redimidos alegremente o reconhecem como o amigo dos pecadores, e hão de amá-lo eternamente por isso. J. Controvérsia acerca do jejum (2:18-22) 2:18 Os discípulos de João Batista e os fariseus praticavam o jejum como exercício religioso. No AT, foi instituído como expressão de profunda tristeza. Mas havia perdido muito de seu significado e se toma­ ra um rito rotineiro. Eles notaram que os discípulos de Jesus não jejuavam, e talvez houvesse uma pitada de inveja e autopiedade no coração deles quando pediram ao Senhor uma explicação. 2:19-20 Em resposta, Jesus comparou seus discí­ pulos com os companheiros de um noivo. Ele mesmo era o noivo. Enquanto estivesse com eles, não havia ocasião para demonstração exterior de tristeza. Con­ tudo, dias viriam quando ele lhes seria tirado; nesse tempo, teriam ocasião para jejuar. 2:21 Imediatamente o Senhor acrescentou duas ilustrações para anunciar a chegada de uma nova

época incompatível com a anterior. A primeira ilustra­ ção implica um remendo novo feito de pano que ainda não encolhera. Se for usado para consertar uma veste velha, inevitavelmente encolherá e algo terá de ceder. A veste, feita com pano mais velho, será mais fraca que o remendo e novamente rasgará onde quer que o remendo seja costurado. Jesus estava comparando a velha dispensação à veste velha. Deus nunca planejou que o cristianismo remendasse o judaísmo; era um novo começo. A tristeza da velha época, expressa pelo jejum, deve dar lugar à alegria da nova. 2:22 A segunda ilustração envolve vinho novo em odres velhos. O couro dos odres perdia o poder de esticar. Se vinho novo fosse colocado neles, a pressão acumulada pela fermentação romperia as peles. 0 vinho novo tipifica a alegria e o poder da fé cristã. Os odres velhos representam as formas e os rituais do judaísmo. Vinho novo precisa de odres novos. Não adiantava para os discípulos de João e os fariseus colocarem os seguidores do Senhor sob a escravidão do triste jejum, como fora praticado. A alegria e a efervescência da nova vida devem ter permissão para se expressar. 0 cristianismo sempre sofreu devido às tentativas do homem de misturá-lo com legalismo. O Senhor Jesus ensinou que os dois são incompatíveis. A lei e a graça são princípios opostos. K. Controvérsia acerca do sábado (2:23-28) 2:23-24 Esse episódio ilustra o conflito que acabara de ensinar sobre as tradições do judaísmo e a liber­ dade do evangelho. Enquanto Jesus atravessava, em dia de sábado, as searas, seus discípulos colhiam alguns grãos para comer. Isso não violava qualquer lei de Deus. Mas de acordo com os mínimos detalhes das tradições dos anciãos os discípulos quebraxam o sábado por “colherem” e talvez até mesmo por “debulharem” (esfregando o grão nas mãos para retirar a palha)! 2:25-26 0 Senhor lhes respondeu usando um epi­ sódio no AT. Davi, embora ungido rei, fora rejeitado, e em vez de reinar, estava sendo caçado como uma perdiz. Certo dia, quando suas provisões terminaram, ele entrou na Casa de Deus e tomou dos pães da proposição para alimentar seus homens e a si mesmo. Geralmente esses pães eram proibidos a qualquer um, a não ser os sacerdotes, mas Davi não foi censurado por Deus por fazer isso. Por quê? Porque as coisas não andavam corretas em Israel. Enquanto não foi dado a Davi seu lugar legítimo como rei, Deus permitiu-lhe fazer o que normalmente seria indevido. Esse era o caso com o Senhor Jesus. Embora ungi­ do, ele não estava reinando. 0 mero fato de que seus discípulos apanharam o grão enquanto viajavam mos­

trava que as coisas não estavam certas em Israel. Os próprios fariseus deveriam estender a hospitalidade a Jesus e seus discípulos em vez de criticá-los. Se Davi realmente quebrou a lei por comer os pães da proposição, e não foi repreendido por Deus, quanto mais inculpáveis foram os discípulos que, em circunstâncias semelhantes, quebraram apenas a tradição dos anciãos. 0 versículo 26 diz que Davi comeu os pães da proposição quando Abiatar era sumo sacerdote. De acordo com ISamuel 21:1, Aimeleque era sacerdote naquela época. Abiatar era seu pai. Pode ser que a lealdade do sumo sacerdote a Davi o influenciou a permitir esse abandono excepcional da lei. 2:27-28 0 Senhor terminou o discurso por lembrar aos fariseus que o sábado foi instituído por Deus para o benefício do homem, e não para sua escravidão. Ele acrescentou que o Filho do Homem é senhor também do sábado — em primeiro lugar ele dera o sábado. Portanto, ele tinha autoridade para decidir o que era permissível e o que era proibido naquele dia. Certamente o sábado nunca pretendeu proibir trabalhos de necessidade ou ações de misericórdia. Os cristãos não são obrigados a guardar o sábado. Aquele dia foi dado à nação de Israel. 0 dia caracte­ rístico da cristandade é o Dia do Senhor, o primeiro dia da semana. Todavia, não é um dia incrustado com faça e não faça. Pelo contrário, é um dia de privilégio quando, livres do emprego secular, os fiéis podem ado­ rar, servir e assistir à educação de suas almas. Para nós não se trata de: “É errado fazer isso no Dia do Senhor?”, mas, mais precisamente: “Como posso usar melhor esse dia para a glória de Deus, para a bênção do meu próximo e para meu bem espiritual?”. L. O Servo cura no sábado (3:1-6) 3:1-2 Outro teste surgiu no sábado. Quando Jesus, de novo, entrou na sinagoga, encontrou um homem que tinha ressequida uma das mãos. Isso suscitou a pergunta: “Jesus o curaria em dia de sábado?”. Se ele o curasse, os fariseus teriam uma causa contra ele — ou assim pensavam. Imagine sua hipocrisia e falsidade. Não podiam fazer nada para ajudar esse homem e ressentiam de qualquer um que pudesse ajudá-lo. Buscaram uma base na qual poderiam condenar a vida do Senhor. Se ele curasse em dia de sábado, eles se apressariam em matá-lo como uma alcateia. 3:3-4 0 Senhor falou para o homem: Vem para o meio! O ambiente estava carregado de expectativa. Então, ele perguntou aos fariseus: E lícito nos sábados fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou tirá-la? Sua pergunta revelou a maldade dos fari-

seus. Pensaram que era errado para ele efetuar um milagre de cura no sábado, mas não era errado para eles planejarem a destruição dele no sábado! 3:5 Não é de admirar que eles não responderam! I)epois de um silêncio desconcertante, o Salvador ordenou ao homem: Estende a mão. Ao fazê-lo, devolveu-se a força total, a carne voltou ao normal e as rugas desapareceram. 3 :6 Isso era mais do que os fariseus poderiam aceitar. Retirando-se, entraram em contato com os herodianos, seus inimigos por tradição, e conspira­ vam com eles para tirarem a vida de Jesus. Ainda era sábado. Herodes havia provocado a morte de João Batista. Talvez seu partido tivesse o mesmo sucesso no intento de matar Jesus. Essa era a esperança dos fariseus. M. Grandes multidões apertam o Servo (3:7-12) 3:7-10 Deixando a sinagoga, Jesus se retirou para os lados do mar da Galileia. Na Bíblia, mar frequente­ mente simboliza os gentios. Portanto, essa ação pode representar sua mudança dos judeus para os gentios. Uma grande multidão juntou-se, não somente da Galileia, mas de lugares distantes também. A multidão era tão grande que Jesus pediu um barquinho para que ele pudesse se afastar da praia a fim de evitar ser esmagado pelos que vinham ser curados. 3:11-12 Quando os espíritos imundos na multidão gritavam que ele era o Filho de Deus, ele severa­ mente os advertia para que parassem com isso. Como já notamos, ele não receberia o testemunho dos espíri­ tos malignos. Ele não negou que era o Filho de Deus, mas escolheu controlar o tempo e a maneira de ser revelado como tal. Jesus tinha o poder de curar, mas seus milagres foram realizados somente naqueles que vinham à procura de ajuda. Assim também é com a salvação. Seu poder de salvar é suficiente para todos, mas eficiente apenas para os que creem nele. Aprendemos do ministério do Salvador que a neces­ sidade não constitui um chamado. Havia necessidade em toda parte. Jesus dependia das instruções de Deus, o Pai, para saber onde e quando servir. Deve­ mos agir assim também.

III. O chamado do Servo e o treinamento dos seus discípulos (3:13— 8:38) A. Doze discípulos escolhidos (3:13-19) 3:13-18 Defrontando-se com a tarefa da evangelização mundial, Jesus nomeou doze discípulos. Não havia nada espetacular sobre os homens em si; a ligação deles com Jesus é que os fizera grandes. Eram homens jovens. James E. Stewart tem um comentário esplêndido sobre os jovens discípulos:

0 cristianismo começou com um movimento juve­ nil. [...] Infelizmente, aarte e apregação cristãs muitas vezes obscurecem esse fato. Mas é bem certo que o grupo original dos discípulos era um grupo de homens jovens. Não é de admirar, en­ tão, que o cristianismo entrasse no mundo como um movimento juvenil. A maioria dos apóstolos provavelmente ainda estaria na casa dos vinte anos quando saíram em companhia de Jesus. 0 próprio Jesus, nunca deveríamos esquecer, iniciou seu ministério terreno com o “orvalho da juventude” sobre ele (SI 110:3; esse salmo foi aplicado a Jesus em primeiro lugar por ele mesmo e depois pela igreja apostólica). Foi um instinto verdadeiro que guiou os cristãos de dias posteriores, quando desenharam a semelhança de seu mestre nas paredes das catacumbas para descrevê-lo não como um velho, fatigado e cheio de dores, mas como um jovem pastor nos campos matinais. A versão original do grande hino de Isaac Watt era leal ao fato: Quando contemplo a maravilhosa cruz Onde o jovem Príncipe da Glória morreu. E ninguém jamais entendeu o coração do jovem com toda a sua alegria, coragem, gene­ rosidade, esperança, sua repentina solidão e sonhos que o perseguem, e conflitos escondidos e fortes tentações, ninguém jamais entendeu essas emoções tão bem como Jesus. E ninguém percebeu mais claramente que Jesus que os anos da adolescência, quando estranhos pensa­ mentos dormentes estão se agitando e o mundo inteiro começa a se revelar, são as melhores oportunidades de Deus com a alma. [...] Quando estudamos a história dos Doze primeiros, é uma aventura de jovens que estamos estudando. Vemo-los seguindo seu líder até ao desconheci­ do, não sabendo claramente quem ele é, ou por que estão fazendo isso, ou onde ele é capaz de guiá-los; mas apenas atraídos por ele, fascina­ dos e agarrados, e seguros por algo irresistível na alma dele, zombados pelos amigos, alvos da conspiração dos inimigos, com dúvidas muitas vezes vociferantes e crescentes no próprio co­ ração, até que desejassem que estivessem bem longe do assunto; mas ainda se apegando a ele, atravessando a ruína de suas esperanças até uma lealdade melhor e ganhando finalmente, de maneira triunfal, o grande nome que Te Deum lhes dá: “A companhia gloriosa dos apóstolos”. Vale a pena observá-los, para que possamos

também ser contagiados pelo seu espírito e andar nos passos de Jesus.4 Havia um propósito triplo por trás da convocação dos doze: 1) para estarem com ele; 2) para enviá-los a pregar; e 3) para que eles pudessem ter o poder de curar as enfermidades e expelir demônios. Primeiro haveria um tempo de treinamento — pre­ paração em particular antes de pregarem em público. Aqui está um princípio básico de serviço. Devemos passar tempo com ele antes de sairmos como repre­ sentantes de Deus. Em segundo lugar, foram enviados para pregar. A proclamação da palavra de Deus, seu método de evangelismo básico, deve sempre ser central. Não se deve permitir que qualquer coisa venha a subordiná-la. Por último, receberam poder sobrenatural. Expelir demônios certificaria aos homens que Deus estava falando através dos apóstolos. A Bíblia ainda não estava completa. Os milagres eram as credenciais dos mensageiros de Deus. Hoje os homens têm acesso à Palavra completa de Deus; são responsáveis por acreditar nela sem a prova dos milagres. 3 :1 9 0 nome de Judas Iscariotes se distingue dos outros apóstolos. Há um mistério ligado a uma pessoa escolhida como apóstolo tornar-se o traidor do Senhor. Uma das maiores mágoas no serviço cristão é ver alguém outrora promissor, fervoroso e aparentemente dedicado virar mais tarde as costas ao Salvador e voltar ao mundo que o crucificou. Onze provaram ser fiéis ao Senhor, e através deles ele virou o mundo de cabeça para baixo. Eles se reproduziram em círculos de alcance ainda maior e, em certo sentido, hoje somos a continuação do fruto do seu serviço. Não há como medir o grande alcance que nossa influência para Cristo possa ter. B. O pecado imperdoável (3:20-30) 3:20-21 Jesus voltou do monte, onde escolhera seus discípulos, para um lar na Galileia. Uma multidão se juntou de tal modo que ele e seus apóstolos ficaram ocupados demais para comer. Ouvindo sobre suas atividades, os parentes de Jesus sentiram que ele estava fora de si, e procuravam levá-lo embora. Sem dúvida eles estavam confusos pelo zelo do fanático religioso na família. J. R. Miller comenta: Eles só poderiam concluir, diante de seu inconquistável zelo, que ele estava louco. Ouvimos muito desse tipo de conversa nos dias de hoje 4 (3:13-18) James E. Stew art, The Life and Teaching o f Jesus Christ, p. 55-56.

quando algum fiel seguidor de Cristo esquece completamente seu eu por amor ao Mestre. As pessoas dizem: “Ele deve estar louco!”. Pensam que todo homem cuja religião ascende qualquer forma de fervor excepcional ou se desenvolve com mais seriedade que a média dos cristãos no trabalho para o Mestre é louco. Isso é um bom tipo de insanidade. É uma pena que é tão rara. Se houvesse mais, não haveria tantas almas não salvas morrendo sob a sombra de nossas igrejas; não seria tão difícil conseguir missionários e dinheiro para enviar o evangelho para os continentes ainda não alcançados; não haveria tantos bancos vazios nas nossas igrejas; tantas pausas longas nas nossas reuniões de oração; tão poucos para ensinar nas escolas dominicais. Seria algo glorioso se todos os cristãos estivessem fora de si como o Mestre esteve, ou como esteve Paulo. É uma insani­ dade muito pior, neste mundo, não se pensar em qualquer outro mundo; que, deslocando-se constantemente entre os perdidos, nunca se sin­ ta piedade deles, nem se pense na sua condição de perdidos, nem se faça nenhum esforço para salvá-los. E mais fácil manter a cabeça fresca e um coração mais frio, e não termos nenhuma preocupação sobre as almas que estão perecen­ do; mas somos os tutores de nossos irmãos, e nenhuma malfeitoria no dever pode ser pior que aquele que não presta atenção à sua salvação eterna.5 E sempre verdade que um homem fervoroso para com Deus parece demente para seus contemporâ­ neos. Quanto mais parecidos com Cristo somos, mais experimentaremos a tristeza de sermos mal interpretados por parentes e amigos. Se estivermos empenhados em ganhar uma fortuna, os homens nos encorajarão. Se formos fervorosos por Jesus Cristo, eles zombarão de nós. 3:22 Os escribas não pensavam que ele era louco. Eles o acusaram de expelir demônios pelo poder de Belzebu, o maioral dos demônios. 0 nome Belzebu significa “senhor dos mosquitos de esterco” ou “se­ nhor da imundície”. Isso era uma acusação grave, infame e irreverente! 3:23 Em primeiro lugar, Jesus contestou-a, depois pronunciou o julgamento daqueles que fizeram a acusação. Se ele estivesse expelindo os demônios por Belzebu, então Satanás estaria trabalhando contra si mesmo, frustrando os próprios propósitos. Seu objetivo é controlar os homens através dos demônios, não livrá-los dos demônios.

3:24-26 Se um reino (ou uma casa ou uma pes­ soa) estiver dividido contra si mesmo não poderá resistir. A sobrevivência contínua depende de coope­ ração interna, não de antagonismo. 3:27 A acusação dos escribas, portanto, era des­ propositada. Na verdade, o Senhor Jesus estava fazendo totalmente o oposto do que estavam dizendo. Seus milagres significavam a ruína de Satanás em vez de sua proeza. Isso é o que o Salvador quis dizer ao afirmar: Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa. Satanás é o valente. A casa é seu domínio; ele é o deus deste século. Seus bens são as pessoas que ele mantém sob sua influência. Jesus é a única pessoa que amarra Satanás e saqueia-lhe a casa. Na segunda vinda de Cristo, Satanás será amarrado e lançado num abismo sem fundo durante mil anos. 0 fato de o Salvador expelir demônios durante seu ministério terreno foi um prenúncio do encarceramento final do Diabo. 3:28-30 Nos versículos 28 a 30, o Senhor declarou a sentença dos escribas: culpados de pecado imper­ doável. Ao acusarem Jesus de expelir demônios pelo poder satânico, quando realmente era pelo poder do Espírito Santo, eles verdadeiramente estavam chamando o Espírito Santo de um demônio. Isso é blasfêmia contra o Espírito Santo. Todos os tipos de pecados podem ser perdoados, mas esse pecado em particular não tem perdão. É um pecado etemo. As pessoas podem cometer esse pecado hoje em dia? Provavelmente não. Foi um pecado cometido quando Jesus estava na terra operando milagres. Visto que atualmente ele não está mais fisicamente na terra, expulsando demônios, a mesma possibilidade de blasfemar contra o Espírito Santo não existe. As pessoas que receiam ter cometido o pecado imper­ doável não o fizeram. 0 simples fato de estarem apreensivas indica que não são culpadas de blasfêmia contra o Espírito Santo. C.

A verdadeira mãe e os verdadeiros irmãos do Servo (3:31-35) Maria, a mãe de Jesus, veio com seus irmãos para falar com ele. A multidão impediu que eles se apro­ ximassem dele, então mandaram lhe dizer que o estavam esperando do lado de fora. Quando o men­ sageiro lhe contou que sua mãe, seus irmãos e suas irmãs6 o procuravam, ele, correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor, anunciou que sua mãe e seu irmão era qualquer que fizesse a vontade de Deus. Várias lições surgem daqui para nós:

1. Antes de tudo, as palavras do Senhor Jesus foram uma repreensão à hiperdulia (o culto a Maria). Ele não a desonrou como mãe natural, mas disse que os parentescos espirituais têm precedência sobre os naturais. Era mais proveitoso para Maria fazer a vontade de Deus que ser sua mãe. 2. Em segundo lugar, contraria o dogma de que Maria foi eternamente virgem. Jesus teve irmãos. Ele foi o primogênito de Maria, mas ela gerou posterior­ mente outros filhos e filhas (cf. Mt 13:55; Mc 6:3; Jo 2:12; 7:3,5,10; At 1:14; ICo 9:5; Gl 1:19. Cf. tb. SI 69:8). 3. Jesus colocou os interesses de Deus acima dos vín­ culos naturais. Ele ainda diz aos seus seguidores hoje em dia: “Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14:26). 4. A passagem nos faz lembrar que nós, cristãos, esta­ mos atados por laços mais fortes aos companheiros da fé que aos de parentesco sanguíneo quando esses parentes são descrentes. 5. Por último, enfatiza a importância que Jesus põe em fazer a vontade de Deus. Eu atinjo esse padrão? Sou eu a mãe dele ou irmão dele? D. A parábola do semeador (4:1-20) 4:1-2 Jesus voltou a ensinar à beira-mar. Outra vez a multidão o impeliu a usar um barco como púlpito, a pouca distância da praia. E novamente lhes ensinou lições espirituais do mundo e da natureza ao seu redor. Ele podia ver a verdade espiritual no reino natural. Está aí para todos nós vermos. 4:3-4 Essa parábola tem a ver com o semeador, a semente e a terra. 0 solo à beira do caminho estava duro demais para a semente penetrar. Vieram as aves e comeram a semente. 4:5-6 0 solo rochoso tinha uma pequena camada de terra cobrindo um leito de rochas. A superficialida­ de da terra impediu que a semente germinasse. 4:7 0 solo espinhoso possuía arbustos de espinhos que cortavam o nutrimento e a luz do sol da semente, sufocando-a. 4:8-9 A boa terra era profunda e fértil, com con­ dições favoráveis à semente. Algumas sementes produziram trinta, outras sessenta e algumas cem por um.

6 (3:31-35) Tanto o (NU) (o mais antigo) como o M (a maioria dos manuscritos ou Texto Majoritário) acrescentam “e suas irmãs”. Isso é sem dúvida a leitura correta. RC, CF e NVI omitem a expressão, presente na RA.

4:10-12 Quando os discípulos estavam a sós com ele, eles o interrogaram por que motivo falava em parábolas. Ele lhes explicou que somente aqueles com coração receptivo poderiam conhecer o mistério do reino de Deus. Um mistério no NT é uma verdade até aqui desconhecida que só pode ser conhecida através de revelação especial. Eis o m istério do reino de Deus: 1.0 Senhor Jesus fora rejeitado quando ele se apre­ sentou como Rei a Israel. 2. Um período de tempo ocorreria antes que o reino fosse realmente estabelecido na terra. 3. Nesse ínterim, existiria na forma espiritual. Os que reconhecessem Cristo como Rei estariam no reino, mesmo que o próprio Rei estivesse ausente. 4. A palavra de Deus seria semeada nesse período interino com etapas alternadas de sucesso. Algu­ mas pessoas realmente se converteriam, mas ou­ tras seriam apenas crentes professos. Os cristãos professos estariam no reino na sua forma externa, mas somente os genuínos entrariam no reino na sua realidade interior. Os versículos 11-12 explicam por que essa verdade foi apresentada por parábolas. Deus revela segredos à sua família, para aqueles cujos corações estão abertos, receptivos e obedientes, enquanto delibera­ damente esconde a verdade dos que rejeitam a luz que lhes é dada. Essas são as pessoas a quem Jesus se referiu como aos de fora. As palavras do versículo 12 podem parecer ríspidas e injustas ao leitor desatento: para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvin­ do, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles. Mas temos de lembrar o tremendo privilégio que essas pessoas desfrutaram. 0 Filho de Deus ensinara no seu meio e efetuara muitos milagres poderosos pe­ rante eles. Em vez de reconhecê-lo como o verdadeiro Messias, agora eles o estavam rejeitando. Porque rejeitaram a Luz do mundo, lhes seria negada a luz dos ensinamentos do Senhor. Daqui por diante eles veriam seus milagres, mas não entenderiam o signi­ ficado espiritual; ouviriam suas palavras, mas não apreciariam as profundas lições nelas contidas. Realmente existe algo como ouvir o evangelho pela última vez. É possível pecar até terminar o dia da gra­ ça. Os homens muitas vezes vagueiam além do ponto de redenção. Há homens e mulheres que recusaram o Salvador e que nunca mais terão a oportunidade de se arrependerem e serem perdoados. Podem ouvir o evangelho, mas ele cairá em ouvidos endurecidos e em coração insensível. Dizemos: “Onde há vida, há

esperança”, mas a Bíblia menciona alguns que, embo­ ra vivos, estão além da esperança de arrependimento (Hb 6:4-6, p. ex.). 4:13 Voltando à parábola do semeador, o Senhor Jesus perguntou aos discípulos como eles esperavam entender as parábolas mais complexas se não po­ diam entender essa que era simples. 4 :1 4 0 Salvador não identificou o sem eador. Poderia ser ele mesmo ou aqueles que pregam como seus representantes. A semente, ele disse, é a Palavra. 4:1 5 -2 0 Os vários tipos de solo representam o coração humano e sua receptividade à Palavra, como segue: 0 solo à beira do caminho (v. 15). Esse coração é duro. A pessoa, obstinada e não lavrada, diz um “não” determinado ao Salvador. Satanás, exemplifi­ cado pelos pássaros, arrebata a Palavra. 0 pecador fica impassível e não se perturba com a mensagem. Consequentemente, a partir disso, ele é indiferente e insensível ao que lhe é comunicado. 0 solo rochoso (v. 16-17). Essa pessoa elabora uma resposta superficial à Palavra. Talvez na emoção de um apelo ardoroso em uma reunião de evangelização ela professa sua fé em Cristo. Mas é apenas aprovação mental. Não há verdadeiro compromisso com Cristo. Recebe a Palavra com alegria; seria melhor se recebesse com profundo arrependimento e contrição. Dá-se a impressão de progresso promis­ sor por um tempo, mas quando chega a angústia ou a perseguição por causa de sua profissão de fé, decide que o custo é grande demais e abandona tudo. Enquanto for popular se dizer cristão, ela alegará tal condição, mas a perseguição exporá sua farsa. 0 solo com espinhos (v. 18-19). Essas pessoas também começam de modo promissor. Externamente parecem ser cristãos verdadeiros. Mas depois se ocupam com negócios, com preocupações mundanas, com a ambição de enriquecerem. Perdem o interesse pelas coisas espirituais, até que, por fim, abandonam de todo jeito qualquer afirmação de serem cristãos. A boa terra (v. 20). Aqui há uma aceitação defini­ tiva da Palavra, custe o que custar. Essas pessoas verdadeiramente são nascidas de novo. São súditos leais de Cristo, o Rei. Nem o mundo, nem a carne, nem o inimigo pode abalar sua confiança nele. Mesmo entre os ouvintes da boa terra, há graus diferentes de fecundidade. Alguns produzem trinta, outros sessenta e alguns cem por um. 0 que deter­ mina o grau de produtividade? A vida mais produtiva é a que obedece à Palavra de forma pronta, inques­ tionável e alegre.

E. A responsabilidade dos que ouvem (4:21-25) 4:21 A candeia aqui representa as verdades que o Senhor divulgou aos discípulos. Essas verdades não foram colocadas debaixo do alqueire ou da cama, mas expostas para que os homens as vissem. 0 cesto do alqueire pode representar os negócios, e, se lhes for permitido, roubarão o tempo que deveria ser dado às coisas do Senhor. A cama pode repre­ sentar o conforto ou a preguiça, ambos inimigos do evangelismo. 4:22 Jesus falou às multidões em parábolas. A verdade subjacente estava escondida. Mas a intenção divina era que os discípulos explicassem essas verda­ des escondidas a corações dispostos. 0 versículo 22 poderia também significar, contudo, que os discípulos serviriam de constante lembrança de um dia vindouro da manifestação, quando será revelado se os negócios ou o comodismo tiveram a precedência sobre dar testemunho do Senhor. 4:23 A seriedade dessas palavras é indicada pela advertência de Jesus: Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça. 4:24 Depois o Salvador acrescentou outro aviso sério: Atentai no que ouvis. Se ouço alguma ordem da palavra de Deus, mas falho em lhe obedecer, não posso passá-la aos outros. 0 que dá poder e alcance ao ensino é as pessoas verem a verdade na vida do pregador. O que dermos ao repartir a verdade com outros retornará a nós acrescido de juros. 0 professor ge­ ralmente aprende mais ao preparar uma lição que os alunos. E a recompensa futura será maior que nossos gastos insignificantes. 4:25 Cada vez que adquirimos uma nova verdade e permitimos que ela se tome real em nossa vida, esta­ mos convictos de que receberemos mais verdade. Em contrapartida, o fracasso em responder às verdades resulta na perda do que foi previamente adquirido. E A parábola do cultivo da semente (4:26-29) Essa parábola se encontra apenas em Marcos. Pode ser interpretada pelo menos de duas maneiras. 0 homem pode representar o Senhor Jesus lançando a semente na terra durante seu ministério público, depois retor­ nando ao céu. A semente começa a germinar — de forma misteriosa, imperceptível, mas invisivelmente. De um pequeno começo, a colheita de verdadeiros crentes se desenvolve. E, quando o fruto já estiver maduro, a ceifa será levada ao silo celestial. A outra interpretação é que a parábola pode ter a intenção de encorajar os discípulos. Sua responsabi­ lidade é semear a semente. Eles podem dormir e se levantar, de noite e de dia, sabendo que a palavra

de Deus não voltará vazia, mas efetuará o que ele pretendia que ela fizesse. Através de um processo misterioso e miraculoso, completamente à parte da força e da habilidade do homem, a Palavra trabalha no coração, produzindo fruto para Deus. 0 homem planta e rega, mas Deus dá o aumento. A dificuldade com essa interpretação se encontra no versículo 29. Somente Deus pode lançar a foice na época da ceifa, mas, na parábola, o mesmo homem que semeia a semente é o que mete a foice quando o grão está maduro. G. A parábola do grão de mostarda (4:30-34) 4:30-32 Essa parábola ilustra o crescimento do reino desde o início como um pequeno grão de mostarda até ficar uma árvore ou arbusto grande o suficiente para que os pássaros empoleirem nela. 0 reino começou com uma minoria perseguida. Depois se tomou mais popular e foi adotado por governos como religião estatal. Esse crescimento foi espetacular, mas doentio, pois muito prestavam serviço ao Rei só da boca para fora, mas não eram verdadeiramente convertidas. Como Vance Havner disse: Enquanto a Igreja ganhava cicatrizes, seus mem­ bros avançaram. Quando começou a ganhar medalhas, a causa debilitou-se. 0 tempo em que os cristãos eram lançados aos leões foi melhor para a Igreja do que aquele em que compraram ingressos e sentaram-se na arquibancada.7 0 arbusto de mostarda, portanto, retrata a cristandade professa, que se tomou um poleiro para todas as espécies de falsos ensinadores. É a forma externa do reino como existe hoje em dia. 4:33-34 Os versículos 33-34 apresentam um princí­ pio importante na área de ensinamento. Jesus ensinou às pessoas conforme o permitia a capacidade dos ouvintes. Ele construiu em cima de conhecimentos prévios, permitindo tempo para que assimilassem uma lição antes de dar-lhes a próxima. Cônscio da capacidade dos ouvintes, ele não os saturou com meus instrução do que poderiam absorver (cf. Jo 16:12; ICo 3:2; Hb 5:12). 0 método de alguns pregadores nos leva a pensar que Cristo talvez tenha dito: “Apascenta as minhas girafas” em vez de “Apascente as minhas ovelhas” ! Embora seu ensinamento geral fosse em parábolas, ele as explicava em particular aos seus próprios

discípulos. Ele dá luz para aqueles que sinceramente a desejam. H.

O vento e as ondas atendem ao Servo (4:35-41) 4:35-37 Na tarde do mesmo dia, Jesus e os discípulos iniciaram a travessia do mar da Galileia em direção à praia leste. Não fizeram nenhum preparativo de antemão. Outros barcos o seguiam. Então, de re­ pente, um grande temporal surgiu. Enormes ondas ameaçaram inundar o barco. 4:38-41 Jesus estava dormindo na popa do barco. Os discípulos, apavorados, o despertaram, censuran­ do-o por sua aparente falta de preocupação com a se­ gurança deles. 0 Senhor, despertando, repreendeu o vento e as ondas. A bonança foi imediata e completa. Depois, Jesus brevemente ralhou com seus seguidores por temerem e não confiarem. Ficaram pasmos pelo milagre. Ainda que soubessem quem era Jesus, fica­ ram impressionados outra vez pelo poder de alguém que podia controlar as forças da natureza. O incidente revela a humanidade (ele dormiu na popa do barco) e a divindade (ele falou e o mar ficou calmo) do Senhor Jesus. Demonstra seu poder sobre a natureza, como mi­ lagres anteriores mostraram seu poder sobre as doenças e os demônios. Por último, encoraja-nos a ir a Jesus em todas as tempestades da vida, sabendo que o barco nunca pode afundar quando ele está presente. Tu és o Senhor que dormiu no travesseiro, Tu és o Senhor que acalmou o mar furioso, Que importa se o vento é contrário e sacode o vagalhão, Se somente estamos no barco contigo? Amy Carmichael I. O endemoninhado geraseno curado (5:1-20) 5:1-5 A terra dos gerasenos8 ficava no lado leste do mar da Galileia. Lá Jesus encontrou um homem violento fora do comum, possesso por demônios, um terror para a sociedade. Todo esforço para restringi-lo falhara. Ele vivia entre os sepulcros e nas monta­ nhas, gritando continuamente e cortando-se com pedras afiadas. 5:6-13 Quando o endemoninhado viu Jesus, primei­ ro agiu com respeito, depois reclamou amargamente. Que figura verdadeira e terrível é essa — um homem curvou-se em adoração, petição e fé, e

ainda odiando, desafiando e temendo; uma dupla personalidade, ansioso pela liberdade, todavia agarrado na paixão. Daily Notes o f the Scripture Union A ordem exata dos acontecimentos não é clara, mas pode ter sido esta: 1 .0 endemoninhado efetuou um ato de reverência ao Senhor Jesus (v. 6). 2. Jesus ordenou ao espírito imundo: Sai desse ho­ mem! (v. 8). 3 .0 espírito, falando através do homem, reconheceu quem Jesus era, desafiou seu direito de interferir e implorou com insistência a Jesus que parasse de atormentá-lo (v. 7). 4. Jesus perguntou ao homem: Qual é o teu nome? Era Legião, significando que era possuído por muitos demônios (v. 9). Isso aparentemente não contradiz o versículo 2, onde diz que ele tinha um espírito imundo (singular). 5. Talvez tenha sido o porta-voz dos demônios que suplicou permissão para entrar numa manada de porcos (v. 10-12). 6. A permissão foi dada e o resultado é que dois mil porcos jogaram-se encosta abaixo e se afogaram (v. 13). 0 Senhor frequentemente tem sido criticado por causar a destruição desses porcos. Vários pontos deveriam ser observados: 1. Ele não causou essa destruição; permitiu-a. Foi o poder destruidor de Satanás que destruiu os por­ cos. 2. Não há registro de que os proprietários encontra­ ram falha nesse ato. Talvez fossem judeus para os quais a criação de porcos era proibida. 3. A alma do homem valia mais que todos os porcos no mundo. 4. Se soubéssemos tanto quanto Jesus sabia, agiría­ mos exatamente como ele agiu. 5:14-17 Aqueles que testemunharam a destruição dos porcos voltaram correndo para a cidade com as notícias. Uma multidão voltou e encontrou o exendemoninhado assentado aos pés de Jesus, vestido, e em perfeito juízo. As pessoas temeram. Alguém disse: “Temeram quando ele acalmou a tempestade no mar, e agora em uma alma humana”. As testemunhas relataram toda a narrativa aos recém-chegados. Era demais para o populacho; imploraram a Jesus que se retirasse da terra deles. Isso, e não a destruição dos porcos, é a parte lamentável do episódio. Para eles, Cristo era um convidado que dava muita despesa!

Multidões incontáveis ainda desejam que Cristo esteja longe deles por medo de que sua comu­ nhão possa causar algumas perdas sociais, fi­ nanceiras ou pessoais. Com o objetivo de salvar suas possessões, perdem suas almas. 5:18-20 No momento em que Jesus estava para partir de barco, o homem curado suplicava-lhe que o deixasse acompanhá-lo. Fora um pedido digno, evidenciando sua nova vida, mas Jesus o enviou para casa como testemunha viva do grande poder e da misericórdia de Deus. 0 homem obedeceu, levando as boas-novas até Decápolis, uma área que abrangia dez cidades. Isso é uma ordem ainda válida para todos os que experimentaram a graça salvadora de Deus: Vai para tua casa, para os teus. Anuncia-lhes tudo o que o Senhor te fez e como ele teve compaixão de ti. Evangelismo começa em casa! J.

Curando o incurável e ressuscitando um morto (5:21-43) 5:21-23 De volta à praia oeste do mar azul da Ga­ lileia, o Senhor Jesus logo estava no centro de uma grande multidão. Um pai, angustiado, aproximou-se dele correndo. Era Jairo, um dos principais da sina­ goga. Sua filhinha estava morrendo. Será que Jesus faria o favor de ir e impor as mãos sobre ela, para que pudesse ser curada? 5:24 0 Senhor atendeu e se dirigiu a casa. A mul­ tidão o seguia, comprimindo-o. É interessante que logo após a declaração de que a multidão o comprimia, temos um relato de fé: o toque que curou. 5:25-29 Uma mulher perturbada interceptou Je­ sus no caminho para a casa de Jairo. 0 Senhor não estava nem aborrecido nem ligeiramente irritado por essa aparente interrupção. Como reagimos às interrupções? Acho que descobri grande ajuda ao tentar en­ carar todas as interrupções e impedimentos ao serviço que planejara para mim como disciplina, provações enviadas por Deus, para ajudar-me a não me tomar egoísta. [...] Não é perda de tempo, como muitas vezes somos tentados a pensar, é a parte mais importante do trabalho do dia, o melhor que podemos oferecer a Deus. Choice Gleanings Calendar Essa mulher sofria com hemorragia crônica havia doze anos. Os vários médicos com quem se tratara, ao que parece, usaram alguns métodos drásticos de tratamento, esgotaram os recursos e deixaram-na pior. Quando a esperança de recuperação se esgo­

tara, alguém lhe falou sobre Jesus. Ela não perdeu tempo e foi procurá-lo. Movendo-se cuidadosamente pela multidão, ela tocou na orla da veste do Senhor. Imediatamente, o sangramento parou e ela se sentiu completamente bem. 5:30 Seu plano era sair de modo despercebido, mas o Senhor não permitiu que ela perdesse a bênção de publicamente reconhecê-lo como seu Salvador. Ele estava ciente do escoamento de poder divino quando ela o tocou; curá-la custou-lhe algo. Então ele per­ guntou: Quem me tocou nas vestes? Ele conhecia a resposta, mas perguntou para poder trazê-la à frente da multidão. 5:31 Os discípulos acharam que era uma pergunta tola. Muitas pessoas estavam acotovelando-o conti­ nuamente. Por que perguntar “ Quem me tocou ?” Mas há uma diferença entre o toque de proximidade física e o toque de fé desesperada. É possível estar de uma maneira tão próxima dele sem confiar nele, mas impossível tocá-lo por fé sem ele saber disso e sem ser curado. 5:32-33 A mulher se aproximou, atemorizada e tremendo; prostrou-se diante dele e fez sua primeira confissão pública de Jesus. 5 :3 4 Depois, ele falou palavras de segurança à sua alma. Confissão aberta de Cristo é de tremenda importância. Sem isso, pode haver pouco crescimen­ to na vida cristã. Ao tomarmos nossa posição, com coragem, por ele, o Senhor inunda nossa alma com total segurança de fé. As palavras do Senhor Jesus não apenas confirmaram sua cura física, mas também, sem dúvida, incluíram a grande bênção da salvação da alma. 5:35-38 Nessa altura, os mensageiros chegaram com a notícia de que a filha de Jairo falecera. Não havia mais necessidade de trazer o Mestre. 0 Senhor graciosamente tranquilizou a Jairo, depois levou Pedro, Tiago e João para a casa. Encontraram o choro desenfreado característico dos lares orientais em tempos de tristeza, alguns o faziam com lamentadores alugados. 5:39-42 Quando Jesus lhes garantiu: A criança não está morta, mas dorme, suas lágrimas se trans­ formaram em desdém. Destemido, ele levou a família próxima à criança imóvel. Tomando-a pela mão, dis­ se em aramaico: Menina, eu te mando, levanta-te! Imediatamente a menina de doze anos se levantou e pôs-se a andar. Os parentes ficaram pasmos e, sem dúvida, delirantes de alegria. 5:43 0 Senhor proibiu que divulgassem o milagre. Ele não estava interessado em aclamações popula­ res. Ele deve avançar com determinação até a cruz. Se a menina de fato morrera, então esse capítulo ilustra o poder de Jesus sobre demônios, a doença

e a morte. Nem todos os estudiosos concordam que ela estivesse morta. Jesus disse que ela não estava morta, mas dormindo. Talvez ela estivesse em coma. Ele poderia, com a mesma facilidade, ressuscitá-la dentre os mortos, mas ele não aceitaria o crédito pela ressurreição se ela apenas estivesse inconsciente. Não deveríamos omitir as palavras finais do capítulo: e mandou que dessem de comer à menina. No mi­ nistério espiritual, isso seria conhecido como “trabalho de acompanhamento”. Almas que experimentaram o pulsar da nova vida necessitam ser alimentadas. Uma maneira pela qual um discípulo pode manifestar seu amor pelo Salvador é alimentar suas ovelhas. K. O Servo rejeitado em Nazaré (6:1-6) 6:1-3 Jesus voltou a Nazaré com seus discípulos. Essa era sua terra, onde ele trabalhara como car­ pinteiro. No sábado ele ensinou na sinagoga. As pessoas, admiradas, não podiam negar a sabedoria de seus ensinamentos ou deixar de se maravilhar por seus milagres. Mas havia uma profunda relutância em reconhecê-lo como Filho de Deus. Pensaram nele como o carpinteiro, filho de Maria, cujos irmãos e ir­ mãs ainda estavam lá. Se ele voltasse a Nazaré como um poderoso herói conquistador, talvez pudessem aceitá-lo mais prontamente. Mas ele veio com despre­ tensiosa graça e humildade. Isso os escandalizou. 6:4-6 Foi aí que Jesus observou que um profeta geralmente recebe melhor recepção longe de casa. Seus parentes e amigos eram próximos demais a ele para apreciá-lo ou a seu ministério. “Em nenhum lugar é mais difícil de servir ao Senhor que em casa.” Os pró­ prios nazarenos eram um povo desprezado. Uma atitude popular era: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?”. Todavia, esses rejeitados socialmente desprezaram o Senhor Jesus. Que observação sobre o orgulho e a descrença do coração humano! A descrença em grande parte impediu o trabalho do Salvador em Nazaré. Ele curou uns poucos enfermos, mas foi só isso. A des­ crença das pessoas assombrou-o. Miller alerta: Tal descrença como essa tem conseqüências imen­ sas para o mal. Fecha os canais da graça e da miseri­ córdia, para que somente um gotejar alcance a vida humana em necessidade.9 Novamente, Jesus experimentou a solidão de ser mal interpretado e menosprezado. Muitos de seus seguidores compartilharam essa aflição. Muitas vezes os servos do Senhor se apresentam com uma máscara muito humilde. Será que somos capazes de

olhar além das aparências exteriores e reconhecer verdadeiro valor espiritual? Não intimidado por sua rejeição em Nazaré, o Senhor percorria as aldeias circunvizinhas, ensinando a Palavra. L. O Servo envia seus discípulos (6:7-13) 6:7 0 tempo de os doze começarem chegara. Esti­ veram sob a tutela incomparável do Salvador; agora iriam como arautos da gloriosa mensagem. Ele os en­ viou de dois em dois. A pregação seria assim confir­ mada na boca de duas testemunhas. Também haveria força e ajuda mútua ao viajarem juntos. Por último, a presença de dois poderia ser útil nas culturas onde as condições morais eram baixas. Em seguida, deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos. Vale a pena notar isso. Não é comum expulsar demônios; somente Deus pode conceder esse poder. 6:8 Se o reino de nosso Senhor fosse deste mundo, ele nunca teria dado as instruções dos versículos 8-11. São totalmente o contrário das que um líder secular comum daria. Era para os discípulos irem sem provisões — nem pão, nem alforje, nem dinheiro. Eles deviam confiar essas necessidades a ele. 6:9 Tiveram permissão para levar sandálias e um bordão, o último talvez para proteção contra animais, e somente uma túnica. Com certeza ninguém invejaria as posses dos discípulos, nem seria atraído ao cris­ tianismo com o intuito de enriquecer-se! E qualquer poder que os discípulos tivessem deveria vir de Deus; estavam totalmente dependentes dele. Foram envia­ dos nas circunstâncias mais econômicas, todavia, eram representantes do Filho de Deus; investidos com seu poder. 6:10 Era para eles aceitarem hospitalidade toda vez que lhes fosse oferecida, e era paraficarem lá até partirem da região. Essa instrução impedia que ficas­ sem à procura de hospedagens mais confortáveis. Sua missão era pregar a mensagem de alguém que não agradava a si mesmo, que não procurava os próprios interesses. Não era para comprometer a mensagem com a procura de luxo, conforto ou sossego. 6:11 Se um lugar rejeitasse os discípulos e sua mensagem, não eram obrigados a permanecer. Per­ manecer significaria lançar pérolas aos porcos. Ao partirem, os discípulos deveriam sacudir o pó dos pés, simbolizando a rejeição de Deus aos que rejeitam seu Filho amado. Embora algumas das instruções fossem de natu­ reza temporária e mais tarde tenham sido retiradas pelo Senhor Jesus (Lc 22:35-36), mesmo assim perso­ nificam princípios duradouros para o servo de Cristo em cada época. 6:12-13 Os discípulos saíram e pregavam arre­ pendimento, expeliam muitos demônios e curavam

numerosos enfermos, ungindo-os com óleo. Acre­ ditamos que o ungir com óleo é um gesto simbólico, significando o poder calmante e aliviador do Espírito Santo. M. A decapitação do precursor do Servo (6:14-29) 6:14-16 Quando a notícia chegou ao rei Herodes de que um operador de milagres estava viajando pela ter­ ra, imediatamente concluiu: João Batista ressuscitou dentre os mortos. Outros diziam que era Elias ou um dos profetas, mas Herodes estava convicto de que o homem a quem ele decapitara ressurgira. João Batis­ ta fora uma voz de Deus. Herodes silenciara essa voz. Agora tormentos terríveis da consciência estavam apunhalando a Herodes pelo que fizera. Aprenderia que o caminho do transgressor é penoso. 6:17-20 A narrativa agora volta ao tempo da exe­ cução de João. O Batizador reprovara a Herodes por entrar em um casamento ilegal com a mulher de seu irmão Filipe. Herodias, agora a esposa de Herodes, ficou furiosa e jurou vingança. Mas Herodes respeita­ va a João como um homem justo e santo e frustrou seus esforços. 6:21-25 Por fim, ela teve sua chance. Na festa de aniversário de Herodes, com celebridades regionais presentes, Herodias conseguiu que sua filha dan­ çasse. Isso agradou a Herodes a tal ponto de ele prometer qualquer coisa à garota, até a metade de seu reino. Instigada pela sua mãe, ela pediu num prato a cabeça de João Batista. 6:26-28 O rei foi pego numa armadilha. Contra seus desejos e melhor juízo, atendeu o pedido. O pecado havia tecido sua teia ao redor dele e o vassalo rei fora vítima de uma mulher má e de uma dança sensual. 6:29 Quando os discípulos fiéis de João souberam o que acontecera, pediram o corpo e o enterraram, depois foram contar a Jesus. N. Alimentando os cinco mil (6:30-44) 6:30 Esse milagre se encontra em todos os quatro evangelhos e aconteceu no início do terceiro ano do ministério público de Jesus. Os apóstolos acabavam de voltar a Cafamaum da sua primeira missão de pregar (cf. v. 7-13). Talvez estivessem entusiasmados com o sucesso da empreitada, talvez fatigados e com os pés doendo. Reconhecendo sua necessidade de descanso e sossego, o Senhor levou-os de barco até uma área remota na praia do mar da Galileia. 6:31-32 Frequentemente a frase “Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto” é usada para justificar férias luxuosas para cristãos. William Kelly escreveu:

Seria melhor para nós se precisássemos descan­ sar mais dessa maneira; quer dizer, se nossos trabalhos fossem em quantidade excessiva, se nossos esforços de abnegação para com os ou­ tros fossem tão contínuos, então poderíamos ter a certeza de que essa seria a palavra do Senhor para conosco.10 6 :3 3 -3 4 Uma multidão seguiu o Senhor e seus discípulos indo por terra, pela costa da lagoa. Jesus se compadeceu das pessoas. Estavam vagueando sem um líder espiritual, com fome e indefesos. Então ele passou a ensinar-lhes. 6:35-36 Em declinando a tarde, seus discípulos ficaram inquietos por causa da multidão; tantas pes­ soas e não havia o que comer. Argumentaram com o Senhor: despede-os. A mesma multidão que arrancou a compaixão do Salvador incomodou os discípulos. As pessoas são um incômodo para nós ou são os objetos do nosso amor? 6:37-38 Jesus virou-se para os discípulos e dis­ se: Dai-lhes vós mesmos de comer. Tudo parecia despropositado: cinco mil homens, mais mulheres e crianças, e nada a não ser cinco pães e dois peixes — e Deus. 6:39-44 No milagre decorrente, os discípulos viram uma figura de como o Salvador daria a si mesmo como o pão da vida para um mundo faminto. Seu corpo seria quebrado para que outros pudessem ter vida etema. Aliás, as palavras usadas são altamente sugestivas, pois lembram as mesmas empregadas na ceia do Senhor, que comemora sua morte: tomou, abençoou; partiu e deu. Os discípulos também aprenderam lições preciosas sobre como deve ser o serviço que prestam a Jesus: 1. Os discípulos do Senhor Jesus nunca deveriam duvi­ dar do seu poder para lhes suprir as necessidades. Se ele pode alimentar cinco mil homens com cinco pães e dois peixes, ele pode suprir os servos que confiam nele em quaisquer circunstâncias. Podem trabalhar para ele sem se preocupar de onde vem o seu susten­ to. Se buscarem em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça, toda necessidade será suprida. 2. Como o mundo que perece pode ser evangelizado? Jesus diz: Dai-lhes vós mesmos de comer! Se dermos a ele o que temos, não importa quão insignificante pareça ser, ele pode multiplicar em bênçãos às multidões. 3. Ele manejou o trabalho de uma maneira sistemá­ tica, sentando a multidão em grupos de cem e cinqüenta.

4. Ele abençoou e partiu os pães e os peixes. Estes, sem a bênção dele, nunca seriam úteis. Inteiros, seriam totalmente insuficientes. “A razão pela qual não nos damos mais livremente às pessoas é que ainda não fomos devidamente partidos ou quebrados”. 5. Jesus não distribuiu a comida. Ele permitiu que os discípulos o fizessem. Seu plano é alimentar o mundo através de seu povo. 6. Havia o suficiente para todos. Se boje em dia os cristãos colocassem no trabalho do Senhor tudo acima das necessidades comuns, o mundo inteiro poderia ouvir o evangelho nessa geração. 7. Sobraram mais pedaços (doze cestos cheios) que ao começarem. Deus é um doador generoso. Mas preste atenção que nada foi desperdiçado. A sobra foi recolhida. Desperdício é pecado. 8. Um dos maiores milagres nunca aconteceria se os discípulos tivessem se apegado ao seu plano de descansar. Quantas vezes isso acontece conosco! O. Jesus anda sobre o mar (6:45-52) 6:45-50 0 Salvador pode fornecer não só o sustento de seus servos, mas também sua segurança. Após enviar os discípulos de volta à praia oeste da lagoa em um barco, Jesus subiu ao monte para orar. Na escuridão da noite, ele os viu remando com difi­ culdade contra um vento contrário. Ele foi dar-lhes assistência, andando por sobre o mar. A princípio, ficaram atemorizados, pensando ser um fantasma. Depois ele os tranquilizou e subiu a bordo do barco. 0 vento cessou imediatamente. 6:51-52 0 relato termina com o comentário: entre si, ficaram muito assombrados e maravilhados, pois não tinham compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido (RC). Mes­ mo após ver o milagre dos pães, parece que ainda não haviam percebido que nada era impossível para ele. Não deveriam ter ficado surpresos ao vê-lo andar sobre as águas. Não era um milagre maior do que o que haviam acabado de testemunhar. A falta de fé produziu dureza de coração e lentidão na percepção espiritual. A Igreja vê nesse milagre uma figura da época pre­ sente e o seu término. Jesus na montanha representa Cristo no seu ministério atual no céu, intercedendo por seu povo. Os discípulos representam seus servos, esbofeteados pelas tempestades e aflições da vida. Logo o Salvador voltará para os seus, irá resgatá-los

do perigo e da angústia e os guiará com segurança ao lar celestial. P. O Servo curando em Genesaré (6:53-56) De volta ao lado oeste do lago, o Senhor foi assediado por enfermos. Onde quer que Jesus fosse, as pessoas levavam os necessitados em esteiras até ele. Praças de mercado se tornaram hospitais improvisados. Queriam aproximar-se dele o suficiente para tocar ao menos na orla da sua veste. E todos que a tocavam saíam curados. Q. Tradição versus palavra de Deus (7:1-23) 7:1 Os fariseus e os escribas eram líderes religiosos que estabeleceram um vasto sistema de tradições rigidamente impostas, tão entrelaçadas com a lei de Deus que quase ganharam autoridade igual à das Es­ crituras. Em alguns casos, realmente contradiziam as Escrituras ou enfraqueciam a lei de Deus. Os líderes religiosos se alegravam ao impor as leis, e o povo aceitava humildemente, satisfeito com um sistema de rituais fantasiosos. 7:2-4 Aqui encontramos os fariseus e escribas criticando Jesus porque alguns dos discípulos co ­ miam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar. Isso não quer dizer que os discípulos não lavaram as mãos antes de comer, mas que eles não passaram pelo ritual elaborado prescrito pela tradição. A menos que, por exemplo, lavassem até os cotovelos, eram considerados cerimonialmente impuros. Se tivessem ido ao mercado, esperava-se que eles tomassem um banho ritual. Esse sistema complexo de lavagem se estendia até para a louça. Com respeito aos fariseus, E. Stanley Jones escreve: Eles vieram o caminho todo desde Jerusalém para encontrá-lo, e as atitudes deles eram tão negativas e repreensíveis que a única coisa que viram foram mãos por lavar. Não podiam ver o maior movimento de redenção que já tocara o planeta: um movimento que estava limpando a mente, a alma e o corpo dos homens. [...] Seus olhos grandes estavam bem atentos às coisas pe­ quenas e periféricas, e cegos às grandes. Então a história os esquece, os rejeita; esquece-os a não ser como pano de fundo para esse impacto positivo de Cristo. Eles deixaram censura; ele deixou conversão. Eles colheram falhas; ele colheu seguidores.11 7:5-8 Jesus logo apontou a hipocrisia de tal com­ portamento. As pessoas eram exatamente como Isaías havia predito. Professavam grande devoção ao

Senhor, mas eram corruptas interiormente. Através de rituais elaborados, fingiam adorar a Deus, mas substituíam as doutrinas bíblicas por suas tradições. Em vez de reconhecer a palavra de Deus como auto­ ridade exclusiva em todos os assuntos de fé e moral, eles se esquivavam ou explicavam as claras exigên­ cias das Escrituras por meio de sua tradição. 7:9-10 Jesus selecionou, entre outros, um exemplo de como a tradição anulara a lei de Deus. Um dos Dez Mandamentos exigia que os filhos honrassem seus pais (o que incluía cuidar deles nas suas neces­ sidades) . A penalidade da morte fora decretada para qualquer que falasse mal de seu pai ou sua mãe. 7:11-13 Mas uma tradição judaica surgiu, conhe­ cida como corbã, que significava “dado” ou “dedica­ do”. Suponha que certos pais judeus estivessem em grande necessidade. Seu filho tinha dinheiro para cui­ dar deles, mas não queria fazê-lo. A única coisa que ele tinha de fazer era dizer: “Corbã”, subentendendo que seu dinheiro fora dedicado a Deus ou ao templo. Isso o desobrigava de qualquer responsabilidade futura em sustentar os pais. Ele poderia guardar o dinheiro indefinidamente e usá-lo nos seus negócios. 0 fato de ser ou não transferido ao templo não era importante. Kelly observa: Os líderes inventaram um esquema a fim de garantir propriedades para propósitos religiosos e tranqüilizar as pessoas com problemas de consciência com relação à palavra de Deus. [...] Foi Deus quem exigiu do homem que honrasse seus pais, e quem censurou todo desprezo feito a eles. Não obstante, homens estavam violando, sob o disfarce de religiosidade, ambas as ordens de Deus! 0 Senhor trata essa tradição do “corbã” não apenas como injustiça perpetrada contra os pais, mas como um ato de rebelião contra o mandamento expresso de Deus.12 7:14-16 Começando no versículo 14, o Senhor fez o pronunciamento revolucionário: o que torna o homem impuro não é o que entra pela boca (como comer sem lavar as mãos), mas o que sai do homem (como as tradições que colocavam de lado a palavra de Deus). 7:17-19 Mesmo os discípulos ficaram confusos com essa declaração. Criados sob os ensinamentos do AT, sempre consideraram que certos alimentos, como porco, coelho ou camarão, eram imundos e poderiam contaminá-los. Jesus agora afirma claramente que o homem não se contaminava pelo que entrava nele. Em certo sentido, isso anunciava o fim da dispensação legalista.

7:20-23 É o que sai do coração que contamina uma pessoa: maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. No contexto, a ideia é que a tradição humana deveria estar aqui na lista também. A tradição do corbã era equivalente ao assassinato. Os pais poderiam morrer de fome antes que esse perverso voto fosse quebrado. Uma das grandes lições nessa passagem é que devemos submeter à palavra de Deus constantemente todo ensinamento e todas as tradições, obedecendo ao que é de Deus e rejeitando o que é dos homens. A princípio, um homem pode ensinar e pregar uma mensagem clara, espiritual e assim ganhar a aceita­ ção entre as pessoas que confiam na Bíblia. Tendo alcançado essa aceitação, ele começa a acrescentar alguns ensinamentos humanos. Seus seguidores devotos, que chegaram a ponto de achar que ele não pode fazer mal algum, seguem-no cegamente, mesmo que sua mensagem embote o gume afiado da Palavra ou dilua sua mensagem clara. Foi assim que os escribas e fariseus ganharam autoridade como professores da Palavra. Mas agora estavam invalidando seu propósito. 0 Senhor Jesus teve de avisar o povo de que é a Palavra que confere poder aos homens, e não homens que conferem poder à Palavra. A grande pedra de toque deve sempre ser: “0 que a Palavra diz?”. R. Uma gentia abençoada por sua fé (7:24-30) 7:24-25 No episódio anterior, Jesus mostrou que to­ dos os alimentos eram puros. Aqui ele demonstra que os gentios já não eram insignificantes ou imundos. Je­ sus agora viajou ao noroeste, para as terras de Tiro [e Sidom], também conhecidas como siro-fenícia. Ele tentou entrar numa casa, incógnito, mas sua fama o precedeu e sua presença logo ficou conhecida. Uma mulher gentia veio a ele, pedindo-lhe ajuda por sua filha endemoninhada. 7:26 Enfatizamos que era grega, não judia. Os judeus, o povo escolhido de Deus, ocupavam um lugar privilegiado em relação a Deus. Ele fizera maravilho­ sas alianças com eles, confiou-lhes as Escrituras, habitou com eles no tabernáculo e mais tarde no templo. Em contraste, os gentios eram estrangeiros para a comunidade de Israel, estranhos às alianças da promessa, sem Cristo, sem esperança, sem Deus no mundo (Ef 2:11-12). 0 Senhor Jesus veio primei­ ramente à nação de Israel. Ele apresentou-se como Rei àquela nação. 0 evangelho foi pregado primeiro

à casa de Israel. É importante ver isso para poder entender seus procedimentos com a mulher siro-fenícia. Quando ela lhe pediu que expelisse de sua filha o demônio, ele parecia rejeitá-la. 7 :2 7 Jesus lhe disse: Deixa primeiro que se fartem os filhos (israelitas), pois não era correto tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos (gentios). Sua resposta não era uma recusa. Ele disse: Deixa primeiro que se fartem os filhos. Isso poderia soar áspero. Realmente era uma prova ao seu arre­ pendimento e à sua fé. Seu ministério nessa época era direcionado primeiramente aos judeus. Como gentia, ela não tinha direito sobre ele ou seus benefícios. Será que ela reconheceria essa verdade? 7:28 Ela admitiu, dizendo de fato: Sim, Senhor. Eu sou uma mera cachorrinha gentia. Mas percebo que os cachorrinhos comem das migalhas que os filhos deixam cair debaixo da mesa. É só isso que peço: algumas migalhas que sobram do seu ministério aos judeus! 7:29-30 Essa fé foi notável. 0 Senhor a recom­ pensou de imediato curando a menina a distância. Quando a mulher foi para casa, a filha estava com­ pletamente recuperada. S. Um surdo e gago curado (7:31-37) 7:31-32 Do litoral mediterrâneo, o Senhor voltou ao litoral leste do mar da Galileia, a região conhecida como Decápolis. Há um episódio que foi registrado somente no evangelho de Marcos. Amigos interes­ sados lhe trouxeram um surdo e gago. Talvez sua gagueira fosse causada por uma deformidade física, ou, por nunca ouvir sons com clareza, não pudesse reproduzi-los corretamente. De qualquer modo, ele ilustra o pecador, surdo à voz de Deus e, portanto, incapaz de falar aos outros a respeito dele. 7:33-34 Jesus, em primeiro lugar, tirou o homem à parte. Ele pôs-lhe os dedos nos ouvidos e lhe tocou a língua com saliva. Dessa maneira, por um tipo de linguagem por sinais, falou ao homem que ele estava para abrir seus ouvidos e desprender sua língua. Depois Jesus olhou para o céu, indicando que seu poder era de Deus. Seu suspiro expressava sua tristeza pelo sofrimento que o pecado provocara na humanidade. Por fim, ele disse: Efatá, a palavra aramaica para “Abre-te” . 7:35-36 0 homem recebeu audição e fala normais imediatamente. 0 Senhor pediu ao povo que não divul­ gasse esse milagre, mas eles desrespeitaram suas instruções. Desobediência nunca pode ser justificada,

não importa quão bem intencionadas as pessoas possam estar. 7 :37 Os observadores maravilharam-se sobre­ maneira com as obras maravilhosas de Jesus. Eles disseram: Tudo ele tem feito esplendidamente bem; não somente faz ouvir os surdos, como falar os mudos. Eles não reconheceram a verdade do que disseram. Se vivessem nesse lado do Calvário, teriam dito com uma convicção e um sentimento ainda mais profundos: E desde que nossa alma aprendeu do seu amor, Quantas misericórdias ele nos fez experimentar, Misericórdias que sobrepujam nosso louvor; Tudo o nosso Jesus tem feito esplendidamente bem! Samuel Medley T. Alimentando quatro mil (8:1-10) 8:1-9 Esse milagre é semelhante à alimentação dos cinco mil, mesmo assim há diferenças (cf. a tabela). O S C IN C O M IL 1. As pessoas eram judias (cf. Jo 6:14-15) 2. A multidão estivera com jesus um dia (6:35) 3. Jesus usou cinco pães e dois peixes (Mt 14:1 7)

O S Q U A T R O M IL 1. As pessoas provavel­ mente eram gentias (moravam em Decápolis) 2. Essa multidão estivera com ele três dias (8:2)

3. Ele usou sete pães e poucos peixinhos (8:5,7) 4. Cinco mil homens, 4. Quatro mil homens, além das mulheres além das mulheres e crianças, foram e crianças, foram alimentados (Mt 14:21) alimentados (Mt 15:38) 5. O superávit encheu 5. 0 superávit encheu sete doze cestos de mão cestos grandes (8:8) (Mt 14:20)

Quanto menos Jesus tinha em mãos para manu­ sear, mais ele produzia e mais sobrava. No capítulo 7 vemos migalhas caindo da mesa para uma mulher gentflica. Aqui uma multidão de gentios é alimentada sobejamente. Charles Erdman comenta: 0 primeiro milagre nesse período anunciou que migalhas de pão poderiam cair da mesa para os gentios necessitados; aqui pode haver uma indicação de que Jesus, rejeitado por seu povo, dará sua vida ao mundo, e é o Pão vivo para todas as nações.13

Há o perigo de se tratar episódios como a alimenta­ ção dos quatro mil como uma repetição insignificante. Deveríamos abordar o estudo bíblico com a convicção de que cada palavra das Escrituras é cheia de verdade espiritual, mesmo que não consigamos vê-la em nosso atual estado de conhecimento. 8:10 De Decápolis, Jesus e seus discípulos atra­ vessaram o mar da Galileia para o lado oeste, a um lugar chamado Dalmanuta (Magdala em Mt 15:39). U.

Os fariseus procuram um sinal dos céus (8:11-13) 8:11 Os fariseus o estavam aguardando, exigindo um sinal do céu. Sua cegueira e audácia eram enormes. À sua frente estava o maior de todos os sinais. Ele verdadeiramente foi o Sinal que viera dos céus, mas não tinham apreço por ele. Ouviram suas palavras incomparáveis, viram seus milagres maravilhosos, estiveram em contato com um homem absolutamente sem pecado — Deus manifesto em carne — , mesmo assim, na sua cegueira, pediram um sinal do céu! 8:12-13 Não é de admirar que o Salvador estivesse suspirando profundamente (RC)! Se alguma geração na história do mundo foi privilegiada, essa foi a gera­ ção judaica, da qual esses fariseus faziam parte. No entanto, cegos à evidência mais clara de que o Messias aparecera, pediram por um milagre mais propriamente no céu, não na terra. Jesus estava dizendo: “Não haverá mais sinais. Vocês já tiveram sua oportunidade”. Tor­ nando a embarcar, navegaram para o leste. V.

O fermento dos fariseus e de Herodes (8:14-21) 8:14-15 Durante a viagem, os discípulos se esque­ ceram de levar pães. Entretanto, Jesus ainda estava pensando sobre seu encontro com os fariseus, quando ele lhes alertou contra o fermento dos fariseus e o de Herodes. Fermento na Bíblia é uma metáfora constante do pecado, propagando-se devagar e quieto e afetando tudo com que entra em contato. 0 fermen­ to dos fariseus incluía hipocrisia, ritualismo, justiça própria e fanatismo. Os fariseus representavam gran­ des exigências de santidade exterior, mas no interior eram corruptos e profanos. 0 fermento de Herodes pode incluir descrença, imoralidade e mundanismo. Os herodianos eram notáveis por esses pecados. 8:16-21 Os discípulos não compreenderam comple­ tamente o sentido das palavras do Senhor. A única coisa em que podiam pensar era comida. Então ele rapidamente fez nove perguntas a eles. As primeiras cinco os reprovavam por sua estupidez. As quatro últimas, por preocuparem-se com suas necessidades enquanto ele estivesse com eles. Ele não alimentara cinco mil com cinco pães, com um superávit de doze

cestos? Sim! Ele não alimentara quatro mil com sete pães, com um superávit de sete cestos? Sim, ele o fez. Então por que não entenderam que ele tinha capacidade abundante de suprir as necessidades de um punhado de discípulos em um barco? Será que eles não perceberam que o Criador e Sustentador do universo estava no barco com eles? W. A cura de um homem cego em Betsaida (8:22-26) Esse milagre encontra-se somente em Marcos e provoca várias perguntas interessantes. Primeiro, por que Jesus conduziu o homem para fora da aldeia antes de curá-lo? Por que ele não curou simples­ mente tocando-o? Por que usar meios tão pouco convencionais como a saliva? Por que o homem não recebeu a fala perfeita de imediato?14 (Essa é a única cura nos evangelhos que ocorreu em estágios). Por último, por que Jesus proibiu ao homem contar sobre o milagre na aldeia? Nosso Senhor é soberano e não é obrigado a prestar-nos contas por suas ações. Há uma razão válida para tudo o que ele fez, embora não a distingamos. Cada caso de cura é diferente, como é cada caso de conversão. Alguns alcançam notável visão espiritual assim que se convertem. Outros veem vagamente a princípio; depois, mais tarde, entram na completa segurança da salvação. X. A grande confissão de Pedro (8:27-30) Os dois últimos parágrafos desse capítulo nos levam ao ponto culminante do treinamento dos doze. Os discípulos precisavam ter um apreço profundo e pessoal por quem Jesus era antes que ele pudesse compartilhar com eles o caminho à frente e convidálos a segui-lo em uma vida de devoção e sacrifício. Essa passagem nos traz ao coração do discipulado. Talvez seja a área mais negligenciada no pensamento e na prática cristã hoje em dia. 8:27-28 Jesus e os seus discípulos procuraram a solidão no extremo norte. No caminho de Cesareia de Filipe, ele expôs o assunto perguntando qual era a opinião pública acerca dele. Em geral, os homens estavam reconhecendo-o como um grande homem, igual a João Batista, Elias ou outros profetas. Mas a honra do homem na realidade é desonra. Se Jesus não é Deus, então ele é um enganador, um louco ou uma lenda. Não há outra possibilidade. 8:29-30 Depois o Senhor intencionalmente pergun­ tou aos discípulos sobre o que pensavam a respeito

14 (8:22-26) É possível que o homem realmente tenha recebido visão perfeita como a de um bebê, que nasce com visão perfeita mas ainda tem de aprender a focalizar.

dele. Pedro prontamente o declarou como o Cristo, isto é, o Messias, ou o Ungido. Intelectualmente, Pedro sabia disso. Mas algo aconteceu na sua vida para que agora houvesse uma convicção profunda e pessoal. A vida nunca mais poderia ser a mesma. Pedro nunca poderia se contentar com uma existência egocêntrica. Se Cristo era o Messias, então Pedro deveria viver para ele em renúncia total. Y.

O Servo prediz sua morte e ressurreição (8:31-38) Até aqui observamos o Servo de Jeová em uma vida de serviço incessante aos outros. Vimo-lo odiado por seus inimigos e mal interpretado por seus amigos. Vimos uma vida de poder dinâmico, de perfeição moral, de amor e humildade absoluta. 8:31 Mas o caminho de serviço a Deus conduz ao sofrimento e à morte. Então o Salvador falou aos discípulos claramente que era necessário que ele 1) sofresse; 2) fosse rejeitado; 3) fosse mor­ to; 4) ressuscitasse. Para ele o caminho de glória conduziria primeiro à cruz e à sepultura. “0 coração do serviço seria revelado no sacrifício”, como F. W. Grant afirmou. 8:32-33 Pedro não pôde aceitar a ideia de que Jesus teria de sofrer e morrer; isso era contrário à sua imagem do Messias. Ele nem quis pensar que seu Senhor e Mestre seria assassinado pelos seus inimi­ gos. Ele repreendeu o Salvador por afirmar tal coisa. Foi nessa hora que Jesus disse a Pedro: Arreda, Satanás! Porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens. Não que Jesus estivesse acusando a Pedro de ser Satanás, ou de ser habitado por Satanás. Ele quis dizer: “Você está falando como Satanás falaria. Ele sempre tenta desanimar a com­ pleta obediência a Deus. Ele quer que tomemos o caminho mais fácil até o trono”. As palavras de Pedro eram satânicas em origem e conteúdo, e isso causou a indignação do Senhor. William Kelly comenta: 0 que deixou nosso Senhor indignado? A simples armadilha à qual todos estamos expostos: o dese­ jo de resguardar-nos; a preferência por um cami­ nho fácil à cruz. Não é verdade que naturalmente gostamos de evitar aflições, vergonha e rejeição; que retrocedemos diante do sofrimento que um mundo como esse, invariavelmente, impõe aos que fazem a vontade de Deus; que preferimos ter uma senda quieta, respeitável na terra; em resumo, o melhor dos dois mundos? Quão facil­

mente podemos ser seduzidos nisso! Pedro não podia entender por que o Messias deveria atra­ vessar essa senda de tristeza. Se estivéssemos lá, poderíamos ter dito ou pensado ainda pior. A repreensão de Pedro não estava isenta de fortes afeições humanas. Ele sinceramente amava o Salvador também. Mas sem ele mesmo saber, havia o espírito do mundo não julgado.15 Note que Jesus, em primeiro lugar, fitou os seus discípulos, depois repreendeu a Pedro, como se dissesse: “Se eu não for à cruz, como que esses meus discípulos serão salvos?”. 8:34 Depois Jesus de fato lhes disse: “Eu vou sofrer e morrer para que os homens possam ser salvos. Se vocês desejaram vir após mim, deverão negar cada impulso egoísta, escolher deliberadamente uma senda de opróbrio, de sofrimento e morte, e seguir-me. Vo­ cês talvez precisarão abandonar confortos pessoais, prazeres sociais, vínculos terrestres, grandes ambi­ ções, riquezas materiais e até mesmo a própria vida” (paráfrase do autor). Palavras como essas nos fazem pensar em como podemos crer que tudo está bem vivendo em luxo e conforto. Como podemos justificar o materialismo, o egoísmo, a frieza do coração? Suas palavras pedem que vivamos uma vida de abnegação, renúncia, sofrimento e sacrifício. 8:35 Há sempre a tentação de salvar nossa vida — viver de modo confortável, prover para o futuro, fazer as próprias escolhas, com o eu sendo o centro de tudo. Não há meio mais seguro de perder nossa vida. Cristo nos chama a dedicar nossa vida em favor dele e do evangelho, consagrando-nos a ele de espírito, alma e corpo. Ele pede que nos gastemos e sejamos gastos no seu santo serviço, sacrificando nossa vida, se necessário, para a evangelização do mundo. Isso é o que quer dizer perder nossa vida. Não há meio mais seguro de salvá-la. 8:36-37 Mesmo se um crente pudesse ganhar toda a fortuna do mundo durante sua existência, de que lhe adiantaria? Ele perderia a oportunidade de usar sua vida para a glória de Deus e a salvação dos perdidos. Seria um mau negócio. Nossa vida vale mais que tudo o que o mundo tem para oferecer. Devemos usá-la para Cristo ou para nós mesmos? 8:38 Nosso Senhor percebeu que alguns de seus jovens discípulos poderiam tropeçar na senda do dis­ cipulado por medo da vergonha. Então ele os lembrou que aqueles que procuram evitar o opróbrio por causa dele sofrerão vergonha ainda maior quando ele voltar à terra em poder. Que reflexão! Logo nosso Senhor voltará à terra, dessa vez não em humilhação, mas na

sua glória pessoal e na glória de seu Pai, com os san­ tos anjos. Será uma cena de resplendor deslumbrante. Então ele terá vergonha dos que têm vergonha dele agora. Que suas palavras “nesta geração adúltera e pecadora se envergonhar de mim” possam falar ao nosso coração. Que impropriedade ter vergonha do Salvador impecável em um mundo que é caracterizado por sua infidelidade e pecaminosidade!

IV. A viagem do Servo para Jerusalém (9 -1 0 ) A. O Servo transfigurado (9:1-13) Tendo colocado diante dos discípulos o caminho de opróbrio, sofrimento e morte, que ele estava para tomar, e os convidado a segui-lo em vidas de sacri­ fício e abnegação, o Senhor agora apresenta o outro lado da moeda. Embora o discipulado lhes custasse elevado preço nesta vida, seria recompensado com glória no porvir. 9:1-7 0 Senhor começou dizendo que alguns dos discípulos não passariam pela morte até que vissem com poder o reino de Deus. Ele referia-se a Pedro, Tiago e João. No Monte da Transfiguração eles viram o reino de Deus em poder. 0 argumento da passagem é que qualquer coisa que soframos por causa de Cristo agora será grandemente recompensada quando ele voltar e seus servos aparecerem com ele em glória. As condições que prevaleciam no monte prefiguram o reino milenial de Cristo. 1. Jesus foi transfigurado — esplendor brilhante radiou de sua pessoa. Mesmo suas vestes esta­ vam resplandecentes, mais brancas que qualquer alvejante poderia conseguir. No primeiro advento, a glória de Cristo ficou coberta. Ele veio em humi­ lhação, um homem de dores, e soube o que é padecer. Mas ele voltará em glória. Nessa ocasião ninguém o confundirá; ele será visivelmente o Rei dos reis e Senhor dos senhores. 2. Elias e Moisés estavam lá. Eles representam: a) os santos do AT; ou b) a lei (Moisés) e os profetas (Elias); ou c) os santos que já morreram, e os que já foram transladados. 3. Pedro, Tiago e João estavam lá. Eles podem repre­ sentar os santos do NT em geral, ou aqueles que estarão vivos quando o reino for estabelecido. 4. Jesus foi o centro. A sugestão de Pedro, de se fazer três tendas, foi reprovada pela nuvem e pela voz do céu. Em todas as coisas Cristo deve ter a preeminência. Ele será a glória da terra de Emanuel. 5. A nuvem poderia ter sido a shekiná ou a nuvem de glória que ficou no Santo dos Santos no tabemáculo

e no templo nos tempos do AT. Foi a expressão visível da presença de Deus. 6. A voz foi a de Deus, o Pai, reconhecendo Cristo como Filho amado.

9:8 Quando a nuvem se retirou, os discípulos a ninguém mais viram com eles, senão Jesus. Foi um vislumbre do lugar único, glorioso e preeminente que ele terá quando o reino chegar em poder e que ele deveria ter no coração de seus seguidores no momento. 9:9-10 Ao descerem do monte, ordenou-lhes Jesus que não discutissem o que tinham visto até o dia em que ele ressuscitasse dentre os mortos. Esse último ponto os deixou perplexos. Talvez ainda não entendessem que ele estava para ser morto e ressurgir. Eles ficaram imaginando a expressão ressuscitar dentre os mortos. Como judeus, conhe­ ciam esta verdade: todos ressuscitarão. Mas Jesus estava falando de uma ressurreição seletiva. Ele seria ressuscitado dentre os mortos — nem todos seriam ressuscitados quando ele ressuscitasse. Essa é uma verdade que só se encontra no NT. 9:11 Os discípulos tinham outro problema. Acaba­ ram de ter uma antevisão do reino. Mas Malaquias não predissera que era necessário que Elias viesse primeiro como precursor do Messias, começando a restituição de todas as coisas e pavimentando o ca­ minho para estabelecer seu reino universal (Ml 4:5)? Onde estava Elias? Será que ele viria primeiro, como os escribas disseram que aconteceria? 9:12-13 Jesus de fato lhes respondeu: “É verdade que Elias deve vir primeiro. Mas uma pergunta mais importante e imediata é essa: A s Escrituras do AT não predizem que o Filho do Homem tem de suportar grandes sofrimentos e ser aviltado?’. Quanto a Elias, ele já veio (na pessoa e ministério de João Batista), mas os homens o trataram exatamente como queriam — assim como os homens agiram com Elias. A mor de João Batista foi um sinal adiantado do que eles fa­ riam com o Filho do Homem. Rejeitaram o precursor; rejeitarão o Rei” (paráfrase do autor). B.

A cura de um menino endemoninhado (9:14-29) 9:14-16 Não foi permitido aos discípulos permanecer no cume da montanha da glória. A humanidade estava gemendo e soluçando no vale. Um mundo de neces­ sidades encontrava-se aos seus pés. Quando Jesus e os três discípulos chegaram ao pé da montanha, uma discussão animada estava acontecendo entre os escribas, a multidão e os outros discípulos. Assim que o Senhor apareceu, a conversa chegou ao fim e

a multidão correu a ele. “ Que é que discutíeis com meus discípulos?”, ele interrogou. 9:17-18 Um pai perturbado,, nervoso, contou ao Senhor acerca de seu filho, possesso de um espírito mudo. 0 demônio arremessava violentamente o meni­ no ao chão, fazia-o ranger os dentes e espumar pela boca. Essas convulsões violentas estavam fazendo com que o menino definhasse. 0 pai pedira aos discí­ pulos para ajudá-lo, mas eles não puderam. 9:19 Jesus admoestou os discípulos pela descren­ ça. Ele não lhes dera poder para expulsar os demô­ nios? Até quando estaria com eles antes que usassem a autoridade que lhes dera? Quanto tempo ele teria de suportar vidas de ineficiência e frustração? 9:20-23 Enquanto conduziam o menino ao Senhor, o demônio provocou um grave acesso. 0 Senhor per­ guntou ao pai: Há quanto tempo isto lhe sucede? Ele respondeu: Desde a infância. Esses espasmos muitas vezes lançaram a criança no fogo e na água. Houvera escapes por pouco da morte. Depois o pai implorou ao Senhor que, se ele pudesse, fizesse al­ guma coisa — uma lamentação de rasgar o coração, atormentado por anos de desespero. Jesus lhe disse que não era uma questão de sua habilidade de curar, mas a habilidade da parte do pai em crer. Fé no Deus vivo sempre é recompensada. Nenhum caso é difícil demais para ele. 9:24 0 pai expressou o paradoxo de fé e descrença experimentado pelo povo de Deus em todas as épocas. Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé! Queremos crer, não obstante estarmos cheios de dúvidas. De­ testamos essa contradição interior e irracional, mas parece que lutamos em vão. 9 :2 5 -2 7 Quando Jesus mandou que o espírito imundo se retirasse do menino, houve outro terrível espasmo, depois o corpinho afrouxou-se com o se estivesse morto. 0 Salvador levantou-o e devolveu-o a seu pai. 9:28-29 Mais tarde, quando o Senhor estava a sós com seus discípulos em casa, eles lhe pergun­ taram em particular por que não foram capazes de expulsar o espírito imundo. Ele respondeu que certos milagres exigem oração e jejum. Quais de nós não enfrentamos às vezes no serviço cristão um sentimento de derrota e frustração? Trabalha­ mos incansável e conscientemente, contudo não há evidência do Espírito de Deus trabalhando em poder. Também ouvimos as palavras do Senhor nos relembrando: Esta casta... C.

Jesus prediz novamente sua morte e ressurreição (9:30-32) 9:30 A visita do Senhor a Cesareia de Filipe terminou. Agora ele passou pela Galileia, viagem que o levaria

a Jerusalém e à cruz. Ele queria viajar incógnito. Para a maioria, seu ministério público terminara. Agora ele queria passar algum tempo com os discípulos instruindo-os e preparando-os para o que estava à frente. 9 :3 1 -3 2 Ele lhes falou abertamente que seria capturado e morto, e que ressuscitaria três dias depois. Por alguma razão eles não compreenderam e temiam interrogá-lo. Muitas vezes também temos medo de perguntar, e como conseqüência, perdemos uma bênção. D. A grandeza no reino (9:33-37) 9:33-34 Tendo eles chegado a casa em Cafamaum onde ficariam, Jesus interrogou os discípulos sobre o que estavam discutindo pelo caminho. Ficaram des­ concertados em admitir que estavam disputando qual deles seria o maior. Talvez a transfiguração revivera suas esperanças de um reino próximo e estavam se pre­ parando para lugares de honra no reino. É lamentável constatar que na mesma hora em que Jesus estivera contando-lhes sobre sua morte iminente estavam se estimando melhores que os outros. 0 coração do homem é enganoso mais que todas as coisas e deses­ peradamente corrupto, como diz Jeremias. 9:35-37 Jesus, sabendo o que estavam disputando, deu-lhes uma lição de humildade. Ele disse que a maneira de ter o primeiro lugar era voluntariamente ocupar o lugar mais humilde de serviço e viver para os outros em vez de para si próprio. Uma criança foi colocada perante eles e abraçada pelo Senhor Jesus. Ele enfatizou que a bondade feita em seu nome aos menos honrados e conhecidos era um ato de gran­ deza. Era como se o ato de bondade fosse feito ao próprio Senhor, sim, até mesmo a Deus Pai. “Ó ben­ dito Senhor Jesus, teus ensinamentos esquadrinham e expõem esse meu coração carnal. Quebranta-me e permite que tua vida seja vivida através de mim”. E. O Servo proíbe o sectarismo (9:38-42) Esse capítulo parece relatar muitos fracassos. Pedro falou de forma torpe no Monte da Transfiguração (v. 5-6). Os discípulos falharam em expulsar o demônio mudo (v. 18). Eles discutiram sobre quem era o maior (v. 34). Nos versículos 38-40, eles são vistos demons­ trando espírito partidário. 9:38 Foi João. o amado, quem informou a Jesus que encontraram um homem que expelia demônios em seu nome. Os discípulos lhe ordenaram que parasse porque ele não se identificava com eles. 0 homem não estava ensinando doutrina falsa ou vivendo em pecado. Ele simplesmente não integrava o grupo daqueles discípulos.

Eles fizeram um círculo que me excluiu: Rebelde, herege, algo a desprezar, Mas o amor e eu tivemos a capacidade de ganhar: Nós fizemos um círculo que os incluiu. 9:39 Jesus respondeu: “Não mandem ele parar. Se ele tiver fé suficiente em mim para usar meu nome ao expelir demônios, ele está do meu lado e está tra­ balhando contra Satanás. Ele não é capaz de mudar rapidamente de atitude e falar mal de mim ou ser meu inimigo” (paráfrase do autor). 9:40 0 versículo 40 parece contradizer Mateus 12:30, onde Jesus disse: “Quem não é por mim é con­ tra mim; e quem comigo não ajunta espalha”. Mas não há de fato um conflito. Em Mateus, a questão era se Cristo era o Filho de Deus ou tinha poderes demoní­ acos. Em tal questão fundamental, qualquer um que não estiver com ele está trabalhando contra ele. Em Marcos, a questão não era a pessoa ou o traba­ lho de Cristo, mas os associados no serviço do Senhor. Aqui deve haver tolerância e amor. Qualquer um que não estiver contra ele no serviço, deve estar contra Satanás e, portanto, por Cristo. 9:41 Mesmo a menor bondade feita no nome de Cristo será recompensada. Um copo de água dado a um discípulo porque pertence a Cristo não passará despercebido. Expulsar um demônio no seu nome é, sem dúvida, grandioso. Dar um copo de água é algo trivial. Mas ambos são preciosos para ele quando feitos para sua glória. “ Porque sois de Cristo” é o sentimento que deveria unir os crentes. Se conservás­ semos essas palavras diante de nós, seriamos libertos de um espírito partidário, murmurações mesquinhas e inveja no serviço cristão. 9:42 Constantemente o servo do Senhor deve con­ siderar qual o efeito que suas palavras e ações terão nos outros. É possível fazer tropeçar um companheiro cristão, causando prejuízos espirituais duradouros. Melhor lhe fora que se afogasse com uma grande pedra pendurada ao pescoço que fazer um destes pequeninos se desviar do caminho de santidade e verdade. F. Autodisciplina implacável (9:43-50) 9:43 Os versículos restantes do capítulo enfatizam a necessidade de disciplina e abdicação. Os que se põem a caminho do verdadeiro discipulado devem constantemente batalhar contra desejos e apetites naturais. Servir de instrumento a eles significa ruína. Controlá-los garante vitória espiritual. 0 Senhor falou acerca da mão, do pé e do olho, ex­ plicando que seria melhor perder um desses membros que um deles servir de tropeço, levando ao inferno. Alcançar o objetivo vale qualquer sacrifício.

A mão poderia sugerir nossas ações; o pé, nosso andar; e o olho, as coisas que anelamos. Essas são áreas potenciais de perigo. A não ser que sejam trata­ das severamente, podem nos levar à ruína eterna. Será que essa passagem ensina que um verdadeiro cristão pode por fim estar perdido e passar a eternida­ de no infemo? Compreendida sozinha, poderia sugerir isso. Mas junto com o ensino consistente do NT, devemos concluir que qualquer um que vai ao infemo nunca foi um genuíno cristão em nenhuma hipótese. Uma pessoa poderia professar ser nascido de novo e dar a impressão de que vai bem por um tempo. Mas se essa pessoa de forma persistente faz a vontade da carne fica claro que nunca se convertera. 9:44-48 0 Senhor repetidas vezes10 fala do infemo como um lugar onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga. É algo muito sério. Se realmente acreditássemos nisso, não viveríamos para coisas, mas para almas que nunca morrem. “Dê-me paixão pelas almas, ó Senhor!”. Felizmente nunca é, por questões morais, necessá­ rio amputar mão, pé ou arrancar um olho. Jesus não sugeriu que deveríamos chegar a esses extremos. Tudo o que ele disse foi que seria melhor sacrificar o uso desses órgãos que ser arrastado até o inferno por abuso deles. 9:49 Os versículos 49-50 são especialmente difí­ ceis. Vamos examiná-los parte por parte. Porque cada um será salgado com fogo. Os três problemas principais são: 1) Que fogo é esse? 2) Que significa salgado? 3) “Cada um” se refere aos salvos, aos descrentes ou a ambos? Fogo pode significar infemo (como nos v. 44,46,48), ou julgamento de algum tipo, incluindo o julgamen­ to divino do serviço de um cristão e o julgamento próprio. Sal simboliza o que preserva, purifica e tempera. Nas terras do oriente, também é um sinal de penhor de lealdade, amizade ou fidelidade a uma promessa. Se cada um significa os descrentes, então o pen­ samento é que eles serão preservados no fogo do infemo, isto é, sofrerão punição eterna. Se cada um se refere aos cristãos, a passagem ensina que devem: 1) ser purificados pelo fogo da disciplina de Deus nesta vida; ou 2) preservar-se da corrupção por praticar autodisciplina e renúncia; ou 3) ser provados no tribunal de Cristo.

16 (9:44:48) Três vezes (v. 44,46,48) nosso Senhor cita Isaías 66:24 para avisar dos perigos do inferno. Acreditamos que essa forma enfática de paralelismo (encontrada em TR e na maioria dos textos) é suavizada pelo texto crítico (NU), que omite o texto duas vezes.

E cada sacrifício será salgado com sal (RC). Essa cláusula17 é citação de Levítico 2:13 (cf. tb. Nm 18:19; 2Cr 13:5). Sal, um emblema da aliança entre Deus e seu povo, pretendia relembrar o povo de que a aliança era um pacto solene que deveria ser mantido inviolado. Ao apresentarmos o corpo como um sacrifício a Deus (Rm 12:1-2), deveríamos temperar o sacrifício com sal, fazendo-o um compro­ misso irrevogável. 9:50 Bom é o sal. Os cristãos são o sal da terra (Mt 5:13). Deus espera que exerçam uma influência saudável e purificadora. Eles são uma bênção a todos, desde que cumpram seu discipulado. Mas, se o sal vier a tomar-se insípido, como lhe restaurar o sabor? Sem salinidade, o sal é sem valor. Um cristão que não está cumprindo seus deveres como verdadeiro discípulo é infecundo e inútil. Não basta começar bem na vida cristã. A menos que haja um cuidado constante e radical, o filho de Deus está falhando ao não completar com êxito o propósito pelo qual Deus o salvou. Tende sal em vós mesmos. Seja um poder para Deus no mundo. Exerça influência benéfica para a glória de Cristo. Seja intolerante a qualquer coisa na sua vida que possa diminuir o serviço ativo que você presta ao Senhor. Tende paz uns com os outros. Aparentemente isso se refere aos versículos 33-34, em que os dis­ cípulos discutiram sobre qual deles era o maior. 0 orgulho deve ser colocado de lado e substituído por serviço humilde a todos. Para resumir, os versículos 49-50 parecem retratar a vida do crente como um sacrifício a Deus. É salgado com fogo, isto é, misturado com cuidado pessoal e renúncia. É temperado com sal, isto é, oferecido com um penhor de dedicação inalterável. Se o crente voltar atrás nos seus votos, ou falhar em lidar drasticamente com os desejos pecaminosos, então sua vida será sem sabor, inútil e sem sentido. Portanto, ele deveria erradicar qualquer coisa da sua vida que interfira em sua missão divinamente designada e deveria manter relações pacíficas com os outros cristãos. G. Casamento e divórcio (10:1-12) 10:1 Da Galileia, o Senhor viajou rumo ao nordeste, para a Pereia, o distrito no lado leste do Jordão. Seu ministério pereano se estende até 10:45. 10:2 Os fariseus logo o encontraram. Eles es­ tavam se preparando para a matança, como uma alcateia. Em um esforço para pegá-lo na armadilha,

perguntaram-lhe se o divórcio era lícito. Ele os levou ao Pentateuco. Que vos ordenou Moisés? 10:3-9 Eles fugiram da pergunta afirmando o que M oisés permitiu. Ele permitiu a um homem se di­ vorciar de sua esposa desde que lhe desse uma carta de divórcio. Mas isso não era o ideal de Deus; fora permitido somente por causa da dureza do coração das pessoas. 0 plano divino unia homem e mulher em casamento enquanto vivessem. Isso volta à criação dos sexos por Deus. Um homem deve deixar seus pais e se unir de tal maneira em casamento que ele e sua esposa sejam uma só carne. Assim, o que Deus ajuntou não deveria ser separado por decreto humano. 10:10 Aparentemente, isso era difícil até mesmo para os discípulos aceitarem. Naquela época, as mulheres não ocupavam lugar de honra ou segurança. Eram com frequência tratadas com pouco mais que desprezo. Um homem poderia se divorciar de sua esposa se ele estivesse descontente com ela. Ela não tinha como recorrer. Em muitos casos, ela era tratada como objeto ou propriedade. 10:11-12 Quando os discípulos questionaram ain­ da mais o Senhor, ele disse propositalmente que se casar outra vez após o divórcio era adultério, mesmo que o homem ou a mulher recebesse o divórcio. Estu­ dado de modo isolado, esse versículo indicaria que o divórcio é proibido sob quaisquer circunstâncias. Mas em Mateus 19:9, ele abriu uma exceção. Se o parceiro fosse culpado de imoralidade, era permitido à parte inocente receber o divórcio podendo supor-se livre para casar de novo. É possível também que ICoríntios 7:15 permita o divórcio quando um parceiro descrente abandona o cônjuge cristão. Sem dúvidas, há dificuldades ligadas a todo o assunto de divórcio e segundas núpcias. As pessoas criam um entrelaçamento marital tão envolvente que se precisa da sabedoria de Salomão para desemba­ raçá-los. A melhor maneira de evitar esses entrela­ çamentos é evitar o divórcio. 0 divórcio coloca uma nuvem e um ponto de interrogação sobre a vida dos envolvidos. Quando pessoas divorciadas procuram comunhão em uma igreja local, a liderança deve rever o caso no temor de Deus. Cada caso é diferente e deve ser considerado individualmente. Esse parágrafo mostra a preocupação de Cristo não só pela santidade do casamento, mas também pelos direitos das mulheres. 0 cristianismo fornece à mulher uma posição de honra não encontrada em outras religiões. H. Abençoando as criancinhas (10:13-16) 10:13 Agora vemos a preocupação do Senhor Jesus com as criancinhas. Os pais que trouxeram suas

crianças para serem abençoadas pelo pastor-professor foram afugentados pelos discípulos. 10:14-16 0 Senhor indignou-se muito e explicou que o reino de Deus pertence aos pequeninos e aos que têm fé e humildade como crianças. Os adultos têm de se tomar como crianças a fim de entrarem no reino. George MacDonald costumava dizer que ele não acreditava no cristianismo de um homem se meninos e meninas não fossem encontrados jogando bola perto de sua porta. Certamente esses versículos deveriam impressionar o servo do Senhor com a importância de alcançar os pequeninos com a palavra de Deus. A mente das crianças é a mais maleável e a mais receptiva. W. Graham Scroggie disse: “Seja o melhor e dê seu melhor às crianças”. I. O jovem rico (10:17-31) 10 :1 7 Um jovem rico interrompeu o Senhor com uma indagação aparentemente sincera. Dirigindo-se a Jesus como “ Bom M estre” , ele perguntou o que teria de fazer para herdar a vida eterna. 10:18 Jesus aproveitou as palavras “ Bom Mes­ tre” . Ele não recusou o título, mas o usou para testar a fé do jovem. Somente Deus é bom. Será que o jovem rico estava disposto a confessar o Senhor Jesus como Deus? Aparentemente não. 10:19-20 Em seguida, o Salvador usou a lei para produzir o conhecimento do pecado. 0 jovem ainda estava sob o engano de que poderia herdar o reino baseado no princípio do fazer. Nesse caso, que obede­ cesse à lei, que lhe determinava o que fazer. 0 Senhor citou os cinco mandamentos que tratam primeiramen­ te do nosso relacionamento com nossos semelhantes. Esses cinco mandamentos de fato dizem: “Você amará seu próximo como a você mesmo”. 0 jovem professou tê-los observado desde a juventude. 10:21-22 Mas será que realmente ele amava o próximo como a si mesmo? Se fosse assim, então que ele o provasse vendendo todas as suas propriedades e dando o dinheiro aos pobres. Ah, mas isso é outra história. Ele retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades. 0 Senhor Jesus não quis dizer que esse jovem po­ deria ser salvo por vender suas posses e dar o lucro à caridade. Há somente um caminho de salvação: fé no Senhor. Mas, para poder ser salva, uma pessoa deve reconhecer que ela é pecadora, não cumprindo as exigências santas de Deus. 0 Senhor conduziu o jovem de volta aos Dez Mandamentos para produzir convicção de pecado. A má vontade do jovem rico em compartilhar suas posses indica que ele não amava o próximo como a si mesmo. Ele deveria ter dito: “Senhor, se é isso o que é exigido, então sou um pe­

cador. Eu não posso me salvar por esforços próprios. Portanto, eu te peço que me salves pela tua graça”. Mas ele amava demais suas posses. Estava relutante em entregá-las. Recusou ser quebrantado. Quando Jesus falou ao jovem para vender tudo, ele não estava dizendo que esse era o caminho de salvação. Ele estava mostrando ao jovem que havia infringido a lei de Deus e, portanto, precisava ser salvo. Se ele atendesse àinstrução do Salvador, teria recebido o caminho da salvação. Mas há um problema aqui. Será que nós, cristãos, deveríamos amar o próximo como a nós mesmos? Será que Jesus nos diz: Vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me? (CF) Cada um deve responder por si mesmo, e, antes que o faça, deveria considerar os seguintes fatos inevitáveis: 1. Milhares de pessoas morrem diariamente de fome. 2. Mais da metade do mundo nunca ouviu as boas-novas. 3. Nossas posses materiais podem ser usadas agora para aliviar as necessidades espirituais e físicas dos homens. 4 .0 exemplo de Cristo nos ensina que deveríamos nos tomar pobres para que outros pudessem se tomar ricos (2 Co 8:9). 5. A brevidade da vida e a iminência da vinda do Senhor nos ensinam a colocar agora o dinheiro a serviço do Mestre. Depois que ele voltar será tarde demais. 10:23-25 Assim que ele viu o jovem rico desapa­ recer na multidão, Jesus observou a dificuldade de os ricos entrarem no reino de Deus. Os discípulos ficaram muito surpresos com esse comentário; eles ligaram as riquezas com as bênçãos de Deus. Então Jesus repetiu: Filhos, quão difícil é [para os que confiam nas riquezas]18 entrar no reino de Deus! Para dizer a verdade, ele continuou: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. 10:26-27 Isso fez com que os discípulos ficassem maravilhados e curiosos, querendo saber quem po­ deria ser salvo. Como judeus vivendo sob a lei, eles corretamente consideravam as riquezas como indica­ ção das bênçãos de Deus. Sob o código mosaico, Deus prometera prosperidade aos que lhe obedecessem. Os discípulos concluíram que se uma pessoa rica não pudesse entrar no reino então ninguém mais poderia.

ls(10:23-25) 0 texto (BU) omite “para os que confiam nas riquezas”, mas essa é a principal ênfase na passagem.

Jesus respondeu que o que é impossível aos homens é possível a Deus. 0 que devemos concluir do ensinamento dessa passagem? Antes de tudo, é especialmente difícil para as pes­ soas ricas serem salvas (v. 23), já que essas pessoas tendem a amar sua riqueza mais que a Deus. Elas preferem abandonar a Deus a abandonar seu dinheiro. Colocam sua confiança nas riquezas em vez de no Senhor. Contanto que essas condições existam, não podem ser salvas. É verdade que no AT as riquezas eram um sinal do favor de Deus. Agora isso mudou. Em lugar de uma marca da bênção do Senhor, as riquezas são um teste da dedicação do homem. Um camelo pode passar pelo fundo de uma agulha com mais facilidade que um rico pode passar pela porta do reino. Humanamente falando, um homem rico não pode ser salvo. Alguém poderia opor-se dizendo que, humanamente falando, ninguém pode ser salvo. Isso é verdade. Mas no caso de uma pessoa rica é ainda mais verdadeiro. Ele enfrenta obstáculos que um pobre des­ conhece. 0 deus Mamom deve ser erradicado do trono do seu coração, e a pessoa deve ficar perante Deus como indigente. Efetuar essa mudança é humanamente impossível. Somente Deus pode fazê-lo. Os cristãos que armazenam tesouros na terra em geral pagam por sua desobediência na vida de seus filhos. Pouquíssimos filhos de tais famílias continuam firmes no Senhor. 10:28-30 Pedro pegou a correnteza do ensino do Salvador. Ele percebeu que Jesus estava dizendo: “Abandonem tudo e sigam-me”. Jesus confirmou isso ao prometer recompensa no presente e no porvir para os que abandonam tudo por sua causa e pela causa do evangelho. 1. A recompensa presente é de 10.000% de retomo, não em dinheiro, mas em: a. Casas — lares de outras pessoas onde ele recebe acomodação como servo do Senhor. b. Irmãos, irmãs, mães, filhos — amigos cris­ tãos cuja comunhão enriquece toda a vida. c. Campos — países do mundo que ele solicitou ao Rei. d. Perseguições — essas compõem parte da recompensa no presente. E motivo de regozijo quando uma pessoa é encontrada digna de sofrer por causa de Jesus. 2. A recompensa futura é a vida eterna. Isso não quer dizer que herdamos a vida eterna por abandonar

19 (10:31) Harry A. Iron sid e, Expository Notes on the Gospel ofMark, p. 157. 20 (10:32) Charles R. ERDMAN, Mark, p. 147.

tudo. Vida eterna é um dom. Aqui o pensamento é: os que renunciam tudo são recompensados com uma capacidade maior de desfrutar a vida eterna no céu. Todos os crentes terão essa vida, mas nem todos a desfrutarão na mesma medida. 1 0 :3 1 Depois nosso Senhor acrescentou uma palavra de alerta: Muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros. Não é o bastante começar bem no caminho do discipulado. É como terminamos que conta. Harry Ironside disse: Nem todo mundo que fez a promessa de ser fiel e dedicado seguidor continuará no caminho da abnegação por causa do nome de Cristo, e alguns que pareciam negligentes e cuja dedicação era questionável provarão ser verdadeiros e abnega­ dos na hora da tribulação.19 J.

A terceira predição do sofrimento e da morte do Servo (10:32-34) 10:32 A hora chegou de subir para Jerusalém. Para o Senhor Jesus isso significava a tristeza e o sofrimento do Getsêmani, a vergonha e a agonia da cruz. Quais eram suas emoções nessa hora? Será que não podemos lê-las nas palavras: Jesus ia adiante dos seus discípulos? Havia uma determinação em fazer a vontade de Deus, sabendo completamente qual seria o custo. Havia solidão — ele estava adiante dos discípulos, andando sozinho. E havia alegria — uma alegria profunda, seguro de estar na vontade do Pai, uma perspectiva alegre da glória vindoura, a alegria de redimir uma noiva para si mesmo. Pela alegria que estava posta diante dele, o Senhor suportou a cruz, menosprezando a vergonha. Ao contemplá-lo, andando com passos largos na dian­ teira, também ficamos admirados. Nosso Líder intrépi­ do, o Autor e Consumador da nossa fé, nosso glorioso Mestre, Príncipe divino. Charles Erdman escreve: Façamos uma pausa para contemplar essa face e feição, o Filho de Deus, indo com passos firmes rumo à cruz! Será que não desperta em nós um novo heroísmo, à medida que seguimos; será que não desperta em nós um novo amor ao vermos quão voluntária foi a sua morte por nós; e mes­ mo assim não inquirimos sobre o significado e o mistério daquela morte?20 Aqueles que seguiam estavam atemorizados. Sa­ biam que os líderes religiosos em Jerusalém estavam decididos pela sua morte. 10:33-34 Pela terceira vez Jesus deu a seus dis­ cípulos um relato detalhado dos eventos do porvir.

Esse esboço profético revela que ele era mais que mero homem: l.E is que subimos para Jerusalém (11:1— 13:37). 2 .0 Filho do homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas (14:1-2,43-53). 3 .Condená-lo-ão à morte (14:55-65). 4.E o entregarão aos gentios (15:1). 5 .Hão de escam ecê-lo, cuspir nele, açoitá-lo e matá-lo (15:2-38). 6 .Mas, depois de três dias, ressuscitará (16:1-11). K. A grandeza é servir (10:35-45) 1 0 :3 5 -3 7 Após essa comovente predição da sua proximidade da cruz, Tiago e João aproximaram-se com um pedido que foi ao mesmo tempo nobre e ino­ portuno. Foi nobre por quererem estar perto de Cristo, mas foi uma hora imprópria para procurar coisas maiores para si próprios. Eles revelaram fé que Jesus estabeleceria seu reino, mas, na verdade, deveriam estar pensando no seu iminente sofrimento. 10:38-39 Jesus perguntou-lhes se eram capazes de beber seu cálice, referindo-se ao seu sofrimento, e compartilhar seu batismo, referindo-se à sua morte. Eles professaram ser capazes, e ele disse que esta­ vam certos. Sofreriam por causa de sua lealdade a ele e, ao menos, Tiago seria martirizado (At 12:2). 10:40 Mas ele continuou a explicar que posições de honra no reino não eram conferidas arbitrariamen­ te. Seriam ganhas. É bom lembrar aqui que ingresso no reino é por graça, pela fé, mas posição no reino será determinada pela fidelidade a Cristo. 10:41-44 Os outros dez discípulos indignaramse por Tiago e João tentarem ultrapassá-los. Mas a indignação revelou o fato de que eles tinham o mesmo espírito. Isso deu ocasião para que o Senhor Jesus desse uma linda e revolucionária lição a respeito da grandeza. Entre os incrédulos, os grandes homens são os que governam com poder arbitrário, que são dominadores e tiranos. Mas a grandeza no reino de Cristo é marcada pelo serviço. Quem quiser ser o primeiro deveria tomar-se servo de todos. 10:45 0 Exemplo Supremo é o próprio Filho do Homem. Ele não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. Pense nisso! Ele nasceu miraculosamente, ministrou através de sua forma de viver e deu a própria vida na sua morte vicária. Como já foi mencionado, o versículo 45 é o versículochave de todo o evangelho. E a teologia em miniatura, uma vinheta da maior Vida que o mundo já conheceu. L. A cura do cego Bartimeu (10:46-52) 10:46 0 cenário agora muda da Pereia para a Judeia. 0 Senhor e seus discípulos atravessaram o Jordão e

chegaram a Jericó. Lá ele encontrou o cego Barti­ meu, um homem com desesperadora necessidade, um conhecimento da necessidade e uma determinação de satisfazê-la. 10:47 Bartimeu reconheceu e intitulou o Senhor de Filho de Davi. Foi irônico que, enquanto a nação de Israel estava cega à presença do Messias, um judeu cego teve uma verdadeira visão espiritual! 10:48-52 Seus apelos persistentes por misericór­ dia não passaram despercebidos. Sua oração especí­ fica pela vista trouxe uma resposta específica. Sua gratidão foi expressa no discipulado fiel, seguindo a Jesus na sua última viagem para Jerusalém. Deve ter alegrado o coração do Senhor encontrar fé como essa em Jericó ao se dirigir à cruz. Foi bom que Bartimeu procurou o Senhor naquele dia, porque o Salvador nunca mais passou novamente por aquele caminho.

V.

O ministério do Servo em Jerusalém ( 11— 12)+

A. A entrada triunfal (11:1-11) 11:1-3 0 registro da última semana se inicia aqui. Jesus deu uma pausa na ladeira leste do monte das Oliveiras, perto de Betfagé (casa dos figos verdes) e Betânia (casa dos pobres, humildes, oprimidos). Chegara a hora de apresentar-se abertamente ao povo judeu como seu Messias-Rei. Ele faria isso em cumprimento à profecia de Zacarias (9:9), andando em um jumentinho. Então ele enviou dois dos seus discípulos de Betânia até Betfagé. Com um perfeito conhecimento e completa autoridade, ele lhes falou para trazer um jumentinho não domado que encon­ trariam amarrado. Se alguém os interpelasse, tinham de responder: O Senhor precisa dele. A onisciência do Senhor, como é vista aqui, impeliu alguém a dizer: “Este não é o Cristo do modernismo, mas da história dos céus”. 11:4-6 Tudo aconteceu como Jesus predissera. Acharam o jumentinho amarrado em um cruzamento principal na vila. Quando interpelados, os discípulos responderam como Jesus lhes ordenara. Então as pessoas os deixaram ir. l l :7 - 8 ft Embora o jumentinho não tenha sido do­ mado, não empacou ao carregar seu Criador até Jeru­ salém. 0 Senhor cavalgou até a cidade em um tapete de vestes e ramos de palmeiras, com a aclamação das pessoas ressoando nos seus ouvidos. Por um momento, pelo menos, ele foi reconhecido como Rei.

* Veja “Suplementos” > “Jerusalém”. *+Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”.

11:9-10 As pessoas gritavam: 1. Hosana — que originalmente significava “Salve, suplicamos”, mas que mais tarde se tomou uma exclamação de louvor. Talvez as pessoas quisessem dizer: “Salve, suplicamos, de nossos opressores romanos!”. 2. Bendito o que vem em nome do Senhor! — um reconhecimento evidente de que Jesus era o Mes­ sias prometido (SI 118:26). 3. Bendito o Reino do nosso pai Davi, que vem em nome do Senhor! (RC) — eles pensaram que o reino estava para ser estabelecido, com Cristo assentado no trono de Davi. 4. Hosana, nas maiores alturas! — um chamado para exaltar o Senhor nos altos céus, ou para ele salvar dos mais altos céus. 11:11 Uma vez em Jerusalém, Jesus entrou no templo, não dentro do santuário, mas nos pátios do templo. Presumivelmente era a casa de Deus, mas ele não estava à vontade nesse templo porque os sacerdotes e as pessoas se recusaram a dar-lhe seu lugar por direito. Então, tendo observado tudo rapidamente, o Salvador se retirou até Betânia com os doze discípulos. Era domingo à noite. B. A figueira sem fruto (11:12-14) Esse episódio é a interpretação do Salvador acerca das boas-vindas tumultuosas que ele acabara de rece­ ber em Jerusalém. Ele viu a nação de Israel como uma figueira estéril: tinha folhas de manifestação religio­ sa, mas sem fruto. 0 grito “Hosana” logo se tomaria um brado que faria gelar o sangue: “Crucifica-o!” Há uma dificuldade aparente, porque ele condenou a figueira por não haver fruto, embora o registro diga distintamente que não era tempo de figos. Isso pare­ ce ilustrar o Salvador como injusto e mal-humorado. Sabemos que isso não é verdade; não obstante, como podemos explicar essa circunstância curiosa? Figueiras em regiões bíblicas produziam um fruto precoce comestível antes das folhas aparecerem. Era um arauto da colheita normal, aqui descrita como o tempo de figos. Se figos prematuros não apareces­ sem, era sinal de que não haveria colheita normal mais adiante. Quando Jesus veio à nação de Israel, havia folhas, que indicavam confissão de fé, mas não havia fmto para Deus. Houve promessa sem cumpri­ mento, crença sem concretização. Jesus estava com fome pelo fmto da nação. Visto que não houve fmto prematuro, ele sabia que não haveria colheita mais adiante do povo incrédulo e, portanto, ele amaldiçoou a figueira. Isso prefigurou o julgamento que cairia sobre Israel em 70 d.C.

Todavia, esse episódio não ensina que Israel fora amaldiçoado à improdutividade perpétua. O povo judeu foi colocado de lado temporariamente, mas quando Cristo voltar para reinar, a nação nascerá de novo e será restaurada a uma posição de favor em relação a Deus. Esse é o único milagre no qual Cristo amaldiçoou ao invés de abençoar, destruiu a vida ao invés de restaurá-la. Isso tem sido exposto como uma dificuldade. Entretanto, a objeção não é válida. 0 Criador tem o direito soberano de destruir algo que não tem alma para poder ensinar uma importante lição espiritual e, assim, salvar os homens da perdição eterna. Embora a interpretação principal dessa passagem se relacione com a nação de Israel, tem uma aplicação aos povos de todas as épocas que combinam as caracterís­ ticas das pessoas que tentam ser o que não são. C. O Servo purifica o templo (11:15-19) 11:15-16 No princípio de seu ministério público, Jesus havia expulsado o mercantilismo das imediações do templo Qo 2:13-22). Agora, à medida que seu ministé­ rio se encerra, novamente ele entra no pátio do templo e expulsa os que estavam lucrando com as atividades religiosas. Ele até mesmo impediu o carregamento de qualquer utensílio pelo pátio do templo. 11:17 Unindo as citações de Isaías e Jeremias, ele condenou a profanação, o exclusivismo e o mercanti­ lismo. Deus planejara o templo para ser uma casa de oração, para todas as nações (Is 56:7), não apenas para Israel. Eles o tomaram um mercado religioso, um ponto de encontro para trapaceiros e contraban­ distas (Jr 7:11). 11:18 Os principais sacerdotes e escribas fica ram profundamente feridos pelas suas acusações. Queriam lhe tirar a vida, mas não poderiam fazê-lo descaradamente por causa do povo que ainda o via com grande admiração. 11:19 À tarde, ele saiu da cidade. 0 tempo do verbo no original sugere que era seu costume, talvez por motivo de segurança. Ele não tinha medo por si próprio. Devemos manter em mente que preservar as ovelhas, isto é, seus discípulos, fazia parte do seu ministério (Jo 17:6-19). Além disso, seria ridículo para ele se render aos desejos de seus inimigos antes da hora determinada. D. A lição da figueira sem fruto (11:20-26) 11:20-23 Na manhã depois de amaldiçoar a figueira, os discípulos passaram por ela no caminho para Jeru­ salém. Ela secara desde as raízes até a copa. Quando Pedro mencionou isso ao Senhor, ele simplesmente disse: Tende fé em Deus. Mas o que essas palavras

têm a ver com a figueira? Os versículos seguintes mostram que Jesus estava encorajando a fé como meio de remover as dificuldades. Se os discípulos tiverem fé em Deus, eles podem lidar com o problema de inutilidade e remover os imensos obstáculos. Porém, esses versículos não dão a uma pessoa autoridade de orar por poderes miraculosos para seu próprio bem-estar ou promulgação. Cada ato de fé deve descansar na promessa de Deus. Se soubermos que é a vontade de Deus remover certa dificuldade, então poderemos orar com total confiança que será feito. Aliás, para dizer a verdade, podemos orar com confiança sobre qualquer assunto, contanto que es­ tejamos confiantes de que é de acordo com a vontade de Deus como revelada na Bíblia ou no testemunho interior do Espírito. 1 1 :2 4 Quando estamos realmente vivendo em contato com o Senhor e orando no Espírito, podemos ter a segurança de orações atendidas antes de a resposta chegar. 11:25-26 Mas uma das exigências básicas para orações serem atendidas é um espírito perdoador. Se fomentarmos uma atitude desagradável e vingativa para com os outros, não podemos esperar que Deus ouça e nos responda. Devemos perdoar se quisermos ser perdoados. Isso não se refere ao perdão judicial dos pecados quando nos convertemos; isso é rigorosa­ mente uma questão de graça pela fé. Isso se refere à conduta paternal de Deus com seus filhos. Um espíri­ to rancoroso quebra a comunhão com o Pai celestial e impede o derramamento de bênçãos. E.

A autoridade do Servo é questionada (11:27-33) 11:27-28 Assim que Jesus chegou ao pátio do tem­ plo, os líderes religiosos o abordaram e desafiaram sua autoridade fazendo-lhe duas perguntas: 1) Com que autoridade fazes estas coisas? 2) Ou quem te deu tal autoridade para as fazeres? (isto é, limpar o templo, amaldiçoar a figueira e cavalgar triunfan­ temente até Jerusalém). Eles esperavam pegá-lo numa armadilha, não importa como respondesse. Se ele mencionasse ter autoridade por ele mesmo como o Filho de Deus, eles o acusariam de blasfêmia. Se ele alegasse ter autoridade dos homens, eles o desacreditariam. Se ele apontasse autoridade da parte de Deus, desafiariam essa pretensão; eles se consideravam nomeados por Deus como os líderes religiosos do povo. 11:29-32 Mas Jesus respondeu com uma pergun­ ta: João Batista foi divinamente comissionado ou não? (O batismo de João refere-se ao seu ministério

completo.) Eles não poderiam responder sem algum embaraço. Se o ministério de João foi divinamente comissionado, eles deveriam ter obedecido ao seu chamado de arrependimento. Se menosprezassem o ministério de João, correriam o risco da ira da massa, que ainda considerava João um porta-voz de Deus. 11:33 Quando eles se recusaram a responder, alegando ignorância, o Senhor se recusou a discutir sua autoridade. Enquanto estivessem relutantes em reconhecer as credenciais do precursor, raramente reconheceriam as credenciais mais altas do próprio Rei! E A parábola dos lavradores maus (12:1-12) 12:1 O Senhor Jesus ainda não terminara com as autoridades judaicas, embora tenha se recusado a lhes responder a pergunta. Agora, na forma de pa­ rábolas, ele pronunciou contra eles uma acusação pungente por terem rejeitado o Filho de Deus. Jesus lhes contou por parábola a história de um homem, representando o próprio Deus, que plantou uma vi­ nha. A vinha era o lugar de privilégio ocupado então por Israel. A sebe era a Lei de Moisés, que separou o povo de Israel dos gentios e o preservou como um povo distinto para o Senhor. Os lavradores eram os líderes religiosos, como os fariseus, os escribas e as autoridades. 12:2-5 Repetidamente, Deus enviou seus servos, os profetas, ao povo de Israel, à procura de comu­ nhão, santidade e amor. Mas o povo perseguiu os profetas e mataram alguns deles. 12:6-8 Por último, Deus enviou seu Filho amado. Certamente o respeitarão. Assim o Senhor predisse sua morte e expôs seus assassinos culpáveis. 12:9 0 que Deus fará com tais homens cruéis? Ele os exterminaria e daria o lugar de privilégio a outros. Os outros aqui podem referir-se aos gentios, ou ao re­ manescente arrependido de Israel nos últimos dias. 12:10-11 Tudo isso estava cumprindo as Escri­ turas do AT. Em Salmos 118:22-23, por exemplo, é profetizado que o Messias seria rejeitado pelos líderes judaicos nos seus planos de construção. Não teriam lugar para essa Pedra. Mas, após sua morte, Jesus seria ressuscitado dentre os mortos e receberia o lugar de preeminência da parte de Deus. Ele seria a principal pedra na construção de Deus. 12:12 Os líderes judaicos entenderam a questão. Acreditaram que Salmos 118 falava do Messias. Agora ouviram que o Senhor Jesus estava aplicandoo a si mesmo. Procuravam prendê-lo, mas sua hora ainda não chegara. O povo tomaria partido com Jesus. Então os líderes religiosos retiram-se por ora.

G.

Prestação de contas a César e a Deus (12:13-17) 0 capítulo 12 contém um ataque ao Senhor pelos fariseus, herodianos e saduceus. É um capítulo de perguntas (cf. v. 9-10,14-16,23-24,26,28,35,37). 12:13-14 Os fariseus e os herodianos, inimigos mordazes, agora se reconciliam por causa de um ódio comum pelo Salvador. Tentaram desesperadamente seduzi-lo a dizer algo que eles poderiam usar como acusação contra ele. Então perguntaram se era lícito pagar tributo ao governo romano. Judeu nenhum, pessoalmente, tinha prazer em viver sob o regime gentílico. Os fariseus odiavam com uma paixão, ao passo que os herodianos adotaram um ponto de vista mais tolerante. Se Jesus abertamente defendesse tributo a César, ele seria malquisto por muitos dos judeus. Se ele falasse contra César, eles instigariam as autoridades romanas a capturá-lo e julgá-lo como traidor. 12:15-16 Jesus pediu que alguém lhe trouxesse um denário. (Aparentemente ele mesmo não tinha um.) A moeda ostentava o retrato de César Tibério, um lembrete aos judeus de que foram um povo con­ quistado e subjugado. Por que estavam nessa condi­ ção? Por causa de seu pecado e de sua infidelidade. Sentiram-se humilhados em ter de admitir que as moedas que usavam ostentavam a representação de um ditador gentílico. 12 :1 7 Jesus disse a eles: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Seu grande fracasso não fora na primeira área, mas na segunda. Eles pagaram impostos aos romanos, embora com certa relutância, mas negligenciaram o direito de Deus sobre a vida deles. A moeda tinha a imagem de César nela, e portanto pertencia a César. 0 homem tem a imagem de Deus nele — Deus criou o homem à sua própria imagem (Gn 1:26-27) — e portanto pertence a Deus. O crente deve obedecer e sustentar o governo sob o qual ele vive. Ele não deve falar mal de seus governantes nem trabalhar para derrubar o govemo. Ele deve pagar os impostos e orar por aqueles em autoridade. Se apelam para que ele faça algo que vá violar sua lealdade superior a Cristo, ele deve se recusar e suportar o castigo. 0 direito de Deus deve vir em primeiro lugar. Ao defender tais direitos, o cristão deveria sempre manter um bom testemunho perante o mundo. H.

Os saduceus e seu enigma sobre a ressurreição (12:18-27) 1 2 :1 8 Os saduceus eram os liberais ou racionalistas daquela época. Eles zombavam da ideia de

ressurreição corporal. Então vieram ao Senhor com uma história absurda, tentando ridicularizar a ideia geral. 12:19 Eles relembraram a Jesus que a lei de Moi­ sés deu provisão especial para as viúvas em Israel. Para poder preservar o nome da família e manter a propriedade dentro da família, a lei estipulou que, se um homem morresse sem filhos, seu irmão deveria se casar com a viúva (Dt 25:5-10). 12:20-23 Aqui estava um caso fantástico no qual a mulher havia se casado com sete irmãos, um após o outro. Depois, por fim, ela morreu. Agora vem a pergunta esperta deles! De qual deles será ela a esposa na ressurreição? 12:24 Eles pensaram que eram muito espertos; o Salvador falou-lhes que eram pessimamente ig­ norantes não só das Escrituras, que ensinam a ressurreição, mas também do poder de Deus, que ressuscita os mortos. 12:25 Em primeiro lugar deveriam saber que o relacionamento do casam ento não continua nos céus. Os crentes reconhecerão um ao outro no céu e não perderão suas características como homens e mulheres, mas eles nem casarão nem se darão em casamento. Nesse aspecto, serão semelhantes aos anjos nos céus. 12:26-27 Depois nosso Senhor levou os saduceus, que valorizavam os livros de Moisés acima de todo o AT, de volta ao relato de M oisés na sarça ardente (Êx 3:6). Lá Deus falou de si mesmo como o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. 0 Salvador usou isso para mostrar que Deus não é Deus de mortos, e sim de vivos. Mas como? Abraão, Isaque e Jacó não estavam mortos quando Deus aparecera a Moisés? Sim, seus corpos estavam na caverna de Macpela em Hebrom. Como então Deus é o Deus dos vivos? 0 argumento parece ser esse: 1. Deus fizera promessas aos patriarcas concernente à terra e concernente ao Messias. 2. Essas promessas não foram cumpridas no tempo em que viveram. 3. Quando Deus falou a Moisés na sarça, o corpo dos patriarcas estava no túmulo. 4. Mesmo assim Deus falou de si mesmo como o Deus dos vivos. 5. Ele deve cumprir suas promessas a Abraão, Isaque e Jacó. 6. Portanto, a ressurreição é uma necessidade abso­ luta do que sabemos do caráter de Deus. E assim suas palavras de despedida aos saduceus foram: Por isso, vós errais muito (RC).

I. 0 grande mandamento (12:28-34) 12:28 Um dos escribas, impressionado pelo domínio de nosso Senhor quanto às perguntas sagazes de seus críticos, perguntou a Jesus qual é o mandamento mais importante. Foi uma pergunta honesta, e, de certa maneira, a pergunta mais básica da vida. Ele realmente estava exigindo uma afirmação concisa do alvo principal da existência do ser humano. 12:29 Jesus começou citando o Shema, uma afir­ mação de fé judaica extraída de Deuteronômio 6:4: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! 12:30 Depois ele resumiu a responsabilidade do homem para com Deus: Amá-lo com a totalidade de seu coração, de sua alma, de seu entendimento e de sua força. Deus deve ter lugar supremo na vida do ser humano. Nenhum amor pode se tomar rival do amor por Deus. 12:3 1 A outra metade dos Dez Mandamentos ensina-nos a amar o próximo como a nós mesmos. Temos de amar a Deus mais que a nós e o próximo como a nós mesmos. Assim, a vida que realmente conta se preocupa primeiro com Deus, depois com os outros. As coisas materiais não são mencionadas. Deus é importante e as pessoas são importantes. 12:32-33 0 escriba concordou de coração, afir­ mando com clareza louvável que amar a Deus e ao próximo eram muito mais importantes que rituais. Ele percebeu que as pessoas poderiam passar pelos rituais religiosos e externar uma forma pública de piedade sem ter no seu interior santidade pessoal. Ele reconheceu que Deus se preocupa com o interior de um homem assim como com o exterior. 12:34 Quando Jesus ouviu essa observação ex­ traordinária, ele falou ao escriba que ele não estava longe do reino de Deus. Verdadeiros súditos do reino não tentam enganar a Deus, seus companheiros ou a si mesmos com religião externa. Reconhecendo que Deus olha no coração, vão a ele para a purificação dos pecados e para receber poder a fim de viver de maneira que agrade ao Senhor. Após isso, ninguém mais ousava armar cilada para o Senhor Jesus fazendo-lhes perguntas que sugeriam determinadas respostas. J.

O filho de Davi é o Senhor de Davi (12:35-37) Os escribas sempre ensinaram que o Messias seria da descendência direta de Davi. Embora verdade, não era a verdade completa. Então o Senhor Jesus agora apresenta um problema aos que estavam reunidos ao redor dele no pátio do templo. Em Salmos 110:1, Davi falou da vinda do Messias como seu Senhor. Como

poderia ser isso? Como o Messias poderia ser o Filho de Davi e ser seu Senhor ao mesmo tempo? Para nós a resposta é óbvia. O Messias seria tanto Homem como Deus. Como Filho de Davi, ele seria humano. Como Senhor de Davi, ele seria divino. E a grande multidão o ouvia com prazer. Aparen­ temente estavam dispostos a aceitar o fato, mesmo que não pudessem entendê-lo completamente. Mas nada é dito a respeito dos fariseus e escribas. Seu silêncio é ameaçador. K. O aviso contra os escribas (12:38-40) 12:38-39 Os escribas eram exteriormente religio­ sos. Amavam exibir-se com vestes talares. Isso os distinguia do populacho e dava-lhes aparência de santidade. Amavam ser saudados com títulos que soavam poderosos em lugares públicos. Faziam algo pelo seu ego! Procuravam os lugares de honra nas sinagogas, como se lugar físico tivesse algo a ver com piedade. Eles não só queriam proeminência religiosa, mas distinção social também. Queriam os melhores lugares nos banquetes. 12:40 No íntimo eram gananciosos e falsos. Rou­ bavam as propriedades e o meio de vida das viúvas para poderem se enriquecer, fingindo que o dinheiro era para o Senhor! Eles recitavam longas orações — extensas palavras vãs e elevadas — , orações de meras palavras. Em resumo, amavam a.peculiaridade (vestes talares); a.popularidade (saudações); a.proe­ minência (melhores assentos); a.prioridade (melhores lugares); as possessões (casas das viúvas); &falsa piedade (longas orações). L. A s duas moedas da viúva (12:41-44) Em nítida oposição à mesquinhez dos escribas estava a devoção dessa viúva. Eles devoravam as casas das viúvas; ela deu tudo quanto possuía ao Senhor. 0 episódio mostra a onisciência do Senhor. Observando as pessoas ricas depositarem ofertas relativamente grandes no baú para o tesouro do templo, ele sabia que o que davam não representava sacrifício. Deram do que lhes sobrava. Sabendo também que as duas moedas de valor diminuto que ela dera era todo o seu sustento, ele anunciou que ela dera mais do que todos os outros reunidos. Quanto ao valor mone­ tário, ela deu bem pouco. Mas o Senhor avalia o ato de dar pela motivação, pelos recursos e por quanto sobrou. Isso é um grande encorajamento aos que têm poucas posses materiais, mas um grande desejo de dar a ele. É surpreendente como aprovamos a ação da viúva e concordamos com o veredicto do Salvador sem imitar-lhe o exemplo! Se realmente crêssemos no

que dizemos que cremos, então faríamos exatamente o que ela fez. Sua oferta expressou sua convicção de que tudo pertencia ao Senhor, que ele era digno de tudo, que ele deve ter tudo. Muitos cristãos hoje em dia criticariam a mulher por não se precaver para o futuro. Isso não mostra falta de previsão e precau­ ção? Os homens assim argumentariam. Mas essa é a vida de fé: lançando tudo na obra de Deus agora e confiando nele para o futuro. Ele não prometeu sustentar os que procuram primeiro o reino de Deus e sua justiça (Mt 6:33)? Radical? Revolucionário? A menos que vejamos os ensinos de Cristo como radicais e revolucionários, perdemos a ênfase de seu ministério.

VI. O discurso do Servo no monte das Oliveiras (13) A. Jesus prediz a destruição do templo (13:1-2) 13:1 Assim que o Senhor Jesus saía do pátio do templo pela última vez antes de sua morte, um de seus discípulos tentou acender seu entusiasmo a respeito do esplendor do templo e a arquitetura adjacente. Os discípulos estavam ocupados com os triunfos arquitetônicos implicados ao levantar as enormes pedras. 13:2 0 Salvador indicou que essas coisas logo se destruiriam. Não ficaria pedra sobre pedra quando os exércitos romanos invadissem Jerusalém em 70 d.C. Por que se ocupar com coisas que são meramente sombras? B. O início das aflições (13:3-8) No início de seu discurso no monte das Oliveiras, o Senhor desviou a atenção dos discípulos para even­ tos de maior importância. Algumas das profecias parecem descrever a destruição de Jerusalém em 70 d.C.; a maioria delas obviamente vai além dessa data, ao período da tribulação e até à volta pessoal de Cristo em poder e glória. Os lemas do discurso, que se aplicam aos crentes em cada dispensação, são: 1) cuidado (NVI) (v. 5,23,33); 2) não vos assusteis (v. 7); 3) persevere (v. 13); 4) orai (v. 18,33); 5) estai de sobreaviso (v. 9,33,35,37). 13:3-4 0 discurso foi introduzido por uma pergunta de Pedro, Tiago, João e André. Quando o templo seria destruído e que sinal antecederia ao aconte­ cimento profetizado? A resposta do Senhor incluiu a destruição de um templo posterior, que ocorreria durante a grande tribulação, antes do seu segundo advento. 13:5-6 Primeiro, eles teriam de tomar cuidado que ninguém os iludisse por alegar ser o Messias

(NVI). M uitos falsos Cristos apareceriam, como visto no surgimento de muitas seitas, cada qual com anticristo próprio. 13:7-8 Em segundo lugar, não deveriam interpretar guerras e rumores de guerras como um sinal do fim dos tempos. Durante todo o período intermédio haveria disputas internacionais. Além disso, haveria grandes cataclismos na natureza: terremotos,, fomes e dores. Esses seriam apenas como contrações preliminares de parto, prenunciando um período de angústia incomparável. C. Perseguição aos discípulos (13:9-13) 13:9 Em terceiro lugar, o Senhor predisse grandes testes pessoais para os que fossem inabaláveis no seu testemunho por ele. Seriam julgados perante as cortes civis e religiosas. Enquanto essa seção é apropriada ao testemunho de todos os cristãos em todos os períodos, parece fazer referência especial ao ministério dos 144 mil crentes judeus que levarão o evangelho do reino a todas as nações da terra antes do reino futuro de Cristo. 13:10 0 versículo 10 não deveria ser usado para ensinar que o evangelho será pregado a todas as nações antes do arrebatamento. Deveria ser proclamado pelo mundo inteiro e talvez seja, mas dizer que será é afirmar algo que a Bíblia não afirma. Nenhuma profe­ cia precisa se cumprir antes da volta de Cristo para os santos; ele pode voltar a qualquer momento! 13:11 0 Senhor prometeu que os cristãos perse­ guidos e julgados por sua causa receberiam poder divino ao se defenderem. Não precisariam preparar seu caso de antemão; talvez não houvesse tempo. 0 Espírito Santo lhes daria exatamente as palavras corretas. Essa promessa não deveria ser usada como desculpa para não preparar sermões ou mensagens evangelísticas hoje em dia, mas é garantia de poder sobrenatural em tempos de crise. É uma promessa para os mártires, não ministrantes! 13:12-13 Outro aspecto dos dias de tribulação será a extensão da traição contra os que são leais ao Salvador. Os membros da família servirão de infor­ mantes contra os crentes. Uma grande onda de anticristianismo assolará o mundo. Precisará de coragem para permanecer fiel ao Senhor Jesus; aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo. Isso não pode significar que receberão vida eterna por causa da sua perseverança; isso seria falso evangelho. Nem pode significar que os crentes fiéis serão salvos da morte física durante a tribulação, porque lemos em outro lugar que muitos selarão seu testemunho com seu sangue. 0 que provavelmente significa é que a perseverança até o fim dará evidência de realidade, isto é, caracterizará os genuinamente salvos.

D. A grande tribulação (13:14-23) 13:14-18 0 versículo 14 marca o meio do período da tribulação, o começo da grande tribulação. Sabemos isso por comparar essa passagem com Daniel 9:27. Naquele tempo, um grande e abominável ídolo será colocado no templo em Jerusalém. Os homens serão obrigados a adorá-lo ou morrerão. Os verdadeiros cristãos, é claro, vão se recusar. A montagem dessa imagem idólatra sinalizará o início da grande perseguição. Aqueles que lerem e crerem na Bíblia saberão que o tempo chegou para fugir da Judeia. M o haverá tempo para ajuntar pertences pessoais. As mulheres grávidas e as que amamentarem terão uma inconfundível desvan­ tagem. Se acontecer no inverno, isso acarretará maiores perigos. 13:19 Será um tempo de tribulação maior que qualquer coisa no passado ou no futuro. É a grande tribulação. 0 Senhor Jesus não está falando aqui de tipos gerais de tribulações, que os crentes em todas as épocas enfrentaram. Isso é um período de sofri­ mento incomparável em sua intensidade. Note que a tribulação é primeiramente judaica em seu caráter. Lemos do templo (v. 14; cf. Mt 24:15) e da Judeia (v. 14). É o tempo do sofrimento de Jacó (Jr 30:7). A Igreja não está em vista aqui. Já foi levada para o céu antes de começar o Dia do Senhor (lTs 4:13-18; cf. lTs 5:1-3). 13:20 A taça da ira de Deus será derramada no mundo naqueles dias. Será um tempo de calamidade, caos e derramamento de sangue. De fato, a matança será tão grande que Deus de maneira sobrenatural abreviará o período do dia; caso contrário, ninguém sobreviveria. 1 3 :2 1-22 A grande tribulação novamente tes­ temunhará a ascensão de falsos messias. As pes­ soas estarão tão desesperadas que se dirigirão a qualquer pessoa que lhes prometer segurança. Mas os crentes saberão que Cristo não aparecerá quie­ tamente ou sem ser anunciado. Mesmo se esses falsos cristos realizarem maravilhas sobrenaturais (como farão), os ele ito s não serão enganados. Perceberão que esses milagres são satanicamente inspirados. Os milagres não são necessariamente divinos. Representam um afastamento sobre-humano das leis conhecidas da natureza, mas podem representar o serviço de Satanás, anjos ou demônios. 0 homem do pecado será revestido de poder satânico para realizar milagres (2Ts 2:9). 13:23 Então os crentes deveriam estar de sobre­ aviso e estar prevenidos.

E. O segundo advento (13:24-27) 13:24-25 Haverá distúrbios surpreendentes nos céus após a referida tribulação. A escuridão cobrirá a terra de dia e de noite. As estrelas cairão do firma­ mento e os poderes dos céus (as forças que mantêm os corpos estelares em órbita) serão abalados. 13:26-27 Então o mundo apavorado verá o Filho do Homem voltar à terra, agora não como o humilde nazareno, mas como o glorioso Conquistador. Ele virá nas nuvens, acompanhado pormiríades de seres angelicais e pelos santos glorificados. Será uma cena de poder irresistível e de esplendor deslumbrante. Ele expedirá seus anjos para reunirem seus escolhidos, isto é, os que o reconheceram como Senhor e Salvador durante o período da tribulação. De uma ponta da terra à outra, da China à Colômbia, virão desfrutar os benefícios de seu maravilhoso reino milenar na terra. Seus inimigos, entretanto, serão destruídos ao mesmo tempo. E A parábola da figueira (13:28-31) 13:28 A figueira é um símbolo (ou tipo) da nação de Israel. Jesus ensinou aqui que, antes da sua segunda vinda, a figueira produziria folhas. Em 1948, a nação independente de Israel foi formada. Hoje essa nação exerce uma influência nos negócios mundiais que está fora de toda proporção com seu tamanho. Pode-se dizer de Israel que “está brotando folhas”. Ainda não há fruto até que o Messias volte a um povo que está disposto a recebê-lo. 13:29 A formação e o crescimento da nação de Israel nos conta que o Rei21 está próximo, às portas. Se sua vinda para reinar está tão próxima, quanto mais está sua vinda para a Igreja! 13:30 No versículo 30 frequentemente se entende que todas as coisas profetizadas neste capítulo ocor­ reriam enquanto os homens dos dias de Cristo ainda viviam. Mas não pode significar isso porque muitos dos acontecimentos, sobretudo os dos versículos 24-27, simplesmente não ocorreram naquela época. Outros entendem que a geração da época em que as folhas da figueira brotariam, isto é, quando a nação de Israel foi formada em 1948, seria a que veria o se­ gundo advento. Preferimos um terceiro ponto de vista. Esta geração pode significar “essa raça”. Cremos que significa “essa raça judaica caracterizada pela incredulidade e rejeição do Messias”. O testemunho da história é que “esta geração” não passou. A nação

21 (13:29) O assunto aqui no grego é meramente a terminação do ver­ bo “está” [estiri], na qual o contexto poderia ser Cristo ou o verão (os eventos preditos). Os significados resultantes são semelhantes.

como um todo não só sobreviveu como um povo dis­ tinto, mas continuou em sua animosidade inveterada para com o Senhor Jesus. Jesus predisse que a nação e sua característica nacional continuariam até seu segundo advento. 13:31 0 Senhor enfatizou a certeza de cada um de seus prognósticos. 0 céu atmosférico e o céu estelar passarão. A terra em si será dissolvida. Mas cada palavra que ele falou acontecerá. G. O dia e a hora ignorados (13:32-37) 13:32 Jesus disse: Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai. Todos sabem que esse versículo tem sido usado pelos inimigos do evangelho para provar que Jesus não era nada mais que um mero homem com conhecimento limitado como nós mes­ mos. Também tem sido usado por crentes sinceros, mas mal orientados, para demonstrar que Jesus se esvaziou dos atributos da divindade quando ele veio ao mundo como homem. Nem uma dessas interpretações é verdadeira. Jesus era e é tanto Deus como Homem. Ele tinha todos os atributos da deidade e todas as características da perfeita humanidade. E verdade que sua deidade foi coberta em um corpo de carne, entretanto, estava ah. Nunca houve um tempo em que ele não tivesse sido completamente Deus. Como pode então ser dito dele que não sabe o tempo do seu segundo advento? Cremos que a chave para a resposta se encontra em João 15:15: “... o servo não sabe-o que faz o seu senhor...”. Como Servo perfeito, não foi dado ao Senhor Jesus saber a hora da sua vinda (Jo 12:50; 17:8). Como Deus, é claro, ele sabe. Mas como Servo, não lhe foi dado a saber com o propósito de revelá-lo aos outros. James Brookes explica dessa maneira: Não é uma contradição da onisciência divina do Senhor, mas simplesmente uma declaração de que, na economia da redenção humana, não era para ele “conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade” (At 1:7). Jesus sabia que ele viria novamente, e com fre­ quência falou de seu segundo advento, mas não coihpetia a ele, como Filho, determinar a data de sua volta, e por essa razão ele podia expor aos seus seguidores como objeto de constante expectativa e desejo.22

13:33-37 Tendo em vista a volta do Senhor, o ca­ pítulo termina com exortação à vigilância e à oração. Pelo fato de que não sabemos a hora designada, devemos ficar em alerta. Uma situação semelhante é comum no dia a dia. Um homem sai de casa em uma longa viagem. Ele deixa instruções com seu servo e avisa ao vigia para ficar aguardando sua volta. Jesus se assemelhou ao homem viajante. Ele pode voltar a qualquer hora da noite. Seu povo, servindo como vigia, não deveria ser encontrado dormindo. Então ele deixou essa palavra para todo o seu povo: vigiai!

VII. O sofrimento e a morte do Servo (1 4 -1 5 ) A. Uma conspiração para matar Jesus (14:1-2) Agora era quarta-feira daquela semana decisiva. Em dois dias seria a Páscoa, introduzindo a festa de sete dias de Pães Asmos. Os líderes religiosos estavam determinados a destruir o Senhor Jesus, mas não queriam fazê-lo durante as festas religiosas, porque muitas pessoas ainda consideravam Jesus um profeta. Embora os principais sacerdotes e os escribas determinassem não matá-lo durante a festa, a provi­ dência divina prevaleceu, e o Cordeiro Pascal de Deus foi morto naquele exato tempo (cf. Mt 26:2). B. Jesus ungido em Betânia (14:3-9) Do mesmo modo que um joalheiro coloca um diaman­ te encostado a um veludo preto, o Espírito Santo e Marcos, o escritor humano, habilmente realçam o resplendor do amor de uma senhora por nosso Se­ nhor no meio da conspiração sombria da hierarquia religiosa e de Judas. 14:3 Simão, o leproso, festejou em honra do Sal­ vador, talvez em gratidão por ter sido curado. Uma mulher anônima (talvez Maria de Betânia; Jo 12:3) un­ giu profusamente a cabeça de Jesus com um perfume preciosíssimo. 0 amor dela por ele era enorme. 1 4 :4-5 Alguns dos convidados pensaram que era um desperdício tremendo. Ela era imprudente, esbanjadora. Por que não vendera o perfume e dera o dinheiro aos pobres? (Trezentos denários era o equivalente ao salário de um ano.) As pessoas ainda acham que é um desperdício dar um ano da nossa vida ao Senhor. Quanto maior desperdício pensariam seria dar a nossa vida inteira a ele! 14:6-8 Jesus repreendeu as murmurações. Ela reconhecera sua áurea oportunidade para pagar tri­ buto ao Salvador. Se eles fossem tão solícitos com os

pobres, sempre seriam capazes de ajudá-los, porque os pobres estão sempre presentes. Mas o Senhor logo morreria e seria sepultado. A mulher queria mostrar essa bondade enquanto ela podia. Talvez não fosse capaz de cuidar de seu corpo na morte, então ela mostraria seu amor enquanto ele estivesse ainda vivo. 14:9 A fragrância daquele perfume chega até a nossa geração. Jesus disse que ela seria comemora­ da pelo mundo inteiro. E ela tem sido, por meio dos registros dos evangelhos. C. A deslealdade de Judas (14:10-11) A mulher apreciava muito o Salvador. Judas, ao con­ trário dela, o avaliou levianamente. Embora tenha vivido com o Senhor Jesus por pelo menos um ano e tivesse recebido nada a não ser bondade da parte dele, Judas agora se evadiu até os principais sacerdotes com uma garantia para entregar o Filho de Deus em suas mãos. Eles agarraram a proposta com alegria, oferecendo pagar-lhe pela traição. A única coisa que ele tinha de fazer agora era planejar os detalhes. D. A preparação para a Páscoa (14:12-16) Embora a cronologia exata não seja certa, agora provavelmente chegamos à quinta-feira da semana da páscoa. Os discípulos mal perceberam que isso seria o cumprimento e o ápice de todas as páscoas que já foram realizadas. Pediram ao Senhor pelas instru­ ções de onde celebrariam a Páscoa. Ele enviou-os até Jerusalém com instruções para procurarem por um homem trazendo um cântaro de água — uma raridade, uma vez que as mulheres é que geralmente carregavam os cântaros de água. Esse homem os levaria até a casa adequada. Então eles pediriam ao dono para mostrar-lhes um cômodo onde o Mestre pudesse comer a Páscoa com seus discípulos. E maravilhoso ver o Senhor escolher e ordenar desse modo. Ele age como um Rei Soberano dos homens e das propriedades. É também maravilhoso ver corações receptivos colocarem a si mesmos e a suas posses à disposição do Mestre. E bom para nós quando ele tem acesso imediato e pronto a cada repartição de nossa vida! E. Jesus prediz sua traição (14:17-21) Ao cair daquela mesma tarde, ele foi com os doze ao cenáculo que fora preparado. Enquanto reclinavam e comiam, Jesus anunciou que um dos discípulos o trairia. Todos reconheceram as tendências iníquas de suas naturezas. Com desconfiança saudável, cada um rerguntou se seria o culpado. Jesus depois revelou o

traidor como a pessoa que mergulhasse o pão com ele no caldo de carne, isto é, a pessoa a quem ele daria o pedaço de pão. 0 Filho do Homem ia adiante à sua morte como fora dito, disse ele, mas a sina de seu traidor seria maior. De fato, melhor lhe fora não haver nascido! E A primeira ceia do Senhor (14:22-26) 1 4 :2 2 -2 5 Depois de tomar o pão, Judas saiu na noite (Jo 13:30). Jesus, logo após, instituiu o que conhecemos como “ceia do Senhor”. Seu significado é belamente esboçado em três palavras: 1) ele tomou — a humanidade sobre si; 2) ele partiu — estava para ser partido na cruz; 3) ele deu — deu-se a si mesmo por nós. O pão significava seu corpo dado; o cálice, seu sangue vertido. Por seu sangue ele ratificou a [nova] aliança. Para ele não haveria mais alegria festiva até que voltasse à terra para estabelecer seu reino. 14:26 Nesse ponto, cantaram um hino, provavel­ mente uma porção do grande Hallel: Salmos 113— 118. Depois eles saíram de Jerusalém, através de Cedrom, para o monte das Oliveiras. G. A autoconfiança de Pedro (14:27-31) 14:27-28 No caminho, o Salvador avisou os discí­ pulos de que todos eles teriam vergonha e medo de serem conhecidos como seus seguidores nas horas que viriam. Seria como Zacarias havia predito: o pastor seria ferido e as ovelhas ficariam dispersas (Zc 13:7). Mas ele graciosamente lhes assegurou que não os rejeitaria; após ressuscitar dentre os mortos, ele os estaria esperando na Galileia. 14:29-30 Pedro ficou indignado só de pensar em negar o Senhor. Os outros poderiam, mas ele? Jamais! Jesus corrigiu esse “jamais!” para “logo”: antes que duas vezes cantasse o galo, Pedro negaria o Salva­ dor três vezes. 14:31 “É absurdo,” gritou Pedro, “eu morrerei antes de negar-te\" (paráfrase do autor). Pedro não foi o único a pronunciar tal jactância ruidosa. Todos deram a palavra em declarações impetuosas e autoconfiantes. Nunca venhamos a esquecer isso, pois não somos diferentes. Todos nós devemos descobrir a covardia e a fraqueza de nosso coração. H. A agonia no Getsêmani (14:32-42) 14:32 A escuridão pousou sobre a terra. Era quinta-feira à noite, entrando na sexta-feira de manhã. Quando chegaram a uma área de terra cercada cha­ mada Getsêmani, o Senhor Jesus deixou oito dos discípulos perto da entrada.

1 4 :3 3-34 Ele levou consigo a Pedro, Tiago e João mais para o interior do parque. Lá experimentou um peso esmagador na sua santa alma enquanto ele esperava se tomar o sacrifício pelo pecado por nós. Não podemos conceber o que significou para ele, o Impecável, tornar-se pecado por nós. Ele deixou os três discípulos com instruções para ficarem ali e permanecerem acordados. Ele adiantou-se um pouco para dentro do jardim, sozinho. Assim, ele iria para a cruz sozinho, suportando o terrível julgamento de Deus contra nossos pecados. 14:35 Vemos, com admiração e surpresa, o Senhor Jesus prostrado no chão, orando a Deus. Será que ele estava pedindo para ser dispensado de ir à cruz? De modo algum; esse era o propósito de sua vinda ao mundo. Primeiro, ele orou para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora. Se houvesse outra maneira pela qual os pecadores pudessem ser salvos além de sua morte, seu sepultamento e sua ressurrei­ ção, então que Deus revelasse essa maneira. Os céus permaneceram em silêncio. Não havia outro meio pelo qual pudéssemos ser remidos. 14:36 Novamente, ele orou: Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice; contanto, não seja o que eu quero, e sim, o que tu queres. Note que ele se dirigiu a Deus como seu amado Pai para quem “tudo te é possível” . Aqui não era tanto uma questão de possibilidade física ou moral. Poderia o Pai todo-poderoso encontrar outra base justa sob a qual pudesse salvar pecadores incrédulos? Os silenciosos céus indicaram que não havia outro meio. 0 Santo Filho de Deus precisava derramar seu sangue para que os pecadores pudessem se livrar do pecado! 14:37-40 Voltando aos três discípulos, ele achou-os dormindo — um triste comentário sobre a nature­ za humana caída. Jesus avisou a Pedro contra dormir naquela hora crucial. Há pouco, Pedro gábara-se de sua firmeza eterna. Agora ele não podia sequer ficar acordado. Se um homem não pode orar por uma hora, é improvável que seja capaz de resistir à tentação em um momento de pressão extrema. Não importa quão entusiástico seu espírito esteja, ele deve avaliar a fragilidade de sua carne. 14:41-42 Três vezes o Senhor Jesus voltou e en­ controu os discípulos dormindo. Depois ele disse: Ainda dormis e repousais! Basta! Chegou a hora; o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. Com isso, eles se levantaram como se fossem partir. Mas não tinham que ir muito longe.

+ Veja “Suplementos” > *Õ julgamento e a crucificação de Jesus: locais em Jerusalém”.

I. Jesus traído e preso (14:43-52) 14:43 Judas já entrara no jardim com um destaca­ mento policial. Seu grupo de soldados estava carre­ gando espadas e porretes, como se fossem capturar um delinqüente perigoso. 14:44-45 0 traidor tinha combinado de antemão um sinal. Ele beijaria a quem eles deveriam prender. Então ele se dirigiu a Jesus: M estre! E o beijou calorosamente. (A forma enfática no original sugere um beijar repetitivo ou convincente.) Por que Judas traiu o Senhor? Será que ele ficou desapontado por­ que Jesus não agarrara as rédeas do governo? Será que suas esperanças foram quebradas por um lugar de proeminência no reino? Será que foi dominado pela ganância? Todas essas perguntas poderiam ter contribuído para sua infame ação. 1 4:46-50 Os adeptos inescrupulosos do traidor estavam armados e avançaram para prender o Senhor. Pedro rapidamente sacou a espada, feriu o servo do sumo sacerdote e cortou-lhe a orelha. Era uma reação natural, não espiritual. Pedro estava usando armas carnais para lutar em uma guerra espiritual. 0 Senhor repreendeu a Pedro e miraculosamente restau­ rou a orelha (cf. Lc 22:51; Jo 18:11). Jesus então fez os captores lembrarem como era inconveniente para eles o tomarem à força! Ele estivera todos os dias com eles no templo, ensinando. Por que não o prenderam naquela ocasião? Ele bem sabia a resposta. E para que se cumprissem as Escrituras. Elas profetizaram que ele seria traído (SI 41:9), preso (Is 53:7), maltratado (SI 22:12) e desamparado (Zc 13:7). 14:51-52 Marcos é o único evangelista que relata esse episódio. É largamente aceito que o próprio Marcos era o jovem que na sua agitação em escapar, deixou sua capa na mão dos homens armados. 0 lençol não era uma peça de roupa comum, mas um pedaço de pano que ele pegara rapidamente para uma cobertura improvisada. Erdman comenta: “Provavelmente esse episódio pitoresco é acrescentado para mostrar até que ponto Jesus fora completamente abandonado nas horas de perigos e aflições. Ele certamente sabia o que real­ mente era sofrer sozinho”. J. Jesus perante o sumo sacerdote (1 4 :5 3 -5 4 )f 0 relato do julgamento eclesiástico se estende de 14:53— 15:1 e é dividido em três partes: 1) o julga­ mento perante o sumo sacerdote (v. 53-54); 2) a reu­ nião do Sinédrio à meia-noite (v. 55-65); 3) a reunião do Sinédrio na manhã (15:1). 14:53 E geralmente aceito o fato de que Marcos aqui relata o julgamento perante Caifás. 0 julgamento perante Anás encontra-se em João 18:13,19-24.

14:5 4 Pedro andou lentamente após o Senhor Jesus até ao interior do pátio do sumo sacerdote, seguindo a uma distância segura, segundo ele pensou. Alguém esboçou sua queda desta forma: 1. Ele primeiramente lutou — um entusiasmo mal direcionado. 2. Depois ele fugiu — um afastamento covarde. 3. Por último, seguiu à distância — um discipulado indiferente na noite. Ele se assentou ao fogo com os oficiais, aquecendose com os inimigos de seu Senhor. K. Jesus perante o Sinédrio (14:55-65) 14:55-59* Embora não esteja especificamente rela­ tado, o versículo 55 parece começar com o relato de uma reunião à meia-noite do Sinédrio. 0 corpo de 71 religiosos era presidido pelo. sumo sacerdote. Nessa noite em particular, os fariseus, saduceus, escribas e anciãos que constituíam o Sinédrio mostraram des­ respeito absoluto pelas regras sob as quais operavam. Não era para se reunirem à noite ou durante qualquer das festas judaicas. Não era para subornarem as tes­ temunhas para cometerem perjúrio. Um veredicto de morte não era para ser executado até que uma noite se passasse. A não ser que se reunissem no Saguão de Pedra Lavrada, na área do templo, seus veredictos não eram inalteráveis. No ímpeto de se livrarem do Senhor Jesus, as autoridades religiosas não hesitaram em quebrar as próprias leis. Seus esforços determinados produziram um grupo de testemunhas falsas, mas fracassaram em produzir um testemunho harmonioso. Alguns citaram erroneamente o Senhor como ameaçando destruir o templo edificado por mãos humanas e, em três dias, reedificar outro, não por mãos humanas. 0 que Jesus realmente disse se encontra em João 2:19. Eles propositadamente confundiram o templo em Jerusalém com o templo de seu corpo. 14:60-62 Quando o sumo sacerdote interrogou-o a primeira vez, Jesus não respondeu. Mas quando questionado sob juramento (Mt 26:63) se ele era o Messias, o Filho do Deus Bendito, o Salvador respondeu que ele era, assim agindo em obediência a Levítico 5:1. Depois, como que retirando qualquer dúvida sobre quem ele declarava ser, o Senhor Jesus falou ao sumo sacerdote que ele ainda veria o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo de volta para a terra com as nuvens do céu. Com isso ele queria dizer que o sumo sacerdote novamente o veria manifesto abertamente como Deus. Durante seu primeiro advento, a glória de sua divindade estava coberta em um corpo humano. Mas,

quando ele voltar novamente em poder e grande gló­ ria, o véu será removido e todos saberão exatamente quem ele é. 14:63-64 0 sumo sacerdote entendeu o que Je­ sus quis dizer. Ele rasgou as suas vestes como sinal de sua indignação honrada contra essa suposta blasfêmia. 0 único israelita que deveria estar mais preparado para reconhecer e receber o Messias foi o mais barulhento na sua condenação. Mas não só ele, o Sinédrio inteiro23 concordou que Jesus blasfemara, e o julgaram réu de morte. 14:65 A cena seguinte foi grotesca ao extremo. Alguns membros do Sinédrio puseram-se a cuspir no Filho de Deus, cobriram-lhe o rosto, e desafiaram-no a nomear os agressores. É quase inacreditável que o notável Salvador deveria suportar tais contradi­ ções dos pecadores contra si mesmo. Os guardas (a polícia do templo) se uniram no escândalo e o esbofetearam. L.

Pedro nega Jesus e chora amargamente (14:66-72) 14:66-68 Pedro estava esperando embaixo no pá­ tio do prédio. Uma das criadas do sumo sacerdote passou. Ela observou-o atentamente, depois o acusou de ser um seguidor de Jesus, o Nazareno. 0 discípulo patético fingiu ignorância total de sua acusação, de­ pois foi até o pórtico ou alpendre em tempo de ouvir o galo cantar. Foi um momento horrível. 0 pecado estava cobrando seu terrível preço. 14:69-70 A criada, vendo-o outra vez, apontou para ele como um discípulo de Jesus. Pedro de novo negou com frieza, e provavelmente imaginou por que as pessoas não o deixavam em paz. Depois a multidão disse a Pedro: Verdadeiramente tu és um deles, porque és também galileu, e tua fala é semelhante (CF). 14:71-72 Praguejando e blasfemando, Pedro de propósito afirmou: Não conheço esse homem. As palavras mal acabaram de sair de sua boca quando cantou o galo. 0 mundo da natureza parecia, desse modo, protestar contra a mentira covarde. Em um instante Pedro percebeu que a predição do Senhor se realizara. Ele teve um colapso e desatou a chorar. É significante que os quatro evangelhos relatam a re­ jeição de Pedro. Todos nós devemos aprender a lição de que autoconfiança leva à humilhação. Devemos

f Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”. 23(14:63-64) Acredita-se que José de Arimateia e Nicodemos estavam ausentes dessa reunião ilegal.

aprender a desconfiar de nós mesmos e a depender completamente do poder de Deus. M. O julgamento da manhã perante o Sinédrio (15:1) Esse versículo descreve uma reunião do Sinédrio pela manhã, talvez convocada para validar a ação ilegal da noite anterior. Como resultado, Jesus foi amarrado e levado a Pilatos, o governador romano da Palestina. N. Jesus perante Pilatos (15:2-5) 15:2 Até agora, Jesus estivera em julgamento perante os líderes religiosos sob a acusação de blasfêmia. Agora ele é levado perante a corte civil sob a acusa­ ção de traição. 0 julgamento civil aconteceu em três estágios: primeiro, perante Pilatos; depois, Herodes; e, por último, perante Pilatos novamente. Pilatos perguntou ao Senhor Jesus se ele era o rei dos judeus. Se fosse, ele presumivelmente era a favor da deposição de César, e assim culpado de traição. 15:3-5t Os principais sacerdotes despejaram uma torrente de acusações contra Jesus. Pilatos não con­ seguiu manter o equilíbrio perante tantas acusações esmagadoras. Ele perguntou a Jesus por que ele não se defendia. Jesus, porém, recusou-se a responder a seus críticos. O. Jesus ou Barrabás? (15:6-15) 15:6-8 Era costume do governador romano soltar um preso judeu nessa época de festa, um tipo de subomo político aos descontentes. Um prisioneiro bem qualifi­ cado era Barrabás, culpado de rebelião e homicídio. Quando Pilatos ofereceu soltar a Jesus, insultando os principais sacerdotes invejosos, o povo foi instruído a pedir por Barrabás. Os mesmos que estavam acusan­ do Jesus de traição contra César estavam pedindo a soltura de um homem que era realmente culpado de tal crime! Aposição dos principais sacerdotes era irracio­ nal e absurda — mas o pecado é assim. Basicamente, eles tinham inveja da sua popularidade. 15:9-14 Pilatos perguntou o que ele deveria fazer com aquele a quem chamavam o rei dos judeus. 0 povo cantava de modo selvagem: Crucifica-o! Pila­ tos exigiu uma razão, mas não havia. 0 histerismo da multidão estava aumentando. A única coisa que podiam gritar era: Crucifica-o! 15:15 E assim Pilatos, sem força moral, fez o que eles queriam: ele soltou Barrabás, açoitou Jesus e

+Veja “Suplementos” > “Profecias dó Messias cumpridas em Jesus Cristo”.

entregou-o aos soldados para a crucificação. Foi um veredicto horrendo de iniqüidade. E mesmo assim foi a parábola de nossa redenção: o inocente entregue para morrer a fim de que o culpado pudesse ir livre. E

Os soldados zombam do Servo de Deus (15:16-21) 15:16-19 Os soldados levaram Jesus para dentro do palácio de residência do governador. Depois de reunir todo o destacamento, eles encenaram uma coroação de escárnio para o Rei dos judeus. Se apenas eles soubessem! Foi Deus, o Filho, a quem eles vestiram de púrpura. Foi seu próprio Criador a quem coroaram com espinhos. Foi o Sustentador do universo de quem eles zombaram como rei dos judeus. Foi o Senhor da vida e glória a quem eles feriram na cabeça. Eles cuspiram no Príncipe da Paz e zombeteiramente se prostravam de joelhos diante do Rei dos reis e Senhor dos senhores. 15:20-21 Quando seus gracejos brutos termina­ ram, eles o vestiram com as suas próprias roupas. Então, conduziram Jesus para fora, com o fim de o crucificarem. Marcos menciona aqui que os soldados obrigaram um espectador, Simão de Cirene (no norte da África), a carregar-lhe a cruz. Pode ser que fosse negro, mas mais provavelmente seria um judeu helenista. Ele tinha dois filhos, Alexandre e Rufo, que talvez foram cristãos (se Rufo for o mesmo mencio­ nado em Rm 16:13). Ao carregar a cruz após Jesus, ele forneceu uma imagem que deveria caracterizar-nos como discípulos do Salvador. Q. A crucificação (15:22-32) 0 Espírito de Deus descreve a crucificação de modo simples e impassível. Ele não discorre sobre a extre­ ma crueldade desse tipo de execução, nem o terrível sofrimento que acarretava. 0 local exato é desconhecido hoje. Embora o ter­ reno tradicional, como a Igreja do Santo Sepulcro, esteja dentro das paredes da cidade, seus defensores afirmam que era fora dos muros na época de Cristo. Outro terreno é o Calvário de Gordon, ao norte dos muros da cidade e adjacente a uma área de jardim. 15:22 Gólgota é o nome aramaico que significa ca­ veira. Calvário é o nome latino. Talvez a área tivesse o formato de uma caveira ou recebeu o nome porque era o lugar de execução. 15:23 Os soldados ofereceram a Jesus vinho com mirra. Isso agiria como uma droga, entorpecendo seus sentidos. Determinado a suportar o pecado do homem na sua total consciência, ele não tomou. 15:24 Os soldados lançavam sortes pelas roupas dos que eram crucificados. Quando tomaram as

vestes do Salvador, pegaram quase tudo de material que ele possuía. 15:25-28f Eram nove horas da manhã quando eles o crucificaram. Sobre sua cabeça colocaram o título 0 R e i d o s Ju d e u s . (Marcos não nos dá a inscrição total, mas se contenta com a essência dos dizeres; cf. Mt 27:37; Lc 23:38; Jo 19:19.) Dois ladrões foram crucificados com ele, um de cada lado — assim como Isaías havia predito que ele seria associado com os criminosos na sua morte (Is 53:12).24 15:29-30 0 Senhor Jesus foi alvo de zombaria dos que por ah passavam (v. 29-30), dos principais sacerdotes e escribas (v. 31-32a) e dos dois ladrões (v. 32b). Os transeuntes provavelmente eram judeus que estavam prontos para guardar a Páscoa dentro da cidade. Lá fora eles pararam o suficiente para proferir com veemência um insulto ao Cordeiro Pascal. Eles o citavam erroneamente como ameaçando derrubar seu querido templo e reconstruí-lo em três dias. Se ele fosse tão grande, que salvasse a si mesmo descendo da cruz. 15:31 Os principais sacerdotes e os escribas desprezavam sua declaração de salvar os outros. Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se. Foram ferozmente cruéis, mas involuntariamente verdadeiros. Era verdade na vida do Salvador e na nossa também. Não podemos salvar os outros enquan­ to procuramos salvar a nós mesmos. 15:32 Os líderes religiosos também o desafiaram a descer da cruz se ele fosse realmente o Messias, o rei de Israel. Para que o vejamos e acreditemos (RC). Mas a ordem de Deus é: “Creia e depois verá”. Mesmo os criminosos o repreenderam. R. Três horas de escuridão (15:33-41) 15:33 Entre o meio-dia e as três hora da tarde toda a terra foi envolvida em trevas. Jesus estava supor­ tando toda a ira de Deus contra nossos pecados. Ele sofreu desolação espiritual e separação de Deus. Nenhuma mente humana jamais poderá entender a agonia que ele suportou quando sua alma foi oferecida como sacrifício pelo pecado. 15:34 No final de sua agonia, Jesus clamou em alta voz (em aramaico): Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Deus o desamparara porque na sua santidade ele precisava desassociar-se do pecado. 0 Senhor Jesus identificara-se com nossos pecados e estava pagando, por nós, a pena na sua totalidade. 15:35-36 Alguns da multidão cruel sugeriram que ele estava chamando por Elias quando ele disse: "Eloí, Eloí”. Como injúria final, alguém embebedou

uma esponja em vinagre na ponta de um caniço e lhe ofereceu. 15:37 Jesus exclamou com força e triunfo, depois expirou. Sua morte foi um ato de sua vontade, não um colapso involuntário. 15 :3 8 Naquele momento, o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. Isso foi um ato de Deus indicando que, pela morte de Jesus Cristo, o acesso ao santuário de Deus daquele momento em diante era privilégio de todos os cris­ tãos (cf. Hb 10:19-22). Uma nova grandiosa era fora introduzida. Seria uma era de proximidade de Deus, não de distância dele. 15:39 A confissão do oficial romano, embora nobre, não necessariamente reconhecia a Jesus como igual a Deus. O centurião gentílico reconheceu-o como o Filho de Deus. Sem dúvida, ele tinha uma percepção de que a história estava acontecendo. Mas se sua fé foi genuína não fica claro. 15:40-41 Marcos menciona que certas mulheres permaneceram à cruz. Merece menção que as mulhe­ res brilham claramente nas narrativas do evangelho. Considerações de segurança pessoal impeliram os ho­ mens ao esconderijo. A devoção das mulheres coloca o amor de Cristo acima do próprio bem-estar. Foram as últimas na cruz e as primeiras no túmulo. S.

O sepultamento na tumba de José (15 :4 2 -4 7 )t+ 15:42 0 sábado começou com o entardecer da sexta-feira. A véspera do sábado ou de outra grande festa era conhecida como preparação.25 15:43 A necessidade de ação imediata provavel­ mente incentivou José de Arimateia a pedir permis­ são a Pilatos para enterrar o corpo de Jesus. José era um judeu devoto, talvez um membro do Sinédrio (Lc 23:50-51; cf. tb. Mt 27:57; Jo 19:38). 15:44-45 Pilatos quase não podia crer que Jesus já tivesse morrido. Quando o centurião confirmou o fato, o governador cedeu o corpo a José. (Duas palavras diferentes são usadas para o corpo de Jesus nessa seção. José pediu pelo corpo do Senhor Jesus e Pilatos cedeu o cadáver a ele.) 15:46 Com cuidados ternos, José (e Nicodemos; cf. Jo 19:38-39) embalsamou o corpo, envolveu-o

f Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo” . 24 (15:25-28) 0 texto crítico (NU) omite essa citação em Marcos. t+ Veja “Suplementos” > “0 túmulo”. 25 (15:42) No grego moderno essa palavra “preparação” significa “sexta-feira”.

em um lençol, depois o colocou em um túmulo novo que pertencia a ele mesmo. 0 túmulo era um pequeno quarto esculpido na rocha. A porta era selada com uma pedra, com formato de moeda, que era rolada dentro de um sulco esculpido na rocha. 15:47 Novamente as mulheres, isto é, as duas Marias, são mencionadas como estando presentes. Admiramo-las por sua afeição incansável e destemi­ da. Dizem que as mulheres hoje em dia são as que predominam no campo missionário. Onde estão os homens?

VIII.

O triunfo do Servo (16)+

A. A s mulheres no túmulo vazio (16:1-8) 16:1-4 Na noite de sábado, as duas Marias e Salomé foram ao túmulo para embalsamar o corpo de Jesus com especiarias. Elas sabiam que não seria fácil. Sabiam que uma grande pedra fora rolada na boca do túmulo. Sabiam acerca do selo romano e da guarda dos soldados. Mas o amor salta por sobre as montanhas de dificuldades para alcançar o objeto de sua afeição. No domingo de manhã, muito cedo, elas estavam imaginando em voz alta quem poderia remover a pedra da entrada do túmulo. Olharam e viram que já havia sido removida! Quantas vezes, quando estamos concentrados em honrar o Salvador, acontece de as di­ ficuldades serem removidas antes de chegarmos lá! 16:5-64* Entrando no túmulo, viram um anjo com a aparência de um jovem de branco. Ele rapidamente baniu seus temores com o anúncio de que Jesus res­ suscitara. 0 túmulo estava vazio. 16:7 0 anjo então as incumbiu como mensageiras da ressurreição. Era para elas contarem a seus discípulos e a Pedro que Jesus os encontraria na Galileia. Note que Pedro, o discípulo que negou o Senhor, foi escolhido para uma referência especial. 0 Redentor ressurreto não o repudiara, mas ainda o amava e desejava vê-lo novamente. Um serviço especial de restauração precisava ser feito. A ovelha errante precisava voltar à comunhão com o Pastor. 0 discípulo caído deve voltar à casa do Pai. 16:8 As mulheres fugiram do sepulcro com uma mistura de comoção e pânico. Estavam com muito medo para contar a qualquer um o que acontecera. Isso não é de admirar. A maravilha é que até aquele momento foram bastante valentes, leais e devotas. +Veja “Suplementos” > “Da ressurreição à ascensão: aparecimentos de Cristo”. t+ Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”. 26 (16:8) Veja ainda George Salmon, 'HistoricalIntroduction to the Study oftheB ooks o f the New Testament, p. 144-151.

Muitos estudiosos modernos defendem que os versículos 9-20 não são autênticos, pois não constam em dois manuscritos antigos principais de Marcos. Todavia, há fortes argumentos para a sua inclusão no texto: 1. Praticamente todos os outros manuscritos gregos e muitos pais da Igreja contêm essa passagem. 2 .0 versículo 8 é uma conclusão bem estranha, es­ pecialmente no grego, onde a última palavra é gar, (“por”). Essa palavra raramente é usada no fim de uma oração, quanto mais no final de um livro. 3. Se, como alguns ensinam, o final original de Marcos estí perdido, e isso é um resumo posterior, então as palavras de nosso Senhor sobre a preserva­ ção de suas palavras aparentemente falharam (cf. Mt 24:35). 4 .0 conteúdo da passagem é ortodoxo. 5 .0 estilo, especialmente o vocabulário, é um pa­ ralelo íntimo do primeiro capítulo do livro.26 Isso ilustraria a estrutura chamada quiasma, na qual o começo e o final de uma obra são paralelos (abcd — dcba). B.

O aparecimento a Maria Madalena (16:9-11) 16:9 A primeira aparição do Salvador foi a Maria Madalena. Na primeira vez em que ela encontrou Jesus, ele expulsou sete dem ônios dela. Daí em diante ela o serviu amorosamente com suas posses. Ela testemunhou a crucificação, e viu onde seu corpo fora colocado. Dos outros evangelhos aprendemos que após en­ contrar o túmulo vazio, ela correu para contar a Pedro e João. Voltando com ela, encontraram o sepulcro vazio, como ela lhes falara. Eles voltaram para suas casas, mas Maria ficou no sepulcro vazio. Foi nessa hora que Jesus lhe apareceu. 1 6:10-11 Novamente ela foi de volta à cidade para repartir as boas-novas com os discípulos tristes. Para eles, era bom demais para ser verdade. Eles não acreditaram. C.

O aparecimento a dois discípulos (16:12-13) 16:12 0 relato completo de sua aparição se encontra em Lucas 24:13-31. Aqui lemos que ele manifestou-se em outra forma a dois discípulos no caminho de Emaús. Para Maria, ele apareceu como um jar­ dineiro. Agora ele aparecia como um companheiro de viagem. Mas era o mesmo Jesus no seu corpo glorificado. 16:13 Quando os dois discípulos voltaram a Je­ rusalém e relataram sua comunhão com o Salvador

ressurreto, eles encontraram a mesma descrença que Maria enfrentara. D. O aparecimento aos onze (16:14-18) 1 6 :1 4 Essa aparição aos onze ocorreu naquele mesmo domingo à noite (Lc 24:36; Jo 20:19-24; ICo 15:5). Embora se refira aos discípulos como os onze, só havia dez presentes. Tomé estava ausente nessa ocasião. Jesus reprovou os seus pela própria recusa em aceitar os relatórios de sua ressurreição de Maria e dos outros. 16:15 O versículo 15 relata a comissão que foi dada pelo Senhor na noite de sua Ascensão. Há, portanto, um intervalo entre os versículos 14-15. Os discípulos foram ordenados a pregar o evangelho ao mundo inteiro. A meta do Salvador era evangelismo mundial. Ele pretendia efetuá-la com os onze discípulos que literalmente abandonariam tudo para segui-lo. 1 6 :1 6 Haveria dois resultados pela pregação. Alguns acreditariam e seriam batizados e salvos; alguns não acreditariam e seriam condenados. 0 versículo 16 é usado por alguns para ensinar a necessidade de batismo em água para a salvação. Sabemos que não pode significar isso pelas seguintes razões: 1 .0 ladrão na cruz não foi batizado; mesmo assim foi-lhe garantido um lugar no Paraíso com Cristo (Lc 23:43). 2. Os gentios em Cesareia foram batizados depois de salvos (At 10:44-48). 3 .0 próprio Jesus não batizou (Jo 4:1-2) — uma es­ tranha omissão se o batismo fosse necessário para a salvação. 4. Paulo agradeceu a Deus pelo fato de ele ter bati­ zado poucos coríntios (ICo 1:14-16) — um agra­ decimento impossível se o batismo fosse essencial para a salvação. 5. Aproximadamente 150 passagens no NT afirmam que a salvação é somente pela fé. Nenhum versículo ou poucos versículos poderiam contradizer esse testemunho esmagador. 6. No NT, o batismo está associado com a morte e o sepultamento, não com o nascimento espiritual. Então, o que o versículo 16 realmente significa? Acreditamos que menciona o batismo como uma expressão exterior da crença. Batismo não é uma condição da salvação, mas uma proclamação exterior de que a pessoa foi salva. 16:17-18 Jesus descreve aqui certos milagres que acompanhariam aqueles que acreditassem no evan­ gelho. Ao lermos os versículos, a pergunta óbvia é:

“Será que esses sinais existem hoje?”. Acreditamos que a intenção desses sinais era primeiramente para a época apostólica, antes que a Bíblia estivesse disponível na forma escrita. A maioria desses sinais se encontra em Atos: 1. Expulsar demônios (At 8:7; 16:18; 19:11-16). 2. Novas línguas (At 2:4-11; 10:46; 19:6). 3. Lidar com serpentes (At 28:5). 4. Beber veneno (coisas m ortífera) sem efeitos colaterais — não registrado em Atos, mas atri­ buído a João e Bamabé por Eusébio, historiador da Igreja. 5. Impor as mãos sobre enfermos para curar (At 3:7; 19:11; 28:8-9). Qual foi o propósito desses milagres? Cremos que a resposta se encontra em Hebreus 2:3-4. Antes de o NT estar disponível na sua forma completa, os ho­ mens pediriam aos apóstolos e a outros provas de que o evangelho era divino. Para confirmar a pregação, Deus testemunhou com sinais e maravilhas, e vários dons do Espírito Santo. A necessidade desses sinais já se foi. Temos a Bíblia inteira. Se os homens não acreditarem nela, não acreditariam de qualquer maneira. Marcos não disse que os milagres continuariam. As palavras “até a consumação dos séculos” não são encontradas aqui, como em Mateus 28:18-20. Entretanto, Martinho Lutero sugeriu que “os sinais que são mencionados aqui devem ser usados de acor­ do com a necessidade. Quando a necessidade surge, e o evangelho está sobrecarregado, então devemos defi­ nitivamente fazer esses sinais, antes de permitirmos que o evangelho seja caluniado e derrubado”. E.

A ascensão do Servo de Deus à direita do Pai (16:19-20) 16:19* Quarenta dias após a ressurreição, nosso Se­ nhor Jesus Cristo foi recebido no céu e assentou-se à destra de Deus. Esse é o lugar de honra e poder. 16:20 Em obediência à sua ordem, os discípulos foram adiante como chamas ardentes, pregando o evangelho e ganhando almas para o Salvador. 0 poder do Senhor estava com eles. Os sinais prometidos acompanharam suas pregações, confirmando a pa­ lavra que eles falavam. Aqui a narrativa termina com Cristo no céu, com poucos discípulos comprometidos na terra, com a tarefa de evangelizar o mundo, entregando-se a si

+Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”.

próprios totalmente ao Senhor, com resultados de conseqüências eternas. A nós foi confiada a tarefa da Grande Comissão na nossa geração. Nossa tarefa é alcançar todas as pes­ soas com o evangelho. Um terço de todas as pessoas que já viveram estão vivas hoje. Com a explosão da população, a tarefa aumenta. Mas o método é sempre o mesmo: discípulos consagrados com amor ilimitado por Cristo e que não consideram nenhum sacrifício por Jesus como algo excessivo. A vontade de Deus é a evangelização do mundo. 0 que estamos fazendo a esse respeito?

Bibliografia Joseph Addison. The Gospel According to Mark. Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1960.

A lexau de r,

A. An Outline ofM ark’s Gospel and other Ministry. Kingston-on-Thames: Stow Hill Bible and Tract Depot, 1964. C o l e , Alan. The Gospel According to St. Mark. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1961. E e d m a ií, Charles R. The Gospel ofMark. Philadelphia: The Westminster Press, 1917. I r o n s i d e , Harry A. Expository Notes on the Gospel ofMark. Neptune: Loizeaux Brothers Publishers, 1948. K e l l y , 'William. An Exposition ofthe Gospel ofMark. London: C. A. Hammond, 1934. L e n sk i , R. C. H. TheInterpretation ofSt. Mark’s Gospel. Minneapolis: Augsburg, 1946. S w e t e , Henry Barclay. The Gospel According to St. Mark. London: MacMillan, 1902. C o a t e s , C.

LUCASf Introdução O livro mais belo que existe.

Ernest Renan

I.

Posição sin gu lar no cânon

"O livro mais belo que existe" é de fato um alto louvor, especialmente vindo de um cético. Essa foi a avaliação do crítico francês Ernest Renan sobre o evangelho de Lucas. Que cristão sensível, ao ler a inspirada obra-prima do evangelista, desejaria con­ testar essas palavras? É bem provável que Lucas seja o único escritor gentílico escolhido por Deus para escrever as Escrituras, e isso pode explicar o fascínio que ele exerce em nós, os herdeiros ocidentais da cultura greco-romana. Espiritualmente, estaríamos bem mais pobres no nosso apreço pelo Senhor Jesus e pelo seu ministé­ rio sem a ênfase singular do doutor Lucas. O amor do Senhor e a oferta de salvação para todos, não somente para os judeus, seu interesse especial por indivíduos, sim, e até pelos pobres e rejeitados são salientados. Lucas também concede ênfase intensa ao louvor (dando-nos exemplos dos consagrados "hinos" cristãos em Lc 1 e 2), à oração e ao Espírito Santo.

II.

Autoriatf Lucas, que pertencia a Antioquia e era médico por profissão, foi companheiro de Paulo por muito tempo, entabulou conversas meticulosas com os outros apóstolos e obteve deles o remédio para a alma humana, que registrou em dois livros.

A evidência externa apresentada por Eusébio em História eclesiástica (III, 4) com respeito à autoria do terceiro evangelho concorda com a primitiva tradição cristã. Ireneu cita amplamente o terceiro evangelho como sendo de Lucas. Outros defensores da autoria lucana incluem justino Mártir, Hegesipo, Clemente de Alexandria e Tertuliano. Na edição condensada e cuidadosamente tendenciosa de Marcião, Lucas é o único evangelho aceito por esse famoso herege. O fragmentário cânon muratoriano chama esse terceiro evangelho de "Lucas". Lucas é o único evangelista que escreve uma con­ tinuação do seu evangelho: o livro de Atos, no qual sua autoria é ainda mais evidente. As passagens de Atos na primeira pessoa do plural, "nós", indicam que o escritor esteve envolvido pessoalmente (16:10;

20:5-6; 21:15; 27:1; 28:16; cf. 2Tm 4:11). Pelo pro­ cesso de eliminação, somente Lucas se enquadra em todos esses períodos. Está bem claro na dedicatória a Teófilo e no estilo da composição que Lucas e Atos foram escritos pelo mesmo autor. Paulo chama Lucas "o médico amado" e o nomeia separadamente de cristãos judeus (Cl 4:14), o que o tornaria o único escritor gentílico no NT. Em tama­ nho, Lucas—Atos é maior que todas as epístolas de Paulo em conjunto. A evidência interna fortalece a documentação ex­ terna e a tradição da Igreja. O vocabulário (muitas vezes mais exato em termos médicos que os outros escritores do NT), junto com o depurado estilo gre­ go, sustenta a autoria de um médico culto, gentílico e cristão, mas conhecedor dos temas judaicos. A predileção de Lucas por datas e pesquisas (cf. 1:1-4; 3:1) tornam-no o primeiro historiador da Igreja.

III. Data A data mais provável para Lucas é o início dos anos 60 do primeiro século, mas alguns o situam entre 75-85 (ou mesmo no século II). Isso geralmente se dá, pelo menos em parte, a uma negação de que Cristo poderia predizer com precisão a destruição de Jerusalém. A cidade foi destruída em 70 d.C. Assim, a profecia do Senhor tinha de ser registrada antes daquela data. Visto que quase todos concordam que Lucas deve preceder Atos cronologicamente, e Atos termina por volta de 63 d.C. com Paulo em Roma, uma data antes disso é necessária. O grande incêndio de Roma e a resultante perseguição dos cristãos como bodes expiatórios de Nero (64 d.C.) e o martírio de Pedro e Paulo não seriam ignorados pelo historiador da Igreja primitiva se já tivessem ocorrido. Assim, uma data próxima de 61-62 d.C. é mais provável.

IV. Contexto e tema Os gregos esperavam um ser humano perfeitamente divino, com as melhores características tanto dos homens como das mulheres, mas sem as falhas. Tal é a apresentação que Lucas faz de Cristo como o Filho do Homem: forte, mas compassível. A humanidade de Cristo é posta em evidência.

Há mais referências à sua vida de oração, por exemplo, que em qualquer outro evangelho. Sua simpatia e compaixão são mencionadas com frequên­ cia. Talvez seja por isso que mulheres e crianças ocupem um lugar tão proeminente. O evangelho de Lucas é conhecido também como o evangelho missionário. Aqui o evangelho alcança os gentios, e o Senhor jesus é apresentado como o Salvador do mundo. Por último, esse evangelho é um manual de discipulado. Seguim os a trilha do discipulado na vida do Senhor. Tal discipulado é perceptível no treinamento de seus seguidores. É esse aspecto que seguiremos minuciosamente em nossa exposição. Na vida do Homem Perfeito descobriremos os elementos que formam a vida ideal para todos os homens. Nas suas palavras incomparáveis também descobriremos o caminho da cruz, para o qual ele nos chama. Enquanto estudamos o evangelho de Lucas, que possamos ouvir a chamada do Salvador para renun­ ciar a tudo e segui-lo. Obediência é o veículo de conhecimento espiritual. O significado das Escrituras torna-se mais claro e mais precioso para nós quando exprimimos as experiências descritas. Esboço 1. Prefácio: Propósito e método de Lucas (1:1-4) II. O advento do Filho do Homem e seu precursor (1:5— 2:52) III. A preparação do Filho do Homem para ministrar (3:1— 4:30) IV. O Filho do Homem dá provas do seu poder (4:31— 5:26) V. O Filho do Homem explica seu ministério (5:27— 6:49) VI. O Filho do Homem amplia seu ministério (7:1— 9:50) VII. Oposição crescente ao Filho do Homem (9:51— 11:54) VIII. Ensino e restabelecimento no caminho para Jerusalém (12— 16) IX. O Filho do Homem instrui seus discípulos (17:1— 19:27) X. O Filho do Homem em Jerusalém (19:28— 21:38) XI. O sofrimento e a morte do Filho do Homem (22— 23) XII. O triunfo do Filho do Homem (24)

f Veja “Suplementos”> “A vida de Cristo e seu ministério público”. 1 (1:2) James S. Stew akt, The Life and Teaching o f Jesus Chríst, p. 9.

COMENTÁRIO1 I.

Prefácio: Propósito e método de Lucas (1:1-4)

No prefácio, Lucas se revela historiador. Ele descreve a fonte de dados à qual tinha acesso e o método que seguiu. Depois explica seu propósito em escrever. Da perspectiva humana, ele tinha dois tipos de fontes de dados: informações escritas da vida de Cristo e relatos orais de testemunhas oculares dos aconte­ cimentos. 1:1 Os relatos escritos são mencionados no versí­ culo 1: Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram. M o sabemos quem eram os escrito­ res. Talvez Mateus e Marcos estivessem entre eles, mas outros obviamente não foram inspirados (João escreveu mais tarde). 1:2 Lucas também dependia dos relatos dos que desde o princípio foram deles testemunhas ocu­ lares e ministros da palavra entregue [...] a nós. 0 próprio Lucas não alega ser testemunha ocular, mas entrevistou os que eram. Ele descreve esses compa­ nheiros do Senhor como testemunhas oculares e ministros da Palavra. Aqui ele usa o termo Palavra como um nome de Cristo, assim como João faz no seu evangelho. 0 com eço quer dizer o princípio da era cristã anunciado por João Batista. 0 fato de Lucas ter usado relatos escritos e orais não nega a inspiração verbal do que ele escreveu. Simplesmente quer dizer que o Espírito Santo o guiou na escolha e organização das informações. James S. Stewart comenta: Lucas deixa bem claro que os escritores ins­ pirados não estavam milagrosamente livres da necessidade de investigações históricas difíceis. [...] Inspiração não era Deus transcendendo a mente e as faculdades humanas de maneira mágica: era Deus expressando sua vontade por meio da dedicação da mente e das faculdades humanas. Não ultrapassa a personalidade do escritor sagrado, não o toma máquina de Deus; reforça a sua personalidade e o toma testemunha viva de Deus.1 1:3 Lucas apresenta um relato breve da sua mo­ tivação e do método que adotou: igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, ex­ celentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem. Quanto a sua motivação ele simplesmente diz: igual­

mente a mim me pareceu bem. No nível humano, houve convicção serena de que ele deveria escrever o evangelho. Sabemos, de fato. que houve curiosamente uma mescla do impulsionamento divino com essa decisão humana. Em relação ao método, primeiramente ele traçou o curso de tudo desde sua origem, depois ele anotou em ordem. A tarefa envolveu uma investigação cuida­ dosa e científica do curso de eventos na vida do nosso Salvador. Lucas conferiu a exatidão das suas fontes, eliminou tudo o que não era relevante e verdadeiro do ponto de vista histórico e espiritual, então compôs os dados na ordem em que dispomos hoje. Quando Lucas diz que escreveu uma exposição em ordem, não quer dizer ordem cronológica necessariamente. Os acontecimentos nesse evangelho não são sempre dispostos na ordem em que ocorreram. Antes, estão numa ordem moral ou espiritual, isto é, estão ligados por assunto e instrução moral em vez de temporal. Embora esse evangelho e Atos sejam endereçados a Teófilo, é de admirar que saibamos tão pouco dessa pessoa. 0 título excelentíssimo dá a entender que ele era um oficial do governo. Seu nome quer dizer amigo de Deus. Provavelmente ele foi um cristão que ocupou posição de honra e responsabilidade na administração exterior do Império Romano. 1:4 0 propósito de Lucas foi apresentar a Teófilo um relato escrito que confirmaria a confiança abso­ luta de tudo o que foi ensinado concernente à vida e ao ministério do Senhor Jesus. A mensagem escrita forneceria a estabilidade, preservando-o das inexati­ dões da contínua transmissão oral. Sendo assim, os versículos 1-4 nos fornecem um ambiente bréve e esclarecedor das circunstâncias humanas em que esse livro da Bíblia foi escrito. Sabemos que Lucas escreveu por inspiração. Ele não menciona esse fato, a não ser que tenha dito nas palavras desde o princípio, que podem ser traduzidos também como de cima}

II. O advento do Filho do Homem e seu precursor (1:5— 2:52) A.

Anúncio do nascimento do precursor (1:5-25) 1:5-6 Lucas começa a narrativa apresentando os pais de João Batista. Viveram no tempo que o malvado Herodes, o Grande, era rei da Judeia. Ele era da Idumeia, isto é, um descendente de Esaú. Zacarias (que significa O Senhor lembra) foi sa­ cerdote pertencente ao turno de Abias, um dos 24 turnos em que o sacerdócio judaico fora dividido por Davi (lCr 24:10). Cada turno era chamado para servir no templo em Jerusalém duas vezes no ano, de sábado

a sábado. Havia tantos sacerdotes naquele tempo que o privilégio de queimar incenso no Santuário ocorria uma vez na vida, se ocorresse. Isabel (que significa Ojuramento de Deus) descen­ dia também da família sacerdotal de Arão. Ela e o marido eram judeus devotos, cuidadosos em obedecer às Escrituras do AT, tanto no aspecto moral quanto no cerimonial. Naturalmente, eles não eram impecá­ veis, mas, quando pecavam, procuravam oferecer um sacrifício ou de outra maneira obedecer à exigência ritualística. 1:7 Esse casal não tinha filhos, uma condição de vergonha para qualquer judeu. Dr. Lucas relata que a causa disso foi a esterilidade de Isabel. 0 problema foi agravado pelo fato de que eles eram bem avan­ çados em idade. 1:8-10 Certo dia, Zacarias estava exercendo os deveres sacerdotais no santuário do Senhor (o tem­ plo). Era um dia memorável na sua vida porque ele fora sorteado para queimar o incenso no santuário. 0 povo se reuniu fora do templo e estava orando. Pa­ rece que ninguém sabe com certeza a hora chamada de hora de incenso. É inspirador notar que o evangelho começa com gente orando fora do templo e termina com gente louvando a Deus no templo. Os capítulos no meio contam como suas orações foram respondidas na pessoa e obra do Senhor Jesus. 1:11-14 Com o sacerdote e o povo ocupados em oração, foi a hora e o ambiente apropriados para uma revelação divina. E eis que lhe apareceu um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar de incenso, o lugar de favor. Ao vê-lo, Zacarias turbou-se; nenhum dos seus contemporâneos já tinha visto um anjo. Mas o anjo o tranquilizou com notícias maravilhosas. Um filho nasceria a Isabel e seria chamado João (Favor ou Graça de Jeová). Além de trazer prazer e alegria aos próprios pais, ele seria uma bênção a muitos. 1:15 Essa criança seria grande diante do Senhor (o único tipo de grandeza que tem valor). Primeira­ mente, ele seria grande na sua separação pessoal a Deus, ele não beberia vinho (feito de uvas) nem bebida forte (feita de cereais). Em segundo lugar, ele seria grande na sua capaci­ dade espiritual, seria cheio do Espírito Santo, já do ventre materno. (Isso não pode significar que João era salvo ou convertido de nascença, mas somente que o Espírito de Deus estava nele desde o princípio a fim de prepará-lo para a missão especial como o precursor de Cristo).

2 (1:4) A mesma palavra [anotheri] ocorre em João 3:7: “Importa-vos nascer de novo” (ou “de cima”).

1:16-17 Em terceiro lugar, ele seria grande na sua função de arauto do Messias. Ele converteria muitos dos judeus ao Senhor. 0 ministério dele seria como aquele de Elias, o profeta, tentando conduzir o povo a um relacionamento real com Deus através do arre­ pendimento. Como G. Coleman Luck indica: Sua pregação mudaria o coração dos pais ne­ gligentes para uma preocupação espiritual com seus filhos. Também ele faria voltar o coração dos filhos desobedientes e rebeldes ao “juízo do justo”.3

incenso teria aparecido bem mais cedo. Quando Zacarias finalmente saiu, ele precisou se comunicar com eles por sinais. Assim, eles entenderam que ele tivera uma visão no santuário. 1:23 Terminados os dias de seu ministério, o sacerdote voltou para casa sem poder falar, como o anjo tinha predito. 1:24-25 Quando Isabel engravidou, ela ficou em reclusão no próprio lar por cinco meses, regozijando-se consigo mesma que o Senhor dignou-se livrá-la do opróbrio de não ter filhos. B.

Em outras palavras, ele lutaria para tirar do mundo uma comitiva de cristãos que estaria pronta para encontrar o Senhor quando ele aparecesse. Isso é um ministério valioso para cada um de nós. Note como a divindade de Cristo é inferida nos ver­ sículos 16-17. 0 16 diz que João converteria muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. Depois, o versículo 17 diz que João iria adiante do Senhor. A quem se refere o termo Senhor? Obviamente ao Senhor, seu Deus do versículo anterior. Mesmo assim, sabemos que João foi o precursor de Jesus. A inferência então é clara: Jesus é Deus. 1:18 0 velho Zacarias ficou impressionado com a simples impossibilidade da promessa. Tanto ele como a mulher eram velhos demais para ter um bebê. Sua pergunta lamentosa expressou toda a dúvida encur­ ralada no seu coração. 1:19 0 anjo respondeu apresentando-se como Ga­ briel (Oforte de Deus). Apesar de descrito geralmente como um arcanjo, ele é mencionado nas Escrituras somente como aquele que assiste diante de Deus e que traz mensagens de Deus para o homem (Dn 8:16; 9:21). 1:20 Porque Zacarias duvidou, ele ficou mudo até a criança nascer. Em qualquer tempo que um cristão nutrir dúvidas acerca da palavra de Deus, ele perderá seu testemunho e seu cântico. Incredulidade sela os lábios, e eles permanecem selados até a fé voltar; de­ pois do retomo, explodem em louvor e testemunho. 1:21-22 Lá fora, o povo esperava impacientemen­ te; em situação normal, o sacerdote que queimava

3 (1:16-17) G. Coleman Luck, Luke, p. 17. * Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”. 4 (1:28) A palavra grega está na partícula passiva, mostrando que ela recebeu o favor. 0 latim gratia plena (“cheia de graça”) tem sido mal usado para ensinar que Maria é fonte de graça. Isso ilustra a importância da tradução precisa e exata. ++Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”.

O anúncio do nascimento do Filho do Homem (1:26-38) l:2 6 - 2 7 f No sexto mês após o aparecimento de Gabriel a Zacarias (ou depois que Isabel ficou grá­ vida) , Gabriel reapareceu, dessa vez a uma virgem chamada Maria, que morava na cidade de Nazaré, no distrito da Galileia. Maria era desposada com certo homem chamado José, da linhagem de Davi, que herdou direitos legais ao trono de Davi, mesmo sendo carpinteiro. 0 noivado era considerado um contrato bem mais obrigatório que o de hoje. Aliás, só podia ser desmanchado por um decreto legal semelhante ao divórcio. 1:28 0 anjo dirigiu-se a Maria como muito favo­ recida, alguém a quem o Senhor estava visitando com um privilégio especial. Dois pontos devem ser observados aqui: 1) o anjo não adorou Maria ou orou a ela; ele simplesmente a saudou; 2) ele não disse que ela estava “cheia de graça”, mas que era muito favorecida.4 1:29-30 Maria ficou naturalmente perturbada com essa saudação, pois desconhecia o que significava. 0 anjo acalmou seus temores e disse-lhe que Deus estava escolhendo-a para ser a mãe do Messias tão esperado. l:3 1 -3 3 tf Observe as importantes verdades sobre o Messias incluídas no anúncio: • Sua verdadeira humanidade: conceberás e darás à luz um filho. • Sua divindade e missão como Salvador: a quem chamarás pelo nome de Jesus (que significaJeová é o Salvador). • Sua intrínseca grandeza: será grande, tanto sua pessoa como seu trabalho. • Sua identidade como Filho de Deus: e será chama­ do Filho do Altíssimo. • Seu direito ao trono de Davi: Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai. Isso o estabelece como o Messias. • Seu reinado etemo e universal: ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu remado não terá fim.

Os versículos 31-32a obviamente se referem ao primeiro advento de Cristo, enquanto os versículos 32b-33 descrevem sua segunda vinda como Rei dos reis e Senhor dos senhores. 1:34-35 A pergunta de Maria: “ Como será isto?” , foi de admiração, mas não de dúvida. Como era possí­ vel para ela ter uma criança se ela não havia tido rela­ ções com homem algum? A resposta foi: nascimento virginal, embora o anjo não tivesse usado exatamente essas palavras. Seria um milagre do Espírito Santo. Ele desceria sobre ela e o poder do Altíssim o a envolveria. À pergunta de Maria (Como? — parecia impossível na avaliação humana), eis a resposta de Deus: “o Espírito Santo”. Por isso, também o ente santo que há de nas­ cer será chamado Filho de Deus. Aqui temos uma declaração sublime da encarnação. 0 filho de Maria seria Deus manifesto em carne. A linguagem não pode esgotar o mistério que está oculto aqui. 1:36-37 Então o anjo deu a notícia a Maria de que Isabel, sua parenta que havia sido estéril, estava no sexto mês de gravidez. Esse milagre tranqüilizaria Maria, mostrando que para Deus não haverá impos­ síveis em todas as suas promessas. 1:38 Em graciosa submissão, Maria se entregou ao Senhor para o cumprimento dos seus maravilhosos propósitos. Então o anjo se ausentou dela. C. Maria visita Isabel (1:39-45) 1:39-40 Não somos informados por que Maria foi visitar Isabel nesse tempo. Pode ser para evitar o escândalo que, com certeza, surgiria em Nazaré quando a gravidez dela fosse descoberta. Se assim for, então a saudação dada por Isabel foi duplamente maravilhosa. 1:41 Logo que Isabel ouviu a voz de Maria, a criança lhe estrem eceu no ventre, uma respos­ ta misteriosa e involuntária do futuro precursor à chegada do futuro Messias. Isabel ficou possuída do Espírito Santo, isto é, ele passou a controlá-la, guiando sua fala e suas ações. Três pessoas no capítulo 1 são descritas como possuídas pelo Espírito Santo: João Batista (v. 15), Isabel (v. 41) e Zacarias (v. 67). Um dos sinais de uma vida cheia do Espírito Santo é falar em salmos e hinos e cânticos espirituais (Ef 5:18-19). Não é surpresa, então, achar três cânticos nesse capítulo e dois no próximo. Quatro desses cânticos são geralmente conhecidos pelos títulos latinos, extraídos das primeiras linhas: 1) a sau­ dação de Isabel [1:42-45]; 2) o Magnificat (exaltar) [1:46-55]; 3) o Benedictus (abençoado) [1:68-79]; 4) o Gloria in Excelsis Deo (Glória a Deus nas alturas)

[2:14]; e 5) NuncDimittis (Agora, Senhor, despedes em paz) [2:29-32]. 1:42-45 Falando por inspiração especial, Isabel saudou Maria como a mãe do meu Senhor. Não havia um vestígio de ciúmes no seu coração; somente alegria e prazer de que o nenê não nascido seria o seu Senhor. Maria foi bendita entre as mulheres porque lhe foi dado o privilégio de ser a mãe do Messias. 0 fruto do ventre dela é bendito, pois ele é Senhor e Salvador. A Bíblia nunca fala de Maria como “mãe de Deus”. Embora seja verdade que ela foi a mãe de Jesus, e que Jesus é Deus, é um absurdo doutrinário afirmar que Deus tem mãe. Jesus existiu desde a eternidade, enquanto Maria foi uma criatura finita, com cuja data inicial de existência é definida. Ela foi a mãe de Jesus somente na encarnação. Isabel relatou o entusiasmo aparentemente intui­ tivo de seu filho por nascer quando Maria começou a falar. Depois ela lhe assegurou que sua fé seria recompensada abundantemente. Sua expectativa seria cumprida. Ela não tinha crido em vão. Seu bebê nasceria como prometido. D. Maria magnífica o Senhor (1:46-56) 1:46-49 0 Magnificat é semelhante ao cântico de Ana (ISm 2:1-10). Primeiramente Maria louvou ao Senhor pelo que ele tinha feito por ela (v. 46b-49). Note bem o que ela falou (v. 48): todas as gerações me considerarão bem-aventurada. Ela não seria uma pessoa que concederia bênçãos, mas uma que se­ ria abençoada. Ela fala de Deus como seu Salvador, desmentindo a ideia de que Maria jamais pecou. 1:50-53 Em segundo lugar, ela louvou ao Senhor por sua misericórdia de geração em geração sobre os que o temem. Ele dispersa soberbos e poderosos e exalta humildes e famintos. 1:54-55 Por último, ela magnificou o Senhor por sua fidelidade a Israel em guardar as promessas que ele tinha feito a Abraão e à sua descendência. 1:56 Depois de permanecer com Isabel cerca de três meses, Maria voltou para casa em Nazaré. Ela não era casada ainda. Sem dúvida, ela tornou-se o objeto de suspeita e difamação na vizinhança. Mas Deus a vindicaria; ela poderia esperar. E. O nascimento do precursor (1:57-66) 1:57-61 Quando se cumpriu o tempo de Isabel, ela deu à luz um filho. Os parentes e amigos se alegraram. No oitavo dia, quando a criança foi circuncidada, eles pensaram que, sem dúvida, ele seria chamado Zaca­ rias, o nome do pai. Quando Isabel lhes falou que o nome da criança seria João, ficaram admirados, porque nenhum dos seus parentes tinha esse nome.

. 1:62-63 Para chegar à decisão final, fizeram sinais a Zacarias. (Isso indica que ele não estava somente mudo, mas surdo). Pedindo uma tabuinha, ele re­ solveu o assunto: o nome da criança seria João. As pessoas se admiraram. 1:64-66 Mas tiveram uma surpresa maior quando perceberam que Zacarias voltara a falar ao escrever “João”. A notícia se espalhou rapidamente por toda a região montanhosa da Judeia, e todos se pergun­ tavam sobre a futura obra daquele bebê incomum. Eles sabiam que o favor especial do Senhor estava com ele. F. A profecia de Zacarias acerca de João (1:67-80) 1 :67 Livre agora das cadeias da incredulidade e cheio do Espírito Santo, Zacarias foi inspirado a proferir um eloqüente hino de louvor, rico em cita­ ções do AT. 1:68-69 Louvou a Deus pelo que tinha feito. Zaca­ rias reconheceu que o nascimento do seu filho, João, indicava a iminente chegada do Messias. Referiu-se ao advento de Cristo como um fato consumado, antes de ocorrer. A fé o capacitava a dizer que Deus já visitou e redimiu o seu povo enviando o Redentor. Jeová suscitou plena e poderosa salvação na casa real de Davi. 1:70-71 Louvou a Deus pelo cumprimento da pro­ fecia. A chegada do Messias foi profetizada desde a antiguidade por [...] seus santos profetas. Significa­ ria salvação dos nossos inimigos e segurança contra nossos adversários. 1:72-75 Louvou a Deus por sua fidelidade às suas promessas. 0 Senhor tinha feito um juramento in­ condicional de salvação a Abraão. Essa promessa foi cumprida pelo advento da semente de Abraão, a saber, o Senhor Jesus Cristo. A salvação que ele trouxe foi tanto externa como interna. Externamente, trouxe libertação da mão de inimigos. Internamente signi­ ficava servi-lo sem temor, em santidade e justiça. G. Campbell Morgan aponta duas ideias impres­ sionantes nessa passagem.5 Primeiro, ele aponta a notável conexão entre o nome João e o tema da canção — ambos são a graça de Deus. Depois ele descobre alusões aos nomes de João, Zacarias e Isabel nos versículos 72-73. 5 (1:72-75) G. Campbell Morgan, The GospelAccording toLuke, p. 30-31. f Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”. ++ Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”. ++t Veja “Suplementos” > “Belém”.

• João: a misericórdia prometida (v. 72). • Zacarias: lembrar (v. 72). • Isabel: o juramento (v. 73). 0 benefício de Deus, como anunciado por João, é resultado da lembrança do Senhor do juramento da sua santa aliança. 1:76-77 A missão de João, o arauto do Salvador. João seria o profeta do Altíssim o, preparando o coração do povo para a chegada do Senhor, procla­ mando salvação ao seu povo pelo perdão dos seus pecados. Mais uma vez vemos que as referências a Jeová no AT são aplicadas a Jesus no Novo. Ma­ laquias profetizou um mensageiro para preparar o caminho diante de Jeová (3:1). Zacarias identifica João como o mensageiro. Sabemos que João veio para preparar o caminho de Jesus. A conclusão óbvia é que Jesus é Jeová. 1:7 8 -7 9 4 vinda de Cristo é comparada ao sol nascen­ te. Durante séculos, o mundo jazia nas trevas. Agora graças à entranhável misericórdia de nosso Deus, a alvorada estava prestes a chegar. Viria na pessoa de Cristo, brilhando sobre os gentios que estavam nas trevas e na sombra da morte, e guiando os pés de Israel pelo caminho da paz (MI 4:2). 1:80 0 capítulo termina com uma simples declara­ ção de que o menino crescia física e espiritualmente, vivendo nos desertos até ao dia em que haveria de manifestar-se a Israel. G. O nascimento do Filho do Homem (2:1-7) 2 :l-3 f César Augusto publicou um decreto por meio do qual convocava toda a população do império para recensear-se. Um censo seria feito em todo o império. Este, o primeiro recenseamento, foi feito quando Quirino era governador da Síria. Por muitos anos a exatidão do evangelho de Lucas foi colocada em dú­ vida por causa dessa referência a Quirino. Mais tarde, porém, descobertas arqueológicas confirmaram essa informação. Do seu ponto de vista, César Augusto estava demonstrando sua supremacia sobre o mundo greco-romano. Mas da perspectiva de Deus, esse im­ perador gentílico era simplesmente um fantoche para promover o programa divino (cf. Pv 21:1). 2:4-7tf 0 decreto de Augusto trouxe José e Maria a Belémm exatamente no tempo certo para que o Messias nascesse ali, em cumprimento à profecia (Mq 5:2). Belém estava superlotada quando eles chegaram da Galileia. 0 único lugar onde puderam ficar foi no estábulo de uma hospedaria. Isso foi um pres­ ságio, uma amostra de como os homens receberiam o Salvador. Foi enquanto o casal de Nazaré estava

ali que Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela enfaixou-o e carinhosamente o deitou numa manjedoura. Assim, Deus visitou este planeta na pessoa de um frágil bebê e na pobreza de um estábulo malcheiroso. Que surpreendente! John Nelson Darby expressou isso lindamente: Ele começou numa manjedoura e terminou na cruz, e ao longo do caminho não tinha lugar para repousar a própria cabeça.6 H.

Os anjos e os pastores (2:8-20)

2:8 0 primeiro anúncio desse nascimento singular não foi dado aos líderes religiosos em Jerusalém, mas aos pastores contemplativos nos morros da Judeia, homens humildes e fiéis no seu trabalho diário. James S. Stewart observa: Será que não há um grande significado no fato de que foram os olhos de pessoas comuns, ocupadas com seu serviço normal, que viram primeiro a glória da chegada do Senhor? Isso quer dizer, primeiramente, que o lugar de dever, seja o mais humilde, é o lugar de visão. Em segundo lugar, significa que as portas do reino se abrem prontamente aos homens que conservaram as profundas e simples crenças da vida e não per­ deram' o coração infantil.7 2:9-11 Um anjo do Senhor aproximou-se dos pastores, e uma luz gloriosa brilhou ao redor deles. Sendo tomados de grande temor, o anjo os consolava e transmitiu as notícias. Era boa-nova de grande alegria para todo o povo. Naquele mesmo dia, em Belém, um bebê tinha nascido. Esse bebê era o Salva­ dor, que é Cristo, o Senhor! Aqui temos uma teologia em miniatura. Em primeiro lugar, ele é o Salvador, que está expresso no seu nome, Jesus. Em seguida ele é Cristo, o Ungido de Deus, o Messias de Israel. Por último, ele é o Senhor, Deus manifesto em carne. 2:12 Como é que os pastores iam reconhecê-lo? Os anjos deram um duplo sinal. Primeiro, o bebê estaria envolto em faixas. Eles já tinham visto bebês envoltos em faixas. Mas os anjos acabaram de anunciar que esse bebê era o Senhor. Ninguém vira o Senhor como uma criancinha envolta em faixas. A segunda parte do sinal era que ele estaria deitado numa manjedoura. É improvável que os pastores já tivessem visto um bebê num lugar tão estranho. Essa indignidade foi reservada para o Senhor da vida e da glória ao chegar ao nosso mundo. Ficamos perplexos ao pensar no Criador e Sustentador do universo en­

trando na história humana não como um herói militar conquistador, mas como um bebezinho. Mesmo assim, essa é a verdade da encarnação. 2:13-14 Subitamente o êxtase contido do céu rom­ peu. Uma multidão da milícia celestial apareceu, louvando a Deus. Seu canto, conhecido hoje pelo tí­ tulo Gloria in ExcelsisDeo, capta o pleno significado do nascimento do nenê. Sua vida e seu ministério trariam glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, ou talvez aos homens a quem ele quer bem.s Os homens aos quais Deus quer bem são os que se arrependem dos seus pecados e recebem Jesus Cristo como Senhor e Salvador. 2 :1 5 -1 9 Logo depois da partida dos anjos, os pastores foram apressadamente até Belém e acha­ ram Maria e José, e Jesus deitado na manjedoura. Eles apresentaram um relatório completo sobre a visita do anjo, causando bastante admiração entre os que estavam presentes no estábulo. Mas Maria tinha um entendimento mais profundo do que estava acontecendo; ela guardava todas estas palavras, conscientemente meditando-as no coração. 2:20 Os pastores voltaram aos seus rebanhos, alegres por tudo o que tinham ouvido e visto, transbordantes na sua adoração a Deus. I. Circuncisão e dedicação de Jesus (2:21-24) Pelo menos três rituais diferentes são descritos nessa passagem: 1. Primeiro, houve a circuncisão de Jesus. Isso acon­ teceu completados oito dias. Era sinal da aliança que Deus fez com Abraão. Nesse mesmo dia, o menino recebeu seu nome, conforme o costume judaico. 0 anjo anteriormente instruíra Maria e José para chamá-lo Je s u s . 2. A segunda cerimônia foi relacionada com a puri­ ficação de Maria. Isso aconteceu quarenta dias depois do nascimento de Jesus (cf. Lv 12:1-4). Nor­ malmente os pais precisavam trazer um cordeiro para o holocausto e um pombinho ou rola para a oferta do pecado. 3. Mas, no caso do pobre, era permitido trazer um par de rolas ou dois pombinhos (Lv 12:6-8). 0 fato de Maria não levar um cordeiro, mas somente dois pombinhos, é um reflexo da pobreza na qual Jesus nasceu.

6 (2:4-7) J. N. Darby , Synopsis oftheBooks o f the Bible, 111:293. 7 (2:8) James S. STEWART, Life and Teaching, p. 24. 8 (2:13-14) 0 texto crítico (NU) lê: “aos homens de boa vontade”, que parece contradizer a doutrina bíblica acerca da depravação humana. Os evangélicos que aceitam a leitura crítica geralmente parafraseiam essa expressão.

4 .0 terceiro ritual foi a apresentação de Jesus no templo em Jerusalém. Originalmente, Deus de­ cretou que todo primogênito pertencia a ele; eles formariam a classe sacerdotal (Êx 13:2). Mais tarde, ele separou a tribo de Levi para o sacerdócio (Êx 28:1-2). Depois, os pais receberam permissão para “comprar de volta” ou “redimir” o primogênito pelo pagamento de cinco ciclos. Eles assim fizeram quando o dedicaram ao Senhor. J. Simeão vive para ver o Messias (2:25-35) 2:25-26 Simeão foi um dos remanescentes piedo­ sos dos judeus e esperava a chegada do Messias. Revelara-lhe o Espírito Santo que não passaria pela morte antes de ver o Cristo do Senhor, ou o Ungido. “A intimidade do SENHOR é paxa os que o temem” (S I 25:14). Há uma misteriosa comunicação de conhecimento divino para os que andam em calma e contemplativa comunhão com Deus. 2:27-28 Então aconteceu que ele entrou na área do templo no dia exato em que os pais de Jesus o estavam apresentando a Deus. Simeão foi instruído de modo sobrenatural de que essa criança era o Messias prometido. Tomando Jesus nos braços, ele proferiu o memorável cântico agora conhecido como Nunc Dimittis (Agora, despedes em paz). 2:29-32 0 sentido do cântico é o seguinte: Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo. Os meus olhos já viram a tua salvação na pessoa deste bebê, o Redentor prometido, segundo a tua palavra. Tu o enviaste para trazer salvação a todos os povos. Ele será luz para revelação aos gentios (o primeiro advento) e para a glória do teu povo de Israel (o segundo advento). Simeão estava preparado para morrer depois de ter visto o Senhor Jesus. 0 aguilhão da morte já se fora. 2:33 Lucas guarda com cuidado a doutrina do nascimento virginal mencionando precisamente as palavras José e Maria (RC), conforme a maioria dos manuscritos.9 2:34-35 Depois dessa expressão inicial de louvor a Deus pelo Messias, Simeão abençoou os pais e em seguida falou profeticamente a Maria. A profecia consistia em quatro partes: 1. Eis que este menino está destinado tanto para ruína com o para levantamento de muitos em Israel. Os arrogantes, impenitentes e incrédulos cairiam e seriam punidos. Os que se humilhassem,

9 (2:33) 0 texto crítico (NU) traz “seu pai e sua mãe”, seguido pela RA. Embora não negue o nascimento virginal, não é tão claro. 10 (2:40) O texto crítico (NU), seguido pela maioria das traduções em português, omite “em espírito” .

se arrependessem dos seus pecados e recebessem o Senhor Jesus levantariam e seriam abençoados. 2. A criança estava destinada para ser alvo de con­ tradição. Havia um significado especial associado com a pessoa de Cristo. Sua própria presença na terra mostrava uma tremenda repreensão ao pecado e à impiedade, produzindo assim amarga animosidade por parte do coração humano. 3. Também uma espada traspassará a tua própria alma. Simeão estava profetizando a aflição que inundaria o coração de Maria ao testemunhar a crucificação do seu filho (Jo 19:25). 4. Para que se manifestem os pensamentos secre­ tos de muitos corações. A reação das pessoas ao Salvador é prova de suas íntimas motivações e afeições. Assim, o cântico de Simeão inclui as ideias de pedra de toque, pedra de tropeço, degrau e espada. K. A profetisa Ana (2:36-39) 2:36-37 Ana, a profetisa, foi, como Simeão, membro do remanescente fiel de Israel que esperava o advento do Messias. Ela era da tribo de Aser (que significa alegre, abençoada), uma das dez tribos levadas em cativeiro pelos assírios em 721 a.C. Ana deveria ter mais de cem anos, tendo sido casada por sete anos e depois viúva por oitenta e quatro anos. Como profetisa, sem dúvida ela recebia revelações divinas e servia como porta-voz de Deus. Ela foi fiel na sua frequência às reuniões públicas no templo, adorando com jejuns e súplicas noite e dia. A sua idade avan­ çada não a dissuadia de servir o Senhor. 2:38 Enquanto Jesus estava sendo apresentado ao Senhor, e Simeão falava com Maria, Ana chegou a esse grupo de pessoas. Ela deu graças a Deus pelo Redentor prometido, e falava a respeito de Jesus aos fiéis em Jerusalém que esperavam a redenção. 2:39 Depois que José e Maria tinham cumprido os ritos de purificação e dedicação, voltaram pa­ ra a Galileia, para a sua cidade de Nazaré. Lucas não menciona a visita dos magos ou a fuga para o Egito. L. A infância de Jesus (2:40-52) 2:40 0 crescimento normal do menino Jesus é apre­ sentado assim: Fisicamente, ele crescia e se forta­ lecia em espírito (RC).10 Ele passou pelas mesmas fases de desenvolvimento físico, aprendendo a andar, falar, brincar e trabalhar. Por causa disso ele pode identificar-se conosco em cada fase do nosso cres­ cimento. Mentalmente, ele encheu-se de sabedoria. Jesus não apenas aprendeu o ABC, os números e todo o conhecimento geral daqueles dias, mas cresceu em

sabedoria, isto é, na aplicação prática desse conheci­ mento aos problemas da vida. Espiritualmente, a graça de Deus estava sobre ele. Jesus andava em comu­ nhão com Deus e na dependência do Espírito Santo. Ele estudava a Bíblia, passava tempo em oração e se alegrava em fazer a vontade do Pai. 2:41-44 Um menino judeu toma-se um filho da lei ao atingir doze anos. Quando o Senhor atingiu os doze anos, sua família promoveu a jornada anual a Jerusalém, para a Páscoa. Mas quando regressavam à Galileia, não haviam notado que Jesus não estava no agrupamento. Pode parecer-nos estranho se não com­ preendermos que a família provavelmente viajava com uma grande caravana. Sem dúvida, eles presumiram que Jesus andava com outros da própria idade. Antes de condenar José e Maria, devemos lembrar quão fácil é para nós viajar o caminho de um dia, supondo que Jesus está entre os parentes e os co­ nhecidos, quando na realidade perdemos o contato com ele por causa de pecados não confessados. Para poder restabelecer esse contato, devemos voltar ao ponto em que a comunhão foi rompida, e então con­ fessar e abandonar o pecado. 2 :4 5 -4 7 Ao voltar a Jerusalém, os pais aflitos acharam Jesus, no tem plo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. Não há indício de ele agir como criança precoce, dispu­ tando com seus superiores. Antes, ele assumiu a condição de uma criança normal, aprendendo dos seus professores, em humildade e silêncio. Mesmo assim, no curso dos procedimentos, eles certamen­ te lhe fizeram algumas perguntas, porque o povo muito se admirava da sua inteligência e das suas respostas. 2:48 Até os pais ficaram maravilhados quando viram Jesus participar de modo tão inteligente de uma discussão com os que eram bem mais velhos que ele. Mas sua mãe expressou sua ansiedade e irritação acumulada ao reprová-lo. Será que ele não sábia que eles estavam preocupados? 2:49 A resposta do Senhor, suas primeiras palavras registradas, mostram que ele estava bem cônscio da sua identidade como o Filho de Deus e da sua missão divina. Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai? Ela disse: teu pai e eu. Ele disse: me cumpria estar na casa de meu Pai. 2:50 No momento, eles não entendiam o que Jesus queria dizer com aquela observação enigmática. Algo estranho para um menino de doze anos! 2:51 De qualquer modo, estavam reunidos; então, poderiam voltar a Nazaré. A excelência moral de Je­ sus é vista nas palavras “era-lhes submisso” . Apesar

de ser o Criador do universo, ele assumiu a condição de criança obediente nessa humilde família judaica. Todo o tempo, porém, sua mãe guardava todas estas coisas no coração. 2:52 Mais uma vez temos a verdadeira humanidade e o crescimento normal do nosso Senhor descritos: 1. Crescimento mental: crescia Jesus em sabedoria. 2. Crescimento físico: estatura. 3. Crescimento espiritual: e graça, diante de Deus. 4. Crescimento social: e dos homens. Ele era absolutamente perfeito em todo aspecto do seu crescimento. Aqui a narrativa de Lucas passa silenciosamente por cima dos dezoito anos que o Senhor Jesus passou em Nazaré como o filho de um carpinteiro. Esses anos nos ensinam a importância de preparação e treinamento, a necessidade de paciência e o valor do trabalho diário. Eles advertem contra a tentação de pular do nascimento espiritual ao minis­ tério público. Espiritualmente falando, os que não têm infância e adolescência normal atraem desastre na sua vida e no seu testemunho posteriores.

III. A preparação do Filho do Homem para ministrar (3:1— 4:30) A. Preparação pelo seu arauto (3:1-20) 3:1-2 Como historiador, Lucas identifica o ano em que João começou a pregar, especificando os líderes políticos e religiosos que estavam no poder naquele tempo: um imperador (César), um governador, três com o título de tetrarca e dois sumo sacerdotes. Os líderes políticos mencionados sugerem a garra de ferro à qual a nação de Israel fora subjugada. 0 fato de ter havido dois sumo sacerdotes em Israel indica que a nação estava em desordem tanto religiosa como política. Apesar de esses homens serem muito esti­ mados pelo mundo, eram ímpios e inescrupulosos aos olhos de Deus. Portanto, quando o Senhor quis falar com os homens, se desviou do palácio e da sinagoga e enviou a mensagem a João, filho de Zacarias, lá no deserto. 3 :3 f João de imediato percorreu toda a circunvizinhança do rio Jordão, provavelmente perto de Jericó. Ali chamou a nação de Israel ao arrependimento, a fim de poder receber perdão e ser preparada para a chegada do Messias. Ele também chamou o povo ao batismo como sinal visível de que eles de fato se arrependeram. João foi um verdadeiro profeta, uma +Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”.

consciência personificada, clamando contra o pecado e pedindo renovação espiritual. 3:4 Seu ministério deu cumprimento à profecia em Isaías 40:3-5. Ele foi a voz do que clama no deserto. Do ponto de vista espiritual, Israel estava nesse tempo em um deserto. Como nação, era árida e desanimada, e não produzia nenhum fruto para Deus. Para prepararse para a chegada do Senhor, o povo precisava passar por uma mudança moral. Naqueles dias, quando um rei anunciava uma visita real, complexos preparativos eram realizados a fim de aplainar as estradas e tomar sua aproximação a mais reta possível. Foi o que João chamou o povo a fazer, só que não se tratava apenas de aplainar os caminhos existentes, mas de preparar o próprio coração para recebê-lo. 3:5 Os efeitos da vinda de Cristo são descritos deste modo: Todo vale será aterrado — os que fossem verda­ deiramente arrependidos e humildes seriam salvos e satisfeitos. T odos os montes e outeiros serão nivelados — pessoas como os escribas e fariseus, altivos e arrogantes, seriam humilhadas. Os caminhos tortuosos serão retificados — os que eram desonestos, como os cobradores de impos­ tos, teriam o caráter endireitado. Os lugares escabrosos serão aplanados — os soldados e outros com temperamentos rudes seriam amansados e refinados. 3:6 0 resultado final seria que toda carne, tanto judeus como gentios, veria a salvação de Deus. No primeiro advento de Cristo, a oferta de salvação foi feita a todos os homens, embora nem todos o tenham recebido. Quando ele voltar para reinar, esse versí­ culo será totalmente cumprido. Assim, todo o Israel será salvo, e os gentios também compartilharão as bênçãos do glorioso reinado de Cristo. 3:7 Quando as multidões foram a João receber o batismo, ele reconheceu que nem todos eram since­ ros. Alguns eram somente fingidores, sem fome ou sede de justiça. Foi a esses que João chamou raça de víboras. A pergunta “Quem vos induziu a fugir da ira vindoura?” infere que João não agiu dessa forma; sua mensagem foi dirigida aos que estavam preparados a confessar seus pecados. 3:8 Se eles queriam negociar a sério com Deus, deveriam mostrar que tinham de fato se arrependido, manifestando uma vida transformada. Arrependimento genuíno produz frutos. Eles não deveriam pressupor que sua descendência de Abraão era suficiente; paren­ tesco com os piedosos não toma os homens piedosos. Deus não se limitava aos descendentes físicos de Abraão para realizar seus propósitos; ele poderia tomar

as pedras do rio Jordão e suscitar filhos a Abraão. Provavelmente as pedras aqui são uma figura dos gen­ tios que Deus poderia transformar por um milagre de divina graça em crentes com fé como a de Abraão. Foi exatamente assim que aconteceu. A semente física de Abraão, como nação, rejeitou o Cristo de Deus. Mas muitos gentios o receberam como Senhor e Salvador e, assim, tomaram-se a semente espiritual de Abraão. 3:9 O machado posto à raiz das árvores é uma expressão figurativa, significando que a chegada de Cristo provaria a realidade do arrependimento do ho­ mem. Os indivíduos que não manifestassem os frutos de arrependimento seriam condenados. As palavras e frases de João saíram-lhe da boca como espadas: “raça de víboras”, “a ira vindou­ ra”, “machado”, “cortado”, “lançada ao fogo”. Os profetas do Senhor nunca foram brandos, eram grandes moralistas e, muitas vezes, suas pala­ vras caíam pungentemente sobre o povo, como os machados de guerra dos nossos antepassados nos capacetes dos inimigos. Daily Notes o f the Scripture Union 3:10 Feridos pela convicção, as multidões inter­ rogavam João acerca de algumas sugestões práticas de como podiam demonstrar a realidade do seu ar­ rependimento. 3:11-14 Nos versículos 11-14, João mostra-lhes algumas maneiras específicas de provar em sua sinceridade. Em geral, deveriam amar o próximo como a si mesmos, repartindo roupas e comida com os pobres. Em relação aos publicanos, deveriam ser rigoro­ samente honestos nos negócios. Visto que eram bem conhecidos como classe corrupta, isto seria uma evidência definitiva da sua genuinidade. Por último, os soldados em serviço ativo foram alertados sobre evitar três pecados comuns aos mi­ litares: extorsão, difamação e descontentamento. E importante perceber que os homens não foram salvos por evitar essas coisas; antes, o fato de não fazê-las constituía evidências visíveis de que o coração deles era verdadeiramente reto perante Deus. 3:15-16a A modéstia de João foi admirável. Por um tempo, pelo menos, ele poderia ter se apresentado como o Messias e atraído muitos adeptos. Mas, em vez disso, ele se comparava desfavoravelmente com Cristo. Ele explicou que o seu batismo era externo e físico, enquanto ode Cristo seriaintemo e espiritual. João afirmou que ele não era digno de desatar-lhe as correias das sandálias.

3:16b-17 0 batismo de Cristo seria com o Es­ pírito Santo e com fogo. 0 ministério dele seria duplo. Primeiro, ele batizaria crentes com o Espí­ rito Santo, uma promessa do que aconteceria em Pentecostes, quando os crentes foram batizados no corpo de Cristo. Mas, em segundo lugar, ele batizaria com fogo. No versículo 17, parece bem claro que o batismo de fogo é um batismo de julgamento. Ali o Senhor é descrito como um separador de cereais. Enquanto ele joga os cereais no ar com a pá, a palha voa para os lados da eira. Em seguida é varrida e queimada. Quando João se dirigia a uma multidão mista, crentes e descrentes, ele mencionava tanto o batismo do Espírito como o batismo de fogo (cf. tb. Mt 3:11). Quando, porém, ele falava somente aos crentes (Mc 1:5), ele omitia o batismo de fogo (Mc 1:8). Nenhum crente verdadeiro sofrerá o batismo de fogo. 3 :1 8 -2 0 Agora Lucas está pronto para virar o holofote de João para Jesus. Portanto, nesses ver­ sículos, ele resume o restante do ministério de João e nos leva ao tempo da sua prisão por Herodes. A detenção de João realmente aconteceu mais ou menos dezoito meses depois. Ele repreendeu Herodes por ter um relacionamento ilícito com a própria cunhada. Herodes então coroou todos os seus outros atos maus lançando João no cárcere. B. Preparação pelo batismo (3:21-22) Enquanto João perde nossa atenção, o Senhor Jesus entra na posição de eminência. Ele abre seu ministé­ rio público, mais ou menos na idade de trinta anos, sendo batizado no rio Jordão. Há vários pontos de interesse nesse relato do seu batismo: 1. As três pessoas da Trindade se encontram aqui: Jesus (v. 21); o Espírito Santo (v. 22a); o Pai (v. 22b). 2. Somente Lucas relata o fato de que Jesus orou no seu batismo (v. 21). Isto está de acordo com o obje­ tivo de Lucas de apresentar Cristo como o Filho do Homem, sempre dependente de Deus, o Pai. A vida de oração do nosso Senhor é um tema dominante nesse evangelho. Ele orou aqui, no começo do seu ministério público; orou quando se tomava bem conhecido e as multidões o seguiam (5:16); passou uma noite inteira em oração antes de escolher os doze discípulos (6:12); orou antes do episódio em Cesareia de Filipe, o auge do seu ministério de ensi­ no (9:18); orou no monte da Transfiguração (9:28); orou na presença dos discípulos, suscitando um discurso sobre oração (11:1); orou pela apostasia

de Pedro (22:32); orou no jardim do Getsêmani (22:41,44). 3 .0 batismo de Jesus é uma das três vezes em que Deus falou do céu em relação ao ministério do seu Filho amado. Por trinta anos o olho de Deus tinha examinado aquela vida perfeita em Nazaré; aqui, seu veredicto foi: em ti me comprazo. As outras duas vezes que o Pai falou publicamente do céu foi: quando Pedro sugeriu construir três tabemáculos no monte da Transfiguração (Lc 9:35) e quando os gregos vieram a Filipe, desejando ver Jesus (Jo 12:20-28). C.

Preparação por participar da humanidade (3:23-28)+ Antes de considerar o ministério público do nosso Senhor, Lucas dá uma pausa para apresentar a ge­ nealogia de Jesus. Se ele é verdadeiramente humano, então deve ser descendente de Adão. Essa genealogia demonstra tal fato. Acredita-se geralmente que aqui se dá a genealogia de Jesus através da linhagem de Maria. Note que o versículo 23 não diz que Jesus era filho de José, mas “ como se cuidava, filho de José” . Se esse aspecto está correto, então Eli (v. 23) foi o sogro de José e o pai de Maria. Em geral, os estudiosos creem que essa é a genea­ logia através de Maria pelas seguintes razões: 1 .0 mais óbvio é que a linhagem da família de José é traçada no evangelho de Mateus (1:2-16). 2. Nos primeiros capítulos do evangelho de Lucas, Maria é mais proeminente que José, enquanto o inverso ocorre em Mateus. 3 .0 nome das mulheres não era usado normalmente entre os judeus como elos genealógicos. Isso jus­ tificaria a omissão ao nome de Maria. 4. Mateus 1:16 relata distintamente que Jacó gerou José. Aqui em Lucas, não fala que Eh gerou José; diz que José era filho de Eli. Filho pode significar genro. 5. Na língua original, o artigo definido (tou) na forma genitiva (do) aparece antes de todo nome na genea­ logia, a não ser um: José. Essa única exceção indica fortemente que José foi incluído somente por causa do seu casamento com Maria. Embora não seja necessário examinar a genealo­ gia detalhadamente, é útil observar vários pontos importantes:

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1. Essa lista mostra que Maria era descendente de Davi através do seu filho Natã (v. 31). No evange­ lho de Mateus, Jesus herdou o direito legítimo ao trono de Davi através de Salomão. 2. Sendo filho legítimo de José, o Senhor cumpriu aquela parte da aliança de Deus com Davi a quem prometeu que o seu trono continuaria para sempre. Mas Jesus não poderia ser o filho verdadeiro de José sem estar debaixo da maldição de Deus sobre Jeconias, de acordo com a qual fora decretado que nenhum descendente daquele rei mau prosperaria Qr 22:30). 3. Como o verdadeiro filho de Maria, Jesus cumpriu aquela parte da aliança de Deus com Davi quando lhe prometeu que sua descendência se assentaria no seu trono para sempre. E, sendo descendente de Davi através de Natã, ele não estava debaixo da maldição pronunciada sobre Jeconias. 4. Adão é descrito como filho de Deus (v. 38). Isso quer dizer que ele foi criado por Deus. 5. Parece óbvio que a linha messiânica terminou com o Senhor Jesus. Ninguém mais pode de maneira alguma apresentar uma reivindicação legítima e válida ao trono de Davi. D. Preparação pela prova (4:1-13) 4:1 Nunca houve um tempo na vida do nosso Senhor em que ele não estivesse cheio do Espírito Santo, mas aqui há uma menção específica a esse fato, por causa da sua tentação. Estar cheio do Espírito Santo significa ser completamente submisso a ele e obediente a cada palavra de Deus. Uma pessoa cheia do Espírito é esvaziada de todo pecado conhecido, e de si mesma, e é ricamente habitada pela palavra de Deus. Ao voltar do Jordão onde foi batizado, Jesus foi guiado pelo Espírito ao deserto, provavelmente o da Judeia, na costa ocidental do mar Morto. 4:2-3 Ali ele foi tentado durante quarenta dias pelo Diabo — dias nos quais o Senhor nada comeu. Ao fim desses dias surgiu a tentação tripla com que estamos mais familiarizados. De fato ocorreram em três lugares diferentes: no deserto, numa montanha e no templo em Jerusalém. A verdadeira humanidade de Jesus é refletida pelas palavras teve fome. Esse foi o alvo da primeira tentação. Satanás sugeriu que o Senhor deveria usar seu poder divino para satisfazer a fome física. A sutileza da tentação foi que o ato em si era perfeitamente legítimo. Mas o erro estaria em Jesus obedecer a Satanás; ele deveria agir de acordo com a vontade do Pai. 4:4 Jesus resistiu à tentação citando as Escrituras (Dt 8:3). Mais importante que a satisfação do apetite físico é a obediência à palavra de Deus. Ele não dis­

cutiu. John Nelson Darby disse: “Uma simples citação silencia quando usada no poder do Espírito. 0 segredo total de força no conflito é o uso da palavra de Deus da maneira certa”. 4:5-7 Na segunda tentação, o Diabo mostrou-lhe, num momento, todos os reinos do mundo. Não leva muito tempo para Satanás mostrar tudo o que ele tem para oferecer. Não foi o mundo em si mas os reinos deste mundo que ele ofereceu. Há um sentido no qual ele possui autoridade sobre os reinos deste mundo. Por causa do pecado do homem, Satanás se tomou “o príncipe” deste mundo (Jo 12:31; 14:30; 16:11), “o deus deste século” (2Co 4:4) e “o príncipe da potestade do ar” (Ef 2:2). Deus propôs que “o reino do mundo” um dia se tomará do “nosso Senhor e do seu Cristo” (Ap 11:15). Assim, Satanás estava oferecendo a Cristo o que certamente seria dele. Mas não poderia ter qualquer atalho ao trono. A cruz precisava vir primeiro. Nos conselhos de Deus, o Senhor Jesus tinha de sofrer antes que pudesse entrar na glória. Ele não poderia conseguir um fim legítimo por um meio errado. Em nenhuma circunstância ele adoraria o Diabo, fosse qual fosse o prêmio. 4:8 Portanto, o Senhor cita Deuteronômio 6:13 para mostrar que, como homem, ele deveria adorar e servir somente a Deus. 4:9-11 Na terceira tentação, Satanás levou Jesus a Jerusalém, ao pináculo do templo, e sugeriu que ele se atirasse dali. Deus não tinha prometido em Sal­ mos 91:11-12 que ele preservaria o Messias? Talvez Satanás estivesse tentando Jesus a apresentar-se como Messias ao fazer uma sensacional acrobacia. Malaquias predissera que o Messias viria de repente ao seu templo (Ml 3:1). Aqui, então, chegou a opor­ tunidade para Jesus obter fama e notoriedade como o Libertador prometido sem ir ao Calvário. 4:12 Pela terceira vez, Jesus resistiu à tentação, citando a Bíblia. Deuteronômio 6:16 proibiu pôr Deus à prova. 4:13 Repelido pela espada do Espírito, o Diabo apartou-se de Jesus até momento oportuno. As tenta­ ções em geral vêm em espasmos e não em torrentes. Vários pontos adicionais deveriam ser mencionados em relação à tentação: 1.A ordem em Lucas difere daquela apresentada em Mateus. A segunda e terceira tentações são invertidas; a razão disso não é clara. 2. Nos três casos, o fim indicado estava certo, mas o meio de obtê-lo estava errado. É sempre errado obedecer a Satanás, adorá-lo ou a qualquer criatu­ ra. É errado tentar a Deus. 3. A primeira tentação foi relacionada ao corpo; a segunda, à alma; a terceira, ao espírito. Atraíram

respectivamente a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. 4. As três tentações giram em tomo de três das mais fortes atividades da existência humana: apetite físico, desejo de adquirir poder e possessões e vontade de ter reconhecimento público: Quantas vezes os discípulos são tentados a escolher um caminho de conforto e tranqüilidade, procurar um lugar proeminente no mundo e ganhar elevada posição na Igreja. 5. Em todas as três tentações, Satanás usou lingua­ gem religiosa e, assim, vestiu as tentações com um manto de dignidade. Ele até citou as Escrituras (v. 10 - 11).

Como James Stewart indica com habilidade: O estudo da narrativa da tentação ilustra dois pontos importantes. De um lado, prova que a tentação não é necessariamente pecado. De ou­ tro, elucida a excelente declaração feita por um discípulo posteriormente: “Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb 2:18).11 Às vezes é sugerido que a tentação teria sido in­ significante se Jesus não fosse capaz de pecar. 0 fato é que Jesus é Deus, e Deus não pode pecar. 0 Senhor Jesus nunca abandonou quaisquer dos atributos da deidade. Ela esteve selada durante sua vida na terra, mas não foi e não poderia ser deixada de lado. Alguns dizem que, como Deus, ele não poderia pecar, mas, como homem, poderia. Mas ele continua sendo Deus e Homem, e é inconcebível que ele pudesse pecar hoje. 0 propósito da tentação não foi ver se ele pecaria, mas provar que ele não poderia pecar. Somente um Homem santo, sem pecado, poderia ser nosso Redentor. E. Preparação pelo ensino (4:14-30) 4:14-15 Entre os versículos 13-14 há um espaço de quase um ano. Durante esse tempo o Senhor minis­ trava na Judeia. O único relato desse ministério está em João 2— 5. Quando Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galileia, a fim de começar o segundo ano do seu ministério público/ sua fama correu por toda a circunvizinhança. Enquanto ensinava nas sinago­ gas judaicas, ele foi glorificado por todos. 4:16-21tf Em Nazaré, a cidade da sua juventude, Jesus entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume. Havia duas outras coisas que, lemos, ele fazia regularmente: orava (Lc 22:39) e ensinava

(Mc 10:1). Numa visita à sinagoga, ele levantou para ler as Escrituras do AT. O auxiliar lhe deu 0 pergaminho no qual a profecia de Isaías estava escrita. 0 Senhor estendeu o rolo até a parte que agora conhecemos como Isaías 61, e leu o versículo 1 e a primeira metade do 2. Essa passagem tem sido reconhecida sempre como uma descrição do ministério do Messias. Quando Jesus disse: “ Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” , ele estava dizendo da maneira mais clara possível que era o Messias de Israel. Observe as implicações revolucionárias da mis­ são do Messias. Ele veio para tratar dos enormes problemas que têm afligido a humanidade através da história: Pobreza: Levar boas notícias aos pobres (NTLH). Tristeza: Restaurar os contritos de coração (RC). Escravidão: Proclamar libertação aos cativos. Sofrimento: Consolar todos os que choram. Opressão: Pôr em liberdade os oprimidos. Enfim, ele veio apregoar o ano aceitável do Se­ nhor, o amanhecer de uma nova era para as multi­ dões no mundo que suspiravam e soluçavam. Ele se apresentou como a resposta para todos os males que nos atormentam. E se pensarmos nesses males em sentido físico ou espiritual, isto também se aplica. Cristo é a resposta. E significante que ele termine a leitura com as palavras apregoar o ano aceitável do Senhor. Ele não acrescentou as palavras restantes de Isaías: “... e o dia da vingança do nosso Deus”. 0 propósito da sua primeira vinda foi pregar o ano aceitável do Senhor. A atual época da graça é o tempo aceitável e o dia da salvação. Ao voltar à terra pela segunda vez, será para proclamar o dia da vingança do nosso Deus. Note que o tempo aceitável se refere a um ano, o tempo da vingança como um dia. 4 :2 2 Obviamente, o povo ficou impressionado. Falaram bem dele, sendo atraídos por suas palavras de graça. Era um mistério para eles como o filho de José, o carpinteiro, se desenvolvera tanto. 4:23 0 Senhor sabia que essa popularidade era superficial. Não havia apreço genuíno pela sua identi­ dade verdadeira ou do seu mérito. Para eles, Jesus era somente um dos seus jovens conterrâneos que tinha tido sucesso em Cafamaum. Ele antecipou o que lhe

11 (4:13) James S. Stew art, Life and Teaching, p. 45. +Veja “Suplementos” > “Ministério na Galileia” . t+ Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”.

diriam: Médico, cura-te a ti mesmo! Normalmente essa narração alegórica significaria: “Faça para ti mesmo o que tens feito para os outros. Cura a tua própria condição, visto que alegas curar os outros”. Mas aqui o sentido é um pouco diferente. Explica-se nas palavras seguintes: tudo o que ouvimos ter-se dado em Cafamaum, faze-o também aqui na tua terra, isto é, Nazaré. Foi um desafio desdenhoso para ele efetuar milagres em Nazaré como fizera em outra parte, e assim livrou-se da zombaria. 4:24-27 0 Senhor respondeu afirmando um princí­ pio profundo em assuntos humanos: grandes homens não são apreciados na sua própria terra. Em seguida, ele citou duas ocorrências propositais no AT, em que os profetas de Deus não foram apreciados pelo povo de Israel e, assim, foram enviados aos gentios. Quando houve grande fom e em Israel, Elias não foi mandado a qualquer viúva judia (havia muitas), mas foi enviado a uma viúva gentüica em Sidom. E, apesar de haver muitos leprosos em Israel quando Eliseu ministrava, ele não foi enviado a nenhum deles. Em vez disso, foi enviado ao gentílico Naamã, capitão do exército da Síria. Imagine o impacto das palavras de Jesus nas mentes judaicas. Mulheres, gentios e leprosos eram colocados no fim da escala social. Mas aqui o Senhor propositalmente colocou todos os três acima dos judeus descrentes! 0 que ele queria dizer era que a história do AT estava para se repetir. Apesar dos milagres, ele seria rejeitado não somente pela cidade de Nazaré, mas pela nação de Israel. Então ele se voltaria aos gentios, como Elias e Eliseu fizeram. 4:2 8 0 povo de Nazaré entendeu exatamente o que ele queria dizer. Estavam enfurecidos pela mera sugestão de mostrar favor aos gentios. 0 bispo John Charles Ryle comenta: 0 homem odeia amargamente a doutrina da so­ berania de Deus que Cristo acabara de declarar. Deus não tinha nenhuma obrigação de operar milagres entre eles”.12 4:29-30 Expulsaram-no da cidade e o levaram até ao cume do monte com a intenção de precipitá-lo de lá abaixo. Sem dúvida, isso foi instigado por Satanás como outra tentativa de destruir o Herdeiro real. Mas Jesus passou milagrosamente por entre eles, e retirou-se. Seus inimigos não tinham poder de impedilo. Até onde sabemos, ele nunca voltou a Nazaré.

12 (4:28) John Charles R y le , Expository Thoughts on the Gospels, St. Luke, 1:121.

IV. O Filho do Homem dá provas do seu poder (4:31— 5:26) A. Poder sobre um espírito imundo (4:31-37) 4:31-34 0 prejuízo de Nazaré tomou-se o lucro de Cafamaum. 0 povo na próxima cidade reconheceu que no seu ensino havia autoridade. Suas palavras eram convincentes e motivadoras. Os versículos 31-41 descrevem um típico dia de sábado na vida do Senhor. Revelam-no como alguém que domina demô­ nios e doenças. Primeiro ele entrou na sinagoga e ah encontrou um homem possesso de um espírito de demônio imundo. 0 adjetivo imundo é usado muitas vezes para descrever espíritos maus; quer dizer que eles em si mesmos são impuros e produzem impureza na vida das suas vítimas. A realidade da possessão de demônios é vista nessa passagem. Primeiro hou­ ve um grito de terror: Que temos nós contigo? Em seguida o espírito mostrou claramente que Jesus era o Santo de Deus que no devido tempo destruiria as hostes de Satanás. 4:35 Jesus lançou uma ordem dupla ao demônio: Cala-te e sai deste homem. Depois de lançar o ho­ mem por terra, mas sem lhe causar mal, o demônio obedeceu. 4 :3 6 -3 7 0 povo se admirou. 0 que havia de di­ ferente nas palavras de Jesus para que demônios imundos lhe obedecessem? Que autoridade e poder indescritível havia em suas palavras? Não era de admirar que sua fama corria por todos os lugares da circunvizinhança. Todos os milagres físicos de Jesus são imagens de milagres semelhantes que ele realizou no campo espiritual. Por exemplo, os seguintes milagres em Lucas transmitem estas lições espirituais: 1. Expulsar espíritos imundos (4:31-37) — liberta­ ção da imundícia e profanação do pecado. 2. Curar a febre da sogra de Pedro (4:38-39) — alívio da inquietação e debilidade causada pelo pecado. 3. Cura do leproso (5:12-16) — restauração da re­ pugnância e do desânimo do pecado (cf. também 17:11-19). 4. 0 homem paralítico (5:17-26) — livramento da paralisia do pecado e a possibilidade de servir a Deus. 5. A ressurreição do filho da viúva (7:11-17) — os pecadores estão mortos em transgressões e pecados, e precisam de vida (cf. tb. 8:49-56). 6. A calmaria da tempestade (8:22-25) — Cristo pode controlar as tempestades que rugem na vida dos seus discípulos.

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Legião, o endemoninhado (8:26-39) — o pecado produz violência e demência e exila os homens da sociedade civilizada. O Senhor introduz a decên­ cia, a sanidade e a comunhão com ele mesmo. A mulher que tocou na orla da sua veste (8:4348) — o empobrecimento e a depressão causados pelo pecado. A alimentação dos cinco mil (9:10-17) — um mundo pecaminoso, faminto do pão de Deus. Cristo satisfaz a necessidade através dos discí­ pulos. O filho endemoninhado (9:37-43a) — a crueldade e a violência do pecado, e o poder curador de Cristo. A mulher com o espírito de enfermidade (13:1017) ■ — o pecado desfigura e incapacita, mas o toque de Jesus traz perfeita restauração. O homem hidrópico (14:1-6) — o pecado produz desconforto, angústia e perigo. O mendigo cego (18:35-43) — o pecado cega os homens para as realidades eternas. O novo nascimento resulta em olhos abertos.

B. Poder sobre a febre (4:38-39) Agora Jesus visita um doente na casa de Simão, onde a sogra de Simão achava-se enferma, com febre muita alta. Logo que o Senhor repreendeu a febre, esta a deixou. A cura não foi somente imediata mas completa, uma vez que ela pôde se levantar e servilos. Normalmente uma grande febre deixa uma pessoa fraca e abatida. (Defensores do celibato sacerdotal acham pouco auxílio nessa passagem. Pedro foi um homem casado!) C. Poder sobre doenças e demônios (4:40-41) 4:40 Ao término do sábado, o povo estava livre da inatividade obrigatória; eles trouxeram um grande número de doentes e endemoninhados a ele. Ninguém veio em vão. Jesus curou todos os enfermos e expul­ sou os demônios. Muitos dos que hoje professam ter o dom de curas pela fé confinam seus milagres a candi­ datos pré-escolhidos. Jesus curou cada um deles. 4:41 Os demônios expulsos sabiam que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus. Mas ele não aceitaria o testemunho dos demônios. Eles devem ser silencia­ dos. Mesmo que soubessem que ele era o Messias, Deus tinha outros e melhores instrumentos para anunciar o fato. D.

Poder através da pregação itinerante (4:42-44) No dia seguinte, Jesus retirou-se para um lugar deserto perto de Cafamaum. As multidões o pro­

curaram até achá-lo. Eles instavam para que não os deixasse. Mas Jesus lhes disse que era necessário trabalhar nas outras cidades da Galileia. Então, de sinagoga em sinagoga, ele foi pregando as boasnovas do reino de Deus. O próprio Jesus era o Rei. Ele desejava reinar sobre eles. Mas primeiramente eles precisavam arrepender-se. Ele não reinaria sobre um povo que persistia nos seus pecados. Isso foi o obstáculo. Eles queriam ser salvos dos problemas políticos, mas não dos seus pecados. E.

Poder através do treinamento de outros: discípulos chamados (5:1-11) Várias lições importantes emergem desse relato simples do chamado de Pedro. 1.0 Senhor usou o barco de Pedro como púlpito para ensinar a multidão. Quando rendemos nossas pro­ priedades e possessões ao Salvador, é maravilhoso como ele as usa e nos recompensa também. 2. Ele disse a Pedro exatamente onde encontrar abundância de peixes — depois de ele e os demais tentarem toda a noite, sem sucesso. Mas o Senhor onisciente sabe onde os peixes estão. 0 serviço efetuado por nossa sabedoria e força é fútil. O se­ gredo do sucesso do trabalho cristão é ser guiado por Jesus. 3. Mesmo sendo um pescador experiente, Pedro aceitou o conselho de um carpinteiro (sob a tua palavra lançarei as redes) e, como resultado, as redes encheram. Isso mostra o valor da humildade, a capacidade de ensinar e a obediência implícita. 4. Foi onde as águas são mais fundas (NVI) que as redes se encheram a ponto de romper. Portanto, devemos parar de ficar perto da praia e lançarnos na maré alta, em plena submissão. A fé tem suas águas profundas, como sofrimento, tristeza e perda. São esses que enchem as redes em grande quantidade. 5. As redes começaram a romper e os barcos a ir a pique (v. 6-7). O serviço dirigido por Cristo produz problemas — mas que problemas deliciosos! Fazem vibrar o coração de um verdadeiro pescador. 6. Essa visão da glória do Senhor Jesus produziu em Pedro um fortíssimo senso da sua indignidade. Foi assim com Isaías (6:5); é assim com todos os que enxergam o Rei na sua beleza. 7. Foi enquanto Pedro estava no seu trabalho diário que Cristo o chamou para ser pescador de homens. Enquanto está esperando para receber orientação, faça o que vem à sua mão para fazer. Faça-o com toda a sua força. Faça-o de todo coração como para o Senhor. Como o leme guia o navio apenas quando

em movimento, assim Deus guia os homens quando estão ativos. 8. Cristó dissuadiu Pedro de pescar peixes para pescar homens, ou mais literalmente, “alcançar homens vivos”. Qual o valor de todos os peixes no oceano em comparação com o privilégio incompa­ rável de ver uma alma ganha por Cristo e para a eternidade? 9. Pedro, Tiago e João arrastaram seus barcos sobre a praia e, deixando tudo, seguiam a Jesus num dos melhores dias de negócios da vida deles. E quanto dependia da sua decisão! Provavelmente nunca teríamos ouvido deles se tivessem escolhido ficar com os barcos. F. Poder sobre a lepra (5:12-16) 5:12 Doutor Lucas faz menção especial do fato de que esse homem estava coberto de lepra. Era um caso avançado e sem esperança, humanamente falando. A fé do leproso era notável. Ele disse: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. Ele não poderia ter dito isso a qualquer outro homem no mundo. Mas ele tinha absoluta confiança no poder do Senhor. Quando ele disse se quiseres, ele não estava expressando dúvida sobre a vontade de Cristo. Antes, ele chegava como um suplicante, sem direito próprio a ser curado, mas se lançando na misericórdia e graça do Senhor. 5:13 Tocar num leproso era perigoso do ponto de vista da medicina; da perspectiva religiosa, era cor­ rupção; e era rebaixar-se socialmente. Mas o Salvador não contraiu nenhuma contaminação. Em vez disso, surgiu no corpo do leproso uma cascata de cura e saú­ de. Não foi uma cura gradual: E, no mesmo instante, lhe desapareceu a lepra. Pense o que significava para aquele leproso sem esperança e desamparado ser curado completamente num momento! 5:14 Ordenou-lhe Jesus que a ninguém o disses­ se com respeito à cura. 0 Salvador não queria atrair uma multidão de curiosos, ou agitar um movimento popular para fazê-lo Rei. Em vez disso, ordenou ao leproso: mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o sacrifício determinado por Moisés (Lv 14:4). Cada detalhe da oferta falava de Cristo. Era a função do sacerdote examinar o leproso e determinar se ele havia sido curado. 0 sacerdote não podia curar, ele somente podia pronunciar que um homem estava curado. Esse sacerdote nunca tinha visto um leproso curado antes. 0 fato era singular; deveria ter feito o sacerdote reconhecer que o Messias havia aparecido finalmente. Deveria ter sido um testemunho para todos os sacerdotes. Mas o coração deles era cego devido à incredulidade.

5:15-16 Apesar das instruções do Senhor para não divulgar o milagre, a notícia correu rapidamente, e grandes multidões afluíam a ele para serem curadas. Jesus muitas vezes se retirava para lugares solitá­ rios para orar. É apropriado que esse evangelho, que o apresenta como o Filho do Homem, tenha mais a dizer da vida de oração que qualquer outro. G. Poder sobre a paralisia (5:17-26) 5 :1 7 Como as notícias do ministério de Jesus se espalharam, a hostilidade dos fariseus e mestres da lei aumentava. Aqui os encontramos reunidos na Galileia com o propósito óbvio de encontrar alguma acusação contra ele. 0 poder do Senhor estava com ele para curar os doentes. Embora na verdade Jesus sempre tivesse poder de curar, as circunstâncias nem sempre eram favoráveis. Em Nazaré, por exemplo, ele não pôde fazer muitos milagres por causa da incredulidade do povo (Mt 13:58). 5:18-19 Quatro homens trouxeram um paralítico em um leito à casa onde Jesus estava ensinando. Eles não podiam chegar perto dele por causa da multi­ dão; então subiram ao telhado pela escada externa. Em seguida, desceram o homem no leito por meio de uma abertura que fizeram ao remover algumas telhas do telhado. 5:20-21 Jesus reparou a fé que fazia tanto para trazer um caso tão necessitado à sua atenção. Vendolhes a fé, isto é, a fé dos quatro e do doente, Jesus disse ao paralítico: Homem, estão perdoados os teus pecados. Essa declaração sem precedente inci­ tou os escribas e fariseus. Eles sabiam que ninguém senão Deus podia perdoar pecados. Relutantes em admitir que Jesus era Deus, eles promoveram a exclamação de blasfêmia. 5 :2 2 -2 3 0 Senhor continuou a provar a eles que de fato havia perdoado os pecados do homem. Primeiro ele lhes perguntou se era mais fácil dizer “Estão perdoados os teus pecados” ou “ Levantate, toma o teu leito e vai para casa” ? Em certo sentido, é tão fácil dizer uma coisa como a outra, difícil é fazer qualquer um dos dois, sendo que am­ bos são humanamente impossíveis. A questão aqui parece ser que é mais fácil dizer “Estão perdoados os teus pecados” porque não há meio de saber o que aconteceu realmente. Dizer: “ Levanta-te e anda” é fácil de se verificar. Os fariseus não podiam ver se os pecados do homem foram perdoados, então não creram. Consequente­ mente, Jesus realizou um milagre que eles pudessem ver para provar-lhes que ele de fato havia perdoado os pecados do homem. Ele deu ao paralítico o poder de andar.

5:24 Mas, para que saibais que o Filho do Ho­ mem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados — o título o Filho do Homem enfatiza a perfeita humanidade do Senhor. Em certo sentido, somos todos filhos do homem, mas esse título “o Filho do Homem” separa Jesus de qualquer outro homem que já viveu. Descreve-o como um Homem conforme Deus, alguém que é moralmente perfeito, que sofre­ ria, que derramaria seu sangue e morreria, e alguém a quem o senhorio universal tem sido dado. 5:25 Em obediência à sua palavra, o paralítico levantou, carregou o pequeno leito e voltou para casa, glorificando a Deus. 5:26 Todos ficaram atônitos e davam glória a Deus, reconhecendo que tinham visto coisas incríveis naquele dia, a saber, o pronunciamento de perdão e o milagre que o provou.

V.

O Filho do Homem explica seu ministério (5:27— 6:49)

A. A chamada de Levi (5:27-28) Levi, um judeu, era cobrador de impostos para o governo romano. Tais homens eram odiados por seus contemporâneos judeus, não somente por causa dessa colaboração com Roma, mas pelas práticas de­ sonestas. Certo dia, enquanto Levi trabalhava, Jesus passou e o convidou para ser seu seguidor. Com sur­ preendente prontidão, Levi deixou tudo, levantou-se e o seguiu. Pense nas conseqüências tremendas que seguiram aquela simples decisão. Levi, ou Mateus, tomou-se o escritor do primeiro evangelho. Vale a pena ouvir seu chamado e o seguir. B.

Por que o Filho do Homem chama pecadores (5:29-32) 5:29-30 Foi sugerido que Levi tinha três propósi­ tos ao organizar esse grande banquete. Ele queria honrar o Senhor, testemunhar publicamente sua nova submissão e apresentar seus amigos a Jesus. A maioria dos judeus não comeria com um grupo de cobradores de impostos. Jesus comia com os publi­ canos e pecadores. Naturalmente ele não participava com eles nos seus pecados, ou fez qualquer coisa que comprometesse seu testemunho, mas ele usou essas ocasiões para ensinar, repreender e abençoar. Os fariseus e seus escribas13 criticaram Jesus por se associar com esse povo desprezado, a escória da sociedade. 5:31 Jesus respondeu que sua ação estava em perfeito acordo com seu propósito em vir ao mundo. Pessoas sadias não precisam de médico, e sim os doentes.

5 :32 Os fariseus se consideravam justos. Eles não tinham nenhum senso profundo de pecado ou necessidade. Como conseqüência, não podiam se beneficiar do ministério do Grande Médico. Mas esses cobradores de impostos e pecadores reconheceram que eram pecadores e que precisavam ser salvos dos seus pecados. Foi para tais pessoas que o Salvador veio. Em verdade, os fariseus não eram justos. Eles precisavam ser salvos tanto quanto cobradores de impostos. Mas estavam relutantes em confessar seus pecados e reconhecer sua culpa. E assim eles criticaram o Médico por ir às pessoas que estavam seriamente doentes. C.

A falta de jejum dos discípulos de Jesus é explicada (5:33-35) 5:33 A próxima tática dos fariseus foi interrogar Jesus sobre o costume de jejuar. Afinal, os discípulos de João Batista seguiram a vida ascética do seu mes­ tre. E os discípulos dos fariseus observavam vários jejuns cerimoniais. Mas com os discípulos de Jesus não era assim. Por que não? 5:34-35 0 Senhor respondeu de fato que não havia razão para seus discípulos jejuarem enquanto ele ainda estava com eles. Aqui ele associa o jejuar com tristeza e luto. Quando lhes fosse tirado, isto é, com violência, na morte, eles jejuariam como expressão da sua tristeza. D.

Três parábolas sobre a nova dispensação (5:36-39) 5:36 Três parábolas ensinam que uma nova dispen­ sação havia começado, e não poderia haver mistura da nova com a velha. Na primeira parábola, a veste velha fala do siste­ ma legal ou dispensacional, enquanto a veste nova exemplica a era da graça. Elas são incompatíveis. Uma tentativa de misturar a lei e a graça resulta no estrago de ambas. Um pedaço tirado duma veste nova estraga a nova, e não se ajustará à velha tanto em aparência como em durabilidade. John Nelson Darby explica bem: “Jesus não faria tal coisa como juntar cristianismo ao judaísmo. Carne e lei vão juntos, mas graça e lei, a justiça de Deus e do homem, nunca se misturam”. 5:37-38 A segunda parábola ensina a loucura de colocar vinho novo em odres velhos. A fermentação do vinho novo causa pressão nos odres que não têm flexibilidade e elasticidade para resistir. Os odres se

13 (5:29-30) 0 texto (NU) também traz essa expressão, significando aqueles escribas que tinham uma posição farisaica.

rompem e o vinho é derramado. As formaS antiquadas, as ordenanças, as tradições e os rituais do judaísmo eram rígidos demais para conter a alegria, a exuberância e a energia da nova dispensação. O vinho novo é visto neste capítulo como os métodos não convencionais dos quatro homens que trouxeram o paralítico a Jesus. É vis­ to no frescor e zelo de Levi. Os odres velhos descrevem o formalismo enfadonho e frio dos fariseus. 5:39 A terceira parábola indica que ninguém, tendo bebido o vinho velho, prefere o novo. Ele diz: O ve­ lho é excelente. Isso descreve a relutância natural dos homens em abandonar o velho pelo novo, juda­ ísmo pelo cristianismo, lei pela graça, sombras pela substância! Como Darby diz: “Um homem acostumado com fórmulas, arranjos humanos, religião do pai etc. nunca gosta do novo princípio e poder do reino”. E.

O Filho do Homem é senhor do sábado (6 : 1-11 )

6:1-2 Dois episódios relativos ao sábado são apresen­ tados agora, mostrando que o aumento da oposição dos líderes religiosos estava chegando ao apogeu. O primeiro ocorreu no “segundo primeiro sábado” (tradução literal). Explica-se a seguir: o primeiro sá­ bado foi o depois da Páscoa. 0 segundo foi o próximo depois daquele. No segundo sábado depois do primeiro, o Senhor e seus discípulos passaram pelas searas. Os discípulos colhiam algumas espigas, e debulhando-as com as mãos, comiam. Os fariseus não podiam discutir sobre o fato de as espigas serem colhidas; isso era permitido pela lei (Dt 23:25). A censura era por fazê-lo no sábado. Às vezes chamavam de colheita o ato de apanhar espigas e de debulha o ato de esfregá-las (v. RC). 6:3-5 A resposta do Senhor, usando um aconteci­ mento da vida de Davi, foi que a lei do sábado nunca teve a intenção de proibir um serviço de necessidade. Rejeitado e perseguido, Davi e os seus homens esta­ vam famintos. Davi entrou na casa de Deus e comeu os pães da proposição, que normalmente eram reser­ vados para os sacerdotes. Deus fez uma exceção no caso de Davi. Havia pecado em Israel. O rei foi rejeita­ do. A lei em relação aos pães da proposição nunca foi planejada para ser observada com tanto rigor a ponto de permitir que o rei de Deus passasse fome. Aqui havia uma situação semelhante. Cristo e seus discípulos estavam com fome. Os fariseus preferiam vê-los morrer de fome a colher espigas no sábado. Mas o Filho do Homem é também senhor do sába­ do. Antes de tudo, foi ele quem dera a lei, e ninguém estava melhor qualificado que ele para interpretar seu sentido verdadeiro e espiritual e evitar mal­ entendidos.

6:6-8 Um segundo episódio acontecido em outro sábado foi uma cura milagrosa. Os escribas e os fariseus observavam Jesus de forma cuidadosa e maliciosa para ver se ele faria a cura do homem cuja mão direita estava ressequida no sábado. Devido às experiências anteriores com Jesus e ao fato de ele conhecê-los, estavam certos de que ele o curaria. 0 Senhor não os desapontou. Primeiro ele pediu ao ho­ mem para levantar e ficar de pé no meio da multidão na sinagoga. Essa ação dramática prendeu a atenção de todos ao que estava para acontecer. 6:9 Então, Jesus perguntou aos seus críticos: É lícito, no sábado, fazer o bem ou mal? Se respon­ dessem corretamente, eles precisariam dizer que estava certo fazer bem no sábado, e errado fazer o mal. Se fosse certo fazer o bem, então ele fazia bem curando o homem. Se fosse errado fazer o mal no sábado, então eles estavam quebrando o sábado conspirando contra o Senhor Jesus. 6 :1 0 Não houve resposta dos adversários. Em seguida, Jesus pediu ao homem para estender a mão ressequida. (Somente o médico Lucas menciona que foi a mão direita.) Junto com a ordem veio o poder necessário. Ao obedecer, a mão lhe foi restaurada. 6:11 Os fariseus e escribas se encheram de furor. Queriam condenar Jesus por quebrar o sábado. Ele somente falou umas palavras e o homem foi cura­ do. Nenhum trabalho servil foi envolvido. Contudo, eles conspiraram juntos cogitando como poderiam “apanhá-lo”. 0 sábado foi designado por Deus para o bem do homem. Quando entendido de forma correta, não proibia um serviço de necessidade ou um ato de misericórdia. F. Doze discípulos escolhidos (6:12-19) 6:1 2 Jesus passou a noite toda orando a Deus antes de escolher os doze. Que repreensão isso é para nossos atos impulsivos e nossa independência de Deus! Lucas é o único evangelista que menciona essa noite de oração. 6:13-16 Os doze que ele escolheu dentre o círculo maior dos discípulos eram: 1. Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, filho de Jonas, e um dos mais proeminentes dos apóstolos. 2. André, seu irmão. Foi André quem apresentou Pedro ao Senhor. 3. Tiago, filho de Zebedeu. Ele foi privilegiado ao ir com Pedro e João ao monte da Transfiguração. Ele foi morto por Herodes Agripa I. 4. João, filho de Zebedeu. Jesus chamou Tiago e João de “Filhos do Trovão”. Foi esse mesmo João

que escreveu o evangelho, as epístolas que levam o seu nome e o Apocalipse. 5. Filipe, natural de Betsaida, que apresentou Natanael a Jesus. M o deve ser confundido com Filipe, o evangelista, de Atos. 6. Bartolomeu, geralmente compreendido como outro nome para Natanael. Ele é mencionado somente na lista dos doze. 7. Mateus, o cobrador de impostos, também cha­ mado Levi. Ele escreveu o primeiro evangelho. 8. Tomé, também chamado Gêmeo. Ele disse que não creria que o Senhor havia ressuscitado até ver alguma evidência conclusiva. 9. Tiago, filho de Alfeu, talvez fosse aquele que tomou o lugar de responsabilidade na igreja em Jerusalém depois que Tiago, o filho de Zebedeu, foi morto por Herodes. 10. Simão, chamado Zelote. Pouco é conhecido dele, pelas Sagradas Escrituras. 11. Judas, o filho de Tiago. Possivelmente o mesmo Judas, autor da epístola; geralmente acredita-se ser Lebeu, cujo sobrenome era Tadeu (Mt 10:3; Mc 3:18). 12. Judas Iscariotes presume-se ser de Queriote, em Judá, assim, o único dos apóstolos que não era da Galileia. 0 traidor do nosso Senhor, ele foi chamado por Jesus de “filho da perdição”. Nem todos os discípulos eram homens de grande intelecto ou habilidade. Eram uma mostra represen­ tativa da humanidade. 0 que os tomou grandes foi seu relacionamento com Jesus e sua dedicação a ele. Provavelmente eram jovens entre vinte e trinta anos quando o Senhor os escolheu. A juventude é a época que os homens são mais zelosos, prontos a receber instrução e mais capazes de suportar fadiga. Jesus selecionou somente doze discípulos. Estava mais interessado em qualidade que em quantidade. Dadas as características apropriadas dos homens, Jesus poderia enviá-los pelo processo de reprodução espi­ ritual, eles poderiam evangelizar o mundo. Uma vez escolhidos os discípulos, era importante que fossem bem treinados nos princípios do reino de Deus. 0 restante desse capítulo é dedicado a um re­ sumo do tipo de caráter e comportamento que deveria ser achado nos discípulos do Senhor Jesus. 6:17-19 0 discurso apresentado aqui não é idêntico ao Sermão do Monte (Mt 5— 7). Aquele foi transmiti­ do numa montanha; este, muna planura. Aquele tinha bênçãos, mas não pesares; este tem ambos. Há outras diferenças: palavras, extensão, ênfase.14 Observe que essa mensagem de discipulado ri­ goroso foi dada tanto à multidão quanto aos doze.

Parece que sempre que uma grande multidão seguia Jesus, ele provava sua sinceridade por falar-lhes asperamente. Como alguém disse: “Cristo primeiro convence, depois peneira”. Muitas pessoas tinham vindo de toda a Judeia e Jerusalém no sul, de Tiro e Sidom no noroeste, tanto gentios como judeus. Doentes e endemoninhados che­ garam perto para tocar em Jesus, porque eles sabiam que saía poder dele para curar. E muito importante reconhecer quão revolucioná­ rios são os ensinos do Salvador. Lembre-se de que ele ia à cruz. Ele morreria, seria sepultado, ressuscitaria no terceiro dia e voltaria ao céu. As boas-novas da salvação gratuita devem ser dadas ao mundo. A redenção dos homens dependia de ouvirem a men­ sagem. Como seria possível evangelizar o mundo? Líderes astutos organizariam um vasto exército, providenciariam recursos, um generoso fornecimento de alimento, diversão para o moral dos homens e boas relações públicas. G. Beatitudes e ais (6:20-26) 6 :20 Jesus escolheu doze discípulos e os enviou pobres, famintos e oprimidos. Será que o mundo pode ser evangelizado daquela maneira? Sim, e de nenhuma outra forma! 0 Salvador começou com quatro bênçãos e quatro ais: Bem-aventurados vós, os pobres. Não bem-aventurados são os pobres, mas bem-aventurados vós, os pobres. Pobreza em si não é bênção; muitas vezes é maldição. Aqui Jesus estava falando de uma pobreza escolhida por causa dele. Ele não estava se referindo a pessoas que são pobres por causa de preguiça, tragédia ou razões fora do seu controle. Antes, ele se referia aos que propositadamente escolheram ser pobres para poder compartilhar seu Salvador com outros. Pensar nisso é a única aproximação sensata e razoável. Vamos su­ por que os discípulos tivessem partido como homens ricos. 0 povo teria se congregado atrás da bandeira de Cristo na esperança de tomar-se rico. No entanto, os discípulos não podiam lhes prometer prata e ouro. Se seguissem, seria à procura de bênção espiritual. Além disso, se os discípulos tivessem sido ricos, eles não teriam obtido a bênção da dependência constante do Senhor e de provar sua fidelidade. 0 reino de Deus pertence aos que são satisfeitos com o suprimento das suas necessidades diárias para que tudo mais possa ser usado no serviço do Senhor.

14 (6:17-19) Muitos estudiosos, no entanto, acreditam que a planura fosse uma superfície achatada no lado da montanha e que as diferen­ ças se devem à condensação, escolha da ênfase dada por Mateus e Lucas e a ajustes de redação (tudo inspirado por Deus).

6:21 Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome. Mais uma vez isso não diz respeito às vastas multidões da humanidade que sofrem de má nutrição. Antes, refere-se aos discípulos de Jesus Cristo que deliberadamente adotam uma vida de abnegação para poder ajudar a aliviar a necessidade humana, tanto espiritual como física. São pessoas que estão prontas a viver uma vida simples e econômica antes de privar outras do evangelho por causa da sua indulgência. Tal abnegação será recompensada no futuro. Bem-aventurados vós, os que agora chorais. Não é que a tristeza em si seja uma bênção; o chorar de descrentes não tem benefício duradouro em relação a isso. Aqui Jesus está falando acerca de lágrimas der­ ramadas por sua causa. Lágrimas pela humanidade perdida. Lágrimas por causa da divisão e impotência da igreja. Todo sofrimento suportado por servir o Senhor Jesus Cristo. Os que semeiam em lágrimas segarão em alegria. 6:22 Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem, vos inju­ riarem e rejeitarem o vosso nome como indigno. Essa bênção não é para os que sofrem por causa dos próprios pecados ou da própria estupidez. É para os que são desprezados, excomungados, censurados e difamados por causa da sua lealdade a Cristo. A chave para o entendimento dessas quatro beatitudes se acha na frase por causa do Filho do Homem. Coisas que em si seriam maldição tornam-se bênção quando suportadas voluntariamente por causa dele. Mas o motivo deve ser amor a Cristo, senão os sacri­ fícios mais heroicos são sem valor. 6:23 Perseguição por Cristo é uma razão para grande regozijo. Primeiro, trará um grande galardão no céu. Segundo, associa o sofredor com as fiéis testemunhas do Senhor do passado. As quatro bênçãos descrevem a pessoa ideal no reino de Deus: aquele que vive de modo sacrificial, austero, sóbrio, que suporta tudo. 6 :24 Mas, em contraste, os quatro ais apresen­ tam os que são menos estimados na nova sociedade de Cristo. Tragicamente, são os mesmos que são contados como grandes no mundo hoje! Ai de vós, os ricos! Há problemas sérios e morais em relação ao acúmulo de riquezas num mundo onde milhares morrem todos os dias de fome e onde muitas pessoas são privadas das boas-novas da salvação pela fé em Cristo. Essas palavras do Senhor Jesus deveriam ser cuidadosamente analisadas pelos cristãos que são

15 (6:26) A maioria dos manuscritos omite “todos”, uma indicação de que apenas alguns elogiariam os transigentes.

tentados a acumular tesouros na terra, amontoar e mesquinhar para um dia futuro. Agir assim é viver para o mundo errado. De fato, esse ai para os ricos prova conclusivamente que quando o Senhor disse “Bem-aventurados vós, os pobres” (v. 20) ele não que­ ria dizer pobre de espírito. Caso contrário, o versículo 24 teria que significar “Ai de vós, ricos de espírito”, e tal sentido está fora de cogitação. Os que têm ri­ quezas e falham em não usar para o enriquecimento etemal dos outros já têm recebido a única recompensa que receberão: a gratificação egoísta e presente dos seus desejos. 6:25 Ai de vós, os que estais agora fartos! Esses são os crentes que comem em restaurantes chiques, que comem os alimentos mais finos, que não poupam despesas em relação aos mantimentos. 0 seu lema é: “Nada é bom demais para o povo de Deus!”. 0 Senhor diz que eles terão fome num dia futuro, isto é, quando os galardões serão distribuídos para o discípulo fiel. Ai de vós, os que agora rides! Esse ai visa as pessoas cujas vidas são um círculo contínuo de diver­ sões, passatempos e prazeres. Eles agem como se a vida fosse feita para brincadeira e gracejo e parecem esquecidos da condição desesperada dos homens sem Cristo. Os que agora estão rindo, hão de lamentar e chorar quando considerarem as oportunidades perdidas, as indulgências egoístas e o próprio empo­ brecimento espiritual. 6:26 Ai de vós, quando todos15 vos louvarem! Por quê? Porque é um sinal certo de que você não está vivendo como deve, ou proclamando a mensagem com fidelidade. E da própria natureza do evangelho ofender os ímpios. Os que recebem aplausos do mun­ do são companheiros dos falsos profetas do AT, que afagavam o ouvido do povo, contando-lhes o que eles queriam ouvir. Eles estavam mais interessados no favor dos homens que no louvor a Deus. H.

A arma secreta do Filho do Homem (6:27-38) 6:27-29a Agora o Senhor Jesus revela aos discípulos uma arma secreta do arsenal de Deus: o amor. Essa será uma das armas mais efetivas ao evangelizar o mundo. Porém, quando fala de amor, não está se re­ ferindo à emoção humana, mas ao amor sobrenatural. Somente os que são nascidos de novo podem conhecer ou exibir esse amor. É absolutamente impossível para qualquer pessoa que não tenha o Espírito Santo. Um assassino pode amar os próprios filhos, mas não se trata do amor concebido por Jesus. Um é afeição humana, o outro é amor divino. 0 primeiro precisa somente de vida física; o segundo, de vida divina. 0 primeiro é questão de emoções; o segundo, de

vontade. Qualquer pessoa pode amar os amigos, mas precisa de poder sobrenatural para amar os inimigos. E esse é o amor (no grego ágape) do NT. Isso significa fazer o bem aos que nos odeiam: abençoar aos que nos maldizem, orar pelos que nos caluniam, e sem­ pre oferecer a outra face. Frederick Brotherton Meyer explica: No sentido mais profundo, o amor é o requisito do cristianismo. Sentir pelos inimigos o que outros sentem pelos amigos; descer como chuva e raios solares sobre os injustos como também sobre os justos; ministrar aos que não são ca­ tivantes e atrativos como os outros m in is t r a m aos que são atraentes e simpáticos; ser sempre o mesmo, não sujeito aos temperamentos, ou fantasias, ou caprichos; tudo sofre; não leva em conta o mal; regozija-se com a verdade; tudo suporta; tudo crê; tudo espera; tudo aguenta; falhar nunca — isso é amor, e tal amor é reali­ zação do Espírito Santo. Não podemos realizá-lo nós mesmos.16 Tal amor é imbatível. 0 mundo em geral pode conquistar o homem que resiste. Está acostumado à guerra na selva e ao princípio de retaliação. Mas o mundo não sabe como proceder com a pessoa que retribui cada injúria com bondade. Fica absolutamen­ te confuso e desorganizado com tal comportamento de outro mundo. 6:29b-31 Quando sua capa lhe é roubada, o amor oferece sua túnica também. O amor nunca recusa ajudar qualquer caso genuíno de necessidade. Ao ser privado injustamente da sua propriedade, não pede que seja devolvida. A regra de ouro é tratar os outros com a mesma gentileza e consideração que gostaria de ser tratado. 6:32-34 Homens descrentes podem amar os que os amam. Isso é o comportamento natural, e tão comum que não causa qualquer impacto no mundo dos homens descrentes. Bancos e companhias de empréstimos emprestarão dinheiro com a esperança de receber juros. Isso não precisa de vida divina. 6:35 Como conseqüência, Jesus repetiu que deve­ mos amar os inimigos, fazer o bem e emprestar, sem esperar nenhum retomo. Tal comportamento é distintamente cristão e marca os que são os filhos do Altíssimo. Essa com certeza não é a maneira de os homens se tomarem filhos do Altíssimo; isso só pode acontecer ao receberem Jesus Cristo como Senhor e Salvador (Jo 1:12). Mas essa é a maneira de crentes verdadeiros se manifestarem ao mundo como filhos

de Deus. Deus nos tratou da forma descrita nos versículos 27-35. Ele é benigno até para com os ingratos e maus. Quando agimos assim, manifesta­ mos a semelhança da família. Mostramos que fomos nascidos de Deus. 6:36 Ser misericordioso quer dizer perdoar quan­ do a vingança está a nosso alcance. 0 Pai nos mosT trou misericórdia por não nos dar o castigo que merecíamos. Ele quer que mostremos misericórdia aos outros. 6 :3 7 Há duas coisas que o amor não faz: não julga e não condena. Jesus disse: Não julgueis e não sereis julgados. Primeiro, não devemos julgar os motivos dos outros. Não podemos ler o coração e, dessa forma, não podemos saber por que uma pessoa age assim. Em seguida, não devemos julgar a administração ou o serviço de outro cristão (ICo 4:1-5). Deus é o Juiz em tais casos. E em geral não devemos ser críticos. Um espírito de censura e re­ preensão viola a lei de amor. Há certas áreas, porém, nas quais os cristãos devem julgar. Muitas vezes devemos julgar se outras pessoas são verdadeiros cristãos; senão nunca poderíamos reconhecer um jugo desigual (2Co 6:14). 0 pecado deve ser julga­ do no lar e na igreja. Enfim, devemos julgar entre bem e mal, mas não devemos refutar os motivos ou assassinar o caráter. Perdoai e sereis perdoados. Isso torna nosso perdão dependente da nossa vontade de perdoar. Mas parece que outras Escrituras ensinam que quando recebemos Cristo pela fé somos perdoados livre e incondicionalmente. Como podemos reconciliar essa aparente contradição? A explicação é que estamos falando de dois tipos diferentes de perdão: judicial e paterno. Perdão judicial é aquele concedido por Deus, o Juiz, a todos os que creem no Senhor Jesus Cristo. Quer dizer que a penalidade dos pecados foi paga por Cristo e o pecador redimido não vai precisar pagar. É incondicional. Perdão paterno é aquele que é concedido por Deus, o Pai, ao filho errante quando ele confessa e abandona o pecado. Isso resulta na restauração e comunhão na família de Deus, e não tem nada a ver com a penalidade do pecado. Como Pai, Deus não pode nos perdoar quando não estamos prontos a perdoar uns aos outros. Ele não age assim, e não pode andar em comunhão com os que agem dessa forma. É ao perdão patemo que Jesus se refere nas palavras e sereis perdoados.

6:38 0 amor se manifesta no dar (cf. Jo 3:16; Ef 5:25). O ministério do cristão é dispendioso. Os que dão generosamente são recompensados generosa­ mente. O quadro é de um homem com um avental que usa para levar sementes. Quanto mais vasta sua semeadura, maior a colheita. Ele é recompensado com boa medida, recalcada, sacudida, trasbordante. Ele o recebe no seu seio, isto é, no avental que usa. É um princípio fixo na vida: ceifamos conforme semeamos, nossas ações reagem sobre nós, a mesma medida que usamos com os outros será para nós. Se semear­ mos coisas materiais, ceifaremos tesouros espirituais de valor inestimável. É também verdade que o que guardamos perdemos; e o que damos temos. I. A parábola do cego hipócrita (6:39-45) 6:39 Na divisão anterior, o Senhor Jesus ensinou que os discípulos teriam um ministério de doação. Agora ele avisa que o grau em que eles podem ser uma bênção aos outros é limitado pela condição espiritual deles. Um cego não pode guiar a outro cego; ambos cairiam no barranco. Não podemos dar o que nós não temos. Se somos cegos a certas verdades da palavra de Deus, não podemos ajudar a outros nessas áreas. Se houver pontos escuros na nossa vida espiritual, podemos ter a certeza de que haverá pontos escuros na vida dos nossos discípulos. 6:40 0 discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído será como o seu mestre. Uma pessoa não pode ensinar o que ela não sabe. Ela não pode guiar os seus dis­ cípulos a um nível mais alto do que ela mesma tem atingido. Quanto mais ela os ensina, mais eles se tornam como ela. Mas o seu grau de crescimento forma o limite superior ao qual ela pode levá-los. Um estudante é treinado perfeitamente como um discípulo quando ele se toma como seu mestre. Deficiências na doutrina ou na vida do ensinador serão transferidas para a vida de seus alunos, e quando a instrução é completada os discípulos não podem chegar acima do mestre. 6:41-42 Essa verdade importante é ainda mais definida na ilustração do argueiro e da trave. Certo dia um homem estava passando ao lado de uma eira onde o cereal estava sendo debulhado. De repente, um vento levanta um pedacinho de palha que entra no seu olho. Ele esfrega o olho para livrar-se da irrita­ ção, mas quanto mais esfrega mais irritado se toma. Nesse instante, outro homem aparece, vê a aflição do primeiro, e oferece ajuda. Mas esse homem tem uma trave saindo do seu próprio olho! Ele quase não pode ajudar porque não pode ver o que está fazendo. A lição óbvia é que um professor não pode falar aos

seus alunos acerca de defeitos na vida deles se ele tem os mesmos defeitos numa medida exagerada na própria vida, até agora não os vendo. Se vamos ser uma ajuda aos outros, nossa vida deve estar num estado exemplar. De outro modo, nos dirão: “Médico, cura-te a ti mesmo”. 6:43-45 A quarta ilustração que o Senhor usa é a árvore e seu fruto. Uma árvore produz fmto, bom ou mau, dependendo do que é em si mesma. Julgamos uma árvore pelo tipo e pela qualidade do fmto que produz. Assim é na área do discipulado. Um homem que é moralmente puro e espiritualmente sadio pode produzir bênção para os outros do bom tesouro do seu coração. Em contrapartida, um homem que é basicamente impuro somente tira o mal. Assim, nos versículos 39-45, o Senhor informa aos discípulos que o seu ministério vai ser um ministério de caráter. 0 que eles são é mais importante que qualquer coisa que podem dizer ou fazer. 0 resultado final do seu serviço será determinado pelo que são em si mesmos. J. 0 Senhor requer obediência (6:46-49) 6:46 Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando? A palavra Senhor quer dizer mestre; isso significa que ele tem completa autoridade sobre nossa vida, que pertencemos a ele e que somos obrigados a fazer o que ele fala. Chamá-lo Senhor e depois falhar em obedecer-lhe é ridiculamente contra­ ditório. 0 mero reconhecimento do seu senhorio não é o bastante. Verdadeiro amor e fé envolvem obediência. Não o amamos em verdade nem cremos nele verdadei­ ramente se não fizermos o que ele manda. Vós me chamais o “Caminho” , e não andais comigo, Vós me chamais a “Vida”, e não viveis de acor­ do. Vós me chamais “Mestre”, e não me obedeceis. Se eu vos condeno, não me culpeis. Vós me chamais o “Pão”, e não vos alimentais de mim. Vós me chamais a “Verdade”, e não credes em mim. Vós me chamais “Senhor”, e não me servis. Se eu vos condeno, não me culpeis. Geoffrey 0 ’Hara 6:47-49 Para reforçar essa importante verdade, o Senhor conta a história de dois construtores. Aplica­ mos em geral essa história à evangelização; dizemos que o homem sábio representa aquele que crê e é salvo; o néscio é aquele que rejeita Cristo e é perdido.

Essa é, com certeza, uma aplicação válida. Mas se interpretamos a história no seu contexto descobrimos que existe um sentido mais profundo. 0 sábio é aquele que vem a Cristo (salvação), e que ouve suas palavras (instrução) e que as cumpre (obediência). Ele é aquele que edifica sua vida em tais princípios de discipulado cristão como se acha nesse capítulo. Essa é a maneira certa de edificar uma vida. Quando a casa é arrojada pelas enchentes e rios, fica firme porque é alicerçada sobre a rocha: Cristo e seus ensinos.17 0 néscio é aquele que ouve (instrução), mas não consegue seguir o ensino (desobediência). Ele edifica a sua vida no que pensa ser o melhor, seguindo os princípios camais deste mundo. Quando as tempes­ tades da vida se enfurecem, a sua casa, que é sem alicerces, desaba. A sua alma pode ser salva, mas a sua vida é perdida. 0 sábio é o homem que é pobre, que está com fome, que chora e que é perseguido, tudo por causa do Filho do Homem. 0 mundo chamaria tal pessoa de néscia; Jesus chama-lhe sábia. 0 néscio é aquele que é rico, come de forma luxuo­ sa, vive jovialmente e é popular. 0 mundo chama-lhe sábio; Jesus lhe chama néscio.

VI. O Filho do Homem amplia seu ministério (7:1— 9:50) A. A cura do servo do centurião (7:1-10) 7:1-3 Ao concluir seu discurso, Jesus deixou a multi­ dão e entrou em Cafamaum. Ah ele estava cercado pelos anciãos dos judeus, que vieram pedir auxílio para o servo de um centurião gentílico. Parece que esse centurião era especialmente bondoso com os ju­ deus, a ponto de construir um templo para eles. Como todos os outros centuriões no NT, ele é apresentado como benquisto (Lc 23:47; At 10:1-48). É raro para um mestre mostrar-se tão bondoso para com um escravo como esse centurião. Quando o servo ficou doente, o centurião pediu aos anciãos dos judeus para implorar que Jesus o curasse. Esse é o único relato sobre um oficial romano que procurou bênção de Jesus a favor de um servo. 7:4-7 Os anciãos do povo achavam-se numa po­ sição estranha. Eles não acreditavam em Jesus; todavia, sua amizade para com o centurião forçava-os a ir a Jesus num tempo de necessidade. Acerca do cen­ turião, eles disseram que ele era digno. Mas quando o centurião encontrou Jesus ele disse: “Eu não sou digno” , querendo dizer: “Não sou tão importante”. Conforme Mateus, o centurião foi direto a Jesus. Aqui em Lucas, ele enviou os anciãos. Ambos estão

certos. Primeiro, ele enviou os anciãos, depois ele mesmo foi ao encontro de Jesus. A humildade e a fé do centurião são singulares. Ele não se considerava digno de que Jesus entrasse na sua casa. Nem se considerava digno de vir a Jesus pessoalmente. Mas ele tinha fé para crer que Jesus poderia curar sem estar corporalmente presente. Uma palavra dele expulsaria a doença. 7:8 0 centurião continuou explicando que ele sabia algo em relação à autoridade e responsabilidade. Ele tinha bastante experiência nesse assunto. Ele mesmo estava sujeito à autoridade do governo romano, e responsável por cumprir ordens. Além disso, ele tinha soldados sob seu comando, que obedeciam imediatamente às suas ordens. Ele reconheceu que Jesus tinha o mesmo tipo de autoridade sobre doenças que o governo romano tinha sobre ele, e que ele tinha sobre seus subordinados. 7:9-10 Não é de estranhar que Jesus tenha se admirado da fé desse centurião gentílico. Ninguém em Israel havia feito uma confissão tão corajosa sobre a absoluta autoridade de Jesus. Uma fé tão grande nunca poderia ficar sem recompensa. Quando voltaram para a casa do centurião, descobriram que o servo estava completamente curado. Essa é uma das duas vezes nos evangelhos em que lemos que Jesus se admirou. Ele se admirou da fé desse centurião gentílico e da incredulidade de Israel (Mc 6:6). B. Ressurreição do filho da viúva (7:11-17) 7:11-15 Naim foi uma pequena cidade ao sudoeste de Cafamaum. Ao se aproximar, Jesus viu um enterro saindo da cidade. Era do filho único de uma viúva. 0 Senhor se compadeceu da mãe desolada. Tocando o esquife no qual o corpo era conduzido — aparente­ mente para poder parar o cortejo — , Jesus mandou que o jovem se levantasse. A vida de imediato voltou ao defunto, e o jovem sentou-se. Assim, aquele que é Senhor sobre a morte e a doença restituiu o jovem à sua mãe. 7:16-17 0 temor apoderou-se do povo. Eles tinham testemunhado um milagre poderoso. 0 morto foi res­ suscitado. Eles acreditaram que o Senhor Jesus era um grande profeta enviado por Deus. Mas quando disseram “Deus visitou o seu povo” provavelmente

17(6:47-49) A leitura crítica (“bem construída”) usada na maioria das Bíblias modernas perde o seu sentido original. Não é como mas em quem (Cristo) se constrói a vida! * Veja “Suplementos” > “Acontecimentos no ministério de Cristo” .

não entenderam que Jesus mesmo era Deus. Em vez disso, sentiram que o milagre era evidência de que Deus estava trabalhando no meio deles de maneira impessoal. O relato do milagre divulgou-se por toda a circunvizinhança. 0 livro do dr. Lucas relata a restauração por Jesus de três “filhos únicos”: o filho da viúva, a filha de Jairo (8:42) e o filho endemoninhado (9:38). C.

O Filho do Homem tranqüiliza seu arauto (7:18-23) 7:18-20 Notícias dos milagres de Jesus chegaram até João Batista na prisão da fortaleza de Maqueronte, na margem oriental do mar Morto. Se Jesus fosse verdadeiramente o Messias, por que ele não exercia seu poder para livrar João das mãos de Herodes? Então João enviou dois dos seus discípulos para perguntar a Jesus se ele era de fato o Messias, ou se o Cristo ainda viria. Talvez pareça estranho a nós que João tenha questionado se Jesus era o Messias. Mas devemos lembrar que o melhor dos homens sofre breves lapsos de fé. Além disso, angústia física também pode levar à depressão mental. 7:21-23 Jesus respondeu à pergunta de João lembrando-lhe de que ele realizava milagres tais como os profetas profetizaram que seriam realizados pelo Messias (Is 35:5-6; 61:1). Depois ele adicionou, como um pós-escrito a João: E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço. Isso pode ser entendido como repreensão; João tinha ficado ofendido pela falha de Jesus em pegar as rédeas da autoridade e manifestar-se da maneira aguardada pelo povo. Mas também pode ser interpretado como uma exortação a João para que não abandonasse a fé. Christopher G. Moore diz: Eu não conheço horas mais árduas para a fé que aquelas nas quais Jesus multiplica evidências do seu poder e não o usa. [...] Houve necessidade de muita graça quando os mensageiros voltaram di­ zendo: “Sim, ele tem todo o poder, e é tudo o que você pensava; mas ele não disse uma palavra so­ bre livrar você da prisão”. Nenhuma explicação; a fé nutrida; as portas da prisão ainda fechadas; e depois a mensagem: “Bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço”. É só isso!18

18 (7:21-23) C. G. Moore, citado por W. H. Griffith T homàs, Outline Studies in the Gospel ofLuke, p. 129. f Veja “Suplementos” > “Profecias do Messias cumpridas em Jesus Cristo”. 19 (7:27) F. L. Godet, Commentary on the Gospel ofLuke, 1:350.

D.

O Filho do Homem enaltece seu arauto (7:24-29) 7:24f Por mais que Jesus tivesse o que falar a João em particular, ele não tinha nada senão enaltecimento para ele em público. Quando o povo saía ao deserto perto do Jordão, o que esperava achar? Um oportu­ nista inconstante, debilitado e oscilante? Ninguém poderia acusar João de ser um caniço agitado pelo vento. 7 :2 5 Será que esperavam ver um playboy de Hollywood, vestido na última moda, nadando em luxo e folgado? Não, esse é o tipo de pessoa que freqüenta os palácios dos reis, procurando desfrutar todos os prazeres do palácio e fazer numerosos contatos para o próprio bem e gratificação. 7 :26 Era um profeta que eles saíram a ver, uma consciência personificada que declarava a palavra do Deus vivo, não importando qual seria o custo pessoal. De fato, ele era muito mais que profeta. 7:27 João foi o assunto da profecia e tinha o pri­ vilégio singular de apresentar o Rei. Jesus citou Malaquias 3:1 para mostrar que João foi predito no AT, mas, agindo assim, ele fez uma mudança muito interessante nos pronomes. Em Malaquias 3:1 lemos: “Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim”. Mas Jesus citou assim: Eis aí envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu caminho diante de ti. 0 pronome mim é trocado por ti. Frederick Louis Godet explica essa mudança como segue: Na perspectiva do profeta, aquele que estava enviando e aquele perante quem o caminho seria preparado eram um e a mesma pessoa: Jeová. Por isso o diante de mim em Malaquias. Mas para Jesus, que, em falando de si mesmo nunca se confunde com o Pai, uma distinção se tornou necessária. Não é Jeová que fala de si, mas Jeová falando a Jesus, por isso a forma diante de ti. A partir dessa evidência, será que não se pode concluir da citação que, no conceito do profeta, tanto como no de Jesus, o comparecimento do Messias é o comparecimento de Jeová?19 7:28 Jesus continuou a enaltecer João, afirmando que, entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João. Essa superioridade não se referia ao seu caráter pessoal, mas à sua posição como o arauto do Messias. Havia outros homens que eram tão grandes como ele em zelo, honra e devoção. Mas ninguém mais tinha o privilégio de anunciar a chegada do Rei. Nisso, João era singular. Mas, continuou o Senhor, o menor no reino de Deus é maior do que João.

Desfrutar as bênçãos do reino é maior que ser o arauto do Rei. 7:29 E provavelmente Jesus quem continua a falar no versículo 29, e, assim, a palavra o deveria ser lhe. Ele está relembrando a recepção dada à pregação de João. 0 povo comum e os pecadores declarados, como os publicanos, arrependeram-se e foram batizados no Jordão. Ao crer na mensagem de João, e agindo nela, eles reconheceram a justiça de Deus, isto é, eles reconheceram Deus como justo em ordenar que o povo de Israel deveria arrepender-se antes que Cristo pudesse reinar sobre eles. A RC, ECA e a CF trazem justificaram a Deus. Esse uso da palavra justificar mostra claramente que não pode ter o sentido de tomar justo, pois ninguém poderia tomar Deus justo. Antes, significa ver a Deus como justo nos seus de­ cretos e requerimentos. E.

O Filho do Homem critica sua própria geração (7:30-35) 7 :3 0 -3 4 Os fariseus e os intérpretes da lei re­ cusaram submeter-se ao batismo de João, e assim rejeitaram o programa de Deus para o seu bem-estar. De fato, era impossível agradar à geração da qual eram os líderes. Jesus os comparava aos meninos brincando na praça. Eles não queriam brincar nem de casamento nem de enterro. Eram perversos, de­ sobedientes, imprevisíveis e obstinados. Não importa o ministério que Deus usasse entre essa gente; eles fariam objeção. João Batista deu-lhes um exemplo de austeridade, ascetismo e abnegação. Eles não gostaram, mas criticaram-no como endemoninhado. 0 Filho do Homem comia e bebia com publicanos, isto é, ele se identificou com os que ele veio aben­ çoar. Mas os fariseus ainda eram infelizes; eles o chamaram de glutão e bebedor de vinho. Jejum ou festa, casamento ou enterro, João ou Jesus — nada e ninguém lhes agradava! John Charles Ryle admoesta: Devemos desistir da ideia de tentar agradar a todo o mundo. É impossível, e a tentativa é mera perda de tempo. Devemos estar contentes de andar nos passos de Cristo, e deixar o mundo dizer o que quiser. Não importa o que façamos, jamais o satisfaremos ou silenciaremos suas críticas malignas. Primeiro achou falhas em João Batista e depois no seu bendito Mestre. E continuarão cavilando e achando defeitos nos discípulos daquele Mestre enquanto um deles for deixado na terra.20 7:35 Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos. Sabedoria aqui representa o próprio Sal­

vador. A pequena minoria dos discípulos que o honra são os filhos da sabedoria. Mesmo que a maioria do povo o rejeite, ainda seus verdadeiros seguidores vindicarão seus direitos pela vida de amor, santidade e devoção. F. Uma pecadora unge o Salvador (7:36-39) 7:36 No episódio a seguir, temos uma ilustração de sabedoria sendo justificada por um dos seus filhos, a saber, a mulher pecadora. Como o dr. H. C. Woodring disse tão claramente: “Quando Deus não consegue fazer que os líderes religiosos tenham apreço por Cristo, ele suscita meretrizes que o façam”. Simão, um dos fariseus, havia convidado Jesus para a sua casa a fim de jantar com ele, talvez por curiosidade ou talvez por hostilidade. 7:37-38 Uma mulher pecadora apareceu ao mes­ mo tempo no lugar. Não sabemos quem era; quanto à tradição de que ela era Maria Madalena, falta apoio das Escrituras. Essa mulher trouxe um vaso translúcido e branco de perfume. Enquanto Jesus se reclinava num sofá, enquanto comia, com sua cabeça perto da mesa, ela estava por detrás, aos seus pés. Ela lavava seus pés com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijavalhe os pés muitas vezes. Depois ela os ungiu com o perfume de grande valor. Tal adoração e sacrifício revelaram sua convicção de que não havia nada bom demais para Jesus. 7:39 A atitude de Simão foi bem diferente. Ele sentiu que os profetas, como fariseus, deveriam ser separados dos pecadores. Se Jesus fosse verdadeira­ mente profeta, concluiu, ele não permitiria que uma pecadora mostrasse tanta afeição por ele. G. A parábola dos dois devedores (7:40-50) 7:40-43 Jesus leu a mente do fariseu, e cortesmente pediu permissão a Simão para dizer-lhe uma coisa. Com perfeita destreza, o Senhor relatou a história de um credor que tinha dois devedores. Um lhe devia cinqüenta dólares; e o outro, cinco. Quando nenhum dos dois tinha com que pagar, ele cancelou ambas as dívidas. Nesse ponto, Jesus perguntou a Simão qual devedor amaria mais o credor. 0 fariseu respondeu com exatidão “Suponho que aquele a quem mais perdoou” . Ao admitir isso, ele condenou-se a si mes­ mo, como Jesus pretendia mostrar-lhe. 7 :4 4 -4 7 Desde que o Senhor entrou na casa, a mulher esbanjava afeição por ele. 0 fariseu, ao con­ trário, tinha dado para ele uma recepção muito fria,

sem atender às cortesias costumeiras, como lavar os pés do convidado, beijar sua face e dar-lhe óleo para a cabeça. Por que a mulher agiu dessa forma? A razão é que ela estava cônscia de ser muito perdoada, en­ quanto Simão não se via como um grande pecador. Mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. Jesus não sugeriu que o fariseu não era um grande pecador. Antes, ele enfatizou que Simão nunca tinha verdadeiramente reconhecido sua grande culpa para depois ser perdoado. Se tivesse, ele teria amado o Senhor tanto como a meretriz. Nós somos grandes pecadores. Podemos conhecer grande perdão. Pode­ mos amar o Senhor grandemente. 7:48 Em seguida, Jesus anunciou publicamente à mulher que seus pecados haviam sido perdoados. Ela não foi perdoada por causa do seu amor a Cristo, mas o seu amor foi resultado do seu perdão. Ela amou muito porque foi muito perdoada. Jesus aproveitou essa ocasião para anunciar publicamente o perdão dos pecados dela. 7:49-50 Os outros convidados questionavam entre si o direito de Jesus perdoar pecados. 0 coração natu­ ral odeia a graça. Mas Jesus mais uma vez assegurou à mulher que a sua fé a salvara, e ela poderia ir em paz. Isso é algo que os psiquiatras não podem fazer. Eles podem explicar e tentar remover complexos de culpa, mas nunca podem dar a alegria e a paz que Jesus outorga. A conduta do nosso Senhor em comer na mesa desse fariseu é usada com abuso por alguns cristãos em defesa da prática de manter intimidade com pessoas descrentes, freqüentando suas diversões e favorecendo seus prazeres. John Ryle dá este aviso: Os que usam tal argumento deveriam lembrar o comportamento do nosso Senhor nessa ocasião. Ele levava os “negócios do seu Pai” com ele à mesa do fariseu. Ele testificou contra o pecado habitual do fariseu. Explicou a natureza do pleno perdão dos pecados e o segredo do amor verda­ deiro a ele. Jesus declarou a natureza salvadora da fé. Se os cristãos que argumentam em favor de intimidade com descrentes visitassem suas casas no espírito do nosso Senhor e falassem e agissem como ele agiu, poderiam continuar a prática. Mas será que falam e se comportam à mesa dos seus conhecidos como Jesus fez à mesa de Simão? Essa é uma pergunta que precisariam responder.21

H. Certas mulheres ministram a Jesus (8:1-3) É bom lembrar que os evangelhos contam somente alguns episódios da vida e do ministério do Senhor. 0 Espírito Santo selecionou aqueles assuntos que prefe­ riu incluir, mas passou por cima de muitos outros. Aqui temos uma simples declaração de que Jesus ministrava com seus discípulos de cidade em cidade e de aldeia em aldeia da Galileia. Enquanto ele pregava e anun­ ciava as boas-novas do reino de Deus, mulheres que foram abençoadas por ele ministravam-lhe provavel­ mente com comida e hospedagem. Por exemplo, havia Maria, chamada Madalena. Alguns acham que ela era uma senhora nobre de Magdala (Migdol). De qual­ quer forma, ela foi maravilhosamente livrada de sete demônios. Havia Joana, cujo marido era procurador de Herodes. Suzana era outra, e havia muitas outras. Sua bondade para com o Senhor não passou desperce­ bida ou sem registro. Enquanto compartilhavam seus bens com Jesus, elas nem imaginavam que cristãos de todas as épocas subsequentes leriam acerca de sua generosidade e hospitalidade. 0 tópico do ministério do Senhor era as boas-novas do reino de Deus, que significa a região, visível ou invisível, onde a autoridade de Deus é reconhecida. Mateus usa o termo “reino do céu”, mas o pensamento é basicamente o mesmo; simplesmente quer dizer que “o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens” (Dn 4:17) ou que “o céu domina” (Dn 4:26). Há várias fases de desenvolvimento do reino no NT: I. Primeiro, o reino foi anunciado por João Batista como próximo (Mt 3:1-2). 2. Então o reino estava de fato presente na pessoa do Rei (“o Reino de Deus está entre vocês”, Lc 17:21; NVI). Essa era a boa-nova do reino que Jesus anunciou. Ele se ofereceu como o rei de Israel (Lc 23:3). 3. Depois vemos o reino de Deus rejeitado pela nação de Israel (Lc 19:14; Jo 19:15). 4. Hoje o reino está numa forma misteriosa (Mt 13:11). Cristo, o Rei, está ausente temporariamente, mas sua autoridade é reconhecida no coração de algumas pessoas na terra. Em certo sentido, o reino hoje abrange todos os que até professam aceitar a autori­ dade de Deus, mesmo se não são de fato convertidos. Essa esfera da profissão externa é vista na parábola do semeador e a semente (Lc 8:4-15), do trigo e o joio (Mt 13:24-30) e o peixe na rede (Mt 13:47-50). Mas no sentido mais profundo e verdadeiro, o reino só inclui os convertidos (Mt 18:3) ou nascidos de novo (Jo 3:3). Essa é a esfera da realidade interna. (Cf. o diagrama em Mt 3:1-2). 5. Algum dia o reino será estabelecido em sentido literal aqui na terra e o Senhor Jesus reinará por

mil anos como Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 11:15; 19:16; 20:4). 6. A fase final é conhecida como o reino etemo do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2Pe 1:11). Esse é o reino na eternidade. I. A parábola do semeador (8:4-15) 8:4-8 A parábola do semeador descreve o reino no seu presente aspecto. Ela nos ensina que o reino de Deus inclui tanto profissão como realidade e forma a base de um alerta bem solene de como ouvimos a palavra de Deus. Não é coisa frívola ouvir a Escritura pregada e ensinada. Os que ouvem se tomam mais responsáveis que antes. Se mostram indiferença à mensagem, ou consideram que a obediência é um assunto de livre escolha, eles causam assim a pró­ pria ruína. Mas se ouvem e obedecem colocam-se em condição de receber mais luz de Deus. A parábola foi falada aqui a uma grande multidão, depois explicada aos discípulos. A parábola tratou de um semeador, sua semente, quatro tipos de solo que receberam a semente e quatro resultados. TIP O DE SO LO 1. Beira do cam inho 2. Pedra 3. Espinhos 4. Boa terra

RESU LTA D O 1. Pisada pelos homens e devorada pelas aves. 2. Secou por falta de umidade. 3. Os espinhos sufocaram seu crescimento. 4. Produziu cem grãos por semente.

O Senhor terminou a parábola com as palavras: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça! Em outras palavras, ao ouvir a palavra de Deus, seja cuidadoso acerca de qual tipo de recepção é dado. A semente deve cair em boa terra para frutificar. 8:9-10 Quando os seus discípulos perguntaram acerca do sentido dessa parábola, o Senhor Jesus explicou que os mistérios do reino de Deus não seriam entendidos por todos. Desde que os discípulos estivessem prontos a confiar e obedecer, a eles seria dada a capacidade de entender os ensinos de Cristo. Mas Jesus propositadamente apresentava muitas verdades por parábolas, para que os que não tinham verdadeiro amor para com ele não entendessem; ao ver, eles não veriam, e, ouvindo, não entenderiam. Em certo sentido, eles viram e ouviram. Por exemplo, sabiam que Jesus falara de um semeador e sua semen­ te. Mas eles não entenderam o sentido mais profundo da ilustração. Eles não reconheceram que seu coração

era um solo duro, impenitente e espinhoso, e que eles não se beneficiaram da palavra que ouviram. 8:11-15 Foi somente aos discípulos que o Senhor expôs a parábola. Eles já haviam aceitado o ensino que receberam, e assim seria dado mais. Jesus expli­ cou que a semente é a palavra de Deus, isto é, a verdade de Deus, o seu próprio ensino. Os ouvintes da beira do caminho ouviram a pala­ vra, mas somente de forma banal e superficial. Ficou na superfície de sua vida. Assim, tomou-se fácil para o Diabo (as aves do céu) levá-la. Os ouvintes da pedra também ouviram a palavra, mas não deixaram a palavra quebrantá-los. Ficaram impenitentes. Nenhum encorajamento (umidade) foi dado à semente, e assim ela secou e morreu. Talvez eles fizessem uma viva profissão de fé no princípio, mas não havia realidade. Parecia ter vida, mas não havia raiz por baixo da superfície. Quando provações apareceram, eles abandonaram sua confissão cristã. Os ouvintes do solo espinhoso pareciam ir bem por um tempo, mas provaram que não eram crentes genuínos, pela sua falha em progredir firmemente. Os cuidados, riquezas e deleites da vida tomaram conta, e a palavra foi abafada e sufocada. A boa terra representava os crentes verdadeiros cujo coração era bom e reto. Eles não somente rece­ beram a palavra, mas a deixaram moldar-lhes a vida. Eles estavam prontos a ser ensinados e obedientes, desenvolvendo um verdadeiro caráter cristão e pro­ duzindo fmto para Deus. John Nelson Darby resumiu a mensagem desse trecho desta forma: “Se, ao ouvir, eu possuo o que ouço, e não simplesmente tenho prazer ao recebê-la, mas o possuo como meu, assim se toma uma parte da substância da minha alma, e receberei mais; porque quando a verdade se toma uma substância na minha alma há capacidade de receber mais”.22 J. A responsabilidade dos que ouvem (8:16-18) 8:16 No primeiro relance, não parece haver muita conexão entre esse trecho e o que o precedeu. De fato, porém, há uma corrente contínua de pensamento. 0 Salvador ainda enfatiza a importância do que os discípulos fazem com seus ensinos. Ele se compara a um homem que acendeu uma candeia, não para pôr debaixo de um vaso ou de uma cama, mas sobre um velador, a fim de que todos vejam a luz. Ao ensinar aos discípulos os princípios do reino de Deus, ele estava acendendo uma candeia. 0 que eles deveriam fazer com ela?

Primeiramente, não deveriam cobri-la com um vaso. Em Mateus 5:15, Marcos 4:21 e Lucas 11:33, o vaso é citado como um alqueire. Isso, de fato, é uma unidade de medida usada no mundo do comércio. Assim, esconder uma candeia debaixo dum alqueire poderia significar a possibilidade de permitir que nos­ so testemunho seja ocultado ou comprimido pela cor­ reria da vida de trabalho. Seria melhor pôr a candeia em cima do alqueire, isto é, praticar o cristianismo no mercado e usar nosso lugar de serviço como um púlpito para propagar o evangelho. Em segundo lugar, o discípulo não deveria esconder a candeia debaixo de uma cama. A cama nos remete a descanso, conforto, preguiça e indulgência. Como essas coisas podem impedir a luz de brilhar! 0 discí­ pulo deveria pôr a candeia num velador. Em outras palavras, deveria viver e pregar a verdade para que todos pudessem vê-la. 8:17 0 versículo 17 parece indicar que, se per­ mitirmos que a mensagem seja confinada por causa de negócios ou preguiça, nossa negligência e falha serão expostas. Escondendo a verdade, será mani­ festada, e conservando-a em segredo será conhecida e revelada. 8:18 Então deveríamos ser cuidadosos como ou­ vimos. Se, por um lado, formos fiéis em compartilhar a verdade com outros, assim Deus revelará verdades novas e mais profundas a nós. Se, por outro lado, não temos esse espírito de zelo evangelístico, Deus nos privará da verdade que pensamos possuir. 0 que não usamos e perdemos. G. H. Lang comenta: “Os discípulos escutaram com uma mente ansiosa em entender e prontos a crer e obedecer; os outros ouviram com indiferença, curio­ sidade ou oposição resoluta. Àqueles mais sabedoria seria concedida; estes seriam privados de qualquer conhecimento que pareciam ter”.23 Porque devemos compartilhar se quisermos guardar Aquela coisa boa que vem de cima; Parando de dar, paramos de ter, Assim é a lei de amor. R. C. Trench K. A verdadeira mãe e os verdadeiros irmãos de Jesus (8:19-21) Nesse ponto do discurso, Jesus foi informado de que sua mãe e seus irmãos esperavam vê-lo. Eles não podiam aproximar-se dele por causa da concor­ 23 (8:18) G. H. L ang, The Parabolic Teaching ofthe Scripture, p. 60.

rência do povo. A resposta do Senhor foi que paren­ tesco verdadeiro com ele não depende das ligações naturais, mas de obediência à palavra de Deus. Ele reconhece como membros da sua família todos os que estremecem diante da palavra, que a recebem com mansidão e lhe obedecem implicitamente. Nenhuma multidão pode privar sua família espiritual de ter audiência com ele. L.

O Filho do Homem acalma a tempestade (8:22-25) 8:22 No restante desse capítulo, Jesus é visto exer­ cendo seu senhorio sobre as forças da natureza, os demônios, a doença e até mesmo a morte. Todos esses obedecem à sua palavra; somente o homem se recusa. Tempestades violentas surgem rapidamente no mar da Galileia, tornando a navegação perigosa. Entretanto, essa tempestade talvez fosse de origem satânica, possivelmente uma tentativa de destruir o Salvador do mundo. 8:23 Jesus estava dormindo quando a tempestade sobreveio; o fato de que ele dormiu atesta sua verda­ deira humanidade. A tempestade foi dormir quando Jesus falou; esse fato atesta sua deidade absoluta. 8:24 Os discípulos acordaram o Salvador, expres­ sando medo angustioso pela própria segurança deles. Com perfeito equilíbrio, ele repreendeu o vento e as ondas, e tudo se tornou calmo. O que Jesus fez ao mar da Galileia ele pode fazer ao discípulo ansioso e desorientado hoje. 8:25 Ele perguntou aos discípulos: Onde está a vossa fé? Eles não precisavam ficar ansiosos. Não precisavam acordá-lo. “Águas não podem a nau tra­ gar, que leva o Senhor, Rei do céu e mar.” Estar com Cristo no barco é estar absolutamente são e seguro. Os discípulos não apreciaram por completo a ex­ tensão do poder do Mestre. O entendimento deles a seu respeito foi defeituoso. Eles, possuídos de temor e admiração, maravilhavam-se de que as forças da natureza lhe obedeceram. Não eram diferentes de nós. Nas tempestades da vida, desesperamos muitas vezes. Em seguida, quando o Senhor vem ao nosso auxílio, ficamos admirados com a manifestação do seu poder. E nos admiramos de não termos confiado mais nele. M. O endemoninhado geraseno curado (8:26-39) 8:26-27 Quando Jesus e seus discípulos chegaram à praia, estavam no distrito dos gerasenos.24 Ali encontraram um homem possesso de demônios. Mateus menciona dois endemoninhados, enquanto

Marcos e Lucas falam somente de um. Tais aparentes discrepâncias podem indicar que possivelmente foram duas ocasiões, ou que um escritor apresentou um relato mais amplo que os outros. Esse caso particular de possessão de demônios fez a vítima tirar a roupa, afastar-se da sociedade e viver nos sepulcros. 8:28-29 Quando ele viu a Jesus, rogou-lhe para não atormentá-lo. Na verdade, era o espírito imundo que falava através do pobre homem. Possessão de demônios é algo real. Esses demô­ nios não eram meras influências. Eram seres sobre­ naturais, residentes no homem, controlando seus pensamentos, sua fala e seu comportamento. Esses demônios em particular faziam o homem tomar-se extremamente violento, de tal modo que, quando teve uma dessas convulsões, quebrou as cadeias que o seguravam e correu para o deserto. Isso não é de admirar quando percebemos que, confinado dentro desse homem, havia demônios suficientes para des­ truir quase dois mil porcos (cf. Mc 5:13). 8:30-31 0 nome do homem era Legião, porque ele estava possesso de uma legião de demônios. Esses seres reconheceram Jesus como o Filho do Deus Al­ tíssimo. Eles sabiam também que sua condenação era inevitável, e que ele a cumpriria. Mas pediram uma prorrogação, pedindo-lhe que não os mandasse sair imediatamente para o abismo. 8:32-33 Eles pediram permissão, ao sair do ho­ mem, para entrar em uma grande manada de porcos pastando no monte. Essa permissão foi concedida, com o resultado de que a manada precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do lago, e se afogou. 0 Senhor é criticado hoje pela destruição de propriedade alheia. Porém, se os porqueiros eram judeus, estavam empenhados num serviço imundo e ilegal. Não importa se eram judeus ou gentios, deveriam ter posto mais valor em um homem que em dois mil porcos. 8:34-39 As notícias se espalhavam com rapidez na­ quela região. Quando uma grande multidão ajuntouse, viram o antigo endemoninhado completamente restaurado à sanidade mental e à decência. Os gera­ senos ficaram tão dominados pelo terror que rogaram a Jesus para que se retirasse. Eles atribuíram mais valor aos suínos que ao Salvador, mais aos porcos que à própria alma. John Darby observa: 0 mundo roga a Jesus para retirar-se, desejando a comodidade, que é mais perturbada pela pre­ sença e pelo poder de Deus que por uma legião de demônios. Ele vai embora. O homem que foi curado [...] desejava muito estar com ele, mas o Senhor manda-o de volta [...] para ser testemu­ nha da graça e do poder do qual foi o objeto.25

Mais tarde, quando Jesus visitou Decápolis, uma multidão simpatizante o encontrou (Mc 7:31-37). Será que esse foi o resultado do fiel testemunho do endemoninhado curado? N.

Curando o incurável e ressuscitando o morto (8:40-56) 8:40-42 Jesus atravessou o mar da Galileia para o lado ocidental. Ah outra multidão o esperava. Jairo, que era chefe na sinagoga, estava especialmente ansioso para encontrá-lo, porque tinha uma filha de doze anos que estava à morte. Ele suplicou a Jesus para ir com ele urgentemente. Mas as multidões o apertavam, impedindo seu avanço. 8:43 No ajuntamento estava uma mulher, tímida e desesperada, que havia sido afligida com uma hemor­ ragia por doze anos. Lucas, o médico, reconhece que ela gastara com os médicos todas as suas economias sem obter a cura (Marcos adiciona o toque leigo de que ela piorara!). 8:44-45 Ela sentiu que havia poder em Jesus para curá-la, então passou pela multidão até onde ele es­ tava. Inclinando-se, ela tocou na orla da sua veste, a parte que formava a borla nos cantos do manto, do judeu (Nm 15:38-39; Dt 22:12). Logo se estancou a hemorragia, e ela foi completamente curada. A mulher tentou ir embora em segredo, mas seu escape foi interrompido por uma pergunta de Jesus: Quem me tocou? Pedro e os outros discípulos pensavam que essa era uma pergunta absurda; todos os tipos de gente estavam apertando, empurrando e tocando nele! 8 :4 6 Mas Jesus reconheceu que foi um toque diferente. Como alguém disse: “A carne aperta, mas a fé toca”. Ele sabia que a fé o tocara, porque ele sentiu uma efusão de poder — o poder para curar a mulher. Ele percebeu que poder saíra dele. Não se tratava, na verdade, de que ele tivesse menos poder que antes, mas simplesmente que lhe custou algo curar. Houve gasto. 8:47-48 A mulher aproximou-se trêmula dian­ te dele e apresentou uma explicação defensiva da razão por que lhe havia tocado, e um testemunho grato do que acontecera. Sua confissão pública foi recompensada com um elogio público por Jesus da sua fé e um pronunciamento público de que ele lhe concedera sua paz. Ninguém pode tocar em Jesus pela fé sem ele saber e sem receber uma bênção. Ninguém o confessa publicamente sem ser fortalecido na certeza da salvação.

8:49 A cura da mulher com a hemorragia prova­ velmente não atrasou Jesus muito tempo, mas era bastante para um mensageiro chegar com a notícia de que a filha de Jairo estava morta, e que não pre­ cisava mais do serviço do Mestre. Eles acreditaram que ele podia curar, mas não que podia ressuscitar os mortos. 8 :5 0 Jesus, porém, não seria despedido tão fa­ cilmente. Ele respondeu com palavras de conforto, encorajamento e promessa: Não temas, crê somente, e ela será salva. 8:51-53 Logo que ele chegou a casa, entrou no quarto, levando com ele somente Pedro, Tiago e João, além dos pais da menina. Todos choravam e pranteavam em desespero, mas Jesus os mandou parar, porque a menina não estava morta, mas dor­ mindo. Isso os levou a ridicularizá-lo, porque eles tinham certeza de que ela estava morta. Será que ela estava realmente morta, ou num pro­ fundo sono, em coma? A maioria dos comentaristas diz que ela estava morta. Eles indicam que Jesus se referiu a Lázaro, que estava morto, como se estivesse dormindo. Sir Robert Anderson diz que a menina não estava realmente morta.26 Os seus argumentos são os seguintes: 1. Jesus disse que a menina “seria curada”. A palavra que ele usou é a mesma empregada no versículo 48 desse capítulo, onde se refere à cura, e não à ressurreição. A palavra nunca é usada no NT para a ressurreição dos mortos. 2. Jesus usou uma palavra diferente para dormir no caso de Lázaro. 3 .0 povo pensou que ela estivesse dormindo, mas Jesus não aceitaria o crédito pela ressurreição sabendo que ela estava apenas dormindo. Anderson diz que é simplesmente uma questão de em quem você quer crer. Jesus disse que ela estava dormindo. Os outros pensaram que sabiam que ela estava morta. 8:54-56 Em todo caso, Jesus disse-lhe: Menina, levante-te! Ela imediatamente se levantou. Depois de devolvê-la aos pais, Jesus advertiu-os para não publicar o milagre. Ele não estava interessado na notoriedade, no entusiasmo inconstante do público e na curiosidade inútil. Assim termina o segundo ano do ministério público de Jesus. O capítulo 9 inaugura o terceiro ano com o envio dos doze.

26 (8:51-53) Sir Robert A n d e r s o m ,Misunderstood Texts o f the Neui Testament, p. 51.

O.

0 Filho do Homem envia os discípulos (9:1-11) 9:1-2 Esse episódio é muito semelhante ao envio dos doze em Mateus 10:1-15, mas há diferenças notáveis. Por exemplo, em Mateus os discípulos foram instru­ ídos a ir somente aos judeus, ressuscitar os mortos e também curar toda sorte de doenças. Obviamente há uma razão pela versão abreviada em Lucas, mas a razão não é aparente. 0 Senhor não somente tinha poder e autoridade para realizar milagres, mas ele conferiu esse poder e essa autoridade aos outros. Poder quer dizer potência ou habilidade. Autorida­ de quer dizer o direito de usá-lo. A mensagem dos discípulos foi confirmada pelos sinais e prodígios na ausência da Bíblia completa em forma escrita (Hb 2:34). Deus pode curar milagrosamente, mas se a cura deveria ainda acompanhar a pregação do evangelho é certamente discutível. 9:3-5 Agora os discípulos teriam uma oportuni­ dade de praticar os princípios que o Senhor havia lhes ensinado. Eles precisavam confiar nele para o suprimento das suas necessidades materiais: nem alforje, alimento ou dinheiro. Tinham de viver de modo muito simples: nem bordão ou túnica extra. Deviam permanecer na primeira casa onde fossem recebidos, sem mudar visando a obter alojamento mais confortável. Eles não podiam prolongar sua estada ou exercer pressão nos que rejeitavam a men­ sagem, e foram instruídos a sacudir o pó dos pés em testemunho contra eles. 9:6 Provavelmente foi nas aldeias da Galileia que os discípulos pregaram o evangelho e curaram os doentes. Deveria ser mencionado que o tema da sua mensagem era o reino: a proclamação da presença do Rei no seu meio e sua boa vontade de reinar sobre um povo arrependido. 9:7 Herodes Antipas era tetrarca na Galileia e Pereia nesse tempo. Ele reinava sobre um quarto do território incluído no reino do seu pai, Herodes, o Grande. Chegaram a ele as notícias de que al­ guém estava realizando poderosos milagres no seu território. Imediatamente sua consciência começou a levantar questões. A recordação de João Batista ainda o perturbava. Herodes silenciou aquela voz destemida ao decapitar João, mas ele ainda estava assombrado pelo poder daquela vida. Quem era esse que fez Herodes pensar continuamente em João? Havia rumores de que João havia ressuscitado dentre os mortos. 9:8-9 Outros imaginaram que era Elias ou um dos antigos profetas do AT. Herodes tentou subjugar sua ansiedade, fazendo os outros lembrar que ele tinha degolado o Batizador. Mas o pavor permaneceu. Então

quem era este? Ele tentou vê-lo, mas não conseguiu até pouco antes da crucificação do Salvador. 0 poder de uma vida cheia do Espírito! 0 Senhor Jesus, o carpinteiro desconhecido de Kazaré, fez Herodes tremer sem que o tivesse encontrado. Nun­ ca subestime a influência de uma pessoa cheia do Espírito Santo! 9:10 Quando os apóstolos regressaram, relataram os resultados da sua missão diretamente ao Senhor Jesus. Talvez esse seja um bom método para todos os obreiros cristãos. Muitas vezes a publicidade do traba­ lho causa inveja e divisão. George Campbell Morgan comenta que “nossa paixão por estatísticas é egoísta e da carne, mas não do Espírito”. 0 Senhor levou os discípulos a um lugar deserto perto de Betsaida (casa de pesca). Parece que havia duas Betsaidas nesse tempo, uma no lado ocidente do mar da Galileia e esta no oriente. 0 local exato é desconhecido. 9 :1 1 Qualquer esperança de ter um tempo de descanso juntos foi rapidamente abalada. Uma mul­ tidão se ajuntou logo. 0 Senhor Jesus estava sempre acessível. Ele não considerava isso uma interrupção desagradável. Ele nunca estava ocupado demais para abençoar. Na realidade, é relatado que ele as acolheu (dando as boas-vindas), ensinando-lhes a respeito do reino de Deus e curando os que tinham necessidade de cura. P. Alimentando os cinco mil (9:12-17) 9:12 Ao declinar o dia, os doze ficaram inquietos. Tantas pessoas precisando de alimento! Uma situ­ ação impossível. Então eles pediram ao Senhor que despedisse a multidão. Quão semelhante ao nosso coração! Em situações que nos afetam, dizemos, como Pedro: “Manda-me ir ter contigo...”. Mas quão fácil é dizer com respeito aos outros: Despede-os. 9 :1 3 Jesus não ia despedi-los para as aldeias ao redor para que achassem alimento. Por que os discípulos viajariam para ministrar ao povo e negli­ genciariam os que estavam à porta deles? Deixe os discípulos alimentar a multidão. Eles declararam que tinham somente cinco pães e dois peixes, esquecen­ do que, no Senhor, eles tinham recursos ilimitados. 9:14-17 Ele simplesmente pediu que os discípulos fizessem assentar a multidão de cinco mil homens além de mulheres e crianças. Depois de dar graças, partiu o pão e continuou dando-o aos discípulos. Eles distribuíram ao povo. Havia bastante alimento para todos. De fato, quando a refeição terminou, havia mais alimento sobrando que no princípio. As sobras encheram doze cestos, uma para cada um dos discí­ pulos. Os que tentam desprezar o milagre, somente enchem páginas de confusão.

Esse incidente é cheio de significação para dis­ cípulos que têm a responsabilidade de evangelizar o mundo. Os cinco mil representam a humanidade perdida, faminta do pão de Deus. Os discípulos re­ presentam cristãos desamparados, aparentemente com recursos limitados, mas sem vontade de com­ partilhar o que têm. A ordem do Senhor “Dai-lhes vós de comer” é simplesmente uma repetição da grande comissão. A lição é: se entregamos a Jesus o que temos, ele pode multiplicá-lo para alimentar a multidão espiritualmente faminta. Aquele anel de diamantes, aquela apólice de seguro, aquela conta bancária, aquele equipamento esportivo! Tudo isso pode ser convertido em literatura evangélica, por exemplo, que por sua vez pode resultar na salvação de almas, que por sua vez serão adoradores do Cor­ deiro de Deus na eternidade. 0 mundo poderia ser evangelizado nesta geração se os cristãos entregassem a Cristo tudo o que são e têm. Essa é a lição permanente da alimentação dos cinco mil. Q. A grande confissão de Pedro (9:18-22) 9:18 Imediatamente após a alimentação milagrosa da multidão, temos a grande confissão de Pedro sobre Cristo em Cesareia de Filipe. Será que o milagre dos pães e peixes abriu os olhos dos discípulos para ver a glória do Senhor Jesus como o Ungido de Deus? Esse episódio em Cesareia de Filipe é bem reconhe­ cido como a linha divisória do ministério de ensino do Salvador com os doze. Até esse ponto ele está guiando-os pacientemente a uma apreciação de quem ele é, e o que ele poderia fazer neles e através deles. Agora ele alcançou essa meta, e então prossegue com determinação rumo à cruz. Jesus orou sozinho. Não é registrado que o Senhor Jesus orou com os discípulos. Ele orou a favor deles. Orou na presença deles e os ensinou a orar, mas sua vida de oração era separada da deles. Depois de um desses períodos de oração, ele perguntou aos discípulos quem as multidões diziam que ele era. 9:19-20 Eles relataram diferentes opiniões. Alguns diziam João Batista; outros, Elias; e ainda outros, um dos profetas do AT que ressuscitou. Mas quando ele perguntou aos discípulos, Pedro confiadamente o confessou como o Cristo (ou Messias) de Deus. 0 comentário de James Stewart sobre esse acon­ tecimento em Cesareia de Filipe é tão excelente que citamos por extenso: Ele começou com a pergunta impessoal: “Quem as multidões dizem que sou eu?”. Isso, de fato, não foi difícil de responder, porque, por todo lado,

os homens diziam coisas acerca de Jesus. Uma dezena de veredictos estavam ao redor. Todos os tipos de rumores e opiniões estavam no ar. Jesus estava na boca de todo mundo. E os homens não somente diziam algo acerca de Jesus; estavam dizendo grandes coisas dele. Alguns achavam que ele era João Batista ressuscitado. Outros diziam que ele os fez lembrar Elias, outros fala­ vam de Jeremias ou um outro profeta. Em outras palavras, enquanto opiniões populares não eram unânimes de forma alguma acerca da identidade de Jesus, eram unânimes no fato de que ele era uma grande pessoa. Seu lugar foi entre os heróis do seu povo. Vale a pena notar que a história aqui se repete. Mais uma vez Jesus está na boca de todos. Ele está sendo debatido hoje bem além do círculo da Igreja cristã. E a diversidade dos veredictos acer­ ca dele é enorme. Papini, olhando para Jesus, vê o Poeta. Bruce Barton vê o Homem de Ação. Middleton Muny vê o Místico. Homens sem base ortodoxa estão prontos a enaltecer Jesus como o padrão dos santos e o capitão de todos os líderes morais de todo o tempo. “Mesmo agora”, disse John Stuart Mill, “não seria fácil, mesmo para um descrente, achar uma melhor tradução da regra de virtude do abstrato para o concreto do que se empenhar em viver de modo que Cristo aprovasse” . Como os homens de seus dias que o chamavam de João, Elias, Jeremias, assim os homens de hoje concordam que entre os heróis e santos de todos os tempos Jesus é supremo. Mas Jesus não estava contente com aquele reconhecimento. 0 povo dizia que ele era João, Elias, Jeremias. Mas isso queria dizer que ele era um numa série. Queria dizer que havia pre­ cedentes e paralelos, e que mesmo se ele fosse primeiro na posição ele ainda seria primus inter pares, o primeiro no meio da mesma categoria. Mas, certamente, isso não era o que o Cristo do Novo Testamento alegou. Os homens podem concordar com a declaração de Cristo ou podem discordar dela, mas, sem dúvida, não podem fazer o mesmo com a realidade dessa declaração. Cristo alegou ser algo e alguém sem precedente, sem paralelo, sem rival, único (cf. Mt 10:37; * 11:27; 24:35; Jo 10:30; 14:6).27

devia interromper seu caminho à cruz. Em seguida, o Salvador desvelou seu futuro imediato para eles. Ele devia sofrer, devia ser rejeitado pelos líderes religiosos de Israel, devia ser morto e devia ressus­ citar no terceiro dia. Esse foi um anúncio espantoso. Não esqueçamos que essas palavras foram ditas pelo único Homem sem pecado e justo que já viveu nesta terra. Foram ditas pelo Messias verdadeiro de Israel. Foram as palavras de Deus manifestas em carne. Elas nos contam que a vida de realização, a vida perfeita, a vida de obediência à vontade de Deus envolve so­ frimento, rejeição, morte de uma forma ou de outra, e uma ressurreição para uma vida que é eterna. É uma vida derramada para os outros. Isso, de fato, era o oposto da concepção popular da função do Messias. Os homens esperavam um líder com poder militar que destruísse os inimigos. Deve ter sido um choque para os discípulos. Mas se, como confessaram, Jesus era mesmo o Cristo de Deus então não tinham razão nenhuma para desilusão ou desânimo. Se ele é o Ungido de Deus, então sua causa nunca pode falhar. Não importava o que acontecesse a ele ou a eles, eles estavam no lado vitorioso. Vitória e vindicação eram inevitáveis.

9:21-22 Depois da confissão histórica de Pedro, o Senhor ordenou-lhes não contar aos outros; nada

Mas também envolve estabelecimento de uma vida, que é vida em verdade! Significa descobrir, enfim, a razão da nossa existência. E significa recompensa eterna. Instintivamente recuamos de uma vida de car­ regar a cruz. A mente reluta em crer que isso possa

R. Convite para levar a cruz (9:23-27) 9:23 Tendo descrito o próprio futuro, o Senhor convi­ dou os discípulos a segui-lo. Isso significaria negarse a si mesmo e tomar sua cruz. Para negar-se a si mesmo, é preciso renunciar voluntariamente qualquer direito de planejar ou escolher, e reconhecer seu senhorio em toda área da vida. Tomar a cruz quer dizer deliberadamente escolher o tipo de vida que ele vivia. Isso envolve: • Oposição a pessoas queridas. • Opróbrio por parte do mundo. • Renúncia a família, casa, terras e confortos desta vida. • Dependência completa de Deus. • Obediência à direção do Espírito Santo. • Proclamação de uma mensagem malquista. • Um caminho de solidão. • Ataques organizados pelos líderes religiosos. • Sofrimento por causa da retidão. • Difamação e vergonha. • Derramamento da nossa vida a favor dos outros. • Morte para si mesmo e para o mundo.

ser a vontade de Deus para nós. Mas as palavras de Cristo — Se alguém quer vir após mim — querem dizer que ninguém está excluído. 9 :2 4 A tendência natural é salvar nossa vida em razão do egoísmo, da complacência, do hábito e da mesquinhez. Podemos nos permitir prazeres e desejos de desfrutar conforto, luxo e comodidade, de viver para o presente, de negociar nossos melhores talentos no mundo em troca de uns anos de falsa segurança. Mas no mero ato perdemos nossa vida, isto é, não alcançamos seu verdadeiro propósito e o profundo prazer espiritual que deveria acompanhála. Em contrapartida, podemos perder nossa vida na causa do Salvador. Os homens nos consideram loucos se deixamos de lado nossas ambições egoístas, se procuramos primeiro o reino de Deus e sua justiça, se nos entregamos inteiramente a ele. Mas essa vida de abandono é vida genuína. Há uma alegria, uma despreocupação santa e uma profunda satisfação interna que desafia qualquer descrição. 9:25 Enquanto o Salvador falava com os doze, ele reconheceu que o desejo por riquezas materiais poderia ser um profundo impedimento à entrega total. Então ele disse: “Suponha que você pudesse amontoar o ouro e a prata do mundo inteiro, pudesse possuir patrimônios e propriedades, títulos e ações — tudo de valor material — , e suponha que no seu esforço frenético de adquirir tudo isso você tenha perdido o verdadeiro propósito da vida. Que bem isso faria a você? Você o teria por somente um pouco de tempo; depois o deixaria para todo o sempre. Seria um negócio insano vender aquela vida curta em troca de uns brinquedos sem valor”. 9:26 Outro impedimento à submissão total a Cristo é o medo da vergonha. É totalmente irracional que uma criatura tenha vergonha do seu Criador, que um pecador tenha vergonha do seu Salvador. E mais, qual de nós é sem culpa? 0 Senhor reconheceu a possibilidade de vergonha e nos alertou contra isso. Se evitamos a vergonha por viver vidas nominalmente cristãs, agindo como a multidão, o Filho do Homem se envergonhará de nós quando vier na sua glória e na do Pai, e na glória dos santos anjos. Ele enfa­ tiza a glória tríplice do seu segundo advento como se dissesse que qualquer vergonha ou censura que pos­ samos suportar por ele agora parecerá insignificante quando ele aparecer em glória, em comparação com a vergonha dos que agora o negam. 9:27 Essa menção da sua glória forma a ligação com o que vem a seguir. Ele agora prediz que alguns dos discípulos que se encontravam ali veriam o reino de Deus antes de morrer. Suas palavras são cumpridas nos versículos 28-36, o episódio no monte da Transfiguração. Os discípulos eram Pedro, Tiago

e João. No monte tiveram uma visão antecipada do que será quando o Senhor Jesus iniciar seu reino na terra. Pedro afirma: Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade, pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. Ora, esta voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo. 2Pedro 1:16-18 Observe a continuidade do ensino do Senhor nesse trecho. Ele acabara de anunciar sua iminente rejeição, seu sofrimento e sua morte. Ele chamara seus discí­ pulos a segui-lo numa vida de abnegação, sofrimento e sacrifício. Agora ele diz: “Lembrem-se! Se sofrerem comigo, reinarão comigo. Depois da cruz é a glória. A recompensa está totalmente fora da proporção do custo”. S. O Filho do Homem transfigurado (9:28-36) 9:28-29 Cerca de oito dias mais tarde, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu ao monte com o propósito de orar. 0 local desse monte é desconhecido, apesar do fato de que o alto mon­ te Hermom, cujo topo é coberto de neve, seja bem provável. Enquanto o Senhor orava, a aparência do seu rosto se transfigurou. Uma verdade intrigante: entre as coisas que a oração muda está o rosto do homem. Seu rosto brilhou com um brilho radiante e as suas vestes resplandeceram de brancura. Como foi mencionado, isso prefigurou a glória que será dele durante seu reino vindouro. Enquanto ele estava aqui na terra, sua glória foi normalmente coberta no seu corpo de carne. Ele estava aqui em humilhação, como escravo. Mas, durante o milênio, sua glória será totalmente revelada. Todos o verão em todo o seu esplendor e majestade. 0 professor W. H. Rogers explica bem: Na transfiguração temos em miniatura todos os aspectos salientes do reino vindouro em mani­ festação. Vemos o Senhor vestido em glória e não nos trapos de humilhação. Observamos Moisés em estado glorificado, o representante dos re­ generados que já passaram pela morte para o reino. Observamos Elias coberto em glória, o representante dos redimidos que já entraram

no reino pela transladação. Há três discípulos, Pedro, Tiago e João, que não são glorificados, os representantes de Israel na carne durante o milê­ nio. Em seguida, há a multidão ao pé do monte, representando as nações que serão introduzidas no reino depois da inauguração.28 9:30-31 Moisés e Elias falaram com Jesus acerca da sua partida (lit., êxodo), que ele estava para cumprir em Jerusalém. Observe que sua morte aqui é citada como uma realização. Também note que a morte é simplesmente um êxodo — não a cessação da existência, mas uma partida de um lugar para outro. 9:32-33 Os discípulos estavam sonolentos en­ quanto isso estava acontecendo. 0 bispo Ryle diz: Observe bem que os mesmos discípulos que dor­ miram aqui durante uma visão de glória também foram achados dormindo durante a agonia no jar­ dim de Getsêmani. Carne e sangue precisam ser mudados para poder entrar no céu. Nosso corpo, pobre e fraco, não é capaz de vigiar com Cristo na sua hora de julgamento, nem ficar acordado junto dele na sua glorificação. Nossa constituição física deve ser grandemente modificada antes de desfrutar o céu.29 Quando estavam bem acordados, viram o grande brilho da glória de Cristo. Numa tentativa de pre­ servar o sagrado caráter da ocasião, Pedro propôs edificar três tabemáculos ou tendas, um em honra de Jesus, um de Moisés e um de Elias. Mas a sua ideia foi baseada em zelo sem conhecimento. 9:34-36 A voz de Deus veio de uma nuvem que os envolveu, confirmando Jesus como seu Filho amado, e dizendo-lhes para o ouvirem. Logo que a voz passou, Moisés e Elias tinham desaparecido. Somente Jesus estava em pé ali. Será assim no reino. Ele terá a preeminência em tudo. Ele não repartirá sua glória. Os discípulos saíram com uma sensação de reve­ rência tão profunda que não conversaram sobre o ocorrido com os outros. T.

Um jovem possuído por um demônio é curado (9:37-43a) 9:37-39 Do monte de glória, Jesus e os discípulos desceram no dia seguinte para o vale da necessidade humana. A vida tem seus momentos de exaltação espiritual, mas Deus os equilibra com a rotina diá­

28 (9:28-29) W. H. R o g e r s ,documentação adicional indisponível. 29 (9:32-33) Charles RYLE, Gospels, St. Luke, 1:320.

ria de fadiga e consumo. Dentro da multidão, que veio ao encontro dele, surgiu um pai perturbado, implorando que Jesus ajudasse seu filho possesso de um demônio. Era seu único filho, por essa razão o deleite do seu coração. Que tristeza indescritível para aquele pai ver o filho em convulsões demoníacas. Essas convulsões apareciam sem aviso. 0 jovem de repente gritava e espumava. Somente depois de um conflito tremendo o demônio partia, deixando-o muito machucado. 9:40 0 perturbado pai foi primeiro aos discípulos procurando ajuda, mas eles não foram capazes de fazer nada. Por que os discípulos não podiam ajudar o jovem? Talvez tivessem se tornado profissionais no seu ministério. Talvez pensassem que poderiam contar com um ministério cheio do Espírito sem constante exercício espiritual. Talvez estivessem presumindo demais. 9:41 0 Senhor Jesus entristeceu-se com esse es­ petáculo. Sem mencionar alguém em particular, ele disse: O geração incrédula e perversa! Isso poderia ser dirigido aos discípulos, ao povo, ao pai ou a todos em conjunto. Todos estavam tão impotentes perante a necessidade humana, apesar do fato de que poderiam contar com seus infinitos recursos de poder. Até quando ele precisaria estar com eles e tolerá-los? Depois ele falou ao pai: Traze o teu filho aqui. 9:42-43a Enquanto o jovem ia se aproximando de Jesus, o demônio o atirou no chão violentamente. Mas Jesus não estava comovido por essa manifesta­ ção do poder de um espírito imundo; foi a descrença dos homens que o impediu, ao contrário do poder demoníaco. Ele repreendeu o espírito imundo, curou o menino e o entregou a seu pai. Todos se maravi­ lharam. Eles reconheceram que Deus havia operado um milagre. Viram no milagre uma manifestação da majestade de Deus. U.

O Filho do Homem profetiza sua morte e ressurreição (9:43b-45) 9 :4 3 b -4 4 Os discípulos poderiam pensar que o Mestre continuaria a efetuar milagres até que, enfim, a nação inteira o aclamasse como Rei. Para tirar da sua mente tal noção, mais uma vez o Senhor lhes fez lembrar que o Filho do Homem deve ser entregue nas mãos dos homens para ser morto. 9:45 Por que eles não entenderam esta predição? Simplesmente porque voltaram a pensar no Messias como um herói popular. Sua morte traria derrota para a causa, conforme seus pensamentos. Suas próprias esperanças eram tão fortes que eram incapazes de aceitar qualquer aspecto contrário. Não foi Deus que ocultou a verdade deles, mas sua determinada

recusa em crer. Eles temiam interrogá-lo a este respeito, quase como se eles temessem ter seus medos confirmados! V. A verdadeira grandeza no reino (9:46-48) 9:46 Os discípulos não somente esperavam que o reino glorioso fosse estabelecido logo, mas também almejavam posições de grandeza no reino. Já se levantara entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior. 9:47-48 Conhecendo a questão que os estava agi­ tando, Jesus colocou uma criança junto a si e explicou que quem recebesse uma criança em seu nome o receberia. No primeiro instante não parece ter qualquer relação com a pergunta sobre qual era o maior entre os discípulos. Mas, mesmo não sendo óbvia, a relação parece ser a seguinte: verdadeira grandeza é vista através do tenro cuidado com as criancinhas, com os que são impotentes, com os que o mundo deixa de lado. Portanto, quando Jesus disse que o menor entre vós todos, esse é que é grande, ele se referia àquele que se humilhou a si mesmo para se associar com crentes desconhecidos, insignificantes e desprezados. Em Mateus 18:4, o Senhor disse que o maior no reino do céu é aquele que se humilha como uma crian­ ça. Aqui em Lucas é questão de identificar-se com os mais humildes entre os filhos de Deus. Em ambos os casos, envolve tomar um lugar de humildade, como o Salvador fez. W. O Filho do Homem proíbe o sectarismo (9:49-50) 9 :49 Parece que esse acontecimento demonstra o comportamento que o Senhor havia acabado de avisar aos discípulos que evitassem. Eles tinham achado alguém expelindo dem ônios no nome de Jesus. Eles o proibiram pela razão de que ele não era um dos seguidores do Senhor. Em outras palavras, eles recusaram receber um filho do Senhor no seu nome. Eles eram sectários e limitados. Eles deveriam ter ficado alegres com a expulsão do demônio. Eles nunca deveriam ser invejosos de qualquer homem ou grupo que poderia expelir mais demônios que eles. Entretanto, todo discípulo precisa guardar-se contra esse desejo de exclusivismo, um monopólio de poder espiritual e de prestígio. 9:50 Jesus lhe disse: Não proibais; pois quem não é contra vós outros é por vós. No que diz res­ peito à pessoa e à obra de Cristo, não pode haver neutralidade. Se os homens não são afavor de Cristo, são contra ele. Mas quando afeta o serviço cristão A. L. Williams diz:

Cristãos sérios precisam lembrar que, quando os de fora fazem qualquer coisa no nome de Cristo, esse trabalho deve, como um todo, levar a causa do Senhor adiante. [...] A resposta do Mestre conteve uma verdade ampla e de longo alcance. Nenhuma sociedade terrena, por mais santa que seja, seria exclusivamente capaz de reivindicar os poderes divinos inseparavelmente vinculados a um uso verdadeiro e fiel do seu nome.30

VII. Oposição crescente ao Filho do Homem (9:51— 11:54) A. Samaria rejeita o Filho do Homem (9:51-56) 9:51 0 tempo da ascensão de Jesus ao céu estava se aproximando. Ele bem sabia disso. 0 Senhor também sabia que a cruz ficava no meio, e assim ele foi resolutamente em direção a Jerusalém e a tudo o que o esperava ah. 9:52-53 Uma aldeia samaritana, que estava no ca­ minho, não mostrou hospitalidade ao Filho de Deus. 0 povo sabia que ele ia a Jerusalém, e isso, na sua opi­ nião, foi razão suficiente para barrá-lo. Afinal, havia intenso ódio entre samaritanos e judeus. Seu espírito sectário e fanático, sua atitude segregacionista e seu orgulho racista fizeram-lhes relutantes em receber o Senhor da Glória. 9:54-56 Tiago e João estavam tão zangados com essa descortesia que ofereceram mandar descer fogo do céu para destruir os ofensores. Jesus logo os re­ preendeu. Ele não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. Esse foi o ano aceitável do Senhor, e não o dia de vingança do nosso Deus. Eles deveriam ser caracterizados por graça, e não por espírito vingativo. B. Impedimentos ao discipulado (9:57-62) 9 :57 Nesses versículos, encontramos três supostos discípulos que demonstram três dos maiores impe­ dimentos ao discipulado sincero. 0 primeiro homem estava bem confiante de que queria seguir a Jesus para onde quer que ele fosse. Ele não esperou ser chamado, mas impetuosamente se ofereceu. Era auto-confiante, impulsivo demais e não pensou no custo. Ele não sabia o significado do que disse. 9:58 A princípio, a resposta de Jesus parece não ter nenhuma ligação com a oferta do homem. Na ver­ dade, porém, há uma relação bastante próxima entre elas. Jesus estava dizendo, com efeito: “Você sabe mesmo o que significa me seguir? Significa abrir mão

dos confortos e conveniências da vida. Não tenho um lugar que possa chamar de lar e onde possa encontrar repouso. As raposas [...] e as aves encontram mais conforto e segurança na natureza do que eu. Você está disposto a me seguir ainda que signifique deixar para trás confortos que, para a maioria dos homens, são direitos inalienáveis?” . Ao lermos que o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça, nossa tendência é sentir pena dele. Um comentarista obser­ va, porém: “Jesus não precisa de nossa compaixão. Na verdade, devemos sentir pena de nós mesmos se temos um lar que nos prende quando Cristo nos chama para ir aos confins da terra”. Uma vez que o homem desaparece de cena, podemos supor que não quis abrir mão dos pequenos confortos da vida para seguir o Filho de Deus. 9:59 0 segundo homem ouviu o chamado de Cristo para segui-lo. Em certo sentido, havia disposição da parte dele, mas também havia algo que ele queria fazer primeiro: ir e sepultar o seu pai. Observe o que ele disse: Senhor, permite-me ir primeiro. Em outras palavras, Senhor... eu primeiro. Ele chamou Jesus pelo nome de Senhor, mas de fato ele coloca os próprios desejos e interesses em primeiro lugar. As palavras “Senhor” e “eu primeiro” são totalmente opostas uma à outra; devemos escolher uma ou outra. Se o pai estava já morto ou se o filho planejava ficar no lar até que ele falecesse, a conseqüência era a mesma: ele estava permitindo que algo tomasse a precedência sobre o chamado de Cristo. É absolu­ tamente legítimo e certo mostrar respeito a um pai morto ou a caminho da morte, mas, quando se permite que alguém ou algo entre em rivalidade com Cristo, toma-se categoricamente pecaminoso. Esse homem tinha outra coisa a fazer — digamos, um emprego ou uma ocupação — , e isso o afastou de um caminho de discipulado sem reservas. 9:60 0 Senhor repreendeu sua indecisão com as palavras: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus. Os espiritualmente mortos podem sepultar os fisicamente mortos, mas eles não podem pregar o evangelho. Os discípulos não deveriam dar prioridade às tarefas que os descrentes podem fazer tão bem como os cristãos. 0 crente deve reconhecer que ele é indispensável em relação ao principal ímpeto da sua vida. Sua ocupação principal deveria ser fazer avançar a causa de Crista na terra.

31 (9:62) Isso provavelmente não significa uma olhada momentânea para trás, mas a mentalidade “de volta ao Egito” que os israelitas tinham no deserto. 32 (10:1-12) Aqui e no versículo 17 o texto (HU) traz: “setenta e dois".

9:61 O terceiro suposto discípulo é semelhante.ao primeiro porque ele se ofereceu para seguir a Cristo. Ele era como o segundo, ao expressar a contradição Senhor... eu primeiro. Ele queria primeiramente se despedir de sua família. 0 pedido era razoável e certo, mas mesmo as cortesias comuns da vida são erradas se colocadas antes da obediência imediata e completa. 9:62 Jesus falou-lhe que uma vez tendo posto a mão no arado do discipulado, ele não deveria olhar31 para trás; caso contrário, ele não estaria apto para o reino de Deus. Os seguidores de Cristo não são feitos de caráter indiferente ou sentimentalidade de sonhos. Nenhuma consideração a famíha ou amigos, mesmo lícitas em si, devem fazê-los voltar atrás na entrega total e completa ao Senhor. A expressão “não apto para o reino” não se refere à salvação, mas ao serviço. Não é questão de entrada no reino, mas de serviço no reino depois de entrar. A nossa aptidão para entrar no reino é a pessoa e a obra do Senhor Jesus. Toma-se nossa pela fé nele. E assim temos três impedimentos principais ao discipulado demonstrados na experiência desses homens: 1. Confortos materiais. 2. Emprego ou ocupação. 3. Família e amigos. Cristo deve reinar no coração sem rivais. Os outros amores e as outras lealdades devem ser secundárias. C. A missão dos setenta (10:1-16) 10:1-12 Esse é o único relato nos evangelhos do Senhor enviando os setenta32 discípulos. Ébem seme­ lhante à comissão dos doze em Mateus 10. Todavia, ali os discípulos foram enviados às áreas do norte, enquanto os setenta agora estão sendo enviados ao sul, ao caminho que o Senhor seguia a Jerusalém. Parece que essa missão foi planejada para preparar o caminho para o Senhor na sua viagem de Cesareia de Filipe, no norte, através da Galileia e de Samaria, atravessando o Jordão, ao sul, pela Pereia, depois voltando pelo Jordão a Jerusalém. Enquanto o ministério e o serviço dos setenta foi somente temporário, as instruções do Senhor a esses homens sugerem muitos princípios de vida que se referem aos cristãos de todas as épocas. Alguns desses princípios podem ser resumidos desta forma: l.E le os enviou de dois em dois (v. 1). Isso sugere testemunho competente. “Por boca de duas ou três testemunhas toda questão será decidida” (2Co 13:1).

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0 servo do Senhor deve orar constantemente, e Deus mandará trabalhadores para a sua seara (v. 2). A necessidade é sempre maior que a provi­ são de trabalhadores. Ao orar por trabalhadores, obviamente, devemos estar dispostos a ir. Note: rogai (v. 2), ide (v. 3). Os discípulos de Jesus são enviados para um am­ biente hostil (v. 3). Eles estão, aparentemente, sem defesa, como cordeiros no meio de lobos. Eles não podem esperar ser tratados majestosa­ mente pelo mundo, mas, antes, ser perseguidos e até mortos. Considerações de conforto pessoal não podem ser permitidas (v. 4a). Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias. A b olsa se refere a reservas financeiras. 0 alforje sugere reservas de alimento. As sandálias podem se referir ou a um par extra, ou sandálias mais confortáveis. Esses três elementos tratam daquele tipo de pobreza que, embora não tendo nada, possui tudo e enriquece a muitos (2Co 6:10). A ninguém saudeis pelo caminho (v. 4b). Os servos de Cristo não devem perder tempo em saudações compridas e cerimoniais, como eram comuns no oriente. Embora devam ser afáveis e educados, devem utilizar o tempo na proclama­ ção gloriosa do evangelho em vez de conversa sem proveito. Não há tempo para demoras des­ necessárias. Eles devem aceitar hospitalidade, seja onde for que lhes seja oferecida [v. 5-6). Se sua sauda­ ção inicial é recebida favoravelmente, então o hospedeiro é um filho da paz. Ele é um homem caracterizado por paz e alguém que recebe a mensagem de paz. Se os discípulos são recu­ sados, eles não deveriam ficar desanimados; a sua paz voltará sobre eles, isto é, não houve desperdício ou perda, e outros a receberão. Os discípulos deveriam permanecer na mesma casa que oferece hospedagem (v. 7). Mudar de casa em casa poderia caracterizá-los como os que estão procurando as acomodações mais luxuosas, quando na verdade deveriam viver modestamente e agradecidos. Eles não deveriam hesitar em comer qualquer alimento e bebida que lhes fosse oferecido (v. 7). Como servos do Senhor, eles têm direito a seu sustento. As metrópoles e cidades tomam uma posição ou a favor ou contra o Senhor, como os indivíduos fazem (v. 8-9). Se uma área recebe a mensagem, os discípulos devem pregax ali, aceitar a hospita­ lidade local e trazer-lhe as bênçãos do evangelho.

Os servos de Cristo deveriam comer do que lhes for oferecido, não sendo fastidiosos acerca do alimento ou causando inconveniência no lar. Afinal, alimento não é a coisa mais importante na vida. Ainda assim, os doentes de pecado de cidades que recebiam os mensageiros do Senhor eram curados. Também o Rei aproximava-se bem perto deles (v. 9). 10. Uma cidade pode rejeitar o evangelho e depois lhe ser negado o privilégio de ouvi-lo de novo (v. 10-12). Chega um tempo no plano de Deus que a mensagem é ouvida pela última vez. Os homens não devem menosprezar o evangelho, porque este pode ser retirado para sempre. A luz rejeitada é a luz negada. Cidades e aldeias privilegiadas em ouvir as boas-novas e que as recusam serão julgadas mais rigorosamente que a cidade de Sodoma. Quanto maior o privilégio, maior a responsabilidade. 10:13-14 Enquanto Jesus falava essas palavras, ele se lembrou de três cidades da Galileia que foram mais privilegiadas que quaisquer outras. Eles o viram realizar grandes milagres nas suas ruas. Ouviram seu ensino gracioso. Mas ainda assim o recusaram totalmente. Se os milagres que ele fizera em Corazim e Betsaida tivessem sido feitos nas antigas Tiro e Sidom, essas cidades litorâneas há muito teriam se arrependido, assentadas em pano de saco e cinza. Em virtude das cidades da Galileia serem impassíveis às obras de Jesus, seu julgamento seria mais severo que o de Tiro e Sidom. Historicamente, Corazim e Betsaida foram destruídas de tal forma que seu local exato é desconhecido hoje. 10:15 Cafamaum tomou-se a cidade nativa de Je­ sus depois de mudar de Nazaré. A cidade foi exaltada ao céu em privilégio. Mas desprezou seu mais notável Cidadão e perdeu seu dia de oportunidade. Assim descerá até ao infemo em julgamento. 10:16 Jesus encerrou as instruções aos setenta com uma declaração de que eles eram seus embai­ xadores. Rejeitá-los significava rejeitá-lo e recusá-lo era recusar a Deus, o Pai. 0 bispo Ryle comenta: Provavelmente não há linguagem mais forte no Novo Testamento relativa à dignidade do serviço de um ministro fiel e a culpa que recaí sobre os que recusam ouvir sua mensagem. Devemos lembrar que não se trata de linguagem dirigida aos doze apóstolos, mas aos setenta discípulos sobre cujo nome e história subsequente nada sa­ bemos. Scott observa: “Rejeitar um embaixador,

ou tratá-lo com desdém, é uma afronta ao prín­ cipe que o comissionou e enviou, e a quem ele representa. Os apóstolos e os setenta discípulos eram embaixadores e representantes de Cristo; e os que os rejeitaram e desprezaram, de fato, rejeitaram e desprezaram a Jesus”.33 D. Os setenta voltam (10:17-24) 10:17-18 Quando regressaram da sua missão, os setenta estavam tão possuídos de alegria porque até os demônios se submeteram a eles. A reposta de Jesus pode ser entendida de duas formas. Primeira, pode significar que ele viu no seu sucesso um penhor da queda futura de Satanás do céu. Jamieson, Fausset e Brown parafraseiam assim as palavras do Senhor: “Eu os segui na missão e observei os triunfos; en­ quanto se admiravam com a sujeição dos demônios a vocês no meu nome, um espetáculo maior estava se abrindo à minha vista; de repente, como o movimento súbito do relâmpago do céu à terra, vejam! Satanás foi visto caindo do céu”. Essa queda de Satanás é ainda futura. Ele será expulso do céu por Miguel e seus anjos (Ap 12:7-9). Isso acontecerá no período da tribulação, e antes do glorioso reino de Cristo na terra. Uma segunda interpretação possível das palavras de Jesus é um aviso contra o orgulho. É como se ele dissesse: “Sim, vocês estão jubilosos porque até os demônios têm se sujeitado a vocês. Lembrem-se, porém: o orgulho é o pai do pecado. 0 orgulho de Lúcifer resultou em sua queda e na expulsão do céu. Certifiquem-se de evitar esse perigo”. 10:19 0 Senhor tinha dado autoridade aos discípu­ los contra as forças do mal. Foi garantida imunidade contra o mal durante a missão. É verdade que todos os servos de Deus são protegidos. 10:2 0 Mas não tinham de se alegrar com seu poder sobre os espíritos; antes, deviam se alegrar pela própria salvação. Esse é o único registro de um pedido do Senhor para que seus discípulos não se alegrassem. Há perigos sutis em relação ao sucesso no serviço cristão, ao passo que o fato de que nosso nome está arrolado no céu faz-nos lembrar da nossa dívida infinita com Deus e com seu Filho. É seguro alegrar-se na salvação pela graça. 10:21 Rejeitado pela maioria do povo, Jesus con­ templou seus humildes seguidores e exultou no Espírito, agradecendo ao Pai pela sua sabedoria incalculável. Os setenta não eram os sábios e en­ tendidos deste mundo. Não eram os intelectuais ou

os estudados. Eram simplesmente pequeninos! Mas eram pequeninos com fé, devoção e inquestionável obediência. Os intelectuais eram sábios demais, inteligentes demais, destros demais para o próprio bem deles. 0 orgulho cegou-os ao verdadeiro valor do Filho Amado de Deus. É através dos pequeninos que Deus pode trabalhar mais efetivamente. 0 Senhor estava feliz com os que o Pai lhe tinha dado, e por esse sucesso inicial dos setenta profetizou a queda final de Satanás. 10:22 Tudo foi entregue ao Filho pelo seu Pai, coisas no céu, na terra ou debaixo da terra. Deus colocou o universo inteiro sob a autoridade do Filho. Ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai. Há um mistério em relação à encarnação que ninguém, senão o Pai, pode compreender. Como Deus poderia tomar-se Homem e viver num corpo humano é além da compreensão da criatura. Ninguém sabe quem é o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Também Deus está além do entendi­ mento humano. 0 Filho o conhece perfeitamente, e o Filho o revelou aos fracos, humildes e desprezados que têm fé nele (ICo 1:26-29). Os que têm visto o Filho têm visto o Pai. 0 Filho unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou (Jo 1:18). Kelly diz: “0 Filho revela o Pai; mas a mente do ho­ mem sempre se fragmenta quando ele tenta desven­ dar o enigma insolúvel da glória pessoal de Cristo”. 10:23-24 Em particular, o Senhor disse aos dis­ cípulos que eles viviam num tempo privilegiado, sem precedente. Os profetas e reis do AT desejavam ver os dias do Messias, mas não os viram. Aqui o Senhor Jesus alega ser aquele por quem os profetas do AT ansiavam: o Messias. Os discípulos eram privilegiados ao ver os milagres e ouvir o ensino da Esperança de Israel. E.

O doutor da lei e o bom samaritano (10:25-37) 10:25 O doutor da lei, perito nos ensinos da Lei de Moisés, provavelmente não era sincero na sua pergunta. Ele estava tentando enganar o Salvador, testando-o ao máximo. Talvez ele tenha pensado que o Senhor repudiaria a lei. Para ele, Jesus era somente um ensinador, e a vida eterna era algo que ele pode­ ria ganhar ou merecer. 10:26-28 0 Senhor levou tudo isso em consideração quando respondeu ao perito. Se o doutor da lei tivesse sido humilde e penitente, o Salvador teria respondido mais diretamente. Nas circunstâncias, Jesus dirigiu sua atenção à lei. 0 que a lei exigiu? Exigiu que o homem amasse o Senhor de todo o coração, alma, forças e entendimento, e o próximo como a si mesmo. Jesus lhe falou que se ele fizesse assim viveria.

Em primeiro lugar, pode parecer que o Senhor esta­ va ensinando salvação pelo cumprimento da lei. Não foi esse o caso. Deus nunca intencionou que alguém pudesse ser salvo por guardar a lei. Os Dez Manda­ mentos foram dados ao povo que já era pecador. O propósito da lei não é salvar do pecado, mas produzir o conhecimento do pecado. A função da lei é mostrar para o homem que ele é um pecador culpado. E impossível para o homem pecador amar a Deus com todo o coração e o próximo como a si mesmo. Se ele pudesse fazer isso do nascimento até a morte, não precisaria da salvação. Ele não seria perdido. Mas, mesmo assim, sua recompensa seria somente vida longa na terra, não vida etema no céu. Enquanto ele vivesse sem pecado, continuaria a viver. A vida etema é somente para pecadores que reconhecem sua condição perdida e que são salvos pela graça de Deus. Assim, a declaração de Jesus “Faze isto, e viverás” foi meramente hipotética. Se sua referência à lei tivesse tido o efeito desejado no doutor da lei, ele teria dito: “Se é isso o que Deus requer, então estou perdido, desamparado e sem esperança. Eu me lanço no seu amor e na sua misericórdia. Salva-me pela sua graça”. 10:29 Em vez disso, ele tentou justificar-se. Por quê? Ninguém o acusou. Havia uma percepção de fa­ lha e seu coração ergueu-se em orgulho para resistir. Ele perguntou: Quem é o meu próximo? Isso era uma tática ambígua da parte dele. 10:30-35 Foi em resposta àquela pergunta que o Senhor Jesus contou a história do bom samaritano. Os detalhes da história são familiares. A vítima do roubo (quase com certeza um judeu) ficou semimorta no caminho para Jericó. 0 sacerdote judaico e o levita se recusaram a ajudar; talvez temessem que fosse uma conspiração, ou estavam com medo de serem rouba­ dos se demorassem. Foi um samaritano desprezado que o acudiu, que aplicou os primeiros socorros, que levou a vítima para uma hospedaria e tomou provi­ dências para o seu cuidado. Para o samaritano, um judeu necessitado foi o seu próximo. 10:36-37 Depois o Salvador fez a pergunta ine­ vitável. Qual destes três se mostrou o próximo do homem necessitado? Aquele que usou de misericór­ dia, de certo. Sim, é claro. Assim o doutor deveria ir e proceder de igual modo. “Se um samaritano poderia provar-se o verdadeiro próximo de um judeu, mostrando-lhe misericórdia, então todos os homens são os próximos”.34 Não é difícil ver no sacerdote e no levita um quadro da incapacidade da lei para ajudar o pecador morto; a lei mandou: “Amai o teu próximo como a ti mesmo”,

mas não deu o poder de obedecer. Nem é difícil iden­ tificar o bom samaritano com o Senhor Jesus que veio onde estávamos, salvou-nos dos nossos pecados e fez plena provisão para nós da terra ao céu e para toda a eternidade. Sacerdotes e levitas podem desapontarnos, mas o Bom Samaritano nunca. A história do bom samaritano teve uma mudan­ ça inesperada. Começou por responder à pergunta “Quem é o meu próximo?”, mas terminou fazendo a pergunta “Quem parece ser o seu próximo?”. E Maria e Marta (10:38-42) 10:38-41 Agora o Senhor centraliza sua atenção na palavra de Deus e na oração, sendo os dois grandes meios de bênção (10:38— 11:13). Maria quedava-se assentada aos pés do Senhor, enquanto Marta agitava-se com suas preparações para o Hóspede Real. Marta queria que o Senhor cen­ surasse sua irmã por sua falha em ajudá-la, mas Jesus gentilmente reprovou a Marta por sua ansiedade. 10:42 0 Senhor estima nossa afeição acima do serviço. 0 serviço pode ser manchado com orgulho e presunção. Ocupar-se com o Senhor é a coisa ne­ cessária, aquela boa parte que não será tirada. “0 Senhor quer converter-nos de Martas em Marias”, comenta C. A. Coates, “da mesma forma que ele quer converter-nos de doutores da lei em próximos” .35 Charles R. Erdman escreve: Mesmo que o Mestre aprecie tudo o que empre­ endemos para ele, ele sabe que nossa primeira necessidade é assentar aos seus pés e aprender sua vontade; assim, nas nossas incumbências, seremos calmos, sossegados e amáveis e, enfim, nosso serviço poderá atingir a perfeição daquele de Maria, quando mais tarde ela derramou nos pés de Jesus o unguento, cujo perfume ainda enche o mundo.36 G. A oração dos discípulos (11:1-4) Entre os capítulos 10— 11, há um intervalo de tempo que é coberto em João 9:1— 10:21. 11:1 Essa é outra das freqüentes referências feitas por Lucas à vida de oração do Senhor. Encaixa com o propósito de Lucas em apresentar Cristo como o Filho do Homem, sempre dependente de Deus, seu Pai. Os discípulos perceberam que a oração era uma força real e vital na vida de Jesus. Enquanto ouviam o

34 (10:36-37) F. Davidson, ed., The New Bible Commentary, p. 851. 35 (10:42) C. A. Coates, An Outline ofL uke’s Gospel, p. 129. 36 (10:42) Charles R. ERDMAN, The Gospel ofLuke, p. 112.

Senhor orar, sentiam o desejo de orar também. Então um dos seus discípulos pediu-lhe que os ensinasse a orar. Ele não disse: “Ensina-nos como orar”, mas Ensina-nos a orar. Portanto, o pedido certamente inclui tanto o fato como o método. 11:2 0 modelo de oração que o Senhor Jesus lhes deu nessa ocasião é algo diferente da assim chamada Oração Dominical no evangelho de Mateus. Todas es­ sas diferenças têm um propósito e sentido. Nenhuma delas é sem significação. Primeiro, o Senhor ensinou os discípulos a se diri­ gir a Deus como Pai. Essa íntima afinidade familiar era desconhecida aos crentes no AT. Simplesmente quer dizer que os crentes agora podem falar com Deus como a um amoroso Pai celestial. Em seguida, somos ensinados a orar para que o nome de Deus seja santificado. Isso expressa a ânsia do coração do crente de que ele deveria ser reverenciado, magnificado e adorado. Na petição, venha o teu reino, temos uma oração para que o dia logo chegue quando Deus derrubará as forças do mal e, na pessoa de Cristo, reinará supremo sobre a terra, onde sua vontade será feita como é no céu. 11:3 Tendo procurado primeiro o reino de Deus e sua justiça, o peticionário é ensinado a tomar co­ nhecidos seus desejos pessoais e suas necessidades. Apresenta-se a sempre constante necessidade de alimento, tanto físico quanto espiritual. Temos de viver em dependência diária dele, reconhecendo-o como a fonte de todo bem. 11:4 Em seguida, há a oração para perdão dos pecados, baseada no fato de que temos mostrado um espírito perdoador aos outros. Obviamente isso não se refere ao perdão da penalidade do pecado. Aquele perdão é baseado na obra completa de Cristo no Calvário, e é recebido somente através da fé. Mas aqui estamos tratando do perdão patemo ou governamental. Depois de sermos salvos, Deus nos trata como filhos. Se ele descobre um espírito duro e implacável em nosso coração, ele nos punirá até sermos quebrantados e trazidos de volta para a co­ munhão com ele. Esse perdão se refere à comunhão com Deus, não ao relacionamento com ele. 0 apelo não nos deixe cair em tentação apre­ senta dificuldades para algumas pessoas. Sabemos que Deus nunca tenta alguém a pecar. Mas ele nos

37 (11:4) Lucas fornece uma versão mais abreviada da “Oração do discípulo”, o que talvez sugira que não deva ser recitada palavra por palavra. As omissões no texto crítico (NU) são geralmente considera­ das intercalações de Mateus feitas por editores daquele texto. 38 (11:9) O presente imperativo no grego sugere uma ação contínua.

permite padecer provações e testes na vida, e esses são designados para o nosso bem. Aqui o pensamento dá a entender que deveríamos estar constantemente cientes da nossa inclinação ao pecado. Devería­ mos pedir ao Senhor para nos guardar de cometer pecado, ainda que tivéssemos a vontade de pecar. Deveríamos orar para que tanto o desejo como a oportunidade de pecar nunca coincidam. A oração expressa desconfiança sadia da nossa capacidade de resistir à tentação. A oração termina com um apelo de libertação do mal.37 H. Duas parábolas sobre oração (11:5-13) 11:5-8 Falando ainda sobre a oração, o Senhor apre­ sentou uma ilustração com o intuito de mostrar a pron­ tidão de Deus em ouvir e responder as petições dos seus filhos. A história trata de um homem que recebeu a visita de um amigo à meia-noite. Infelizmente ele não tinha alimento suficiente em mãos. Então foi a um vizinho, bateu na porta e pediu três pães. No início, o vizinho estava irritado pelo sono interrompido e não se preocupou em levantar. Mas por causa do prolongado bater e gritar do hospedeiro perturbado finalmente ele se levantou e deu-lhe o que necessitava. Ao aplicar essa ilustração, devemos ter cuidado de evitar certas conclusões. Não quer dizer que Deus é importunado por nossos pedidos persistentes, nem sugere que a única maneira de receber respostas às nossas orações é sendo persistente. Mas ensina que, se um homem está pronto a ajudar um amigo por ser importunado, Deus está muito mais pronto a ouvir os rogos dos seus filhos. 11:9 Isso nos ensina que não deveríamos cansar ou desanimar na nossa vida de oração. “Continue pedindo [...] continue procurando [...] continue ba­ tendo...”38Às vezes Deus responde nossas orações da primeira vez que pedimos. Mas, em outros casos, ele só responde depois de pedidos prolongados. Deus responde às orações: As vezes, quando o coração está fraco, Ele dá exatamente as dádivas que os crentes procuram; Mas muitas vezes a fé deve aprender um descan­ so mais profundo, E confiar no silêncio de Deus quando ele não fala; Porque ele, cujo Nome é amor, enviará o melhor, Estrelas podem queimar-se, e encostas das mon­ tanhas podem não suportar, Mas Deus é verdadeiro; as suas promessas são fiéis. Ele é a nossa força. M.G.P.

Parece que a parábola eusina degraus crescentes de importunação: pedir, procurar e bater. 11:10 Ensina que todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-á. Isso é uma promessa de que, quando oramos, Deus sempre nos dá o que pedimos, ou ele dá algo melhor. Um “não” como resposta quer dizer que ele reconhece que o pedido não seria o melhor para nós; sua negação então é melhor que o nosso pedido. 11:11-12 Ensina que Deus nunca nos engana e dá uma pedra quando pedimos pão. Pão naqueles dias era na forma de um bolo redondo e raso, parecendo pedra. Deus nunca zombará de nós dando algo não comestível quando pedimos alimento. Se pedimos peixe, ele não nos dará cobra, isto é, algo que pode nos destruir. E se pedimos ovo ele não nos dará es­ corpião, isto é, algo que causaria dor excruciante. 11:13 Um pai humano não daria dádivas ruins; mesmo tendo natureza pecaminosa, ele sabe como dar boas dádivas aos seus filhos. Quanto mais o nosso Pai celestial está pronto a dar o Espírito Santo àqueles que lho pedirem. J. G. Bellett diz: “É significativo que a dádiva que ele escolhe como aquela de que mais precisamos é aquela que ele deseja mais dar: o Espírito Santo”. Quando Jesus falou essas pala­ vras, o Espírito Santo não fora dado ainda (Jo 7:39). Não deveríamos orar hoje para que o Espírito Santo seja dado a nós como uma pessoa residente, porque ele vem habitar em nós na hora da nossa conversão (Rm 8:9b; Ef 1:13-14). Mas, certamente, para nós, é justo e necessá­ rio orarmos ao Espírito Santo de outras maneiras. Deveríamos orar para que sejamos prontos a ser ensinados e guiados por ele, e para que seu poder seja derramado sobre nós em todo o serviço que prestamos a Cristo. É bem possível que quando Jesus ensinou os discí­ pulos a pedir o Espírito Santo, ele se referia ao poder do Espírito, possibilitando-lhes viver o tipo sobrena­ tural de discipulado que ele ensinara nos capítulos anteriores. E agora eles provavelmente sentiram quão impossível era para eles acertar os testes de discipu­ lado mediante força própria. De fato, essa é a verdade. 0 Espírito Santo é o poder que nos capacita a viver a vida cristã. E assim Jesus apresentou Deus como desejoso de dar esse poder aos que pedem. No original grego, o versículo 13 não declara que Deus dará o Espírito Santo, mas que ele “dará Espí­ rito Santo” (sem o artigo). 0 professor H. B. Swete salientou que quando o artigo está presente refere-se à pessoa em si; quando ausente, refere-se às suas dádivas ou operações em nosso favor. Então, nessa passagem, não é tanto uma oração pela pessoa do Es­

pírito Santo, mas pelo seu ministério em nossa vida. Isso é mais esclarecido pela passagem paralela em Mateus 7:11: “... quanto mais vosso Pai que está nos céus dará boas coisas aos que lhe pedirem?”. I. Jesus responde aos seus críticos (11:14-26) 11:14-16 Expelindo um demônio que transformara sua vítima num mudo, Jesus criou um alvoroço entre o povo. Enquanto as multidões se maravilhavam, outros se posicionavam contra o Senhor mais aber­ tamente. A oposição tomou duas formas principais. Alguns o acusaram de expelir demônios pelo poder de Belzebu, o maioral dos demônios. Outros suge­ riram que ele deveria realizar um sinal do céu; talvez a ideia era que com isso pudesse refutar a acusação feita contra ele. 11:17-18 A acusação de que ele expeliu demônios porque era possuído por Belzebu é respondida nos versículos 17-26. 0 pedido de um sinal é respondido no versículo 29. Primeiro, o Senhor Jesus lembroulhes que todo reino divido contra si mesmo ficará deserto, e casa sobre casa cairá. Se ele fosse um instrumento de Satanás para expelir demônios, então Satanás estava combatendo contra os próprios subor­ dinados. É ridículo pensar que Satanás opusera-se a si mesmo, estorvando seus propósitos. 11:19 Em segundo lugar, o Senhor fez lembrar aos seus críticos que alguns dos próprios conterrâneos deles estavam naquele mesmo tempo expelindo de­ mônios. Se ele fizesse pelo poder de Satanás, então segue necessariamente que eles deviam estar fazendo pelo mesmo poder. De fato, os judeus nunca estariam prontos a admitir isso. Mesmo assim, como é que eles poderiam negar a força do argumento? O poder de expelir demônios veio ou de Deus ou de Satanás. Tinha de ser um ou outro; não podia ser ambos. Se Jesus agiu pelo poder de Satanás, então os exorcistas judeus dependiam do mesmo poder. Condená-lo era condená-los também. 11:20 0 verdadeiro esclarecimento é que Jesus expelia os demônios com o dedo de Deus. 0 que ele queria dizer pelo dedo de Deus? No evangelho de Mateus (12:28), lemos: “Se, porém, eu expulso os de­ mônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós”. Assim concluímos que o dedo de Deus é o mesmo que o Espírito de Deus. O fato de Jesus expelir demônios pelo Espírito de Deus era evidência suficiente de que o reino de Deus ti­ nha chegado sobre o povo daquela geração. O reino veio na pessoa do próprio Rei. 0 mero fato de que o Senhor Jesus estava ah, realizando tais milagres, era prova positiva de que o regente ungido por Deus tinha aparecido no palco da história.

11:21-22 Até aquele momento, Satanás fora um vidente, bem armado, que possuía domínio incontes­ tável sobre sua corte. Os que estavam possuídos de demônios eram presos por ele, e não havia ninguém paura desafiá-lo. Os seus bens estavam em paz, isto é, ninguém tinha o poder de disputar seu domínio. 0 Senhor Jesus era mais valente que Satanás, sobre­ vindo sobre ele, o venceu, tirou-lhe a armadura, e dividiu os bens. Nem mesmo os críticos negaram que demônios eram expelidos por Jesus. Assim ficava evidente que Satanás fora vencido e que suas vítimas foram sendo liberadas. Esse é o ponto principal desses versículos. 11:23 Depois Jesus acrescentou que alguém que não é por ele é contra ele e alguém que não ajunta com ele espalha. Como alguém já disse: “Ou se está a caminho ou no caminho”. Já mencionamos a contradição aparente entre este versículo e 9:50. Se a questão é a pessoa e a obra de Cristo, não pode haver neutralidade. Um homem que não é a favor de Cristo é contra ele. Mas, quando é questão de serviço cristão, os que não são contra os servos de Cristo são a favor deles. No primeiro versículo, é uma questão de salvação; no segundo, de serviço. 1 1 :24-26 Parece que o Senhor está virando a mesa sobre seus críticos. Eles o acusaram de estar possuído de demônios. Agora ele compara a nação judaica a um homem que foi temporariamente curado de possessão demoníaca. Isso foi verdade na história desse povo. Antes do cativeiro, a nação de Israel tinha sido possuída pelo demônio da idolatria. Mas o cativeiro os livrou daquele espírito imundo, e desde então os judeus nunca voltaram para ela. Sua casa foi varrida e posta em ordem, mas não tem permitido ao Senhor entrar e tomar posse. Consequentemente, ele predisse que, em um dia futuro, o espírito imun­ do ajuntaria outros sete espíritos, piores do que ele, e eles entrariam na casa e habitariam ali. Isso se refere à forma terrível de idolatria que a nação judaica adotará durante o período da tribulação; eles reconhecerão o anticristo como Deus (Jo 5:43), e o castigo desse pecado será o maior que a nação já suportou. Enquanto essa metáfora se refere sobretudo à história nacional de Israel, também aponta para a insuficiência do mero arrependimento ou reforma na vida de um indivíduo. Não é suficiente virar para uma página nova. 0 Senhor Jesus Cristo deve ser recebido com alegria no coração e na vida. Caso contrário, a vida é aberta à entrada de mais formas imundas de pecado do que foi praticado anteriormente.

J. Mais abençoada que Maria (11:27-28) Certa mulher veio da multidão saudar Jesus com as palavras: Bem-aventurada aquela que te concebeu e os seios que te amamentaram! A resposta do Se­ nhor foi muito significativa. Ele não negou que Maria, sua mãe, era bem-aventurada, mas ele foi além disso e disse que era mais importante ouvir a palavra de Deus e a guardar. Em outras palavras, até a virgem Maria foi mais bem-aventurada por crer em Cristo e o seguir que por ser sua mãe. Parentesco natural não é tão importante como o espiritual. Isso deve ser suficiente para silenciar os que fariam de Maria um objeto de adoração. K. O sinal de Jonas (11:29-32) 11:29 No versículo 16, alguns tentaram o Senhor Je­ sus, pedindo-lhe um sinal do céu. Agora ele responde àquele pedido o atribuindo a uma geração perversa. Ele estava falando principalmente da geração judaica que vivia naquele tempo. 0 povo tinha sido privilegia­ do com a presença do Filho de Deus. Ouviram suas palavras e testemunharam seus milagres. Mas eles não estavam satisfeitos com isso. Agora fingiram que, se pudessem ver uma obra potente e sobrenatural nos céus, creriam nele. A resposta do Senhor foi que nenhum outro sinal seria lhes dado senão o sinal de Jonas, o profeta. 11:30 Ele se referia à sua ressurreição dentre os mortos. Como Jonas foi resgatado do mar, depois de estar no ventre do peixe por três dias e três noites, assim o Senhor Jesus ressuscitaria depois de estar no túmulo por três dias e três noites. Em outras palavras, o último e convincente milagre no ministério terrestre do Senhor Jesus seria sua ressurreição. Jonas tomouse um sinal aos ninivitas. Quando ele foi pregar a essa metrópole gentüica, ele foi como alguém que, pelo menos figurativamente, ressuscitara dos mortos. 11:31-32 A rainha do Sul, a rainha gentüica de Sabá, veio dos confins da terra para ouvir a sabe­ doria de Salomão. Ela não viu um milagre sequer. Se ela tivesse sido privilegiada por viver nos dias do Senhor, ela o teria recebido prontamente. Portanto, ela se levantará no juízo contra aqueles homens perversos que foram privilegiados em ver as obras sobrenaturais do Senhor Jesus e que, entretanto, rejeitaram-no. Um maior do que Jonas e um maior do que Salomão aparecera no palco da história huma­ na. Enquanto os homens de Nínive se arrependeram com a pregação de Jonas, os homens de Israel se recusaram a se arrepender com a pregação de alguém maior do que Jonas. A incredulidade hoje zomba da história de Jonas, tornando-a lenda. Jesus referiu-se a Jonas como uma

pessoa real, como também se referiu a Salomão. Os que dizem que creriam caso pudessem ver um milagre estão enganados. A fé não é baseada nas evi­ dências dos sentidos, mas na palavra viva de Deus. Se um homem não crer na palavra de Deus, ele não crerá mesmo se alguém ressuscitar dos mortos. A exigência de sinais não agrada a Deus. Não se trata de fé, mas de vista. A incredulidade diz: “Deixe-me ver e assim crerei”. Deus responde: “Creia e assim verá”. L. A parábola da candeia acesa (11:33-36) 11:33 A princípio poderíamos pensar que não há relação entre esses versículos e os anteriores. Mas, ao examinar mais cuidadosamente, descobrimos um elo muito vital. Jesus fez seus ouvintes lembrar que ninguém põe uma candeia acesa em lugar escondido ou debaixo do alqueire, mas a coloca num velador, onde será vista e onde providenciará luz para todos os que entram. A aplicação é esta: Deus é quem acendeu a can­ deia. Na pessoa e obra do Senhor Jesus, ele pro­ videnciou um brilho de iluminação para o mundo. Se alguém não vê a Luz, não é culpa de Deus. No capítulo 8, Jesus falava da responsabilidade dos que já eram seus discípulos de propagar a fé e não escondê-la debaixo de um vaso. Aqui, em 11:33, ele está exibindo a incredulidade dos seus críticos que buscavam um sinal, causada por sua cobiça e seu medo de vergonha. 11:34 Sua incredulidade era o resultado dos seus motivos impuros. Na área física, o olho é o que dá luz ao corpo todo. Se o olho é sadio, então a pessoa pode ver a luz. Mas se o olho estiver doente, isto é, cego, então a luz não pode entrar. É a mesma coisa na área espiritual. Se uma pessoa é sincera no seu desejo de saber se Jesus é o Cristo de Deus, então Deus revelará a ele. Mas se seus motivos são impuros, se ele quer se agarrar à sua ganância, se ele continua a temer o que outros dirão, então ele é cegado ao valor verdadeiro do Salvador. 11:35 Os homens aos quais Jesus estava se di­ rigindo pensavam ser muito sábios. Eles achavam que tinham muita luz. Mas o Senhor Jesus os avisou do fato de que a luz que estava neles realmente era trevas. Sua suposta sabedoria e superioridade impedia-os de chegar perto dele. 11 :3 6 A pessoa cujos motivos são puros, que se abre inteiramente a Jesus, a Luz do mundo, é inundada de iluminação espiritual. Sua vida interior é iluminada por Cristo assim como seu corpo é ilu­ minado quando ela se assenta aos raios diretos de uma lâmpada.

M, Asseio externo e interno (11:37-41) 11:37-40 Quando Jesus aceitou o convite de cer­ to fariseu para ir comer com ele, o hospedeiro se escandalizou de que ele não se lavara primeiro, antes de comer. Jesus entendeu seus pensamentos e repreendeu-o completamente por tal hipocrisia e formalidade. Jesus fez-lhe lembrar que o que real­ mente conta não é a limpeza do exterior do copo, mas o interior. Exteriormente, os fariseus pareciam justos, mas interiormente eram falsos e perversos. 0 mesmo Deus que fez o exterior do homem fez também o interior, e ele quer que nossa vida interior seja pura. “0 homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração” (ISm 16:7). 1 1:4 1 0 Senhor reconheceu quão cobiçosos e egoístas eram esses fariseus, e por essa razão disse ao seu hospedeiro para primeiro dar esmolas de tudo o que tinha como ele fizera. Se ele pudesse passar nesse teste básico de amor aos outros, então tudo seria limpo para ele. H. A. Ironside comenta: “As cerimônias externas têm valor verdadeiro somente quando o amor de Deus enche o coração de uma pessoa de tal forma que ela se preocupe com as necessidades dos outros. A pessoa que constantemente ajunta para si mesmo, em completa indiferença aos pobres e necessitados ao seu redor, dá evidências de que o amor de Deus não habita nela”.39 Um autor desconhecido resume: “As coisas se­ veras ditas nos versículos 39-52 contra os fariseus e doutores da lei foram ditas à mesa de jantar de um fariseu (v. 37). O que chamamos “bom gosto” é, muitas vezes, um substituto para lealdade à verdade; sorrimos quando deveríamos desaprovar; e ficamos quietos quando deveríamos falar. É melhor estragar um jantar que romper a fé com Deus”. N. Os fariseus censurados (11:42-44) 11:42 Os fariseus eram formalistas e meticulosos nos menores detalhes da lei cerimonial, como dizimar ervas pequenas. Mas eram descuidados nas suas relações com Deus e com o homem. Eles oprimiam os pobres e falhavam no amor para com Deus. 0 Senhor não os reprovou por dizimar em hortelã e arruda e toda erva, mas simplesmente observou que não deve­ riam ser tão zelosos nesse particular e negligenciar os deveres básicos da vida, como a justiça e o amor a Deus. Eles enfatizaram o subordinado, mas negligen­ ciaram o principal. Distinguiram-se no que podia ser visto pelos outros, mas eram descuidados em relação ao que somente Deus poderia ver.

11:43 Os fariseus gostavam de exibir-se, ocupar posições de proeminência nas sinagogas e atrair tanta atenção quanto possível nas praças. Dessa maneira, eram culpados não somente de formalidade, mas também de orgulho. 11:44 Por último, o Senhor os comparou a sepul­ turas invisíveis. Sob a lei de Moisés, quem tocava numa sepultura era imundo por sete dias (Nm 19:16), mesmo se não soubesse no momento que se tratava de sepultura. Os fariseus tinham aparência de líde­ res devotos e religiosos. Mas deveriam ter um sinal avisando o povo de que seria contaminação entrar em contato com eles. Eram como sepulturas invisíveis, cheios de corrupção e impureza, e infeccionando outros com sua formalidade e seu orgulho. O. Os doutores da lei denunciados (11:45-52) 11:45 Os doutores da lei eram os escribas, peritos em explicar e interpretar a lei de Moisés. Porém, eles se limitaram em contar para os outros o que deve­ riam fazer. Eles mesmos não o praticavam. Um dos doutores sentiu-se ofendido pelas palavras de Jesus e fez-lhe lembrar que, ao criticar os fariseus, ele estava insultando os intérpretes da lei também. 1 1 :4 6 0 Senhor usou isso como ocasião para censurar severamente alguns pecados dos doutores. Primeiro, eles oprimiam o povo com todos os tipos de fardos legais, mas não faziam nada para ajudá-los a levar os fardos. Como Kelly observa: “Eles eram notórios no seu desprezo ao mesmo povo do qual derivavam sua importância”.40 Muitas das suas regras eram feitas pelos homens e eram associadas com assuntos de pouca importância. 11:47-48 Os doutores eram assassinos hipócritas. Fingiam apreciar os profetas de Deus e até ergueram monumentos sobre as sepulturas dos profetas do AT. Fizeram isso como prova do seu respeito profundo. Mas o Senhor Jesus sabia a verdade. Enquanto apa­ rentemente desassociavam-se dos seus antepassados judaicos que mataram os profetas, eles estavam realmente seguindo seus passos. Ao mesmo tempo que erguiam túmulos para os profetas, estavam cons­ pirando a morte do maior profeta de Deus, o próprio Senhor. E continuariam a matar os fiéis profetas e apóstolos de Deus. 11:49 Ao comparar o versículo 49 com Mateus 23:34, nota-se que o próprio Jesus é a sabedoria de Deus. Aqui ele cita a sabedoria de Deus como dizendo: Enviar-lhes-ei profetas. Em Mateus, ele não fala como se fosse citação do AT ou de qualquer outra fonte, mas simplesmente a apresenta como

uma declaração própria (cf. tb. ICo 1:30, onde Cris­ to é mencionado como sabedoria). 0 Senhor Jesus prometeu que ele enviaria profetas e apóstolos aos homens da sua geração, e que eles os matariam e perseguiriam. 11:50-51 Jesus requereria daquela geração o sangue de todos os porta-vozes de Deus, começando com o primeiro caso relatado no AT, o de Abel, até a última instância, de Zacarias, que pereceu no pátio da casa do Senhor (2Cr 24:21). 2Crônicas era o último livro do AT na ordem judaica. Portan­ to, o Senhor Jesus mencionou a série completa de mártires quando citou Abel e Zacarias. Ao dizer essas palavras, ele bem sabia que aquela geração ainda o mataria na cruz, e assim traria a um terrí­ vel apogeu todas as suas perseguições anteriores aos homens de Deus. Foi porque o matariam que o sangue de todas as dispensações anteriores cairia sobre eles. 11:52 Por fim, o Senhor Jesus denunciou os intér­ pretes da lei por tomarem a chave da ciência, isto é, sonegarem a palavra de Deus ao povo. Apesar de formalmente professar lealdade às Escrituras, eles obstinadamente se recusaram a receber aquele de quem as Escrituras falaram. E eles impediram outros de vir a Cristo. Eles mesmos não o queriam, e não queriam que os outros o recebessem. P.

A resposta dos escribas e fariseus (11:53-54) Os escribas e fariseus obviamente ficaram com raiva das acusações francas do Senhor. Eles começaram a argui-lo com veemência, e aumentaram as tentativas de pegá-lo numa armadilha nas suas palavras. Usando todo método possível, tentaram fazê-lo dizer algo com que eles pudessem condená-lo à morte. Ao fazer isto, eles somente provaram quão corretamente Jesus Ha o caráter deles.

VIII. Ensino e restabelecimento no caminho para Jerusalém (12— 16) A. Avisos e encorajamentos (12:1-12) 12:1 Milhares de pessoas se ajuntaram enquanto Jesus condenava os fariseus e doutores da lei. Uma disputa ou um debate normalmente atrai uma multi­ dão, mas essa foi atraída, sem dúvida, pela denúncia audaciosa de Jesus contra esses líderes religiosos e hipócritas. Embora uma atitude inflexível ao pecado não seja sempre popular, recomenda-se ao coração do homem como justa. A verdade é sempre autocomprobatória. Virando-se aos seus discípulos, Jesus avisou: Acautelai-vos do fermento dos fariseus.

Ele explicou que fermento é um símbolo ou figura de hipocrisia. Um hipócrita é alguém que usa uma máscara e cuja aparência externa é totalmente di­ ferente do que ele é interiormente. Os fariseus se apresentaram como padrão da virtude, mas de fato eram mestres do disfarce. 12:2-3 0 dia de serem desmascarados estava por vir. Tudo o que encobriram seria revelado, e tudo o que tinham feito às escuras seria arrastado para a plena luz. Como é inevitável o desmascaramento da hipocri­ sia, assim é o triunfo da verdade. Até ah, a mensagem proclamada pelos discípulos tinha sido dita em obs­ curidade relativa a audiências limitadas. Mas depois da rejeição do Messias por Israel, e da chegada do Espírito Santo, os discípulos sairiam intrepidamente no nome do Senhor Jesus e proclamariam as boas-novas em todo o redor. Assim seriam proclamadas dos eirados, falando comparativamente. Godet diz: “Aqueles cuja voz não encontra ouvintes, senão em círculos limitados e obscuros, hão de se tomar os professores do mundo”.41 12:4-5 Com as animadoras e calorosas palavras, “ Meus amigos” , Jesus avisa os discípulos para não se envergonharem dessa amizade inestimável sob quaisquer provações. A proclamação universal da mensagem cristã traria perseguição e morte aos discípulos fiéis. Mas havia um limite para o que homens como os fariseus poderiam fazer-lhes. A morte física era aquele limite. Não deveriam temer aquilo. Deus visitaria seus perseguidores com um castigo bem maior: a morte eterna no inferno. E assim os discípulos precisavam temer a Deus antes que o homem. 12:6-7 Para enfatizar o interesse protetor de Deus pelos discípulos, o Senhor Jesus mencionou o cuidado do Pai para com os pardais. Em Mateus 10:29 lemos que dois pardais eram vendidos por um asse. Aqui aprendemos que cinco pardais são vendidos por dois asses. Em outras palavras, um pardal a mais é colocado de graça quando quatro são comprados. Mesmo assim, nem esse pardal extra, sem valor comercial, é esquecido diante de Deus. Se Deus cuida daquele pardal, quanto mais dos que levam o evangelho do seu Filho! Ele conta até os cabelos da sua cabeça. 12:8 O Salvador contou aos discípulos que aquele que o confessa agora será confessado por ele diante dos anjos de Deus. Aqui ele fala de todos os verda­ deiros crentes. Confessá-lo é recebê-lo como único Senhor e Salvador. 12:9 Aqueles que o negam diante dos homens serão negados diante dos anjos de Deus. A refe­

rência primária aqui parece ser aos fariseus, mas de fato o versículo inclui todos os que recusam Cristo e têm vergonha de o reconhecer. Naquele dia, ele dirá: “Nunca vos conheci”. 12:10 Em seguida, o Salvador explicou aos discí­ pulos que há uma diferença entre crítica a ele e blas­ fêmia contra o Espírito Santo. Aqueles que falam contra o Filho do Homem podem ser perdoados se eles se arrependerem e crerem. Mas blasfêmia contra o Espírito Santo é pecado imperdoável. É o pecado do qual os fariseus eram acusados (cf. Mt 12:22-32). Que pecado é esse? É o pecado de atribuir os milagres do Senhor Jesus ao Diabo. É blasfêmia contra o Espírito Santo, porque Jesus efetuou seus milagres no poder do Espírito Santo. Portanto, era, na verdade, dizer que o Espírito Santo de Deus é o Diabo. Não há perdão para esse pecado nesta era ou no futuro. Esse pecado não pode ser cometido pelo crente verdadeiro, apesar de que alguns são torturados pelo medo de que o cometeram através de apostasia. Apostatar não é o pecado imperdoável. Um apóstata pode ser restaurado à comunhão com o Senhor. 0 mero fato de que uma pessoa está preocupada é evidência de que ela não cometeu o pecado imperdoável. Nem é a rejeição de Cristo pelo descrente o pecado imperdoável. Uma pessoa pode desprezar o Salvador repetidamente; todavia, mais tarde, voltar-se ao Senhor e ser convertida. De fato, se ela morrer em incredulidade, ela não pode mais ser convertida. O pecado dela, então, de fato, toma-se imperdoável. Mas o pecado descrito pelo nosso Senhor como im­ perdoável é o pecado que os fariseus cometeram ao dizer que ele realizou milagres pelo poder de Belzebu, o príncipe dos demônios. 12:11-12 Era inevitável que os discípulos fossem trazidos perante as autoridades governamentais em julgamento. 0 Senhor Jesus avisou-os de que era des­ necessário ensaiar antes do tempo o que responde­ riam. 0 Espírito Santo colocaria as palavras certas na boca deles na hora certa. Isso não quer dizer que os servos do Senhor não deveriam passar tempo em oração e estudo antes de pregar o evangelho ou en­ sinar a palavra de Deus. Não deveria ser usado como desculpa para preguiça! Porém, é uma promessa categórica do Senhor que, aos que são colocados em julgamento por causa do seu testemunho de Cristo, será dada ajuda especial do Espírito Santo. E é uma promessa geral a todo o povo de Deus: aos que andam no Espírito serão dadas as palavras apropriadas nos momentos de crise.

B. Aviso contra avareza (12:13-21) 12 :13 Nesse ponto, um homem saiu do meio da multidão e pediu que o Senhor acertasse uma disputa entre ele e seu irmão a respeito de uma herança. Já foi dito muitas vezes que onde há testamento há mui­ tos parentes. Parece que foi assim aqui. Não sabemos se o homem estava sendo privado da sua própria ou se estava ávido para receber mais que sua parte. 12:14 0 Salvador rapidamente lhe fez lembrar que ele não chegara ao mundo para tratar tais assuntos triviais. 0 propósito da sua vinda envolvia a salvação de homens e mulheres pecadores. Ele não seria des­ viado dessa grande e gloriosa missão para dividir uma herança mesquinha. (E mais, ele não tinha autoridade legal para julgar assuntos envolvendo propriedades. Suas decisões não seriam legais). 12:15 Mas o Senhor de fato usou esse episódio para alertar seus ouvintes contra um dos males mais insidiosos no coração humano: avareza. A lascívia insaciável de obter possessões materiais é um dos mais fortes impulsos da vida. E ainda perde comple­ tamente o propósito da existência humana. A vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui. Como J. R. Miller observa: Essa é uma das bandeiras vermelhas que o Se­ nhor mostrou, e que a maioria de hoje não leva em conta. Cristo falou muito a respeito do perigo das riquezas, mas poucos têm medo das rique­ zas. Praticamente, a cobiça não é considerada um pecado nestes dias. Se um homem quebra o sexto ou oitavo mandamento, ele é tachado de criminoso, e coberto de vergonha, mas ele pode quebrar o décimo, e estará sendo apenas arrojado. A Bíblia diz que o amor ao dinheiro é a raiz de todo o mal; mas todo homem que cita isso põe forte ênfase na palavra “amor”, explicando que não é o dinheiro, mas somente o amor a ele, que é uma raiz tão fértil. Olhando ao redor, pensaríamos que a vida de um homem realmente consistia na abundância das coisas que ele possui. Os homens pensam que se tomam grandes somente em proporção ao ajuntamento das riquezas. E também parece assim, porque o mundo mede os homens por suas contas bancárias. No entanto, nunca houve um erro mais fatal. Um homem é realmente medido pelo que é, e não pelo que tem.42 12:16-18 A parábola do rico louco demonstra o fato de que possessões não são a coisa principal na

vida. Por causa de uma colheita excepcionalmente boa, esse rico fazendeiro enfrentava o que parecia um problema penoso. Ele não sabia o que fazer com todos os cereais. Os seus celeiros e silos estavam su­ perlotados. Em seguida, ele teve uma ideia brilhante. O seu problema estava resolvido: decidiu destruir os celeiros e reconstruir maiores. Ele poderia ter poupado a despesa e o trabalho desse tremendo pro­ jeto de construção se tivesse olhado para o mundo necessitado ao redor dele, e usado essas possessões para satisfazer a fome, tanto espiritual como física. “0 ventre dos pobres, a casa das viúvas, a boca das crianças são os celeiros que duram para sempre”, disse Ambrósio. 12:19 Logo que seus novos celeiros foram cons­ truídos, ele planejou se aposentar. Observe o seu espírito de independência: os meus celeiros, os meus frutos, os meus bens, a minha alma! Ele tinha o futuro todo planejado: ia descansar, comer, beber e regalar-se. 1 2 :2 0 -2 1 “Mas, quando começou a pensar no tempo como sendo dele, ele entrou em choque com Deus, resultando na sua ruína etema.” Deus faloulhe que ele morreria naquela mesma noite. Assim, ele perderia domínio sobre suas possessões materiais. Ficariam para outro. Alguém já definiu um louco como alguém cujos planos terminam no sepulcro. Esse homem verdadeiramente era um louco. 0 que tens preparado, para quem será?, per­ guntou Deus. Poderíamos bem perguntar: “Se Cristo viesse hoje, para quem seriam todas as minhas pos­ sessões?”. Quão melhor seria usá-las para Deus hoje que deixá-las cair nas mãos do Diabo amanhã! Po­ demos amontoar tesouros no céu com eles agora, e assim ser ricos para com Deus. Ou podemos esbanjálos na nossa carne, e da carne ceifar a corrupção. C. Ansiedade versus fé (12:22-34) 12:22-23 Um dos maiores perigos na vida cristã é a aquisição de alimento e roupa tomar-se o primei­ ro e mais importante objetivo da nossa existência. Tomamo-nos tão ocupados em adquirir dinheiro para essas coisas que o trabalho do Senhor é relegado a segundo plano. A ênfase do NT é que a causa de Cristo deveria ter o primeiro lugar na nossa vida. Alimento e roupa deveriam ser secundários. Devería­ mos trabalhar bastante para o suprimento das nossas necessidades diárias, e depois confiar em Deus para o futuro, enquanto nos envolvemos no seu serviço. Essa é a vida de fé. Quando o Senhor Jesus disse que não deveríamos preocupar-nos acerca de alimento e roupa, ele não queria dizer que era para ficarmos assentados, ociosos

e esperar a provisão dessas coisas. Cristianismo não encoraja preguiça! Mas ele certamente quis dizer que no processo de ganhar dinheiro para as necessidades da vida não deveríamos deixá-los assumir importância imoderada. Afinal, há algo mais importante na vida que o que comemos e vestimos. Estamos aqui como embaixadores do Rei, e todas as considerações de conforto e aparência pessoal devem ser subordinadas à tarefa gloriosa de fazer Cristo conhecido. 12 :2 4 Jesus usou os corvos como exemplo de como Deus cuida das suas criaturas. Eles não passam a vida numa busca frenética por alimento, mas vivem em dependência constante de Deus. 0 fato de que não semeiam nem ceifam não deveria ser usado para ensinar que os homens devem deixar as ocupações seculares. Somente quer dizer que Deus reconhece as necessidades daqueles que criou, e ele há de supri-las se andarmos na dependência dele. Se Deus sustenta os corvos, quanto mais sustentará aqueles que criou, aqueles que ele salvou por sua graça e que chamou para serem seus servos. Os corvos não têm celeiros ou armazéns, mas Deus faz provisões para eles diariamente. Por que, então, gastaríamos nossa vida construindo celeiros e armazéns maiores? 12:25-26 Qual de vós, por ansioso que esteja, Jesus perguntou, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? Isso indica a loucura de preocu­ par-se com coisas (como o futuro) sobre as quais não temos controle. Ninguém, por preocupar-se, pode aumentar sua altura, ou o curso da sua vida. (A expressão “sua estatura” pode também ser traduzida “a duração da sua vida”.) Se for assim, por que se preocupar com o futuro? Antes, usemos toda a nossa força e nosso tempo em servir a Cristo, e deixemos o futuro com ele. 12:27-28 Os lírios agora são introduzidos para mostrar a loucura de gastar os talentos mais finos para poder obter roupa. Os lírios provavelmente são anêmonas escarlatas e silvestres. Eles não fiam nem tecem , mas têm uma beleza natural que compete com Salomão em toda a sua glória. Se Deus dá generosamente tal beleza às flores que florescem hoje e são queimadas amanhã, será que ele descuidará das necessidades dos seus filhos? Nós provamos ter pouca fé quando nos preocupamos, queixamos e corremos num esforço incessante para adquirir mais possessões materiais. Desperdiçamos a vida fazendo o que Deus teria feito por nós se tivéssemos devotado mais tempo e talentos a ele. 12:29-31 Verdadeiramente, nossas necessidades diárias são pequenas. É maravilhosa a simplicidade com que podemos viver. Por que então dar a alimento

e roupa um lugar tão proeminente na vida? E por que ter uma mente ansiosa, preocupada com o futuro? Essa é a maneira de os descrentes viverem. As na­ ções do mundo, que não conhecem Deus como seu Pai, concentram-se no alimento, nas vestes e no pra­ zer. Essas coisas formam o centro e a circunferência da sua existência. Mas Deus nunca tencionou que seus filhos gastassem seu tempo na correria louca atrás de confortos pessoais. Ele tem um serviço a ser feito na terra, e ele prometeu cuidar dos que se derem sinceramente a ele. Se buscarmos seu reino, ele nunca nos deixará passar fome ou nudez. Quão triste seria chegar ao fim da vida e reconhecer que a maior parte do nosso tempo foi gasta em labutar para o que já estava incluído no ingresso para o céu! 12:32 Os discípulos formaram um pequeno reba­ nho de ovelhas sem defesa, enviado ao meio de um mundo hostil. Não tinham, é verdade, nenhum meio de sustento ou defesa. Mesmo assim, esse grupo de jovens humildes foi destinado a herdar o reino com Cristo. Um dia remariam com ele sobre toda a terra. Em vista disso, o Senhor animou-os a não temer, porque se o Pai tinha tais honras gloriosas reserva­ das para eles, então não precisariam preocupar-se com a senda atual. 12:33-34 Em vez de acumular possessões mate­ riais e planejar para o tempo presente, eles podem usar essas possessões no serviço do Senhor. Dessa maneira, estariam investindo para o céu e para a eter­ nidade. As desolações da idade não poderiam afetar suas possessões. Tesouros no céu são assegurados totalmente contra roubo e deterioração. 0 problema com riqueza material é que normalmente não é pos­ sível ter sem confiar nela. Por isso, o Senhor Jesus disse: Onde está o vosso tesouro, aí estará tam­ bém o vosso coração. Se passarmos nosso dinheiro adiante, então nossas afeições serão desapegadas das coisas perecíveis deste mundo. D. A parábola do servo vigilante (12:35-40) 12:35 Os discípulos não somente tinham de confiar no Senhor para suprir suas necessidades, mas preci­ savam viver na expectativa constante da sua volta. 0 corpo tinha de estar cingido, e suas lâmpadas acesas. Nas terras orientais, um cinto era colocado ao redor da cintura para segurar as vestes compridas e largas quando se precisava andar rapidamente ou correr. A cintura cmgida significa uma missão a ser cumprida, e a lâmpada acesa sugere um testemunho a ser mantido! 12:36 Os discípulos tinham de viver uma expectação, momento a momento, da volta do Senhor, como se ele fosse um homem voltando de um casamento.

William Kelly comenta: “Eles devem ser livres de todos os embaraços terrestres, para que, no momento em que o Senhor bater, conforme a figura, eles pos­ sam abrir imediatamente, sem distração ou precisar se aprontar. 0 coração deles está aguardando seu Senhor; eles o amam, estão à espera dele. Ele bate e eles abrem imediatamente”.43 Os detalhes da história acerca do homem voltando das festas do casamento não deveriam ser forçados ao considerar o futuro profético. Não deveríamos identificar o casamento aqui com a ceia das bodas do Cordeiro, nem a volta do homem com o arrebatamen­ to. A história do Senhor era destinada a ensinar uma verdade simples: a vigilância para a sua volta. Não era a intenção dele estabelecer a ordem dos eventos na sua vinda. 12:37 Quando o homem volta do casamento, os servos estão ansiosamente o esperando, prontos a entrar em ação à sua ordem. Ele está tão contente com a atitude vigilante deles que, figurativamente, inverte os papéis. Ele cinge-se com o avental de ser­ vo, dá-lhes lugar à mesa, e serve-lhes uma refeição. Aqui temos uma indicação muito emocionante de que ele, que uma vez veio para este mundo na forma de escravo, graciosamente condescenderá a servir seu povo mais uma vez no seu lar celestial. O dedicado estudioso alemão Bengel considerou o versículo 37 como a maior promessa em toda a palavra de Deus. 12:38 A segunda vigília da noite era de 21 horas até meia-noite. A terceira era de meia-noite até 3 horas. Não importa em qual vigília o Mestre voltou, os servos esperavam por ele. 12:39-40 0 Senhor muda o quadro, fazendo refe­ rência a um pai de família cuja casa foi roubada num momento desprotegido. A chegada do ladrão era to­ talmente inesperada. Se o mestre da casa soubesse, ele não deixaria arrombar a sua casa. A lição é que o tempo da vinda de Cristo é desconhecido; ninguém sabe o dia nem a hora que ele aparecerá. Quando ele chegar, esses cristãos que ajuntaram tesouros na terra perderão tudo, porque como alguém já disse: “Um cristão ou deixa a sua riqueza ou vai ao encon­ tro dela”. Se estamos verdadeiramente esperando a volta de Cristo, venderemos tudo o que temos e ajuntaremos tesouros no céu, onde ladrão nenhum pode tocá-los. E. Servos fiéis e infiéis (12:41-48) 12:41-42 A essa altura, Pedro perguntou se a pa­ rábola de Cristo sobre vigilância era somente para

os discípulos ou para todo o povo. A resposta do Senhor foi que era para todos os que professam ser administradores de Deus. 0 fiel e sábio mordomo é aquele que é posto sobre a casa do Mestre e que dá alimento ao seu povo. A principal responsabili­ dade do administrador aqui é com respeito ao povo, não às coisas materiais. Isso está de acordo com o contexto inteiro, exortando os discípulos contra materialismo e avareza. E o povo que é importante, não as coisas. 1 2:43-44 Quando o Senhor voltar e achar seu servo tendo um interesse genuíno pelo bem-estar es­ piritual de homens e mulheres, ele vai recompensá-lo com liberalidade. 0 prêmio provavelmente há de ter a ver com o reino governamental de Cristo durante o milênio (lPe 5:1-4). 12:45 0 servo professa trabalhar para Cristo, mas realmente é incrédulo. Em vez de alimentar o povo de Deus, ele abusa deles e rouba-lhes, além de ser indulgente. (Isso pode ser uma referência aos fariseus). 12:46 A vinda do Senhor desmascarará seu si­ mulacro, e ele será castigado com todos os outros infiéis. A expressão “castigá-lo-á severamente” pode também ser traduzida como cortá-lo-á em dois. 1 2:47-48 Os versículos 47-48 demonstram um princípio fundamental em relação a todo o serviço: quanto maior o privilégio, maior a responsabilidade. Para os crentes, quer dizer que haverá graus de galar­ dão no céu. Para os descrentes, quer dizer que haverá graus de castigo no infemo. Aqueles que chegaram a conhecer a vontade de Deus como é revelada nas Escrituras estão debaixo de grande responsabilidade de obedecer-lhe. Muito lhes foi dado, muito será exigido deles. Os que não foram tão altamente privi­ legiados serão castigados também pelos seus delitos, mas o seu castigo será menos severo. E

O efeito do primeiro advento de Cristo (12:49-53) 12:49 0 Senhor Jesus sabia que sua vinda aterra não traria paz no início. Primeiro, deveria causar divisão, contenda, perseguição e derramamento de sangue. Ele não veio com o propósito reconhecido de atirar esse tipo de fogo à terra, mas isso foi o resultado ou efeito da sua vinda. Apesar de rebentarem aflições e dissensões durante seu ministério terrestre, não foi até a cruz que o coração do homem foi realmente exposto. 0 Senhor sabia que tudo isso deveria aconte­ cer, e ele estava disposto a que o fogo da perseguição rebentasse contra ele mesmo no momento certo. 12:50 Jesus tinha um batismo com o qual havia de ser batizado. Isso se refere ao seu batismo até o

ponto da morte no Calvário. Ele estava sob tremenda pressão para ir à cruz a fim de cumprir a redenção da humanidade perdida. A vergonha, o sofrimento e a morte eram a vontade do Pai para ele, e ele estava ansioso para obedecer. 12:51-53 Ele bem sabia que sua vinda não daria paz à terra naquele tempo. Então ele avisou os discípulos de que, quando os homens viessem a ele, suas famílias os perseguiriam e os expulsariam. A introdução do cristianismo num lar médio de cinco dividiria a família. É uma marca curiosa da natureza pervertida do homem que parentes incrédulos muitas vezes preferem ver o filho bêbedo e dissoluto a vê-lo tomar uma posição púbhca como discípulo do Senhor Jesus Cristo! Essa seção refuta a teoria de que Jesus veio para unir toda a humanidade (piedosa e incrédu­ la) numa só “fraternidade universal”. Em vez disso, ele a dividiu como nunca fora dividida antes! G. Os sinais dos tempos (12:54-59) 12:54-55 Os versículos anteriores foram dirigidos aos discípulos. Agora o Salvador volta-se às multi­ dões. Ele lembrou-lhes da sua destreza ao predizer o tempo. Eles sabiam que, quando vissem uma nuvem no poente (sobre o Mediterrâneo), logo diriam que vinha chuva. De outro modo, um vento sul traria calor ardente e seca. 0 povo tinha a inteligência para saber disso. Mas havia mais que inteligência. Havia a vontade de saber. 12:56 Em assuntos espirituais, a história era di­ ferente. Apesar de ter inteligência humana normal, eles não reconheceram o tem po importante que chegara na história humana. O Filho de Deus viera a esta terra, e estava em pé no meio deles. 0 céu nunca chegara tão perto antes. Mas eles não sabiam o tempo da sua visitação. Eles tinham a capacidade intelectual, mas não tinham a vontade de saber, e assim eram enganados por si mesmos. 12:57-59 Se reconhecessem o significado do dia no qual viviam, eles teriam pressa de fazer as pazes com seu adversário. Quatro termos legais são usados aqui: adversário, magistrado, juiz e oficial, e todos podem referir-se a Deus. Naquele tempo, Deus andava no meio deles, implorando a eles, dando-lhes a oportu­ nidade de serem salvos. Eles deveriam arrepender-se e colocar sua fé nele. Se recusassem, precisariam aparecer perante Deus como seu Juiz. Com certeza o caso iria contra eles. Seriam achados culpados e condenados por incredulidade. Seriam recolhidos à prisão, isto é, castigo etemo. Eles não sairiam até terem pago o último centavo, o que quer dizer que nunca sairiam, porque nunca seriam capazes de pagar tal dívida imensa.

Desse modo, Jesus dizia que deveriam discernir o tempo no qual viviam. Assim, deveriam acertar com Deus, arrependendo-se dos seus pecados e entregan­ do-se a si mesmos a ele em rendição total. H. A importância do arrependimento (13:1-5) 13:1-3 0 capítulo 12 terminou com a falha da nação judaica em discernir o tempo no qual viviam e o aviso do Senhor para arrepender-se rapidamente ou perecer para sempre. 0 capítulo 13 continua esse assunto geral, e é dirigido basicamente a Israel como nação, embora os princípios se apliquem às pessoas individu­ almente. Duas calamidades nacionais formam a base da conversa resultante. A primeira foi o massacre de alguns galileus que vieram a Jerusalém para adorar. Pilatos, o governador da Judeia, ordenara que fossem mortos enquanto ofereciam sacrifícios. Nada mais é conhecido dessa atrocidade. Supomos que as vítimas eram judeus que moravam na Galileia. É possível que os judeus em Jerusalém pensassem que estes galileus tinham cometido terríveis pecados, e que a sua morte era uma evidência do desagrado de Deus. Porém, o Senhor Jesus corrigiu isso, alertando o povo judeu de que, se não se arrependessem, todos igualmente pereceriam. 13:4-5 A outra tragédia foi o colapso de uma torre de Siloé que causou a morte de dezoito pessoas. Nada mais é conhecido desse acidente, a não ser o que é relatado aqui. Fehzmente, não é necessário saber mais detalhes. 0 ponto enfatizado pelo Senhor era que essa catástrofe não deveria ser interpretada como um julgamento especial contra a maldade. Antes, deveria ser visto como um aviso para toda a nação de Israel que, se não se arrependessem, uma sentença seme­ lhante viria sobre eles. Essa sentença aconteceu em 70 d.C., quando Tito invadiu Jerusalém. I. A parábola da figueira estéril (13:6-9) Bem associado com o precedente, o Senhor Jesus contou a parábola da figueira. Não é difícil identificar a figueira com Israel, plantada na vinha de Deus, isto é, o mundo. Deus procurou fruto na árvore, mas não achou. Então ele disse ao viticultor (o Senhor Jesus) que em vão ele procurava fruto na árvore havia três anos. A interpretação mais simples disso se refere aos primeiros três anos do ministério público do Senhor. 0 pensamento da passagem é que à figueira foi dado tempo suficiente para produzir fruto, se é que viria a frutificar. Se nenhum fmto aparecera em três anos, era razoável concluir que nada apareceria. Por causa da sua esterilidade, Deus ordenou cortála. Estava apenas ocupando terreno, que poderia ser usado de maneira mais produtiva. 0 viticultor

intercedeu a favor da figueira, pedindo que fosse dado mais um ano. Se, ao término daquele tempo, continuasse estéril, então ele poderia cortá-la. E foi isso o que aconteceu. Foi depois do início do quarto ano que Israel rejeitou e crucificou o Senhor Jesus. Como resultado, a sua capital foi destruída e o povo espalhado. G. H. Lang assim o expressou: 0 Filho de Deus conhecia a mente do seu Pai, o Dono da vinha, e que a ordem severa “Cortea” fora emitida; Israel mais uma vez esgotou a clemência divina. Nenhuma nação, nenhuma pessoa têm razão de desfrutar o cuidado de Deus se não está produzindo os frutos de justiça para a glória e louvor dele. 0 homem existe para a honra e o deleite do Criador: quando ele não atinge esse justo objetivo, por que a sentença de morte não haveria de acompanhar esse fracasso pecaminoso e ele não seria tirado de sua posição privilegiada?44 J. A cura da mulher encurvada (13:10-17) 13:10-13 A verdadeira atitude de Israel com respeito ao Senhor Jesus é vista no chefe da sinagoga. Esse oficial fez objeção ao Salvador curar uma mulher no sábado. A mulher sofrerá de severa curvatura da espinha dorsal por dezoito anos. Sua deformidade era grande; ela não podia endireitar-se de modo algum. Sem petição nenhuma, o Senhor Jesus falara a palavra curativa, impôs-lhe as mãos, e endireitou a sua espinha dorsal. 13:14 O chefe da sinagoga, com indignação, falou ao povo que deveria vir para ser curado nos primeiros seis dias da semana, mas não no sétimo. Ele era um religioso profissional, sem qualquer preocupação com os problemas do povo. Mesmo se tivessem vindo nos primeiros seis dias da semana, ele não poderia ter ajudado o povo. Ele era uma pessoa meticulosa nos pontos técnicos da lei, mas não havia amor ou misericórdia no seu coração. Se ele tivesse tido cur­ vatura da espinha dorsal por dezoito anos, não teria se importado sobre qual dia foi endireitado! 1 3 :1 5 -1 6 0 Senhor reprovou-lhe a hipocrisia e a dos outros líderes. Ele lembrou que eles não hesitavam em desprender um boi ou jumento no sábado para poder beber água. Se mostravam tal consideração por animais mudos no sábado, Jesus estaria errado em executar um ato de cura nesta mulher que era filha de Abraão? A expressão “filha de Abraão” indica que ela não somente era judia,

mas também uma verdadeira crente, uma mulher de fé. A curvatura da espinha dorsal foi causada por Satanás. Sabemos de outras partes da Bíblia que certas doenças são o resultado de atividade satânica. Os furúnculos de Jó eram infligidos por Satanás. 0 espinho na carne de Paulo era um mensageiro de Satanás para esbofeteá-lo. Ao Diabo não é permitido agir assim num crente, sem a permissão do Senhor. E Deus predomina sobre qualquer doença ou sofrimento para a sua própria glória. 13:17 Os críticos do Senhor se envergonharam totalmente pelas suas palavras. 0 povo se alegrava porque um milagre glorioso fora realizado, e eles o sabiam. K. A s parábolas do reino (13:18-21) 13:18-19 Depois de ver esse maravilhoso milagre de cura, o povo poderia ser tentado a pensar que o reino seria estabelecido imediatamente. 0 Senhor Jesus desiludiu-os por apresentar duas parábolas do reino de Deus que o descrevem como existindo entre o tempo da rejeição do Rei e sua volta à terra para reinar. Elas retratam o crescimento da cristandade, e incluem a mera profissão de fé como também a fé concreta (cf. notas sobre 8:1-3). Primeiramente ele comparou o reino de Deus a um grão de mostarda, uma das menores sementes. Quando lançada na terra, produz um arbusto, mas não uma árvore. Portanto, quando Jesus disse que essa semente produziu uma grande árvore, ele indicou que o crescimento foi muito anormal. Era bastante grande para as aves do céu aninharem-se nos seus ramos. 0 pensamento aqui é que o cristianismo teve origem humilde, pequena como um grão de semente de mostarda. Mas, ao crescer, tomou-se popular, e a cristandade, como a conhecemos hoje, desenvolveu-se. A cristandade é composta dos que professam fidelida­ de ao Senhor, convertidos ou não. As aves do céu são abutres ou aves de rapina. Elas são símbolos do mal e retratam o fato de que a cristandade tomou-se o lugar de descanso de todas as formas de corrupção. 13:20-21 A segunda parábola comparou o reino de Deus ao fermento que uma mulher escondeu em três medidas de farinha. Cremos que fermento nas Escrituras é sempre um símbolo do mal. Aqui o pensamento é que doutrina prejudicial foi introduzida no alimento puro do povo de Deus. Essa doutrina prejudicial não é estática; tem um poder insidioso de se espalhar. L.

A porta estreita de entrada no reino (13:22-30) 13:22-23 Enquanto Jesus caminhava para Jerusalém, alguém da multidão lhe perguntou se somente pou-

cos seriam salvos. Talvez fosse uma questão inútil, provocada por mera curiosidade. 13:24 0 Senhor respondeu uma questão especula­ tiva com uma ordem direta. Disse ao questionador que devia ter a certeza de que ele mesmo entraria pela porta estreita. Quando Jesus disse “para esforçarse por entrar pela porta estreita” , ele não queria dizer que a salvação requer esforço da nossa parte. A porta estreita aqui é o novo nascimento: salvação pela graça através da fé. Jesus estava avisando o homem para ter a certeza de que ele entraria por essa porta. Muitos procurarão entrar e não poderão, uma vez que a porta estará fechada. Isso não quer dizer que procurarão entrar pela porta da conversão, mas que no dia do poder e da glória de Cristo, eles desejarão adentrar ao reino, mas será tarde demais. 0 dia da graça em que vivemos terá terminado. 13:25-27 O dono da casa levantará e fechará a porta. A nação judaica é descrita então como batendo na porta e pedindo ao Senhor para abrir-lhes. Ele se recusará dizendo que nunca os conhecera. Eles protestarão nesse ponto, fingindo que tiveram intimi­ dade com ele. Mas ele não mudará por causa dessas pretensões. Eles eram praticantes de iniqüidade, e não terão permissão para entrar. 13:28-30 Sua recusa causará choro e ranger de dentes. 0 choro indica remorso e o ranger de dentes trata de extremo ódio contra Deus. Isso mostra que os sofrimentos do infemo não mudam o coração do homem. Israelitas incrédulos verão Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas no reino de Deus. Eles mesmos esperaram estar ali, simplesmente porque eram parentes de Abraão, Isaque e Jacó, mas serão lançados fora. Os gentios viajarão ao brilho do reino de Cristo de todos os cantos da terra e desfrutarão das bênçãos maravilhosas. Assim, muitos judeus que eram primeiros no plano de Deus para bênção serão rejeitados, enquanto os gentios, que eram despreza­ dos como cachorros, desfrutarão das bênçãos do reino milenial de Cristo. M. Os profetas perecem em Jerusalém (13:31-35) 13:31 Nesse tempo, o Senhor Jesus aparentemente estava no território de Herodes. Alguns fariseus vieram e o avisaram para retirar-se, porque Herodes tentava matá-lo. Os fariseus parecem estar comple­ tamente fora de caráter ao professar um interesse no bem-estar e segurança de Jesus. Talvez eles tives­ sem se unido numa conspiração com Herodes para amedrontá-lo para que não fosse a Jerusalém, onde, sem falta, ele seria preso. 13:32 0 Senhor não se abalou com a ameaça de violência física. Ele a reconheceu como uma conspi­

ração da parte de Herodes, e disse aos fariseus para voltarem para aquela raposa com uma mensagem. Algumas pessoas têm dificuldade no fato de que o Senhor Jesus tratou Herodes como uma raposa (a forma é feminina no original). Eles acham que é uma violação das Escrituras, que proíbe alguém de falar mal de um governador do povo (Êx 22:28). Todavia, isso não era iniqüidade; era a verdade absoluta. A essência da mensagem enviada por Jesus foi que ele ainda tinha serviço a fazer por um tempo breve. Ele expulsaria demônios e curaria enfermidades duran­ te os poucos dias ao seu dispor. Depois, no terceiro dia, isto é, o dia final, ele teria terminado o trabalho relativo ao seu ministério terrestre. Nada poderia impedi-lo no desempenho dos deveres que tinha de cumprir. Nenhum poder na terra poderia prejudicá-lo até o tempo determinado. 13:33 Além disso, ele não poderia ser morto na Galileia. Essa prerrogativa foi reservada para a ci­ dade de Jerusalém. Foi aquela cidade que caracteristicamente matara os servos do Deus Altíssimo. Jerusalém tinha mais ou menos o monopólio na morte dos oradores de Deus. Foi isso o que o Senhor Jesus quis dizer quando disse que não se espera que um profeta morra fora de Jerusalém. 13:34-35 Tendo assim falado a verdade acerca da cidade malvada, Jesus virou-se em compaixão e chorou sobre ela. Essa cidade que mata os profetas e apedreja os mensageiros de Deus foi o objeto do seu tenro amor. Quantas vezes ele quis reunir o povo da cidade, todos juntos como a galinha ajxmta os do seu próprio ninho, mas não quiseram. A dificuldade estava na sua vontade obstinada. Como resultado, sua cidade, seu templo e sua terra ficariam desertos. Passariam por um longo período de exílio. De fato, não veriam o Senhor até mudarem a sua atitude para com ele. 0 versículo 35b se refere ao segundo advento de Cristo. Um restante da nação de Israel se arrependerá naquele tempo e dirá: Bendito o que vem em nome do Senhor. 0 seu povo, então, estará disposto no dia do seu poder. N. A cura de um hidrópico (14:1-6) 14:1-3 Num sábado, um dos principais fariseus convidou o Senhor para ir a sua casa para uma refei­ ção. Não era um gesto sincero de hospitalidade, mas antes uma tentativa da parte dos líderes religiosos de achar uma falha no Filho de Deus. Jesus viu um certo homem ah que estava com hidropisia, isto é, acumu­ lação anormal de líquido seroso nos tecidos. 0 Salva­ dor leu a mente dos seus críticos, perguntando-lhes propositadamente se era lícito curar no sábado. 14:4-6 Mesmo com eles querendo dizer que não era, eles não poderiam sustentar a sua resposta, e

assim nada disseram. Jesus, então, curou o homem, e deixou-o ir embora. Para ele, era um trabalho de misericórdia, e o amor divino nunca cessa suas ativi­ dades, mesmo no sábado (Jo 5:17). Depois, dirigindo-se aos judeus, ele os lembrou que, se um dos seus animais caísse num poço, certamente eles o tirariam mesmo no sábado. Era do próprio interesse deles assim agir. 0 animal valia dinheiro para eles. No caso de um companheiro em sofrimento, eles não ligavam, e teriam condenado o Senhor Jesus por ajudá-lo. Apesar de não poder responder ao raciocínio do Salvador, podemos ter a certeza de que se tomaram mais enfurecidos com ele. O.

A parábola do convidado ambicioso (14:7-11) Ao entrar na casa do fariseu, talvez o Senhor Jesus tenha reparado os convidados escolhendo os m e­ lhores lugares ao redor da mesa. Eles procuraram as posições de eminência e honra. 0 fato de que ele também era um convidado não o deteve de falar ou­ sadamente e com justiça. Ele exortou-os contra essa forma de egoísmo. Quando eram convidados para uma refeição, deveriam tomar o último lugar, em vez de o primeiro. Quando procuramos um lugar alto para nós mesmos, sempre há a possível vergonha de ser degradado. Se formos verdadeiramente humil­ des perante Deus, existe só uma direção para onde podemos deslocar-nos, e é para cima. Jesus ensinou que é melhor ser levado a um lugar de honra que se agarrar àquele lugar e mais tarde precisar abrir mão dele. Ele mesmo é o exemplo vivo de abnegação (Fp 2:5-8). Ele se humilhou e Deus o exaltou. Quem se exalta será humilhado por Deus. P.

A lista de convidados que Deus honra (14:12-14) 0 principal dos fariseus, sem dúvida, convidara as pessoas célebres do local para essa refeição. Jesus percebeu isso imediatamente. Ele viu que o povo desprivilegiado na comunidade não fora incluído. Por isso ele aproveitou a ocasião para enunciar um dos grandes princípios do cristianismo: que devemos amar os que são pouco amáveis e não podem nos recompensar. Normalmente as pessoas convidam os amigos, parentes e vizinhos ricos, sempre com a êsperança de ser recompensado com outro convite. Agir dessa maneira não requer uma vida divina, mas é absolutamente sobrenatural mostrar bondade aos pobres, aos aleijados, aos coxos e aos cegos. Deus reserva um prêmio especial para os que mostram caridade a essas classes. Embora tais convidados não possam recompensar-nos, Deus em si ainda pro­

mete premiar-nos na ressurreição dos justos. Isso também é conhecido nas Escrituras como a primeira ressurreição, e inclui a ressurreição de todos os cris­ tãos verdadeiros. Isso acontecerá no arrebatamento, e também, cremos, no fim do período da tribulação. Isto é, a primeira ressurreição não é um único evento, mas ocorre em etapas. Q. A parábola das desculpas (14:15-24) 14:15-18 Um dos convidados que se reclinava com Jesus na refeição observou quão maravilhoso seria participar nas bênçãos do reino de Deus. Talvez ele tenha ficado impressionado pelos princípios de conduta que o Senhor Jesus acabara de ensinar. Ou talvez fosse simplesmente uma observação geral que ele fez sem pensar muito. De qualquer forma, o Senhor respondeu quão maravilhoso pode ser comer pão no reino de Deus; o triste fato é que muitos dos que são convidados dão todos os tipos de desculpas superficiais na sua falha em aceitar. Ele descreveu Deus como um certo homem que deu uma grande ceia e convidou a muitos. À hora da ceia, ele enviou o seu servo para avisar os convidados de que tudo estava preparado. Isso nos faz lembrar do grande fato de que o Senhor Jesus terminou a obra da reden­ ção no Calvário, e o convite do evangelho é oferecido na base daquela obra completa. Uma pessoa que foi convidada se desculpou porque havia comprado um campo, e queria vê-lo. Normalmente ele deveria tê-lo visto antes de comprar. Mas, mesmo assim, ele estava colocando o amor das coisas materiais antes do gracioso convite. 14:19-20 0 próximo tinha comprado cinco juntas de bois e ia testá-los. Ele representa os que colocam empregos, ocupações ou negócios diante do chamado de Deus. 0 terceiro disse que havia casado, e por isso não poderia ir. Laços familiares e relaciona­ mentos sociais muitas vezes impedem os homens de aceitar o convite do evangelho. 14:21-23 Quando aquele servo notificou ao seu mestre que o convite estava sendo rejeitado por todo lado, o mestre o enviou à cidade para convidar os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. “Tanto a natureza como a graça odeiam um vácuo”, disse Bengel. Talvez os primeiros convidados represen­ tem os líderes do povo judaico. Quando rejeitaram o evangelho, Deus o enviou ao povo da cidade de Jerusalém. Muitos deles responderam ao chamado, mas ainda havia lugar na casa do mestre. E assim o mestre disse ao servo para sair pelos caminhos e atalhos e obrigar o povo a entrar. Sem dúvida, isso ilustra a ida do evangelho para os gentios. Não eram obrigados por força de armas (como já foi feito

na história da cristandade), mas antes por força de argumento. Persuasão carinhosa foi usada numa tentativa de trazê-los para dentro, para que a casa do mestre ficasse cheia. 14:24 Assim, a lista original dos convidados não servia mais quando foi realizada a refeição, porque os que eram convidados originalmente não vieram. R.

O custo do discipulado verdadeiro (14:25-35) 14:25 A gora grandes multidões seguiram o Se­ nhor Jesus. A maioria dos líderes ficaria jubilosa por um tão grande interesse. Mas o Senhor não estava procurando aqueles que o seguiriam por curiosida­ de, sem qualquer interesse de coração. Ele estava procurando os que estavam prontos a viver dedicada e apaixonadamente para ele, e até a morrer por ele se fosse necessário. E agora ele começou a peneirar a multidão, apresentando-lhes os termos rigorosos do discipulado. Às vezes, o Senhor Jesus atraía os homens a si, mas depois que começaram a segui-lo, ele os peneirara. É isso o que está acontecendo aqui. 14:26 Antes de tudo, ele disse aos que o seguiam que para serem discípulos verdadeiros deveriam mostrar-lhe amor supremo. Ele não sugeriu que os homens deveriam ter ódio no coração para com pai, mãe, mulher, filhos, irmãos e irmãs. Antes, ele enfatizava que o amor por ele deve ser tão grande que todos os outros amores são, em comparação, ódio (cf. Mt 10:37). Nenhuma consideração de laços familiares deve desviar um discípulo de uma senda de total obediência ao Senhor. De fato, a parte mais difícil desse primeiro período de discipulado se acha nas palavras “ e ainda a sua própria vida” . Não se trata de somente amar menos os familiares; devemos odiar nossa própria vida tam­ bém. Em vez de viver vidas egoístas, devemos viver vidas cristocêntricas. Em vez de perguntar como cada ação vai afetar-nos, devemos ter cuidado de avaliar como afetará Cristo e sua glória. As considerações de conforto e segurança pessoal devem ser subordinadas à grande tarefa de glorificar a Cristo e fazê-lo conheci­ do. As palavras do Salvador são absolutas. Ele disse que se não o amarmos de coração, mais que a nossa família, e mais que a nossa vida, não poderemos ser seus discípulos. Não há meios-termos. 1 4 :2 7 Em segundo lugar, ele ensinou que um verdadeiro discípulo deve tomar a sua própria cruz e segui-lo. A cruz não é uma enfermidade física ou angústia mental, mas é uma senda de opróbrio, so­ frimento, solidão e até mesmo a morte escolhida voluntariamente pela causa de Cristo. Nem todos os cristãos tomam a cruz. É possível evitá-la por viver

uma vida cristã nominal. Mas, se resolvemos ser fiéis a Cristo, nos depararemos com o mesmo tipo de opo­ sição satânica que o Filho de Deus conheceu quando esteve aqui na terra. Isso é a cruz. 0 discípulo deve vir após Cristo. Isso quer dizer que ele deve viver o tipo de vida que Cristo viveu: uma vida de renúncia, humilhação, perseguição, opróbrio, tentação e con­ tradição dos pecadores contra si mesmo. 14:28-30 Depois o Senhor Jesus usou duas ilus­ trações para enfatizar a necessidade de calcular o custo antes de começar a segui-lo. Ele assemelhou a vida cristã a um projeto de construção e depois a um combate. Um homem, pretendendo construir uma torre, assenta-se primeiro e calcula a despesa. Se ele não tiver os meios para concluí-la, não prosse­ gue. Caso contrário, quando o alicerce é lançado, e o serviço deve parar, os espectadores zombam dele, dizendo: Este homem começou a construir, e não pôde acabar. Assim é com os discípulos. Eles de­ vem calcular o custo primeiro, se realmente querem entregar sua vida de todo o coração a Cristo. Caso contrário, poderiam começar numa labareda de glória, e depois malograr. Se isso acontecer, os espectadores zombarão deles por terem começado bem e terminado sem glória. 0 mundo tem somente desprezo para cristãos indiferentes. 14:31-32 Um rei, indo para combater contra forças numericamente superiores deve considerar cuidadosamente se tem a capacidade de derrotar o inimigo. Ele tem perfeita consciência de que ou a campanha será bem-sucedida ou terá de se render de forma vergonhosa. E assim é na vida de discipulado cristão. Não pode haver meios-termos. 14:33 Provavelmente o versículo 33 é um dos versículos menos populares na Bíblia inteira. Ele declara explicitamente que todo aquele que entre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo. Não se pode fugir do significado das palavras. Elas não dizem que uma pessoa deve ser disposta a renunciar tudo. Antes, dizem que ele deve renunciar tudo. Devemos dar crédito ao Senhor Jesus por saber o que dizia. Ele reconheceu que o trabalho nunca seria feito de outra maneira. Ele quer homens e mulheres que o estimem mais que qualquer coisa no mundo. Charles Ryle observa: 0 homem que faz bem para si é o que abre mão de tudo pela causa de Cristo. Ele faz o melhor dos benefícios, leva a cruz por uns anos neste mundo e no mundo vindouro tem vida eterna. Ele obtém as melhores possessões, leva suas riquezas para o além-túmulo junto dele. Ele é rico em graça aqui, e é rico em glória no porvir.

E, o melhor de tudo, o que ele obtém pela fé em Cristo nunca perde. É “aquela boa parte que nunca é tirada”.45 14:34-35 Sal é uma imagem de um discípulo. Há algo saudável e louvável numa pessoa que vive de­ dicada e sacrificialmente para o Senhor. Mas depois lemos sobre o sal que se tom a insípido. 0 sal mo­ derno para uso doméstico não pode tomar-se insípido porque é sal refinado. Mas nas terras bíblicas muitas vezes o sal era misturado com várias formas de im­ pureza. Assim era possível para o sal ser estragado e um resíduo ficar no receptáculo. Mas esse resíduo era inútil. Nem podia ser usado para fertilizar a terra. Tinha de ser descartado. A ilustração é a de um discípulo que começa bri­ lhantemente, e depois renega seus votos. 0 discípulo tem uma razão básica da existência; se ele falhar em cumprir essa razão, então ele é um objeto lastimável. Lemos acerca do sal que os homens lançam fora. Não diz que Deus o lança fora; isso nunca poderia acontecer. Mas os homens lançam-no fora, isto é, eles pisam no testemunho de alguém que começou a construir e não foi capaz de terminar. William Kelly observa: Aqui é mostrado o perigo do que começa bem e termina mal. 0 que há no mundo tão inútil quanto o sal quando perdeu a única propriedade que tem valor? É pior que inútil para qualquer outra finalidade. Assim é com o discípulo que cessa de ser discípulo de Cristo. Ele não presta para os propósitos do mundo, e ele abandonou os que são de Deus. Ele tem luz ou conhecimento demais para aderir às vaidades e aos pecados do mundo, e não tem alegria na graça e na ver­ dade, para conservá-lo na senda de Cristo. [...] Sal sem sabor se toma um objeto de desprezo e julgamento”.46 0 Senhor Jesus terminou a mensagem sobre dis­ cipulado com as palavras: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Essas palavras sugerem que nem todos terão a vontade de ouvir os termos severos de disci­ pulado. Mas se uma pessoa está disposta a seguir o Senhor Jesus, qualquer que seja o custo, então ela deveria ouvir e seguir. João Calvino disse certa vez: “Eu deixei tudo por Cristo, e o que eu achei? Eu achei tudo em Cristo”. Henry Drummond comentou: “A taxa de matrícula para o reino do céu é grátis! A assinatura anual é tudo”. 45 (14:33) Charles R y l e , Gospels; St.Luke, 11:86 46 (14:34-35) William K e lly , Luke, p. 249.

S. A parábola da ovelha perdida (15:1-7) 15:1-2 0 ministério de ensino do Senhor no capí­ tulo 14 parecia atrair os desprezados cobradores de im postos, e outros que eram aparentemente pecadores. Embora Jesus reprovasse seus pecados, ainda muitos deles admitiam que ele estava certo. Eles concordaram com Cristo contra si mesmos. Em verdadeiro arrependimento, eles o admitiram como Senhor. Onde quer que Jesus encontrasse pessoas que estivessem dispostas a admitir o próprio pecado, ele seria atraído a eles, e a eles concederia ajuda espiritual e bênção. Os fariseus e escribas ressentiram-se do fato de que Jesus se fratemizou com pessoas declaradamen­ te pecadoras. Eles não mostraram graça a esses leprosos sociais e morais, e se ressentiram de que Jesus agisse dessa forma. Então eles lançaram esta acusação contra ele: Este recebe pecadores e come com eles. A acusação estava certa, sem dúvida. Eles acharam que era uma atitude condenável, mas real­ mente foi em cumprimento do exato propósito pelo qual o Senhor Jesus veio ao mundo! Foi em resposta a essa acusação que o Senhor Jesus relatou as parábolas da ovelha perdida, da dra­ cma perdida e do filho perdido. Essas histórias foram direcionadas diretamente aos escribas e fariseus, que nunca se humilharam perante Deus para admitir sua condição de perdidos. 0 fato é que, em verdade, eles eram tão perdidos como os publicanos e pecadores, mas resolutamente se recusaram a admitir. 0 ponto central das três histórias é que Deus tem verdadeira alegria e satisfação ao ver pecadores se arrepen­ dendo, considerando que ele não obtém gratificação nenhuma dos hipócritas fariseus, orgulhosos demais para admitir sua triste pecaminosidade. 15:3-4 Aqui o Senhor Jesus é apresentado como pastor. As noventa e nove ovelhas representam os escribas e fariseus. A ovelha perdida tipifica um cobrador de impostos ou um pecador reconhecido. Quando o pastor reconhece que uma das suas ove­ lhas está perdida, ele deixa as noventa e nove no deserto (não no aprisco) e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la. Em relação ao Senhor, essa viagem incluiu sua descida à terra, seus anos de ministério público, sua rejeição, seu sofrimento e sua morte. Quão verdadeiras são as linhas do hino “Noventa e nove ovelhas”: Nenhum remido imaginou quão negra escuridão, Quão fundas águas que passou, trazendo a sal­ vação. E, quando foi pra socorrer, a errante estava a perecer. Elizabeth C. Clephane

15:5 Ao achar a ovelha, ele põe-na sobre os om­ bros, e leva-a para sua casa. Isso indica que a ovelha salva desfrutou de um lugar de privilégio e intimidade que nunca conheceu enquanto estava numerada com as outras. 15:6 0 pastor reuniu os amigos e vizinhos para alegrar-se com ele na salvação da ovelha perdida. Isso aponta para o júbilo do Salvador ao ver um pe­ cador se arrepender. 15:7 A lição é clara: Há júbilo no céu por um pecador que se arrepende, mas não há júbilo pelos noventa e nove pecadores que nunca foram convic­ tos da sua condição perdida. Realmente o versículo 7 não quer dizer que há pessoas que não precisam de arrependimento. Todos são pecadores, e todos devem arrepender-se para serem salvos. 0 versículo descreve os que, na própria visão, não necessitam de arrependimento. T. A parábola da dracma perdida (15:8-10) A mulher nessa história pode representar o Espírito Santo, procurando o perdido com a candeia da pala­ vra de Deus. As nove dracmas de prata retratam os impenitentes, enquanto aquela dracma perdida indica o homem que está disposto a confessar que está fora de contato com Deus. No relato anterior, a ovelha se extraviou por conta própria. Uma dracma é um objeto inanimado e pode descrever a condição inanimada de um pecador. Ele está morto em pecados. A mulher continua a procurar diligentemente pela dracma até encontrá-la. Assim ela reúne as amigas e vizinhas para festejar com ela. A dracma perdida que ela achou trouxe bem mais alegria para ela que as nove que nunca foram perdidas. Assim é com Deus. 0 pecador que se humilha e confessa sua condição de perdido traz alegria ao coração de Deus. Ele não obtém tal alegria dos que nunca sentem sua necessidade de arrependimento. U. A parábola do filho perdido (15:11-32) 15:11-16 Deus, o Pai, está aqui descrito como um certo homem que tinha dois filhos. O mais moço é tipo do pecador arrependido, enquanto o mais velho representa os escribas e fariseus. Os últimos são filhos de Deus por criação, embora não pela redenção. 0 mais moço é conhecido também como filho pródigo. Pródigo significa extremamente extravagante, que desperdiça dinheiro. Esse filho cansou-se da casa do pai, e resolveu ir embora. Ele não podia esperar a morte do pai, então pediu sua porção da herança antes da hora. 0 pai distribuiu aos filhos a parte de cada um. Logo depois, o filho mais moço partiu para uma terra distante e gastou o dinheiro livremente

em prazeres pecaminosos. Logo que os recursos aca­ baram, lima calamidade severa atingiu a terra, e ele se viu desamparado. 0 único emprego que ele podia achar era guardar porcos, um serviço que teria sido muito desgostoso para qualquer judeu. Enquanto ele contemplava os porcos comendo as alfarrobas, ele tinha inveja deles. Eles tinham mais para comer que ele, e ninguém parecia disposto a ajudá-lo. Os amigos que tinha quando ele gastava dinheiro livremente desapareceram. 15:17-19 A fome tomou-se uma bênção disfarçada. Levou-o a refletir. Ele lembrou que os trabalhadores do seu pai viviam com mais conforto que ele. Eles tinham bastante alimento, enquanto ele estava mor­ rendo de fome. Enquanto pensou nisso, resolveu agir. Ele determinou ir ao seu pai em arrependimento, ad­ mitir seu pecado e pedir perdão. Ele reconheceu que não era digno de ser chamado o filho do seu pai, e planejou pedir emprego como trabalhador. 15:20 Ainda longe de chegar a casa, o pai o avis­ tou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou. Provavelmente esse é o único versículo da Bíblia que “pressa” é usada em relação a Deus e num bom sentido. James Stewart habilmente descreve: “Ousadamente Jesus descreveu Deus não esperando o seu filho envergonhado chegar quietinho, nem mantendo-se distante quando chegou, mas correndo, recebeu-o com alegria nos seus braços, envergonha­ do, esfarrapado e sujo como estava. 0 mesmo nome “Pai” imediatamente turvou a cor do pecado e elevou a glória esplêndida de perdão”.47 15:21-24 O filho fez a confissão até o ponto onde ele pediria um emprego. Mas o pai o interrompeu, mandando os escravos vestirem a melhor roupa no filho, pondo-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Também ele encomendou uma grande festa para comemorar a volta do seu filho que foi morto, mas agora reviveu. Na opinião do pai, ele tinha sido morto, mas agora reviveu. Alguém disse: “0 moço procurava um tempo bom, mas não o achou na terra distante. Ele somente o achou quando ele teve o bom senso de voltar à casa do seu pai”. Já foi indicado que começaram a regozijar-se, mas não se relatou que a sua alegria terminou. Assim é com a salvação do pecador. 1 5 :2 5 -2 7 Quando o filho mais velho voltou do campo e ouviu toda a festividade, perguntou a um dos trabalhadores o que estava acontecendo. Este falou-lhe que seu irmão mais novo havia voltado e que seu pai estava fora de si, com alegria.

15:28-30 0 filho mais velho foi consumido por uma raiva ciumenta. Ele recusou-se a participar da alegria do pai. John Nelson Darby expressou bem: “Onde há a alegria de Deus, a atitude farisaica não pode entrar. Se Deus é bondoso para com o pecador, de que vale a minha retidão?”. Quando o seu pai lhe implorou para participar nas festividades, ele se recusou, lamentando que o pai nunca o recompensara pelo seu serviço fiel e por sua obediência. Nunca lhe fora dado nem mesmo um cabrito, para não mencionar um novilho. Ele se queixou dizendo que quando o filho pródigo voltou, depois de gastar o dinheiro do pai com meretrizes, o pai não hesitou em fazer uma grande festa. Observe o que ele disse: esse teu filho e não “meu irmão”. 15:31-32 A resposta do pai indicou que há alegria associada com a restauração de um perdido, enquan­ to um filho obstinado, ingrato e irreconciliado não é motivo de celebração. O filho mais velho é um exemplo eloqüente dos escribas e fariseus. Eles se ressentiram da miseri­ córdia de Deus mostrada aos pecadores atrozes. Ao seu modo de pensar, e não ao modo de Deus, eles o tinham servido fielmente, nunca transgrediram seus mandamentos e nunca foram recompensados devidamente por tudo isso. A verdade é que eram re­ ligiosos hipócritas e pecadores culpados. Seu orgulho cegou-os para a sua distância de Deus, e para o fato de que ele tinha lhes dado, generosamente, bênção após bênção. Se eles somente estivessem prontos a se arrepender e admitir seus pecados, então o coração do Pai teria se alegrado, e eles também teriam sido motivo de grande festejo. V.

A parábola do administrador infiel (16:1-13) 16:1-2 O Senhor Jesus passa agora dos fariseus e escribas aos seus discípulos com uma lição sobre administração. Essa seção, sem dúvida, é uma das mais difíceis em Lucas. A razão da dificuldade é que a história do administrador infiel parece aprovar a desonestidade. Ao prosseguir, porém, veremos que esse não é o caso. O rico nessa história representa o próprio Deus. Um administrador é alguém a quem é confiada a administração da propriedade de outro. Conforme essa história, qualquer discípulo do Senhor é também um administrador. Esse administrador em particular foi acusado de defraudar o capital do patrão. Ele foi chamado para prestar contas e foi notificado de que seria demitido. 16:3-6 O administrador pensou consigo mesmo. Ele reconheceu que devia precaver-se para o futuro. Mas ele estava velho demais para fazer serviço braçal

e orgulhoso demais para mendigar (mas não orgulho­ so demais para roubar). Como ele poderia suprir sua previdência social? Ele teve a ideia de como poderia granjear amigos que lhe mostrariam bondade quando ele estivesse em necessidade. O esquema foi o seguin­ te: ele foi para um dos devedores do patrão e pergun­ tou quanto ele devia. Quando o freguês disse: cem cados de azeite, o administrador falou-lhe para pagar cinqüenta, e a conta seria considerada fechada. 16:7 Outro endividado devia cem coros de trigo. O administrador falou-lhe para pagar oitenta, e ele marcaria a fatura: “Pago”. 16:8 A parte escandalosa ocorre quando o senhor elogia o administrador infiel por agir astutamente. Por que alguém aprovaria tal desonestidade? 0 que o administrador fez era injusto. Os versículos seguintes mostram que o administrador não foi elogiado por sua desonestidade, de forma alguma, mas por sua previdência. Ele agiu prudentemente, olhou para o futuro e fez provisão, sacrificou o ganho presente tendo em vista o prêmio futuro. Ao aplicar isso à nossa vida, devemos ser muito claros nesse ponto; porém, o futuro do filho de Deus não é nesta terra, mas no céu. Como o administrador tomou medidas para garantir que teria amigos durante o seu tempo de aposentadoria aqui na terra, assim o cristão deve usar os bens de seu Mestre de uma maneira que garanta as boas-vindas quando ele chegar ao céu. 0 Senhor disse: Os filhos do mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz. Isso quer dizer que os homens incrédulos e pe­ caminosos mostram mais sabedoria na provisão para o seu futuro neste mundo que os verdadeiros crentes mostram em amontoar tesouros no céu. 16:9 Deveríamos fazer amigos para nós, por meio das riquezas de origem iníqua. Isto é, devemos usar dinheiro e outros bens materiais de modo a ganhar al­ mas para Cristo e assim formar amizades que durarão a eternidade. Pierson disse claramente: O dinheiro pode ser usado para comprar Bíblias, livros, folhetos, e assim, indiretamente, a alma dos homens. Desse modo, o que era material e temporal se toma imortal, não material, espiri­ tual e etemo. Aqui há um homem que tem cem dólares. Ele pode gastar tudo num banquete ou numa festa noturna. Nesse caso, no dia seguinte, não há nada para mostrar como resultado. Em contrapartida, ele investe em Bíblias custando um dólar cada uma. Compra cem cópias da Pa­ lavra de Deus. Ele as semeia sabiamente como a semente do reino, e essa semente brota numa colheita, não de Bíblias, mas de almas. Da rique­

za de origem iníqua ele fez amigos imortais, que, quando ele faltar, o receberão nos tabemáculos eternos.48 Esse, então, é o ensino do Senhor. Pelo investimen­ to sábio das possessões materiais, podemos ter parte na bênção etema de homens e mulheres. Podemos ter a certeza de que, quando chegarmos aos portais do céu, haverá uma delegação dando boas-vindas aos que foram salvos por nossas contribuições sacrificiais e nossas orações. Essas pessoas nos agradecerão, dizendo: “Foi você que nos convidou para cá”. Darby comenta: O homem geralmente é o administrador de Deus; e, em outro sentido, e de outra maneira, Israel foi o administrador do Senhor, colocado na vinha de Deus e encarregado da lei, das promessas, das alianças e da adoração. Mas em tudo Israel foi achado desperdiçando os bens do Todo-Poderoso. 0 homem, como administrador, é achado inteiramente infiel. Agora, o que pode ser feito? Deus aparece, e, na sua graça soberana, toma aquilo que o homem abusou na terra num meio de fruto celestial. Ele não deve usar as coisas deste mundo para o seu presente prazer, visto que as coisas deste mundo estão nas mãos do homem, que é totalmente iso­ lado de Deus, mas tendo em vista o futuro. Não devemos procurar possuir as coisas agora, mas, pelo uso justo dessas coisas, providenciar para o futuro. É melhor transformar tudo num amigo para outro dia que ter dinheiro agora. 0 homem aqui está indo à destruição. Consequentemente, agora, o homem é administrador fora do lugar.49 16:10 Se formos fiéis na administração no pouco (dinheiro), então seremos fiéis no manejo do que é muito (tesouros espirituais). Em contrapartida, um homem que é injusto ao usar o dinheiro que Deus lhe confiou é injusto quando considerações maiores estão em risco. A relativa insignificância do dinheiro é enfatizada pela expressão o que é pouco. 16:11 Alguém que não é honesto na aplicação das riquezas de origem injusta para o Senhor não pode esperar que ele lhe confie riquezas verdadeiras. 0 dinheiro é chamado “riquezas de origem injusta” . Não é basicamente mal. Mas provavelmente não haveria necessidade de dinheiro se o pecado não tivesse entrado no mundo. E o dinheiro é injusto porque é caracteristicamente usado para propósitos que não são a glória de Deus. É contrastado aqui com riquezas verdadeiras. O valor do dinheiro é incerto e temporário; o valor das realidades espirituais é fixo e etemo.

16:12 O versículo 12 distingue entre o que é do outro e o que é seu. Tudo o que temos — dinheiro, tempo, talentos — pertence ao Senhor e deve ser usado para ele. O que é nosso se refere aos prêmios que ceifamos nesta vida e na vida além, como resul­ tado do nosso fiel serviço a favor de Cristo. Se não formos fiéis no que é dele, como é que ele pode nos dar o que é nosso? 16:13 E absolutamente impossível viver para as coisas e para Deus ao mesmo tempo. Se formos domi­ nados pelo dinheiro, não podemos servir o Senhor em verdade. A fim de acumular riquezas, será preciso em­ pregar nossos melhores esforços à tarefa. No simples ato de agirmos assim, roubamos de Deus o que é dele por direito. É uma questão de lealdade dividida. Os motivos são confusos. As decisões não são imparciais. Onde está o nosso tesouro aí estará também o nosso coração. No esforço de acumular riqueza, estamos servindo a Mamom. É totalmente impossível servir a Deus ao mesmo tempo. Mamom exige tudo o que temos e somos: noites, fins de semana, enfim, o tempo que deveríamos dar ao Senhor. W. Os fariseus avarentos (16:14-18) 16:14 Os fariseus não eram somente orgulhosos e hipócritas: eram avarentos também. Pensavam que piedade era maneira de lucrar. Escolhiam religião como alguém escolheria um emprego lucrativo. Seu serviço não era direcionado para glorificar a Deus e ajudar o próximo, mas para enriquecimento próprio. Ao ouvir o Senhor Jesus ensinar que eles deveriam privar-se de riqueza neste mundo e acumular seus tesouros no céu, eles o ridicularizavam. Para eles, o dinheiro era mais real que as promessas de Deus. Nada os impediria de amontoar riqueza. 16:15 Externamente, os fariseus pareciam ser piedosos e espirituais. Eles consideravam-se justos aos olhos dos homens. Mas debaixo desse exterior enganoso Deus viu a avareza do coração deles. Ele não foi enganado por sua pretensão. 0 tipo de vida que demonstravam, e que outros aprovavam (SI 49:18), era uma abominação diante de Deus. Eles estimavam-se bem-sucedidos porque combinavam confissão religiosa com fartura financeira. Mas, aos olhos de Deus, eram adúlteros religiosos. Eles professavam amor a Jeová, mas Mamom era, de fato, o seu deus. 16:16 A continuidade dos versículos 16-18 é muito difícil de entender. Na primeira leitura, parece não haver conexão nenhuma entre o que está antes e o

48 (16:9) OurLord’s Teachings AboutMoney (folheto), p. 10-11. 49 (16:9) J. N. DARBY, The Man ofSorrows, p. 178.

que segue. Porém, sentimos que podem ser mais bem entendidos quando lembramos que o tema do capítulo 16 é a avareza e a infidelidade dos fariseus. Os mesmos que se orgulhavam da observância cuida­ dosa da lei são expostos como hipócritas avarentos. 0 espírito da lei está em nítido contraste com o espírito dos fariseus. A lei e os profetas vigoraram até João. Com essas palavras, o Senhor descreveu a dispensação da lei que começou com Moisés e terminou com João Batista. Mas agora uma nova dispensação estava sendo inaugurada. Desde o tempo de João, o evange­ lho do reino de Deus estava sendo pregado. Batista saiu anunciando a chegada do legítimo Rei de Israel. Ele avisou o povo que o arrependimento faria Jesus reinar sobre eles. Como resultado da sua pregação, e a pregação do próprio Senhor, e dos discípulos mais tarde, houve resposta positiva da parte de muitos. “Todo homem se esforça por entrar nele” quer dizer que os que responderam à mensagem literal­ mente correram depressa ao reino. Os cobradores de impostos e pecadores, por exemplo, tinham de pular os obstáculos montados pelos fariseus. Outros tinham de tratar violentamente o amor ao dinheiro no próprio coração. O prejuízo tinha de ser vencido. 16:17 -18 Mas a nova dispensação não queria dizer que verdades básicas e morais estavam sendo descartadas. Seria mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da lei. Um til da lei po­ deria ser comparado com cortar o traço horizontal do “t” ou o pingo do “i”. Os fariseus acharam que estavam no reino de Deus, mas o Senhor insistiu: “Não é possível desprezar as grandes leis morais de Deus e ainda requerer um lugar no reino”. Talvez perguntassem: “Qual grande preceito moral estamos desprezando?”. 0 Senhor apontou-lhes a lei do casamento como uma lei que jamais passaria. Qualquer homem que repudia a sua mulher e casa com outra comete adultério; e aque­ le que casa com a mulher repudiada pelo marido, também comete adultério. Isso é exatamente o que os fariseus faziam espiritualmente. 0 povo judaico foi introduzido numa posição de aliança com Deus. Mas esses fariseus agora viravam as costas para Deus numa busca louca de riqueza material. E talvez o versículo sugira que eram culpados tanto de adultério literal como espiritual. X. O rico e Lázaro (16:19-31) 1 6 :1 9 -2 1 0 Senhor termina seu discurso sobre administração das coisas materiais com esse relato de duas vidas, duas. mortes e duas vidas futuras. Devemos observar que não é contado como parábola.

Mencionamos isso porque alguns críticos tentam des­ valorizar as solenes conclusões do relato tratando-o como parábola. No princípio, deveria ficar claro que o rico (sem nome) não foi condenado ao Hades por causa da sua riqueza. A base da salvação é a fé no Senhor, e os homens são condenados por se recusarem a crer nele. Mas esse rico mostrou que não tinha fé verdadeira e salvadora devido à sua falta de consideração pelo mendigo que jazia à sua porta. Se ele tivesse tido o amor de Deus nele não poderia ter vivido em luxo, conforto e sossego, enquanto um contemporâneo es­ tava fora da sua porta, pedindo migalhas de pão. Ele teria entrado impetuosamente no reino por abandonar o amor ao dinheiro. Também é verdade que Lázaro não foi salvo porque era pobre. Ele confiava no Senhor para a salvação da sua alma. Agora, note a imagem do rico, às vezes chamado Dives (latim para rico). Ele usava apenas a roupa mais cara, feita sob encomenda, e sua mesa estava repleta dos melhores alimentos. Ele vivia para si, suprindo os prazeres corporais e os apetites. Ele não tinha genuíno amor a Deus e nenhum cuidado com seus contemporâneos. Lázaro apresenta um contraste impressionante. Ele era um pobre mendigo, deixado todos os dias na frente da casa do rico, coberto de chagas, enfraquecido pela fome e atormentado pelos cães que vinham lamber-lhe as úlceras. 16:22 Quando o mendigo morreu, foi levado pelos anjos para o seio de Abraão. Muitos questio­ nam se anjos realmente levam as almas dos cristãos ao céu. Não vemos razão nenhuma, porém, para duvidar da força revelada nessas palavras. Os anjos ministram aos cristãos nesta vida, e parece não haver razão para que não ajam assim na hora da morte. O seio de Abraão é uma expressão simbólica indicando o lugar de felicidade. A qualquer judeu, o pensamento de desfrutar comunhão com Abraão sugeria felicidade inefável. Suponhamos que o seio de Abraão seja o mesmo que o céu. Quando o rico morreu, o seu corpo foi sepultado — o corpo que ele cuidava muito e com o qual ele gastava tanto. 16:23-24 Mas não foi só isso. Sua alma, ou seu ser consciente, foi para o Hades, palavra de origem grega e que, no AT, corresponde ao hebraico Sheol, o estado dos espíritos que partiram. No período do AT, foi descrito como a morada tanto de salvos como não salvos. Aqui é descrito como a habitação dos não sal­ vos, porque lemos que o rico estava em tormentos. Os discípulos devem ter levado um choque quando Jesus disse que esse judeu rico foi ao Hades. Eles

sempre foram ensinados no AT que riquezas eram sinal da bênção e do favor de Deus. Um israelita que obedecia ao Senhor tinha promessa de prosperidade material. Como então um judeu rico poderia ir ao Hades? 0 Senhor Jesus tinha acabado de anunciar que uma nova ordem começara com a pregação de João. Daqui em diante, riquezas não são um sinal de bênção. São uma prova da fidelidade de um homem em sua administração. A quem muito se confia muito lhe será exigido. 0 versículo 23 refuta a ideia de “sono da alma”, a teoria de que a alma não é consciente entre a morte e a ressurreição. Prova-se que há existência cons­ ciente além do túmulo. De fato, admiramos quanto conhecimento o rico tinha. Ele viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Ele até podia se comunicar com Abraão. Chamando-lhe de Pai Abraão, ele pediu misericórdia, implorando que Lázaro pudesse trazer um pingo de água e refrescar a sua língua. Há, de fato, uma dúvida se uma alma desincorporada pode sentir sede e angústia de uma chama. Só podemos concluir que a linguagem é figurativa, mas isso não quer dizer que o sofrimento não era real. 16:25 Abraão dirigiu-se a ele como filho, suge­ rindo que se tratava de um descendente físico, mas obviamente não espiritual. 0 patriarca fez-lhe lembrar da sua vida de luxo, comodidade e indulgência. Ele também relatou a pobreza e o sofrimento de Lázaro. Agora, além-túmulo, a situação deles também mudou. As desigualdades da terra foram invertidas. 1 6 :26 Aprendemos aqui que as escolhas desta vida determinam o nosso destino etemo, e, uma vez morto, o destino é determinado. Não há passagem do lar dos salvos para os condenados ao infemo, ou vice-versa. 16:27-31 Na morte, o rico de repente tomou-se evangélico. Ele queria que alguém fosse aos seus cinco irmãos para alertá-los sobre aquele lugar de tormento. A resposta de Abraão era que esses cinco irmãos, sendo judeus, tinham as Escrituras do AT, e isso era suficiente para avisá-los. 0 rico discordou de Abraão, dizendo que se alguém dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão tinha a última palavra. Disse que a falha em escutar a palavra de Deus é decisiva. Se as pessoas não prestam atenção à Bíblia, não crerão mesmo se alguém ressuscitar dentre os mortos. Isso é provado conclusivamente no caso do Senhor Jesus, que ressuscitou dentre os mortos, e os homens ainda não creem. Pelo NT, sabemos que, quando um crente morre, o corpo vai à sepultura. Mas sua alma estará com Cris­

to no céu (2Co 5:8; Fp 1:23). Quando um descrente morre, o corpo igualmente vai à sepultura, mas a alma vai para o Hades. Para ele, Hades é um lugar de sofrimento e remorso. Na hora do arrebatamento, o corpo dos crentes será ressuscitado da sepultura e reunido com o espírito e a alma (lTs 4:13-18). Assim viverão com Cristo eternamente. No julgamento do Grande Trono Branco, o corpo, o espíritos e a alma dos descrentes serão reunidos (Ap 20:12-13). Então serão lançados no lago de fogo, um lugar de punição etema. Assim, o capítulo 16 termina com um aviso bem solene aos fariseus, e a todos os que vivem em função do dinheiro. Com essa forma de agir correm grande risco de perder sua alma. É melhor mendigar pão na terra que pedir água no Hades.

IX. O Filho do Homem instrui seus discípulos (17:1— 19:27) A. A respeito do perigo de ofender (17:1-2) A continuidade ou fluência de pensamento nesse capí­ tulo é obscura. E quase como se Lucas juntasse vários tópicos incoerentes. Porém, as primeiras observações de Cristo sobre o perigo de ofender podem ser ligadas com a história do rico no fim do capítulo 16. Viver em luxo, complacência e tranqüilidade bem poderia ser um impedimento aos outros que são novos na fé. Especial­ mente se um homem tem a reputação de ser cristão, seu exemplo será seguido pelos outros. Quão sério é induzir assim seguidores em potencial do Senhor Jesus Cristo à vida de materialismo e de adoração a Mamom. De fato, esse princípio aplica-se de forma bem geral. Pequenos podem tropeçar por ser encorajados no mundanismo, por ser envolvidos em pecado sexual ou por qualquer ensino que enfraqueça o significado claro das Escrituras. Qualquer coisa que os desvia de uma senda de fé simples, de devoção e de santidade é um tropeço. Conhecendo a natureza humana e as condições do mundo, o Senhor disse que seria inevitável que viessem escândalos. Mas isso não diminui a culpa dos que causam as ofensas. Melhor fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho e que fosse atirado nas profundezas do mar. Parece claro que a intenção de uma linguagem tão forte como essa é ilustrar não somente a morte física, mas também a condenação etema. Quando o Senhor Jesus menciona a ofensa a um desses pequeninos, provavelmente incluía mais que crianças. A referência também parece ser aos discí­ pulos novos na fé.

B.

A respeito da necessidade de um espírito perdoador (17:3-4) Na vida cristã não há somente o perigo de ofender ou­ tros. Há também o perigo de nutrir rancores, de se re­ cusar a perdoar quando alguém que nos ofendeu pede perdão. É disso que o Senhor trata aqui. 0 NT ensina o seguinte método em relação a esse assunto: 1. Se um cristão foi tratado injustamente por outro cristão, ele deveria perdoar ao ofensor no seu coração (Ef 4:32). Isso conserva sua alma livre de ressentimento e malícia. 2. Depois ele deveria ir ao ofensor pessoalmente e repreendê-lo (v. 3; tb. Mt 18:15). Se ele se ar­ repender, então diga que ele é perdoado. Mesmo se ele pecar repetidamente e depois disser que se arrependeu, deveria ser perdoado (v. 4). 3. Se uma repreensão em particular não produzir resultado, a pessoa ofendida deve levar uma ou duas testemunhas (Mt 18:16). Se ele não os aten­ der, então a questão deveria ser levada perante a igreja. Falhar em ouvir a igreja deveria resultar em excomunhão (Mt 18:17). 0 propósito de repreensões e outras ações de disciplina não é vingar ou humilhar o ofensor, mas restaurá-lo à comunhão com o Senhor e seus irmãos. Todas as repreensões deveriam ser feitas em espírito de amor. Não temos meios de julgar se o arrependi­ mento do ofensor é genuíno. Devemos aceitar sua palavra de que ele se arrependeu. Por isso Jesus diz: Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete ve­ zes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe. Essa é a maneira graciosa como nosso Pai nos trata. Não importa quantas vezes falhamos, ainda temos esta segurança: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (ljo 1:9). C. A respeito da fé (17:5-6) 17:5 A ideia de perdoar sete vezes ao dia apresentou uma dificuldade, se não uma impossibilidade aos apóstolos. Eles sentiram que não eram capazes de tal manifestação da graça. E assim pediram ao Senhor: Aumenta-nos a fé. 17:6 A resposta do Senhor indicou que não era tanto uma questão de quantidade de fé, mas de qua­ lidade. Também não era uma questão de aumentar a fé, mas de usar a fé que tinham. É o orgulho e a pre­ sunção que nos impedem de perdoar nossos irmãos. Aquele orgulho precisa ser arrancado e jogado fora.

Se a fé do tamanho dum grão de mostarda pode arrancar uma amoreira e a transplantar no mar, mais facilmente pode dar-nos vitória sobre a dureza e a falta de quebrantamento que nos impedem de perdoar um irmão indefinidamente. D. A respeito de servos úteis (17:7-10) 17:7-9 0 verdadeiro servo de Cristo não tem razão de ter orgulho. A presunção deve ser arrancada pela raiz, e no seu lugar deve haver um sentimento verda­ deiro de indignidade. Essa é a lição que descobrimos na história do servo. Esse servo estava ocupado na lavoura ou em guardar o gado o dia todo. Quando ele volta do campo no fim de um dia de serviço duro, o patrão não lhe manda assentar para comer. Antes, manda-lhe cingir-se e servir a refeição. Somente depois de fazer isso é permitido ao servo com er a própria refeição. 0 patrão não lhe agradece por fazer tais coisas. Espera-se isso de um escravo. Afinal, um escravo pertence ao patrão; seu primeiro dever é obedecer. 17:10 Assim, os discípulos são servos do Senhor Jesus Cristo. Eles lhe pertencem — espírito, alma e corpo. A luz do Calvário, nada que possam fazer para o Salvador é suficiente para recompensá-lo pelo que ele tem feito. E, assim, depois que o discípulo tiver feito tudo o que foi mandado no NT, ele ainda deve admitir que é um servo inútil que fez apenas o que devia fazer. Conforme Roy Hession, os cinco sinais de um escravo são: 1. Deve estar disposto a assumir uma tarefa após a outra, sem receber qualquer consideração. 2. Agindo assim, deve estar disposto a não receber agradecimento. 3. Tendo feito tudo isso, não deve acusar o patrão de egoísmo. 4. Deve confessar que é um servo inútil. 5. Deve admitir que, fazendo e suportando o que tem feito de maneira submissa e humilde, não fez nada mais que seu dever.50 E. Jesus cura dez leprosos (17:11-19) 17:11 0 pecado de ingratidão é outro perigo na vida do discípulo. Isso é demonstrado na história dos dez leprosos. Lemos que o Senhor Jesus estava de caminho para Jerusalém na fronteira de Samaria e da Galileia. 17:12-14 Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos. Por causa da sua condição enferma, eles não chegaram perto dele, mas gritaram de longe, pedindo que ele os curasse. Jesus recom­ pensou a fé dos leprosos e os mandou ir e mostrar-se

aos sacerdotes. Isso queria dizer que, ao chegar ao sacerdote, teriam sido curados da lepra. 0 sacerdote não tinha poder para curá-los, mas foi designado como aquele que os pronunciaria limpos. Obedientes à palavra do Senhor, os leprosos foram na direção da casa do sacerdote, e, indo eles, foram purificados milagrosamente da doença. 17:15-18 Todos tinham fé para serem curados, mas somente um dos dez voltou para agradecer ao Senhor. É interessante que este era um samaritano. um dos próximos, desprezados pelo povo judeu, com quem eles não tinham associação. Ele prostrou-se com o rosto em terra (a verdadeira postura de adoração) e aos pés de Jesus (o lugar próprio de adoração). Jesus perguntou se não era verdade que dez foram purificados, mas que somente um, “este estrangeiro”, voltou para dar graças. Onde estavam os outros nove? Nenhum deles voltou para dar glória a Deus. 17:19 Virando-se ao samaritano, o Senhor Jesus disse: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou. Somente os 10% de agradecidos herdam as verdadeiras rique­ zas de Cristo. Jesus recompensa o retomo (v. 15) e a ação de graças (v. 16) com novas bênçãos. “A tua fé te salvou” indica que, enquanto os nove foram purificados da lepra, o décimo foi também salvo do pecado! F. Em relação à vinda do reino (17:20-37) 17:20-21 É difícil saber se os fariseus eram sinceros na questão do reino, ou somente zombavam. Mas sabemos que, sendo judeus, nutriam esperanças de um reino que seria introduzido com grande poder e glória. Esperavam sinais visíveis e grandes agitações políticas. 0 Salvador lhes disse: Não vem o reino de Deus com visível aparência, isto é, pelo menos na sua presente forma o império de Deus não veio manifestado externamente. Não foi um reino visível, terreno e temporal que poderia ser apontado como aqui ou ali. Antes, o Salvador disse que o reino de Deus estava dentro deles, ou melhor, entre eles. O Senhor Jesus não pretendeu dizer que o reino estivesse realmente dentro do coração dos fariseus, porque esses hipócritas endurecidos e religiosos não tinham lugar no coração para Cristo, o Rei. Mas ele queria dizer que o reino de Deus estava no meio éeles. Ele era o justo Rei de Israel, e tinha realizado seus milagres, apresentado suas credenciais a todos. Mas os fariseus não tinham desejo de recebê-lo. E, assim, para eles, o reino de Deus se apresentou, e foi completamente despercebido por eles. 17:22 Falando aos fariseus, o Senhor descreveu o reino como algo que já veio. Ao virar-se aos dis­

cípulos, ele falou do reino como um evento futuro que seria estabelecido na sua segunda vinda. Mas, primeiro, ele descreveu o período que ficaria entre o primeiro e o segundo advento. Dias viriam quando os discípulos desejariam ver um dos dias do Filho do Homem, e não o veriam. Em outras palavras, eles desejariam ver um dos dias quando ele esteve com eles na terra, e quando desfrutaram de doce co­ munhão com ele. Esses dias eram, em certo sentido, deleite antecipado do tempo quando ele voltará em poder e grande glória. 17:23-24 Muitos falsos cristos se levantarão e governantes anunciarão que o Messias chegou. Mas os seguidores do Messias não poderão ser enganados por tais alarmes falsos. 0 segundo advento de Cristo será tão visível e inconfundível como o relâmpago que, movendo-se com muita rapidez, brilha de uma a outra extremidade do céu. 17:25 Mais uma vez o Senhor Jesus avisou os discípulos que, antes que qualquer coisa pudesse acontecer, ele mesmo padeceria muitas coisas e seria rejeitado por aquela geração. 17:26-27 Voltando ao primeiro tema da sua vinda para reinar, o Senhor ensinou que os dias imedia­ tamente precedentes àquele evento glorioso seriam como os dias de Noé. As pessoas comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento. Essas coisas não são erradas, são atividades normais, legítimas e humanas. 0 mal foi que os homens viviam para elas e não tinham nem pensamento nem tempo para Deus. Depois que Noé e sua família entraram na arca, veio o dilúvio e destruiu o resto da população. Assim, a segunda vinda de Cristo significaria julgamento sobre os que rejeitam sua oferta de misericórdia. 17:28-30 Mais uma vez, o Senhor disse que os dias que precederiam seu segundo advento seriam semelhantes aos de Ló. A civilização avançara rela­ tivamente até aquele tèmpo; os homens não somente comiam e bebiam, mas compravam, vendiam, plan­ tavam e edificavam. Foi o esforço do homem para trazer uma era dourada de paz e prosperidade sem Deus. No mesmo dia em que Ló, a esposa e as filhas saíram de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e destruiu a cidade iníqua. Assim será no dia em que o Filho do Homem se manifestar. Os que se concentram no prazer, na gratificação de si próprios e nos negócios serão destruídos. 17:31 Será um dia quando dedicação às coisas terrestres porá a vida do homem em perigo. Se ele estiver no eirado, não deve tentar salvar quaisquer possessões da casa. Se estiver no campo, não deve voltar para trás, à sua casa. Antes, deve fugir desses lugares onde o julgamento estiver prestes a cair.

17:32 Apesar de a mulher de Ló ter sido levada quase à força para fora de Sodoma, seu coração ficou na cidade. Isso foi indicado pelo fato de que ela se virou para trás. Ela estava fora de Sodoma, mas So­ doma não estava fora dela. Como resultado, Deus a destruiu, convertendo-a numa estátua de sal. 17:33 Quem quiser preservar a sua vida cuidando somente de segurança física, mas não cuidando da sua alma, perdê-la-á. Em contrapartida, alguém que perde a sua vida durante esse período de tribulação por causa de fidelidade ao Senhor, salvá-la-á para toda a eternidade. 17:34-3651 A vinda do Senhor será um tempo de separação. Dois homens estarão dormindo numa cama. Um será tomado em julgamento; o outro, um crente, será deixado para entrar no reino de Cristo. Duas mulheres estarão juntas moendo; uma, des­ crente, será tomada na tempestade da ira de Deus; a outra, filha de Deus, será deixada para desfrutar as bênçãos mileniais com Cristo. Consequentemente, os versículos 34-35 concor­ dam com a circularidade da terra. O fato de que será noite em uma parte da terra e dia numa outra, como indicado pelas atividades mencionadas, revela conhecimento científico que não foi descoberto até muitos anos depois. 17:37 Os discípulos entenderam bem das palavras do Salvador que seu segundo advento seria um jul­ gamento catastrófico do céu num mundo apóstata. Então perguntaram ao Senhor onde esse julgamento sucederia. A resposta foi: onde estiver o corpo, ali se ajuntarão os abutres. Os abutres, ou urubus, simbo­ lizam julgamentos iminentes. A resposta, portanto, é que os julgamentos se precipitariam em toda forma de descrença e rebelião contra Deus, onde quer que fossem achadas. No capítulo 17, o Senhor Jesus havia alertado os discípulos de que haveria aflições e perseguições adiante. Antes do tempo do seu aparecimento glorio­ so, eles precisariam passar por provações profundas. Em preparação, o Salvador profere mais instruções a respeito da oração. Nos versículos seguintes, encon­ tramos orando: uma viúva, um fariseu, um cobrador de impostos e um mendigo. G. A parábola da viúva persistente (18:1-8) 18:1 A parábola da viúva orando ensina o dever de orar sempre e nunca esmorecer.

51 (17:34-36) Na maioria dos manuscritos, incluindo os mais antigos, falta o versículo 36, o que significa muito provavelmente que não é autêntico.

Isso diz respeito, em sentido geral, a todos os homens e a todos os tipos de oração. Mas o sentido especial em que é usado aqui é uma oração pela libertação em tempos de prova. E orar sem perder o ânimo durante o intervalo longo e cansativo entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. 18:2-3 A parábola descreve um juiz injusto que normalmente não temia a Deus nem respeitava o próximo. Havia também uma viúva que estava sendo oprimida por algum adversário anônimo. Essa viúva veio ao juiz várias vezes, pedindo-lhe justiça, para que pudesse se livrar desse tratamento desumano. 18:4-5 0 juiz ficou indiferente quanto ao caso; o fato de que ela estava sendo tratada injustamente não o incitou a agir a favor dela. Porém, a regularidade com que ela se apresentou perante ele o forçou a agir. Sua intempestividade e persistência trouxeram-lhe uma decisão favorável. 18:6-7 Então o Senhor explicou aos discípulos que se um injusto juiz agiria a favor de uma pobre viúva por causa da sua importunidade quanto mais o Deus justo intervirá no interesse dos seus e s­ colhidos. Os escolhidos aqui podem se referir em sentido especial ao remanescente judaico durante o período da tribulação, mas também se aplica aos crentes oprimidos de todas as épocas. A razão por que Deus não interveio há muito tempo é porque ele é longânimo para com os homens, não querendo que alguém pereça. 18:8 Mas o dia chegará quando seu Espírito não contenderá mais com os homens, e assim ele casti­ gará os que perseguem seus seguidores. O Senhor Jesus encerrou a parábola com a pergunta: Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará porventura fé na terra? Provavelmente isso quer dizer o tipo de fé que a pobre viúva tinha. Mas pode indicar também que, quando o Senhor voltar, haverá somente um remanescente fiel a ele. Entretanto, cada um de nós deveria ser estimulado ao tipo de fé que clama a Deus noite e dia. H.

A parábola do fariseu e do publicano (18:9-14) 18:9-12 A próxima parábola é endereçada aos que se orgulham de ser justos e que desprezamos outros como inferiores. Ao classificar o primeiro homem como um fariseu, o Salvador não deixou dúvida alguma quanto à classe peculiar de povo a que ele se dirigiu. Embora o fariseu simulasse a oração, ele não estava realmente falando com Deus. Antes, vangloriava-se das suas próprias realizações morais e religiosas. Em vez de se comparar com o padrão per­ feito de Deus e perceber realmente quão pecaminoso

era, ele se comparava com outros na comunidade e orgulhava-se em ser melhor. Sua freqüente repetição do pronome pessoal “eu” revela o estado verdadeiro do seu coração: convencido e autosuficiente. 18 :13 O publicano apresentou uma diferença impressionante. Estando em pé perante Deus, ele reconheceu sua indignidade. Foi humilhado até o pó. Ele não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito e clamava a Deus por mi­ sericórdia. Ó Deus, sê propício a mim (literalmente “o”) pecador! Ele não se via como um pecador entre muitos, mas como o pecador e indigno de receber algo de Deus. 18:14 0 Senhor Jesus fez seus ouvintes lembrarem que é esse espírito de humildade e arrependimento que é aceitável a Deus. Ao contrário do que aparên­ cias humanas possam indicar, foi o publicano que desceu para a sua casa justificado. Deus exalta o humilde, mas humilha os que se exaltam. I. Jesus e as crianças (18:15-17) Esse episódio reforça o que acabamos de ver, isto é, que a humildade de uma criança é necessária para entrar no reino de Deus. As mães cercaram o Senhor Jesus com seus pequeninos para poderem receber a bênção dele. Os seus discípulos ficaram aborrecidos por essa intrusão no tempo do Salvador. Mas Jesus os repreendeu e amorosamente chamou os peque­ ninos para si, dizendo: Dos tais é o reino de Deus. 0 versículo 16 responde à pergunta: “0 que acontece aos pequeninos quando morrem?”. A resposta é que vão para o céu. 0 Senhor claramente disse: Dos tais é o Reino de Deus. As crianças podem ser salvas numa idade bem tenra. Essa idade provavelmente varia, mas o fato permanece que qualquer criança, não importa quão nova, que deseja vir a Jesus deve ser encorajada na sua fé. Crianças pequenas não precisam se tomar adultos para serem salvas, mas adultos precisam da fé sim­ ples e da humildade de uma criança para entrar no reino de Deus. J. O jovem rico (18:18-30) 18:18-19 Essa seção ilustra o caso de um homem que não queria receber o reino de Deus como uma criança. Um dia certo homem de posição veio ao Senhor Jesus, dirigindo-se a ele como Bom Mestre, e perguntando o que ele deveria fazer para herdar a vida etem a. Primeiramente o Salvador lhe per­ guntou sobre o uso do título Bom Mestre. Jesus o lembrou que somente Deus é bom. 0 Senhor nãó es­ tava negando que ele era Deus, mas estava tentando

guiar o homem a confessar esse fato. Se ele era bom, então ele devia ser Deus, visto que somente Deus é essencialmente bom. 18:20 Assim Jesus tratou da pergunta: “Que farei para herdar a vida eterna?” . Sabemos que a vida etema não é herdada, e não é ganha por boas obras. A vida etema é o dom de Deus por Jesus Cristo. Ao levar o jovem de volta aos dez mandamentos, o Se­ nhor Jesus não sugeria que ele poderia ser salvo por guardar a lei. Antes, ele usava a lei muna tentativa de convencer o jovem do pecado. 0 Senhor Jesus repetiu os cinco mandamentos que tratam do nosso dever para com o próximo, a segunda tábua da lei. 18:2 1 -2 3 É evidente que a lei não tinha ação condenatória na vida do homem, porque ele afirmou arrogantemente ter guardado esses mandamentos desde a mocidade. Jesus falou-lhe que faltava uma coisa: amor ao próximo. Se realmente ele tivesse guardado esses mandamentos, então ele teria vendido todas as suas possessões e distribuído aos pobres. Mas a verdade era que ele não amava o próximo como a si mesmo. Ele vivia uma vida egoísta, sem ter amor verdadeiro pelos outros. Isso é provado pelo fato de que, ouvindo ele essas palavras, ficou muito triste, porque era riquíssimo. 18:24 0 Senhor Jesus, ao vê-lo assim triste, co­ mentou sobre a dificuldade dos que têm riquezas entrar no reino de Deus. A dificuldade é ter riquezas sem amá-las e confiar nelas. Esse trecho inteiro traz questões perturbadoras aos cristãos, assim como aos descrentes. Como podemos ser contados como os que amam ao próximo quando vivemos em riqueza e conforto enquanto outros pe­ recem por falta do evangelho de Cristo? 18:25 Jesus disse que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Muitas explicações têm sido dadas sobre essa declaração. Alguns sugerem que o fundo de uma agulha era um portãozinho interno no muro de uma cidade, e que um camelo só poderia entrar ajoelhado. Todavia, o médico Lucas usa uma palavra que especificamente quer dizer a agulha de um cirurgião, e o significado da declaração do Senhor pa­ rece evidente. Em outras palavras, como é impossível para um camelo passar pelo fundo de uma agulha, assim é impossível para um rico entrar no reino de Deus. Não basta explicar isso para significar que um rico não pode, pelos próprios esforços, entrar no reino; isso é verdadeiro tanto para o rico como para o pobre. 0 significado é que é impossível para um homem entrar no reino de Deus como um rico\ enquanto ele faz da sua riqueza um deus e permite que fique entre ele mesmo